segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Sagrado está no Ar - Parte 3


Sabedoria do Carvalho

Quando os romanos conquistaram as terras celtas na Gália e na Bretanha, uma de suas primeiras providências foi acabar com os druidas. Aparentemente, os invasores sabiam que, assim, destruiriam a espinha dorsal da sociedade celta.

Os druidas tinham muito mais poder e gozavam de muito mais respeito do que os próprios reis. O rei não passava de um chefe militar e poderia ficar pouco tempo no cargo, mas um druida continuaria por muito tempo.

Segundo alguns especialistas, o nome dessa casta sacerdotal signficaria "a sabedoria do carvalho", ressaltando a relação deles com a árvore sagrada. Outros interpretam a palavra "druida" como "o de visão verdadeira, capaz de exergar o Outro Mundo" mesmo vivendo neste.

Seja como for, o fato é que as famílias mais nobres consideravam uma honra entregar seus filhos ao treinamento de mais de 20 anos que o cargo exigia. Toda a instrução dos druidas era feita oralmente, embora vários deles soubessem escrever em grego. Além de estudar todos os detalhes da natureza, eles também memorizavam a história de sua tribo - alguns dos exercícios incluiam decorar cerca de cem mil versos.

Carregavam uma foice de ouro, com a qual cortavam o visgo - uma planta parasita que brota dos galhos de alguns carvalhos e que para eles, tinha propriedades mágicas.


As Divinas Estações do Ano

Para as tribos celtas, as estações do ano sucediam-se como os ponteiros de um relógio sagrado. Cada mudança marcava os ciclos de morte e renascimento - tão importantes pra a crença celta - e era preciso comemorar esses ciclos com rituais e festas.

É claro que tais festivais tinham características próprias de região para região, mas quatro deles parecem ter sido especialmente importantes e difundidos. Seus nomes, em irlandês antigo, são Imbolc, Beltane Lughnasad e Samhain.

O Samhain, cuja descrição abre este estudo, parece ter inspirado, pelo menos em parte, o Halloween moderno. Era o festival do inverno, comemorado em 1º de novembro. Essa festa celebrava o sobrenatural. Era o momento em que a divisão entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos se dissolvia. Todo tipo de prodígio podia acontecer, como a transformação de cisnes em lindas jovens, que se uniam a amantes humanos.

Para celebrar a primavera, havia Imbolc, em 1º de fevereiro. Comemorava-se o fato de que as ovelhas tinham começado a produzir leite para seus filhotes - a vitória da vida sobre a morte. Havia oferendas especiais à deusa Brígida (depois considerada uma santa cristã), que era ligada a este animal.

Quando o verão ia se aproximando, no primeiro dia de maio, muitos dos celtas, tanto na Bretanha e Irlanda quanto na Gália, celebravam o Beltane. O nome da festa talvez significasse "fogo de Bel", ou seja, um deus chamado Belenos, ligado ao Sol.

Como em Samhain, havia grandes fogueiras, os druidas faziam com que o gado as atravessasse para se purificar. Também há relatos sobre um ritual de fertilidade no qual as pessoas tinham relações sexuais ao ar livre, nos campos.

Para comemorar a colheita, em 1º de agosto havia Lughnasad. Como o nome sugere, Lugh era o deus a quem a festa era dedicada. Às vezes, encenava-se um tipo de peça teatral, na qual um jovem guerreiro, representando a divindade, tinha de lutar contra outro homem da tribo, no papel de um gigante, para alimentar seus soldados.

Esse festival era propício para a realização de assembléias, e talvez acontecessem jogos e um banquete.


Fim.



Fontes Bibliográficas:

Livros:

Mitos e Lendas Celtas, de Charles Squire, ed. Nova Era, 2003.

Os Celtas, de Robin Place, ed. Melhoramentos, 1989.

Os Mitos Celtas, de Pedro Pablo May, ed. Angra, 2002.

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