quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 4



Iansã e Xangô - Entre Tapas e Beijos

Xangô desejou Iansã, mulher de Ogum, logo à primeira vista. Também Iansã não resistiu àquele homem de beleza fascinante, vestes vermelhas e cabelos trançados. foi paixão fulminante. Ela largou Ogum imediatamente e fugiu com Xangô.

O marido, contudo, não deixou barato. Quis disputá-la com o rival. Porém, ao ver o grande exército de Xangô, Ogum não teve escolha senão desistir.

Iansã era uma mulher fogosa e independente, que não admitia ser comandada por ninguém. Também era bastante audaciosa. Tinha sido parceira de vários orixás e com cada qual conquistara novos poderes.

De Xangô, ela roubara as pedras mágicas do raio. Estava com elas na mão quando ele chegou de surpresa. Para não ser flagrada, Iansã rapidamente escondeu as pedras na boca. No entanto, cheia de saudade do amado, acabou denunciando-se quando, ao falar, soltou labaredas da boca.

A fúria de Xangô foi tão grande que a orixá teve de fugir.

Tentou primeiro voltar para Ogum, que não quis acolhê-la e, depois, para Oxóssi, seu primeiro parceiro, que também não a ajudou.

Foi salva, então, por Obaluaiê, na casa dos mortos. Ele lhe deu um exército de defuntos para que a defendesse de Xangô. Mas Iansã já sentia falta da folia e das carícias do amado e chorava de saudade, Xangô, por sua vez, não gostava nada de defuntos. Quando se reencontraram, resolveram negociar.

A guerra reacendeu a paixão. Durante o ato de amor entre Xangô e Iansã, a terra tremeu, houve ventanias, raios e tempestades e jorraram labaredas de fogo de todos os lados.

Xangô já havia tido várias parceiras e Iansã, muitos homens, mas ela nunca mais o deixou e tornou-se sua melhor companheira. Xangô casou-se também com Oxum e Obá. Porém, enquanto as outras se preocupavam mais com faceirices e dengos, Iansã o ajudava a lutar contra os inimigos nas guerras.

A beleza, a paixão e o senso de justiça mantinham os dois intimamente ligados. Este casal mostra que o amor entre homem e mulher é sagrado e que o sexo pode ser sinônimo de vida e criação. Não há noção de pecado no Candomblé.

Do erotismo reprimido a ardentes paixões como a de Iansã e Xangô, as histórias religiosas sobre casais trazem uma das facetas da busca do homem pela transcendência. Por meio da vivências, das dores e das delícias do amor, é possível compreender a plenitude da relação com o Ser Supremo.

O amor entre um casal é uma das formas mais belas de expressar e vivenciar a gratidão e o amor ao Criador. Como escreveu São Bernardo, num texto do século 12:

"Ó amor abrupto, veemente, abrasador, impetuoso, que não permite pensar noutra coisa senão em ti!"


Fim.



Referências Bibliográficas

Livros:

Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, ed. Companhia das Letras, 2003.

As Mais Belas Lendas da Mitologia, tradução de Mônica Stahel, ed. Martins Fontes, 2000.

Indian Mythology, de Jan Knappert, ed. Diamond, 2002.



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