sábado, 20 de fevereiro de 2016

Som na Caixa para Louvar o Senhor! - Parte 4

(O primeiro judeu que institucionalizou a música, todos sabem, foi o Rei Davi que por ter sido um flautista quando criança, sabia o quanto cantar é uma das expressões mais belas ao se praticar uma vida espiritual. Os 7 últimos Salmos do Livro de Salmos foram escritos pelo Rei Davi e ele instrui aos levitas e o povo a terem uma rotina bem estabelecida das músicas a serem tocadas no novo Templo após sua construção por Salomão. Sendo assim, ele mesmo compôs muitos hinos: "Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa; louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas..." - Sl 150: 3-4.)

Se hoje as bandas cristãs usam a linguagem musical contemporânea tanto como meio de expressão quanto de evangelização, no relato bíblico do Antigo Testamento a música servia exclusivamente para louvar a Deus recitando a Palavra divina. 

Não tinha o objetivo de alcançar os "gentios" com melodias familiares a eles. É essa tradição de louvor, mas com acordes mais modernos e ousados, que tem conquistado respeito e adeptos no Judaísmo. 

(Uma cítara judaica é diferente das harpas gregas que graduava o tamanho do instrumento e da corda a ser vibrada. No começo os sons desses instrumentos continham apenas Si, Dó, Mi e Fá. Na harpa judaica os sons se diferenciavam pela espessura das cordas retirada dos intestinos das ovelhas. Esses sons ainda hoje são usados na Cabala por serem sons puros. Um dos grandes introdutores da música e seus instrumentos foi o Rei Davi, do qual se diz ter sido, ele mesmo, inventor de vários instrumentos. A tradição musical foi algo tão importante para o Rei Davi, que foi registrado no livro de 1 Crônicas dos Reis 23: 5: "...quatro mil [levitas porteiros] para louvarem o SENHOR com os instrumentos que Davi fez para esse mister".)

Imagine homens barbados, vestidos impecavelmente com longos casacos pretos e chapéus, gritando como se estivessem em um estádio de futebol e jogando-se uns contra os outros e contra a platéia. 

Não, não se trata de um mosh (o ato de se jogar no palco sobre o público durante shows de rock).

São judeus ortodoxos, completamente embriagados pela musica tocada pelo grupo Zamarim, um dos mais populares da comunidade judaica de São Paulo. 

(O grupo Zamarim é uma banda animada e super requisitada hoje em dia em qualquer evento judaico. Viajam o Brasil todo e para agendar uma apresentação só com 1 ano de antecedência!)

No Judaísmo, a música não costuma ser usada para evangelizar ou para fazer proselitismo. Até porque, para se tornar judeu hoje em dia, o processo de conversão é bem mais complicado do que passar por um ritual de adesão (como o batismo) e praticar o que manda  a religião.

Mas as manifestações musicais que revivem a história judaica são bem-vindas. 

Os ortodoxos levam as canções a sério. Muitos fecham os olhos, choram, entram em contato com Deus. Mas, principalmente, festejam a união do seu povo. 

(Mas música para um judeu autentico é assim: Cantando fragmentos da Torá, com um instrumento de corda fazendo o acento das palavras numa técnica chamada té'amim, definindo a marcação silábica da leitura do texto. Assim as vibrações de cada letra ou sílaba emana a presença de Adonai como nos ensina o costume cabalístico.)

Muitas canções que tocam são rezas que podem até ser encontradas na Torá. A maioria, porém, são músicas da tradição judaica, cantadas há 5 mil anos. 

Ao som de violão, baixo, saxofone e instrumentos de percussão, o Zamarim faz o que eles chamam de "seresta judaica", uma homenagem ao passado com melodias do hoje, bem contagiante!


Deus é Black

Contagiante também é o som que invade a precária construção que abriga a Comunidade do Evangelho Pleno, no Capão Redondo, bairro da periferia da zona sul de São Paulo. 

Ali, estão 30 potentes vozes entoando hinos que falam sobre a vitória em Cristo e a graça divina. 

É apenas um ensaio do Raiz Coral, um grupo afro evangélico formado por jovens e adolescentes, que aposta numa melodia hoje conhecida por Rythm & Blues and Soul

(Do Capão Redondo para o Brasil todo, ah, foi só um pulinho... O Raiz Coral aprendeu rápido como fazer o sucesso, e nas mãos de Sérgio Araújo, a qualidade só continua crescendo...)

Mas a repercussão do trabalho foi tão grande que o Raiz Coral esteve na casa de espetáculos paulistana Credicard Hall, em janeiro de 2004, cantando com Kirk Franklin, um fenômeno da música gospel nos Estados Unidos e vencedor de um disco de platina, por causa dos mais de 2 milhões de cópias vendidas com um de seus álbuns. 

Tudo começou com uma brasília amarela, no fim de 1999. Já cansado da vida de backvocal e produtor musical do showbiz brasileiro - como Fat Family, Racionais e Katinguelê, para mencionar somente alguns - Sérgio Araújo, o Serginho, saiu pelo bairro de carro e rodou o Capão Redondo, de porta em porta, à caça de "pretos e brancos" que estivessem interessados no projeto de um coral de influência negra americana. 

(Um dos negros mais importantes da musica mundial, referência não só do estilo Pop Music, mas de danças, roupas, conceitos, apresentação... Cara... Michael Jackson... Enfim... Dono de uma biografia controversa, foi um gênio gestado e nutrido nas igrejas Testemunhas de Jeová. Cantar é algo do céu mesmo!)

(Como a supermodelo Cláudia Schiffer disse: "Para mim uma diva tem que ser dramática e ser muito, muito talentosa e bonita! E um perfeito exemplo para mim..." - sim, e é ela, Withney Houston! Falecida em fevereiro de 2012 sob circunstâncias suspeitas, a cantora de voz translúcida foi uma grande representante das igrejas evangélicas americanas.)

O objetivo era cantar de forma que convencesse que Jesus é o Senhor dos Senhores e Rei dos Reis, segundo ele. 

O respeito do meio Serginho já tinha!

No começo o grupo contava com pessoas que não eram cristãs, mas foram fazendo a peneira e começaram fazendo um burburinho. Juntou tenores, contraltos e sopranos para cantar um repertório versátil e atraente. 



(Por favor, me enterrem ao som do Take Six, pleeeaaasse!!! Adoroooo!!! Take Six foi uma lufada de frescor musical tão revolucionária que paralisou todos os amantes de música da década de 90. Até os roqueiros de plantão guardaram suas guitarras heavy metal e tiraram a cera dos suas orelhas engorduradas para apreciarem essas vozes azeitonadas de um pequeno e humilde grupo negro gospel norte-americano. Eles marcaram tão profundamente a música mundial que até hoje é um grupo de referência do estilo acapella. Que delícia, não existe nada mais lindo que isso!!!)

A influência musical veio da música negra americana. Os ensaios começaram a ficar lotados. As músicas geravam muita energia. Todos os visitantes começavam cantar completamente entregues àquela musicalidade. 

Serginho conta que sua maior experiência foi quando sua mãe, afastada há 15 anos do meio evangélico, confessou sentir a presença de Deus... 

Fazendo parte da 4ª geração de cantores e membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, para ele, pregação e música são uma "bomba atômica".

(Vindo de um grupinho de irmãos chatinhos metodistas, Nick Jonas tem surpreendido cada vez mais a gente com seu crescimento musical. Surpreendeu em seu álbum homônimo Nick Jonas acrescentando uma canção gospel com pegada nostálgica. Uma viajem! Vamos ficar de olho nesse carinha, porque ele promete!)

Sempre simpático, finaliza:

"É um trabalho direto com o coração e a mente!"

E, como uma cabalista que se preocupa com que canta e fala, eu termino:

"Bendirei o Senhor em todo o tempo, 
O seu louvor estará sempre nos meus lábios.

"Engrandecei o Senhor comigo
E todos à uma lhe exaltemos o nome."
Salmos 34: 1 e 3


Fim.:.


Referências Bibliográficas

Livros

Música e Simbolismo, de Roger J. V. Cotte, ed. Cultrix, 1995.

Tempos de Exaltação, de Valdevino Rodrigues dos Santos, ed. Annablume, 2002.

O Músico e a Arte de Servir a Deus, de Eduardo Issa e Rosanildo de Queiroz, ed. Canção Nova, 2000.

Sites

www.vencedoresporcristo.com.br
www.dracmanet.com.br
www.rosadesaron.com.br
www.zamarim.sites.uol.com.br



sábado, 13 de fevereiro de 2016

Travessia em busca de um Sonho - Parte 2

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(Habitantes de Canudos, sobreviventes dos últimos dias do conflito.)

Na época de Canudos e do Contestado, a Bíblia não era acessível às populações que viviam na zona rural. A área contava com poucos sacerdotes e quase não havia missas. 

Por esse motivo, a prática religiosa não se concentrava nos sacramentos, mas na devoção aos santos - estabelecida numa relação direta desses com os fiéis - e nas rezas. 

Tratava-se de gente humilde, abandonada à própria sorte, para a qual concorria o desejo do milagre e do maravilhoso, o socorro do sobrenatural.

Os líderes messiânicos vão ao encontro desse anseio. 

(Quatro minutos para relembrarmos sobre o assunto que estamos abordando nestas postagens.)

Ainda que a tragédia marque o fim de grande parte desses movimentos, aqueles que pereceram na luta não se arrependeram nem no último momento. 

Com a morte, achavam que atingiriam seus sonhos de outra maneira e estariam salvos de um mundo em decadência. Um caminho que, ainda hoje, muitos podem vir a seguir. 


Canudos - O paraíso que começa no sertão

O frei capuchinho João Evangelista Marciano chega ao arraial de Belo Monte em 1895. Em missão oficial, vai até o povoado, antes chamado de Canudos, a pedido do governador da Bahia, para tentar dispersar a população. 

O religioso fracassa, mas registra a visita num relatório: 

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(Frei João Evangelista Marciano, o segundo frei com barba, sentado da esquerda para direita.)

"Os aliciadores da seita ocupam-se em persuadir o povo de que todo aquele que quiser se salvar precisa vir para os Canudos, porque nos outros lugares tudo está contaminado e perdido pela República. Ali, porém, nem é preciso trabalhar. É a terra da promissão, onde corre um rio de leite e são de cuscuz de milho os barrancos".

O imaginário daqueles que se juntaram no local está tomado pela esperança e pela fé. 

Há uma recriação da terra prometida dos judeus, que se associa com mitos indígenas de fartura daquela região. Muitos fogem do trabalho nas fazendas da região e mudam-se para Belo Monte. 

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(Vila de Belo Monte, como vista e representada pelo pintor e fotógrafo Flávio de Barros em outubro de 1897, único que presenciou o conflito sem estar diretamente ligado à política. Morou nas imediações de 26 de Setembro a 12 de Outubro de 1897. Contudo, muitas de suas fotos foram expurgadas, sendo somente divulgadas recentemente no Museu da República-RJ e no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia desde 2002.)

Lá, encontram terra para plantar e vender de forma livre, sem os impostos da República. Passam a trabalhar de modo comunitário no único local que consideram livre da ruína do mundo. Obra de Antônio Vicente Mendes Maciel, o célebre Antônio Conselheiro. 

O líder do movimento de Canudos nasceu em Quixeramobim, no Ceará, em 1830. Sabe-se que perdeu a mãe ainda na infância. 

Antônio teria aprendido latim com o avô e estudado português, aritmética, geografia e francês, o que deu a ele a fama de garoto aplicado e religioso na sua cidade natal. 

A morte do pai obrigou-o a tomar conta do comércio que pertencia à família. 

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(Antonio não aguenta o drama da infidelidade da mulher e a dificuldade em manter rentável um comércio. Decide abandonar tudo e foge para o deserto do Sertão Nordestino. Ali, algo lhe acontece e sente-se chamado por Deus para uma missão.)

Antônio casa-se, abandona o comércio, separa-se da mulher ao descobrir uma infidelidade e retoma a vida de negociante.

Mas, em 1871, alguns dos bens de Antônio são penhorados por causa de uma dívida não paga. 

Naquela década, ele deixa de vez o comércio e passa a peregrinar pelo sertão como beato. 

"Nunca mais pude esquecer aquela presença. Era forte como um touro, os cabelos negros e lisos lhe caíam nos ombros, os olhos pareciam encantados, de tanto fogo, dentro de uma batina de azulão, os pés metidos numa alpercata de currulepe, chapéu de palha na cabeça. Era manso de palavra e bom de coração. Só aconselhava para o bem"
Depoimento de Vilanova, sobrevivente de Canudos, registrado em 1962.

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(Única foto conhecida de Antonio Conselheiro, tirada por Flávio de Barros em 1897.)

A passagem narra seu encontro quando menino com o beato, em 1873, numa fazenda cearense. 

Na ocasião, Conselheiro declara que tinha uma promessa a cumprir: erguer 25 igrejas, nenhuma delas no Ceará. 

Em 1874, um jornal de Sergipe menciona a passagem de um certo Antônio dos Mares, acompanhado por um "povo fanático" tanto pelo Estado como pela Bahia. 

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(Até em São Paulo, não se falava de outra coisa: Um padre pobre que arrebanhava os nordestinos...)

"Anda no caráter de missionário, pregoando e ensinando a doutrina de Jesus Cristo."
Informa a reportagem.

As peregrinações começam a preocupar as autoridades e a Igreja.

Em 1876, Conselheiro é preso em Itapicuru, na Bahia, e enviado para o Ceará, sob falsa acusação de homicídio. 

Acaba libertado meses depois e retoma suas andanças...


Continua...


Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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