domingo, 26 de outubro de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 3

(O Paraíso, uma dimensão próxima a nossa. No entanto, ali não é o fim da jornada, apenas um ponto de descanso, para continuar a ascensão do Espírito humano para junto ao Pai das Luzes.)

O Paraíso, por sua vez, é formado por nove céus que conduzem ao Empíreo, a sede da Divindade. 

(As divisões do Paraíso em Espanhol: Vídeo-palestra Julho/2014)

Sua estrutura fundamenta-se na ideia de um aperfeiçoamento progressivo das energias naturais e sobrenaturais - os círculos são uma maneira de dividir a visão de Deus proporcionalmente aos méritos em vida, das almas que ali estão.

                    (As divisões do Paraíso em Espanhol: Vídeo-palestra Julho/2014)

É no Paraíso, depois de passar por rituais de purificação e carregado de fé, que finalmente Dante consegue, na contemplação da Luz Divina, enxergar a própria imagem de Deus. 

Com sua Divina Comédia o poeta propõe uma redenção moral da humanidade, que estava submetida ao apego aos bens terrenos e às paixões mundanas e, portanto, destinada à perdição eterna. 

(O Paraíso, ilustração de Gustav Doré para o livro Divina Comédia.)

Mas, além dos aspectos literários, qual o valor dessa obra para o mundo atual?

Sua relevância pode ser medida no quanto suas imagens e significados atravessaram séculos e ainda hoje permeiam a cultura e o modo de vida contemporâneos.


Há uma grande coerência entre a Bíblia, A Divina Comédia e a Igreja Católica atual. O que pode ser visto ao fazermos um paralelo com a importância de São Tomás de Aquino para a Igreja e com a noção de tempo e progresso no mundo católico. 

São Tomás, que viveu no século 13, foi um dos mais importantes teólogos católicos e influenciou tanto Dante (que foi colocado no Paraíso pelo poeta) como a Igreja dos nossos dias. 

(Disputatio: As matérias ensinadas nas escolas medievais eram representadas pelas chamadas artes liberais, divididas em: Trívio, Gramática, Retórica, Dialética e Quadrívio, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. A Escolática foi profundamente influenciada pela Bíblia Sagrada, pelos filósofos da antiguidade e também pelos Padres da Igreja, escritores do primeiro período do Cristianismo oficial, que detinham o domínio da fé e da santidade. Como já foi dito, dois grandes filósofos predominaram nesta escola: O africano Agostinho de Hipona e o italiano Tomás de Aquino.)

Ele adaptou a filosofia grega de Aristóteles ao pensamento cristão da Escolástica (Teologia e Filosofia medieval) com o objetivo de demonstrar a existência de Deus e explicar a sua essência, interpretando racionalmente os dogmas. Recuperando, com isso, o mundo sensível que havia sido considerado fonte de pecado durante quase toda a Idae Média. 

A ideia fundamental do teólogo é a de que Deus, invisível e infinito, é demonstrável por seus efeitos visíveis e finitos. 

A incorporação da razão (filosofia) às questões de fé (teologia) - o que faz Dante na construção de sua obra - encontrou alguma resistência, mas nunca deixou de reverberar no mundo ocidental. 

(Concílio Vaticano II em 1962-1965)

No Concílio Vaticano II (1962-1965), São Thomás de Aquino foi um dos teólogos mais citados. A ideia de avanço progressivo na obra também encontra relação com a  visão católica de hoje. Para a Igreja, os atos humanos têm valor e progresso, e o cristão sabe que a vida terrena é uma preparação para uma vida posterior mais feliz. 

Disso decorre as noções de Inferno, Purgatório e Paraíso.

Dante, por exemplo, incia sua obra no Inferno e "progride", até o Paraíso.

(A Cruz, ilustração Divina Comédia.)

E é justamente nesse Paraíso de sua obra-prima, espaço de redenção da humanidade, onde talvez o poeta, por fim, tenha acertado contas com sua própria história, marcada pela tristeza pelo exílio de sua terra natal e desilusão com a engrenagem política. 

Como imaginou o escritor argentino Jorge Luis Borges, em seu texto Inferno, I, pg. 32 do livro O Fazedor:

"Anos depois, Dante morria em Ravena, tão injustiçado e tão só como qualquer outro homem. Em um sonho, Deus lhe declarou o secreto propósito de sua vida e de seu labor. Dante maravilhado, soube por fim quem era e o que era e abençoou suas amarguras.

A tradição refere que ao despertar, sentiu que tinha recebido e perdido uma coisa infinita, algo que não poderia recuperar nem mesmo vislumbrar, porque a máquina do mundo é complexa demais para a simplicidade dos homens..."


Continua...


Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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