sábado, 28 de junho de 2014

Guerras Sem Fim... - Parte 1

(Por mais desconcertante que isso possa ser, o amor a um Deus faz com que pessoas matem e odeiem outras que pensem diferente delas... Acima, conflito recente no Egito entre muçulmanos e cristãos)

Devido a fé fundamentalista, ou por motivações políticas e econômicas, os conflitos religiosos atormentam o homem há milênios. Qual o caminho para a paz entre os credos?

Europa, fim do século 11.

Os cristãos assistiam com apreensão ao avanço territorial dos muçulmanos.

(Por trás de uma áurea de piedade, o que estava em jogo era o poder por novos territórios na Inglaterra, França e a abertura para Ásia. No fim, a fé não foi forte o bastante para manter os cruzados no calor da Terra Santa.)

Em 1095, o papa Urbano II resolveu convocar um conselho que determinou o início das Cruzadas contra os seguidores do Islã. A reação era urgente, pois os inimigos se aproximavam de Constantinopla, capital do antigo Império Bizantino. 

(Como sempre o Canal History disponibiliza um maravilhoso trabalho de reconstituição atualizada sobre as antigas cruzadas européias nas terras da Ásia. Assista!)

Nos seis séculos seguintes, milhares de pessoas - talvez milhões, pois não há uma contagem precisa - foram mortas em nome de Deus.

África, século 21.

(Mortos após a última eleição da Nigéria legitimada em 1999 fomentada pela política e pelos dissidentes de facções religiosas de cristãos e muçulmanos. Até o momento não houve outra eleição presidencial...)

A Nigéria com batalhas sangrentas entre cristãos e muçulmanos. 

Desde 2001, uma série de confrontos resultou em pelo menos 5.000 mortes, algumas delas em circunstâncias macabras. 

Mais de 900 anos separam as duas situações descritas acima. Dois contextos diferentes, mas sustentados por uma condição quase tão antiga quanto a própria civilização: a intolerância. 

(Sátira nas redes sociais... No fundo é a intolerância e o fanatismo que alimentam essas ideologias separatistas.)

Mas até que ponto as diferentes religiões aceitam ou estimulam a violência? De acordo com alguns pesquisadores, a violência é um subproduto do pensamento religioso, seja ele qual for. 

Segundo essa visão polêmica, a convicção de possuir a verdade, algo comum em várias crenças, é terreno fértil para o ódio contra aquele que é diferente. Esse ódio pode se manifestar de forma simbólica - quando o culto alheio não é permitido - ou na ponta da lança.

(Campanha contra a intolerância religiosa. Hoje, muitas religiões aceitam, entendem e fomentam a diversidade religiosa. Este cartaz foi da campanha divulgada pelos Espíritas. O Dia do Orgulho Pagão é outra tentativa iniciada no final da década de 90 para aceitação de grupos religiosos não-cristãos marginalizados como os Wiccas e os cultos Africanos.)

O problema atinge todos os credos, sem exceções. Até mesmo o Budismo, com sua mensagem de tolerância, possui manchas de sangue em sua história (confira aqui). 

De fato, as tensões religiosas são comuns desde a Antiguidade. No Egito antigo, por exemplo, existia uma rivalidade imensa entre o faraó e os sacerdotes de Tebas. No século 14 a.C, o faraó Akhenaton criou uma nova religião e um novo Deus. 

(Akhenaton, o Faraó herege, mudou um sistema religioso mais antigo que o próprio Egito e pagou com o ostracismo e destruição de sua cidade e monumentos... A morte prematura de Tutankamon, seu filho e genro,  aos 12 anos, deixou dúvidas entre os egiptólogos e muitas teorias de conspiração...) 

Saiu Amon, cultuado por  Tebas, e entrou Aton, o disco solar. 

A substituição durou até a morte do faraó, em 1336 a.C., quando os antigos sacerdotes retomaram o poder. 

Da mesma forma, os conflitos entre pagãos e os primeiros cristãos marcaram época...

[Cenas do filme Gladiador, mas que mostra bem o que os cristãos enfrentavam, sem ter como se defenderem: as feras e lutadores. No final, a morte os esperava e divertiam uma turba romana que odiava a nova fé. (Desculpe a postagem...!) Assista ao filme.]

Em Roma, os seguidores de Jesus Cristo foram perseguidos durante séculos, até que a nova religião fosse incorporada pelo Império.

Os judeus também tiveram que brigar por sua fé em várias ocasiões, como, no século 15, no auge da Inquisição, quando o rei católico Fernando, determinou a conversão de judeus e muçulmanos que viviam na Espanha e sul da França. 

(A última e terrível perseguição contra os Judeus matou milhares de crianças, mulheres, homens e idosos... Famílias inteiras mortas sem nenhum argumento convincente. A única máxima dita foi: Eles mataram Jesus Cristo! - O quê?!?)

As três grandes religiões monoteístas protagonizaram, e ainda protagonizam, os principais conflitos mundiais.  Judeus, cristãos e muçulmanos partilham de uma convicção religiosa marcada pela unicidade, e em casos concretos essa concepção veio acompanhada pela violência contra o outro. 

(A perseguição cristã ainda é algo atual, principalmente para religiões que são denominadas como pagãs, ou seja, não acreditam num Deus monoteísta ou em Jesus Cristo, pelo menos, não como um salvador da humanidade; e por isso, são perseguidos, até hoje como no passado...)

Na doutrina católica, marcada pelo axioma que afirmava a impossibilidade de salvação fora da Igreja, a relação com a diferença religiosa foi quase sempre pontuada pela tensão...


Continua...


 

sábado, 21 de junho de 2014

Quem são os Brights?

(Grupo arreligioso surgido em 2004 nos Estados Unidos e que hoje já ocupa uma representatividade expressiva em universidades e centros urbanos como mais uma forma de experimentar e vivenciar uma alternativa espiritual: O ser não-espiritualizado.)

É um grupo que, segundo seus criadores, reúne todos aqueles cuja visão de mundo é naturalista, isto é, livre de elementos místicos ou sobrenaturais.

(Paul Geisert, professor universitário e...)

De acordo com os americanos Paul Geisert e Mynga Futrell, ambos ex-professores universitários e fundadores do movimento, os brights agrupam desde ateus, agnósticos e céticos até livres-pensadores e materialistas radicais. 

(...Mynga Futrell, professora universitária. Ambos lutam pela liberdade de não acreditar em nenhum Deus, afinal, não existe nenhuma prova científica e lógica que tal entidade exista.)

Criada no início de 2003, na Califórnia, nos Estados Unidos, a associação nasceu do descontentamento de ambos em relação ao rótulo dado aos não religiosos: a alcunha godless (descrentes, em inglês).

Para minimizar os preconceitos existentes na palavra, foi criado o neologismo bright - uma referência ao adjetivo homônimo, que em inglês significa "brilhante, inteligente".

(Site na Web onde você pode encontrar os conceitos para ser um Bright, acessado por mais de 40 países diariamente.)

Em vez de se apoiarem em doutrinas, símbolos ou templos, os brights pregam a supremacia da ciência e da razão na hora de explicar os fenômenos naturais e os mistérios da existência, como de onde viemos e para onde vamos após a morte.

Eles buscam ser humanistas em relação à moral e, pragmáticos no dia a dia, usando a ciência para explicar a vida.

O objetivo do grupo, que tem ganhado repercussão com matérias publicadas nos principais jornais americanos, como o The New York Times, é identificar o tamanho desse "rebanho brilhante".

(Uma campanha Britght nos jornais e revistas americanos com um trocadilho que diz: "Tema esse cara, ele estaria melhor se deixasse seus faróis desligados".)

Feito isso, e comprovada sua dimensão - calcula-se que mais de 20 milhões de americanos não sigam nenhuma religião -, a presença dos naturalistas seria reconhecida sem preconceito pela sociedade, reforçando, assim, sua importância política e a necessidade de separação entre a Igreja e o Estado. 

Combater essa união já era uma questão presente durante a Revolução Americana, no fim do século 18. O surgimento dessa organização pode ser uma reação direta ao crescimento dos movimentos religiosos nos EUA, num período em que o último presidente usou a religião para justificar uma guerra.

(A revolução americana que lutou, dentre outras coisas, por fazer uma separação distinta entre a Igreja e o Estado; mas ao mesmo tempo utópica e hipócrita, afinal a maçonaria e os puritanos, assinaram a Constituição e permearam o Estado de símbolos e mensagens com seus posicionamentos espirituais.)

Ser uma voz ativa na sociedade é um modo de chamar para si a responsabilidade de consertar as tolices do homem, já que não há um Deus que traga a salvação, dentro do cerne desta crença.

Apesar de nova, em breve a organização poderá ter um grande número de adeptos em todo o mundo, uma vez que a ideia de separação entre fé e o Estado, assim como o da primazia da ciência sobre o espírito, não conhece fronteiras. 

Em cerca de um ano, por exemplo, o site do grupo foi contatado por brights de mais de 40 países, incluindo o Brasil. 

Isso contudo, não quer dizer que eles tenham força. Com o tempo, iniciativas como essa tendem a enfraquecer. Entretanto, até isso ocorrer, com certeza, muita polêmica será levantada sobre o tema...


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sábado, 14 de junho de 2014

Rumo ao Nirvana - Parte 5

(Nirvana é um estado de espírito. Um estado momentâneo, que o encarnado pode perder se não se focar e ter atenção contínua em seu estado emocional e espiritual. Não é um lugar a ser esperado. É a perfeição agora, aonde a calma e a plenitude pode ser alcançada pelo adepto.)

De acordo com Buda, não havia como explicar com palavras o que alguém sentia ao atingir a iluminação. Isso porque se tratava de uma experiência de alívio e paz que transcendia qualquer explicação racional. 

Apenas aqueles que conseguiram chegar ao fim do caminho souberam seu significado. 

Mistérios como esse fizeram com que nem sempre tais ideias fossem devidamente compreendidas pelo Ocidente. Para muitos não-budistas, o Nirvana seria uma aniquilação completa - um erro de interpretação bastante comum. 

(A interpretação de que o Budismo destrói os valores internos ou a percepção do Eu do indivíduo é um engano comum de todo aquele que não entende suas doutrinas. O Budismo propõe apenas que o homem contemple sua vida sob um novo ponto referencial e que não esteja apoiado em suas emoções de posse e ego.)

O Budismo não diz que todos só terão alívio quando se tornarem "nada". Muito menos defende o niilismo. O Nirvana é considerado um estado mental positivo. Basta comparar as pessoas a pequenas gotas de água. Quando a gota retorna para  oceano, se dissolve e perde a sua individualidade, e suas experiências e conquistas, tão inerentes e preciosas para aquele indivíduo, já não lhe pertencerão mais, mas à coletividade a qual ele retornou, seja numa representação encarnada ou não. 

Uma cultura bacteriana poderia ilustrar isso de forma bem interessante, afinal, apesar de estruturas independentes, uma vez participando de uma estrutura coletiva, uma reage igualmente como as outras reagirem ao meio, acabam que se tornam um só organismo.

(Buda não foi um enviado de Deuses, mas um homem que com esforço e disciplina evoluiu até merecer compartilhar sua presença com os Mestres. E é esse seu legado entre nós...)

Ao atingir a Iluminação, Sidarta não se transformou em um deus, muito menos em um santo. Entre seus fieis, a figura histórica é reverenciada como uma pessoa comum que encontrou uma maneira de acabar com o sofrimento.

O conjunto de ensinamentos deixado por Buda recebeu o nome de dharma

"Aquele que me vê, vê  dharma. Aquele que vê  dharma, me vê."
Samyutta Nikaya, textos búdicos.

Em seus discursos Buda também deixou claro que, antes dele, houve outras pessoas que descobriram o mesmo caminho para eliminar o sofrimento. 

Também estava certo de que viriam outros iluminados depois.

Quarta Nobre Verdade:
Existe um Caminho para Libertar-se do Sofrimento
  
A última das Quatro Nobres Verdades afirmava a existência de um roteiro para a libertação do sofrimento originado no apego e nos desejos: o nobre Caminho Óctuplo.

Essa receita para a iluminação também aparece nos textos mais antigos da religião e se subdivide em três grupos.

(O caminho Óctuplo.)

O primeiro envolve a preocupação com a moral ou conduta ética e inclui três preceitos: a fala correta, a ação correta e  modo de vida correto.

O segundo conjunto é representado pelo desenvolvimento da disciplina mental da concentração - a meditação - por meio do esforço correto, da atenção plena e da concentração correta. 

O terceiro agrupamento diz respeito à conquista da sabedoria, que abrange duas coisas: a visão correta e a intenção certa. 

(Buda também percebeu isso... A verdadeira Sabedoria no cerne do Budismo não é o acúmulo de informações que torna o indivíduo arrogante e separado dos demais, mas ver em cada situação um meio e uma forma nova de aprender a ser tolerante, flexível e acessível a si mesmo e ao próximo. Toda experiência é importante...)

Com a prática da moralidade, os budistas afastam-se do sofrimento. A ideia está em não apenas evitar os fatores que distanciam o praticante da Iluminação (como violência, mentira, roubo, uso de drogas e sexo), mas também em realizar as ações contrárias. 

Ser gentil e amável, falar sempre com precisão e sinceridade e contentar-se em ter o mínimo, por exemplo, são maneiras de conquistar a libertação espiritual. 

Pela meditação, os budistas atingem níveis de consciência cada vez mais profundos. Assim, livram-se da inconstância da mente.

A compreensão completa dos ensinamentos só pode ser conquistada quando por meio da absorção meditativa, treina-se  afastamento do "eu". 

(A meditação é um exercício de desapego. Ali você não é nada e nem ninguém, apenas um espectador de si mesmo, onde assiste, muitas vezes, surpreso, as ondas desconexas de emoções e vontades interiores que devem ser entendidas e transmutadas por meio de outros exercícios.)

As técnicas usadas pelo Budismo são uma adaptação das utilizadas na yoga, que estava começando a se difundir pela Índia na época de Sidarta Gautama. 

Primeiro, aprende-se a deixar o corpo imóvel. No estágio seguinte, domina-se a respiração a ponto de reduzi-la a quase a zero. Depois, desenvolve-se o foco num objeto ou uma ideia, eliminando distrações. 

Mais tarde, mergulha-se progressivamente no interior de si mesmo. 

Ao praticar a sabedoria, os budistas entendem  significado do dharma. É necessário relfetir sobre as Quatro Nobres Verdades, sobre a inconstância do mundo e sobre a não-existência do mundo e sobre a não--existência do "eu".

Também deve haver boa vontade e uma atitude pronta de renúncia. De acordo com o pensamento original de Buda, apenas aqueles que estivessem dispostos a abraçar a vida sagrada conseguiriam chegar ao Nirvana. 

(Uma vida simples é uma vida que não tem apoios em bases instáveis como planejamentos futuros, desejos por objetos sólidos mas não permanentes, emoções onde a posse e o status dão as cartas. Uma vida simples é estar apoiado em si mesmo e entender que tudo muda, transforma, renova e recomeça...)

Era preciso seguir o exemplo dado por Sidarta Gautama e virar um monge mendicante. 

Séculos depois, no entanto, o conceito tornou-se bem mais flexível.


Fim.:.


Referências Bibliográficas

Livros

Buda, de Karen Armstrong, ed. Objetiva, São Paulo, 2001.

Dhammapada - A Senda da Virtude, trad. Nissim Cohen, ed. Palas Athenas, São Paulo, 2000.

Buddhist Scriptures, organizado por Donald S. Lopez, ed. Penguin Books, Reino Unido, 2004.



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