terça-feira, 30 de abril de 2013

Joana D'Arc, A Santa Guerreira - Parte 3


O resgate de 10 mil libras de ouro foi, então pago pela Inglaterra, por intermédio do bispo Pierre Cauchon, da cidade francesa de Beauvois. A idéia era julgar a jovem por crime de idolatria. 

A Igreja Católica via Joana como uma aliada inspirada por Deus. No entanto, não se opôs ao julgamento porque havia interesses econômicos e políticos em jogo.

Os interrogatórios públicos tiveram início em fevereiro de 1453, na cidade de Rouen, norte da França.

Apesar de o tribunal ser da Igreja, Joana ficou detida em uma prisão laica, guardada por homens, durante todo o processo. A preocupação daqueles que a condenaram centrava-se na forte associação da figura de Joana com a coroa francesa, que passava ao largo da Igreja institucionalizada. 


O bispo de Cauchon insistia para que Joana duvidasse das revelações que ela dizia receber, mas a Donzela não cedia. 

A conclusão do processo foi condenação por heresia, feitiçaria, blasfêmia e adivinhação, entre outros crimes. 

A punição para casos como esse era a morte na fogueira. Joana chegou a ser levada ao local onde seria queimada, mas, amedrontada, cedeu às pressões do bispo. Assinou um documento confessando-se mentirosa. 

Só não notou que o papel que lhe deram para assinar não era o mesmo cujos termos lhe haviam sido lidos anteriormente. Sem saber, Joana comprometera-se a permanecer presa pelo resto da vida, a pão e água, e também a vestir, dali por diante, somente roupas femininas - em vez das masculinas que usara durante o período como general. 


Era essa a armadilha de Cauchon. Para vê-la morta (e obter as recompensas prometidas pelos ingleses), ele tirara as roupas femininas da cela onde Joana dormia. Com medo de ser violentada pelos guardas, a Donzela não teve escolha, se vestiu como homem e quebrou o acordo. Joana não se desesperou: sua fé lhe dava a certeza de que estaria liberta, ao menos espiritualmente. 

Joana D'Arc tinha o dom da liderança. Mas era também uma pessoa embebida em espiritualidade - como uma esponja colocada em água. E isso a tornava quase invencível. 


Em 30 de maio de 1431, Joana foi queimada viva numa praça de Rouen.

Para os ingleses, foi motivo de alívio. Para aqueles que acreditavam na Donzela, parecia que a própria França se dissolvia em chamas. Para jovem, era apenas uma etapa antes do Paraíso. 

Coragem, Joana. Você é livre agora.

De Hereje a Santa

Joana D'Arc foi queimada na fogueira como feiticeira. Sendo assim, o rei Carlos VII teria sido coroado pelas mãos de uma herege, o que poderia desmoralizá-lo. 

Em 1450, o monarca solicitou um inquérito preliminar sobre o julgamento de Joana. Mais tarde, Isabelle Romée, a mãe da jovem, pediu a revisão do processo. 


Testemunhos foram tomados em diversas partes da França. Foram ouvidos, entre outros, os militares que acompanharam Joana nas batalhas. Por fim, em 1456, declarou-se nulo o julgamento de 1431 que condenava a donzela por heresia e blasfêmia. 

Ela voltava a ser motivo de orgulho para o povo francês.

Joana D'Arc é o símbolo mais forte da França. A jovem camponesa tornou-se heroína nacional, lembrada da Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial graças às características a ela atribuídas: santa e libertadora. 

Tornou-se também um ícone para os movimentos feministas. 


A canonização foi fruto da iniciativa do Papa Bento XV de fazer justiça a Joana, cinco séculos mais tarde, em 1920. A Igreja do século 20 não teve vergonha de pedir perdão.

Os milagres atribuídos a Joana e considerados no processo relacionam-se à cura dos doentes em estado terminal que evocaram a Donzela. 

Nos calendários católicos, 30 de maio é o dia de Santa Joana D'Arc. A fé foi o combustível para as vitórias de Joana e de seu povo. Para uma nação passando por lutas, a experiência da fé trazia esperança. Para Joana, trouxe amor, o que justificou seu sacrifício. 


Fim.:.


Referências Bibliográficas

Livros

Joana D'Arc, de Mark Twain, Ed. Record, 2001.

Jeanne d'Arc, de Régine Pernoud, Éditiouns du Seuil, 1959.

Filmes

A Paixão de Joana d'Arc, de Carl Theodor Dreyer, França, 1928.

Joana d'Arc, de Luc Besson, EUA, 1999.

Filme

Santa Joana D'Arc, de 1948 - completo.



Vídeos-Documentários












 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quem são os Amish?


Eles usam charretes para o transporte e suas casas não dispõem de nenhuma invenção moderna, como eletricidade, telefone ou televisão. 

Não, essa não é uma comunidade da Idade Média. Numa das maiores potências industriais do mundo, os Estados Unidos, vive um grupo que se opõe à tecnologia em nome da fé: os Amish


A seita nasceu na Europa, no século 17, de uma fragamentação entre os menonitas, um dos ramos protestantes surgidos com a Reforma.

Seguindo os princípios estabelecidos pelo suíço Jakob Ammann - amish quer dizer "os seguidores de Ammann" - os fiéis vivem segundo uma interpretação rígida dos preceitos bíblicos, que, entre outras características, propõe uma postura contrária à modernidade e o isolamento em relação a outros povos, considerados infiéis.


A oposição aos costumes predominantes na sociedade é um dos pilares amish. Esse sectarismo fundamenta-se em uma visão própria do Livro Sagrado que não aceita contestação.

Além de avessos ao progresso, os amish só vivem em núcelos rurais, não têm igrejas - reúnem-se em suas próprias casas - e, entre outras particularidades, educam as crianças apenas até o oitavo ano de escolaridade. 


Ou seja, são uma comunidade completamente à parte do resto da América do Norte. Foi para lá que o grupo puritano se dirigiu após as perseguições religiosas na Europa.

Atualmente, os cerca de 150 mil amish concentram-se nos Estados Unidos, principalmente no Estado da Pensilvânia, e no Canadá.


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Referências Bibliográficas

Livro

O Enigma da Cultura Amish, de Donald Kraybill, ed.Johns Hopkins University Press, 2001


Documentários


 



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Joana D'Arc, A Santa Guerreira - Parte 2


No dia da audiência, Carlos VII pôs outro homem sentado em seu trono e misturou-se aos cortersãos presentes, Joana caminhou até o trono e parou. Olhou em volta e identificou o governante na multidão. Corando, jogou-se aos pés dele.

Depois, Joana fez ao delfim uma revelação secreta, "vinda dos céus". Isso o convenceu a confiar na jovem. 


Submetida a uma bancada de clérigos na cidade Poitiers, onde foi considerada "boa cristã", Joana foi nomeada general comandante-em-chefe dos exércitos da França.

Em 28 de abril de 1429, ela e suas tropas partiram para a cidade de Orléans, onde os ingleses haviam construído um cerco isolando os habitantes do restante do reino.

Numa época em que as mulheres se restringiam às atividades domésticas e jamais ocupavam postos militares, a fervorosa Joana liderava um exército e conquistava o respeito e a confiança dos soldados. No acampamento de sua tropa, não havia prostitutas nem bebida, e os homens se confessavam com frequência e iam à missa. 


A Donzela, como a própria Joana se fazia chamar desde a apresentação ao delfim - o nome de família "d'Arc" só foi atribuído a ela depois de sua morte - liderou os ataques contra o cerco inglês em Orléans. Foi ferida no ombro, mas, segundo testemunhas, extraiu com as próprias mãos a lança que lhe atravessava o corpo e logo voltou ao combate. 


Joana acabou com a resistência inimiga que assombrava a cidade havia sete meses. E, no fim, orou pelas almas dos ingleses mortos na batalha. O fato de uma camponesa ter derrotado um exército poderoso revela a intervenção de Deus, afirmam os teológos católicos. 

Outras vitórias seguiram-se. Devido à aceitação popular que Joana conquistou, a motivação religiosa libertadora era o que havia de mais evidente. Mas não podemos esquecer suas vitórias nas guerras. Tudo cairia por terra se ela não conquistasse perante o exército e à população a confirmação de que levava uma mensagem verdadeira. 


Em 17 de Julho de 1429, Carlos VII fez o juramento real e foi ungido com o óleo sagrado. A vontade de Deus cumpria-se. 

Morte na Fogueira

Restavam apenas alguns povoados, que ainda estavam sob domínio inglês, para completar a reunificação da França. 

Carlos VII, já como monarca, havia proposto uma trégua a Felipe de borgonha, governador de Paris nomeado pelo duque de Fedford, da Inglaterra. Este, porém, impôs como condição para a suspenção do conflito que lhe fossem entregues algumas cidades francesas. O rei, que autorizara um ataque a Paris, voltou atrás e decidiu fazer o acordo. 

Para Joana, porém, a missão não tinha terminado.
Em maio de 1430, decidiu desmontar a resistência inimiga em Compiègnhe, cidade subjugada por Felipe de Borgonha. Com algumas centenas de soldados, atacou o cerco, mas foi rechaçada.

As tropas inglesas auxiliaram as borgonhesas e o exército francês, em pânico, recuou. Durante a batalha, Joana foi encurralada. Sua guarda pessoal resistiu até quando pôde, mas a Donzela acabou presa e levada ao duque de Borgonha. 


Era de se esperar que Carlos VII pagasse o resgate da prisioneira, mas isso não ocorreu. Foi a oportunidade que os ingleses esperavam para silenciar Joana e, assim, acabar com a fonte do nacionalismo francês.


Continua...

 


sexta-feira, 19 de abril de 2013

O que é a Igreja Católica Brasileira?


Fundada em 1945 como uma dissidência da Igreja Romana, a Igreja Católica Apostólica Brasileira (Icab) foi criada pelo bispo dom Carlos Duarte Costa, que, na época, comandava a Diocese de Botucatu, em São Paulo.


Embora ocupasse um dos altos postos na hierarquia católica, o bispo criticava abertamente vários dogmas da instituição, como o celibato obrigatório e a infabilidade papal.

O sacerdote também causava polêmica por sua atuação política: foi taxado de comunista, por entre outras coisas, defender a reforma agrária e, em 1942, chegou a apelar ao então presidente Getúlio Vargas para que intervisse na Igreja e expulsasse os religiosos que, segundo Dom Carlos, seriam fascistas e nazistas.


Não sendo atendido, acusou a Igreja de espionagem em favor do totalismo. 

As atitudes de dom Carlos o colocaram em confronto direto com a Igreja Católica e, após cumprir uma suspensão, em 1944, foi, por fim, excomungado um ano depois.

O bispo saiu atacando: "Deus não é e nem foi propriedade de nenhuma religião", disse ele. E, no mesmo dia de sua excomunhão, fundou a Icab, pregando a total independência da igreja em relação a Roma e ao papa.


A não aceitação do papa como autoridade infalível, aliás, é uma da principais diferenças entre a Igreja Romana e a Brasileira. A filosofia da Icab é a de que todos os homens estão sujeitos a pecar, e, como homem, o papa deve ser visto da mesma forma.

A Icab também defende ideias que podem ser consideradas mais liberais, como a aceitação do divórcio - segundo sua doutrina, como todo Ser Humano comete erros, todos devem ser perdoados e ganhar nova oportunidade de constituir uma família.

As discordâncias em relação ao Vaticano podem ser observadas ainda na não obrigatoriedade do celibato clerical e na defesa do controle de natalidde.

Outra diferença é que em sua liturgia não existe confissão auricular, que é feita ao padre. Há, sim, uma confissão comunitária, realizada mentalmente durante a celebração.


O fiel confessa a Deus, e cabe ao padre, em nome do Criador, lhe dar a absolvição. Já os Sacramentos, como Batismo, Casamento e Crisma, são iguais. Entretanto, apesar das semelhanças de ritual, como no caso dos sacramentos, a Igreja Católica Romana nunca reconheceu a legitimidade da Icab. Da mesma forma, não valida as ordenanças feitas por ela.

Seja como for, ao longo dos anos a Icab atraiu para suas fileiras vários religiosos afinados com as ideias de seu fundador - os novos sacerdotes são formados em três seminários, localizados em Brasilia (DF), Curitiba (PR) e Niterói (RJ).

(Icab Brasília)

Diversos adeptos também foram seduzidos e, atualmente, a igreja conta com cerca de 500 mil fiéis espalhados por todo o Brasil, em mais de 800 templos. 

Referências Bibliográficas

Site

www.icab.org.br


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Joana D'Arc, A Santa Guerreira - Parte 1


A jovem francesa, seguindo as orientações do arcanjo Miguel - que ela dizia ouvir - liderou o exército da França na Guerra dos 100 anos. Apesar de vitoriosa nas batlhas, foi condenada à fogueira como herege. 

"Joana, seja boa e frequente a Igreja". 

A voz parecia vir do céu. Era verão de 1425 e Joana, uma adolescente francesa de 13 anos, filha de camponeses , ouvia-a pela primeira vez. Sentiu medo.


Dias mais tarde, o pedido repetiu-se. Na terceira vez, Joana reconheceu a voz sendo a de um anjo, e o temor deu lugar à fé. Cercado de luz, Miguel - o arcanjo da fé, da proteção e da libertação do mal - disse-lhe: "É preciso ajudar o rei da França".


Há gerações a França não conhecia a paz. Fragilizada pela Guerra dos 100 anos, como foi chamado o conflito contra os ingleses iniciado em 1337, viu a situação piorar quando João Sem Medo, duque de Borgonha, assassinou o duque de Orléans, dando origem a uma guerra inteira. 


O filho de João Sem Medo, Felipe, da facção borgonhesa, aliou-se à Inglaterra e também passou a guerrear contra a França, na época sob a coroa de Carlos VI.


Em 1420, Henrique V, rei da Inglaterra, casou-se com Catarina, filha do monarca francês. A união, porém, não trouxe alento para a França. Após a morte do rei Carlos VI, o delfim Carlos VII, irmão de Catarina e tio do herdeiro do trono, envolveu-se em batalhas contra as tropas franco-inglesas.

Carlos VII era conhecido como governante somente no sul da França, e enquanto o norte respondia à coroa inglesa. Com a guerra, todo o país sucumbia à fome e à peste. 


Três anos passaram-se desde as primeiras aparições do arcanjo à Joana. Além dele, as santas Catarina e Margarida também manifestavam-se à menina. Os três estimulavam-na a cumprir uma missão divina: libertar a França do jugo inglês. 


A notícia da garota que vivia em Domrémy, uma pequena cidade no nordeste do país, e tinha visões celestiais, começava a se espalhar pela região. 


Em 1428, ela recebeu a incumbência que mudaria sua vida: 

"È preciso levantar o cerco em Orléans. Procure Robert de Baudricourt, em Vancouleurs; ele lhe dará homens para acompanharem-na até Chinon, onde está o delfim".

Convicta da urgência da tarefa, Joana conseguiu convencer o tio a levá-la à cidade de Vaucouleurs. Para ela, acima do arcanjo ou das santas, estava o próprio Deus a lhe chamar. 

Os santos são mediadores, pessoas que a Igreja apresenta como exemplo, porque obtiveram êxito no entendimento pleno de Jesus. São canais de contato com Deus.

O povo passava a considerar Joana uma enviada divina. Entre os séculos 14 e 15, houve uma gradual aproximação da religião com as camadas laicas da sociedade. Aumentou o uso do sermão, no lugar da missa tradicional, e da língua vulgar, em vez do latim, em espaços não litúrgicos, como praças e mercados. 


Naqueles tempos de guerra, enquanto as perdas e o sofrimento se faziam inevitáveis e a religiosidade parecia como consolo, não era difícil enxergar numa jovem como Joana uma espécie de "salvadora do reino". 


Relutante a princípio, o capitão francês Baudricourt leal a Carlos VII, convenceu-se de que Joana poderia ser útil quando ela previu a derrota dos franceses numa batalha perto de Orléans. A garota não só conquistou a confiança do capitão como conseguiu uma escolta para ir a Chinon, no sudoeste da França.

A fé é semelhante a intuição, a capacidade de resolver problemas concretos sem ter dados sobre eles amplia o campo de conhecimentos sobre Deus, sobre a própria pessoa e sobre o próximo. 

Em fevereiro de 1429, Joana, então com 17 anos, chegou a Chinon, uma das cidades mais protegidas da França, e solicitou uma audiência com o delfim Carlos VII. Ele ouvira falar da jovem tida como enviada divina e resolveu testá-la. 


Continua...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Santa Morte


Considerada pela maioria das pessoas um dos personagens mais tétricos que existem, a figura acima, ganhou um culto em sua homenagem e já começa a dar dor de cabeça para o governo mexicano. 

O culto à morte existe há milênios no México, mas La Santa Muerte, como é chamada a nova crença, só foi legalizada como grupo religioso em 2003. Porém, com a denúncia de um ex-adepto, que afirma que a seita forçaria os membros a cultuarem a morte, as autoridades ameaçaram cancelar o registro do grupo. 

Segundo os adeptos, para quem a dona da foice medonha, na verdade, seria um anjo a serviço de Deus e tudo não passaria de perseguição.



"Estai assustados com o nosso crescimento, pois já somos 2 milhões de seguidores, mas não abandonaremos nossa crença", afirma o líder da seita, David Romo Guillen, que promete pedir ajuda à padroeira em sua luta. 

Apesar de parecer estranho para nós, a adoração da morte no México remonta a época Maia e Asteca, onde seus habitantes cultuavam a deusa Coatlicue e/ou Mictecacihuatl, uma deusa bela e maternal no início de sua vida, mas depois de traída por seu marido e mais tarde por seus muitos filhos, se tornou sombria e vingativa.


Condenada a viver num templo e guardá-lo sob a forma de uma serpente, ela um dia, se viu grávida por um deus beija-flor, e sua vida mudaria para sempre, se tornando a Grande Deusa da Vida e Ressurreição. 

Para entender mais sobre esse mito e tema, assista ao vídeo:






quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Grande Epopéia Humana - Parte 2



A glória dos cinco irmãos só é possível graças a Krishna, que consegue suplantar o exército inimigo com seu poder e sua astúcia. E não é para menos, pois Krishna é a encarnação de Vishnu, deus que, junto com Brahma e Shiva, compõe a trindade suprema do panteão hindu. 

Durante os combates Krishna induz os Pandavas a tomar alguma decisões que, se por um lado garantem a vitória, por outro podem ser interpretadas negativamente.


Em uma batalha decisiva, por exemplo, ele conduz a carruagem de Arjuna, um dos cinco Pandavas, contra o veículo de um líder das forças adversárias. A luta já se estendia por vária horas, com uma ferocidade inimaginável - para se ter uma ideia, são lançadas tantas flechas, de ambos os lados, que estas chegam a obscurecer o céu. 


De repente, ao notar que Arjuna está em desvantagem, Krishna faz com que a roda do carro do oponente encalhe na terra, revertendo a situação em favor do seu aliado. 

No confronto final, encontramos outro aspecto duplo de Krishna, que ordena a um dos cinco irmãos que bata com sua clava nas pernas de Duryodhana, o comandante do exército inimigo. 


Mesmo sabendo que o golpe não é permitido pelas leis éticas de combate, o agressor obedece ao conselheiro e sela o destino de seu oponente. Enquanto agoniza, o líder dos Kauravas lança impropérios sobre Krishna, acusando-o de iniciar um ataque proibido. O deus ouve Duryodhana e, então, responde com serenidade: "Teu único assassino és tu".

Origem Incerta

A guerra é o ponto culminante do emaranhado de enredos que compõem o livro e, também, o principal episódio sobre o qual se debruçam os estudiosos que tentam ligá-lo a fatos do passado distante da Índia. 

A batalha final costuma ser associada ao ano 3102 a.C. Cientistas calculam essa data com base nas posições do zodiáco que são descritas no livro.


Mas apesar das pistas deixadas no poema, não há vestígios históricos do confronto. Os pesquisadores indianos costumam tratar o Mahabharata como história, mas não há elementos que comprovem que houve, de fato, o conflito entre os Pandavas e os Kauravas. 

Também não há consenso com relação à data em que o livro foi escrito. O problema, aqui, é a escassez de registros arqueológicos das primeiras edições da obra, com origens que remontam ao ano 1000 a.C. 


No entanto, foi descoberto em 2001 por cientistas ambientais que pesquisavam o grau de poluíção do Golfo de Câmbria, a perdida e lendária Dwarka, a cidade natal de Krishna. 


Local tido até então como mito, hoje o museu de Nova Délhi tem em seu acervo vários objetos e utensílios do dia-a-dia dos dwarkenses, informando-nos que o mito, cada vez mais, se mistura à uma falsa sensação de segurança de que tudo não passa de mera imaginação humana.


Entretanto, acredita-se que o Mahabharata tenha sido composto em sua versão definitiva por volta do ano 350 de nossa era. Há elementos filosóficos e literários no texto original que indicam que o poema deve ter sido escrito nesta época. 

Outro ponto bastante discutido é em relação a autoria do livro. Tudo indica que Vyasa, autor e personagem do poema, tenha realmente existido. Considerando que escritores como Shakespeare produziram obras tão volumosas quanto o Mahabharata, uma única pessoa pode, sim, ter produzido o poema. 


Mas alguns especialistas preferem atribuir a obra a diversos autores, cujos trabalhos teriam sido compilados para formar o volume final. Por outro lado, é possível que um único editor ou membros de uma única família de brâmanes, os sacerdotes do sistema de castas hindu, tenham sido responsáveis pela forma final do poema. 

O Dever Acima de Tudo

Para os fiéis, contudo, essas questões secundárias, e a comprovoção histórica dos fatos narrados no poema ou definição do autor perdem importância diante do conjunto de ensinamentos transmitidos pelo Mahabharata

Do nascimento do clã ao desfecho da guerra, as histórias contidas no livro representariam uma fonte inesgotável de lições que devem ser aplicadas na vida. O grande foco deste poema é a ética. E um dos elementos dessa ética milenar diz respeito às escolhas individuais. Segundo crêem os hindus, cada atitude que tomamos tem sempre um motivo, mesmo que não demos conta dele. 


Por isso, é importantíssimo que uma pessoa cumpra seu dever sem questioná-lo. 

Esse é o espírito com que se desenrola o emblemático Bhagavad Gita, ou "Canção do Divino Mestre", o principal dentre os 18 capítulos do Mahabharata.


Mais que isso, ele é considerado o coração do Hinduísmo moderno. No Mahabharata temos histórias de soberanos, métodos de governo, moral, virtude e inúmeras outras coisas. Mas o Bhagavad Gita é um compêndio de espiritualidade. 

De certa forma, ele é a primeira grande tentativa de harmonizar os diferentes caminhos até Deus. Se o Mahabharata é considerado, com razão, uma síntese do hinduísmo, o Bhagavad Gita é uma espécie de evangelho.

É nesso trecho da história que Krishna, aliado dos Pandavas, faz uma exortação a Arjuna para que este tome a decisão de inaugurar o combate - percebendo que seus primos e irmãos morreriam durante a batalha, o valente guerreiro não encontra forças par soprar a concha que sinalizaria o inicío do confronto. 


Krishna, então, dirige-se ao companheiro de luta prostrado no chão e discursa calmamente, sem se preocupar com o alvoroço da guerra iminente:

"A matéria é mutável, porém eu sou tudo o que dizes e tudo aquilo que pensas. Tudo repousa em mim, como pérolas num fio. Eu sou o perfume da terra e o calor do fogo, sou a aparição e o desparecimento, sou a serpente cósmica infinita, sou o chefe dos músicos celestes; eu sou a ciência do ser, sou a vida de cada criatura, o jogo dos trapaceiros, sou o esplendor que brilha.

"Eu sou o tempo que envelheceu. Todos os seres caem na noite e todos são reconduzidos ao dia. As arma não podem ceifar essa vida que te anima, nem o fogo queimá-la e não pode ser molhada pelas águas ou ressecada pelo vento. Não temas e levanta-te, pois eu te amo".

Ao fim do sermão, Krishna consegue tirar o príncipe do seu torpor e o convence a lutar. Afinal, aquele era o destino de Arjuna. 

Embora essa mensagem de que é importante seguir o próprio destino, mesmo que isso signifique promover uma carnificina entre os membros de uma mesma família, possa parecer paradoxal, o Mahabharata, na verdade, nos convida a ver mais além. 

Entre defender a família, preservar o reino unido ou cumprir o dever, o poema nos ensina que a última opção é a que deve ser seguida. E talvez convenha não duvidar de seus versos, pois segundo os hindus, o que não está no Mahabharata não está em parte alguma.

Trata-se, afinal, de um poema do tamanho do mundo. 


Fim.:.


Referências Bibliográficas


Livros 

Mahabharata, versão de William Buck, ed. Cultrix, 1994.

Mahabharata pelos Olhos de uma Criança,  de Samhita Arni, ed. Conrad, 2003.

Hinduísmo ou Sanátana Dharma, de Solange Lamaitre, ed. Martins Fontes, 2000.

O Mahabharata - Versão Romanceada, de Jean-Claude Carrière, ed. Brasiliense, 1989. 

Filme

O Mahabharata, Dir. Peter Brook, distr. Cinemax, 1989.

Documentários



 
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