terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fonte de Satisfação, Perigo de Tentação! - Parte 2


Na Bíblia, os ricos já foram duramente criticados. No Antigo Testamento, profetas ergueram a voz contra aqueles que acumulavam riquezas à custa da exploração do povo.

No Novo testamento, Jesus comparou o rico a um camelo, lembrando que é mais fácil este último passar pelo buraco de uma agulha do que o rico ir para o céu. Mas não é preciso levar esse ensinamento ao pé da letra. "Devemos atualizar o que era falado naquela época. Muitas coisas eram ditas especificamente para os romanos e gentios", diz o pastor Eduardo Oliveira, da Igreja Renacer de Pinheiros, em São Paulo.

O dinheiro e a riqueza, neste caso, não são tidos como pecado ou sinal de que não haverá salvação para o indivíduo. O dinheiro é uma benção de Deus, desde que venha de uma maneira lícita e seja resultado do trabalho, os evangélicos afirmam.

Algumas igrejas cristãs, acreditam que a graça divina não vem apenas na forma de saúde, harmonia e paz. Bênçãos também significam benefícios financeiros. É a chamada Teologia da Prosperidade, que ganhou força entre algumas igrejas neopentecostais.

Muitas igrejas funcionam como se fossem empresas capitalistas, anunciando aquilo que diz a bíblia, mas submetendo essas mensagens à vontade do mercado consumidor religioso. Para muitos pastores, a dádiva financeira não deve ser entendida apenas como um ganho econômico. Quando se fala em prosperidade, muitas vezes se pensa em uma prosperidade financeira. No entanto, muitos asseveram que eles tem um Deus de teologia completa, que os abençoa com todas as coisas.

O aumento do poder de consumo também não deve ser a mensagem principal das igrejas, na opinião de muitas autoridades católicas.  A função princiapal da religião é anunciar a salvação em Jesus Cristo. Mas não substituir a salvação escatológica pela procura de bens materiais porque isso, em parte, é uma ilusão, dizem.

As armadilhas do desejo de enriquecimento e de prosperidade são muitas.

Sorte dos fiéis, pois não faltam parábolas, escritos e ensinamentos religiosos que mostram a melhor maneira de escapar delas.

A religião islâmica tem um ditado segundo o qual o dinheiro deve ser carregado na mão e não no coração. Se ele estiver no coração, ele controla a pessoa. Se estiver na mão, a pessoa o controla, afirmam.

Mas enriquecer não significa necessariamente sucumbir à tentação. Como bem ilustra um outro ditado, desta vez judeu: "O mais longo dos caminhos é o que leva ao bolso." - Ou seja, o processo de obtenção de dinheiro também pode reservar oportunidades de autoconhecimento.

Se analisarmos o que aconteceu nessa trajetória, conseguiremos conhecer muito sobre nós mesmos, nossos medos, inseguranças, invejas e apegos, dizem os rabinos.

O Caminho do Desapego

O dinheiro parece não exercer nenhuma atração sobre os monges digambaras, na Índia. eles levam uma vida sem confortos. Abdicam dos bens materiais, até mesmo das roupas do corpo. A única coisa que carregam é um espanador feito de penas, para afastar os insetos do caminho.

Embora o desapego aos bens materiais seja uma constante em algumas religiões orientais, muitas não levam o ideal ascético ao extremo como os digambaras.

O Zen-Budismo, por exemplo, reconhece a necessidade do dinheiro. As coisas materiais podem nos dar condições de cuidar melhor de quem precisa, afirmam.

Contudo, se o dinheiro é bem-vindo, os execessos e luxos não são. Os bens materiais, acreditam os zen-budistas, embora tragam conforto, também podem aprisionar. Com o tempo, muitas pessoas não conseguem mais viver se não tiverem dinheiro sobrando, se não vestirem a roupa de grife, se não almoçarem no restaurante da moda.

Como se a vida dependesse dessas coisas. Por isso, os monges - de qualquer corrente do Budismo - exercitam o desapego com atos como raspar o cabelo, trocar as roupas pelo tradicional manto e abrir mão da riqueza pessoal.


Continua...





sábado, 27 de outubro de 2012

Fonte de Satisfação, Perigo de Tentação! - Parte 1


Amado, desejado e idolatrado, o dinheiro virou uma espécie de deus das sociedades capitalistas. Atentas ao perigo, as religiões ensinam a melhor maneira de lidar com ele e escapar das armadilhas da ganância. 

Trinta moedas de prata por um beijo. A proposta era tentadora e Judas não pensou em recusar. De olho na pequena fortuna, aceitou denunciar seu mestre aos homens que queriam matá-lo. Afinal, pensou, só precisaria beijar Jesus na face para identificá-lo para os algozes e encher o bolso de moedas.



Foi bem pago por isso. Mas, em troca, tornou-se um dos personagens mais odiados de todos os tempos, símbolo daqueles que não hesitam em trair ou mentir por uma boa quantia de dinheiro.



O exemplo de Judas é apenas um entre tantos maus atos que já foram cometidos em nome do dinheiro. Esses pedaços de papel e esferas de metal surgiram para agilizar o comércio entre os homens, substituindo a antiga troca de mercadorias.



As primeiras moedas apareceram no século 7 a.C., no reino da Lídia (atual Turquia), e facilitaram a vida em sociedade. No entanto, mais do que um meio para adquirir coisas, o dinheiro passou a ser visto como uma forma de obter poder. E por ele muito se mentiu matou, destruiu e escravizou.



O escritor inglês George Bernard Shaw certa vez afirmou: "A falta de dinheiro é a raíz de todo os males". Será que o acúmulo ou a ausência de riquezas consegue despertar o que há de pior nos indivíduos? Para as religiões, o problema não está exatamente no dinheiro, mas na forma como nos relacionamos com ele. O dinheiro é um meio, como tudo nesse mundo. Pode ser usado para o bem ou para o mal.



Em si, o dinheiro não é nada. É um pedaço de papel. O problema é que aquilo que surgiu para facilitar nossas vidas começou a ser objeto de desejos.



O dinheiro ganhou o estatus de um verdadeiro deus na sociedade capitalista. Passou a ser adorado, respeitado, temido e buscado incessantemente. O ser humano está tão influenciado pela cultura capitalista que faz do dinheiro o fim último da vida.



É isso o que todas as religiões criticam. No Cristianismo, por exemplo, a devoção ao dinheiro é combatida por ser irreconciliável com os ensinamentos de Jesus. Ele nos ensinou que não podemos servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro. Esta passagem se refere ao Evangelho de Mateus 6:24.



A exigência básica das religiões é que, ao relacionar-se com o dinheiro, o fiel esteja de acordo com os preceitos de sua fé. E não se trata apenas de obedecer a normas morais. algumas crenças também orientam seus adeptos sobre questões práticas envolvendo as finanças.



É o caso dos mórmons, por exemplo, que aconselham os fiéis a não contrair dívidas e a evitar compras a prazo. Eles dizem que seus membros fiéis da Igreja não tem o nome sujo na praça.


O Caminho da Properidade


A natureza está cheia de lições que ensinam a lidar com o dinheiro. É o que garantem os adeptos do Taoísmo, religião milenar chinesa.



O calor que sucede o frio, a seca após a chuva, a abundância de vida ou a escassez dela. O mundo tem seus ciclos e o dinheiro também. Por isso, é importante ficar atento a esses altos e baixo. Na nossa vida, o dinheiro segue essa lei natural. Às vezes, está menos disponível, às vezes, mais.



O grande cuidado, segundo os taoístas, é não cultivar o desejo da riqueza e agir conforme a circunstância que se apresenta. Por isso, no período de fartura, os taoístas sabem que precisam fazer uma pequena reserva para os momentos de escassez. Isso é pragmatismo!



Pragmáticos também são os mórmons. Para eles, dinheiro garante educação. Educação garante boas oportuniddes de trabalho e, com um bom emprego, o fiel pode cuidar melhor de sua família e do próximo.



Eles acreditam que tudo o que tem vêm de Deus. Diante disso, o dinheiro deve ser usado adequadamente para promover o bem de suas família, de sua sociedade e do próximo, ele afirmam. Os mórmons não condenam a busca da prosperidade e do sucesso material. Pelo contrário. Estimulam a auto-suficiência, especialmente entre os jovens, que são incentivados a destacar-se nos estudos e no trabalho. Para eles não é errado tornarem-se ricos, desde que isso ocorra com o intento de praticar o bem.



O judaísmo tembém não abomina a riqueza. A questão é o que fazer com ela. Mas é preciso entender bem o que é ser rico. No livro A Cabala do Dinheiro, o rabino Bonder explica que existem vários tipos de riqueza. Há a riqueza interna (estar satisfeito com o que tem), a pessoal (abundância material, emocional, intelectual e espiritual) e a coletiva, que é a partilha da abundância com o próximo. "Sem contemplar todas essas facetas, ninguém é verdadeiramente rico", diz ele.




Continua...


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Jantar Medieval 2012


Lindo encontro entre amigos e adeptos da bruxaria. 

Covens e bruxos solitários participaram deste encontro com comes e bebes em homenagem a Deusa e ao Deus, mas também em homenagem a todos nós, filhos perdidos mas encontrados nesta sabedoria antiga e sobrevivente.

Para os que não puderam participar, fica a saudade e o convite: Próximo ano tem mais! 

Mas, se você não pôde estar lá, assista ao vídeo com as imagens do encontro!

Beijos a todos os irmãos e adeptos. 

ARANEL DIOR.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 4



Iansã e Xangô - Entre Tapas e Beijos

Xangô desejou Iansã, mulher de Ogum, logo à primeira vista. Também Iansã não resistiu àquele homem de beleza fascinante, vestes vermelhas e cabelos trançados. foi paixão fulminante. Ela largou Ogum imediatamente e fugiu com Xangô.

O marido, contudo, não deixou barato. Quis disputá-la com o rival. Porém, ao ver o grande exército de Xangô, Ogum não teve escolha senão desistir.

Iansã era uma mulher fogosa e independente, que não admitia ser comandada por ninguém. Também era bastante audaciosa. Tinha sido parceira de vários orixás e com cada qual conquistara novos poderes.

De Xangô, ela roubara as pedras mágicas do raio. Estava com elas na mão quando ele chegou de surpresa. Para não ser flagrada, Iansã rapidamente escondeu as pedras na boca. No entanto, cheia de saudade do amado, acabou denunciando-se quando, ao falar, soltou labaredas da boca.

A fúria de Xangô foi tão grande que a orixá teve de fugir.

Tentou primeiro voltar para Ogum, que não quis acolhê-la e, depois, para Oxóssi, seu primeiro parceiro, que também não a ajudou.

Foi salva, então, por Obaluaiê, na casa dos mortos. Ele lhe deu um exército de defuntos para que a defendesse de Xangô. Mas Iansã já sentia falta da folia e das carícias do amado e chorava de saudade, Xangô, por sua vez, não gostava nada de defuntos. Quando se reencontraram, resolveram negociar.

A guerra reacendeu a paixão. Durante o ato de amor entre Xangô e Iansã, a terra tremeu, houve ventanias, raios e tempestades e jorraram labaredas de fogo de todos os lados.

Xangô já havia tido várias parceiras e Iansã, muitos homens, mas ela nunca mais o deixou e tornou-se sua melhor companheira. Xangô casou-se também com Oxum e Obá. Porém, enquanto as outras se preocupavam mais com faceirices e dengos, Iansã o ajudava a lutar contra os inimigos nas guerras.

A beleza, a paixão e o senso de justiça mantinham os dois intimamente ligados. Este casal mostra que o amor entre homem e mulher é sagrado e que o sexo pode ser sinônimo de vida e criação. Não há noção de pecado no Candomblé.

Do erotismo reprimido a ardentes paixões como a de Iansã e Xangô, as histórias religiosas sobre casais trazem uma das facetas da busca do homem pela transcendência. Por meio da vivências, das dores e das delícias do amor, é possível compreender a plenitude da relação com o Ser Supremo.

O amor entre um casal é uma das formas mais belas de expressar e vivenciar a gratidão e o amor ao Criador. Como escreveu São Bernardo, num texto do século 12:

"Ó amor abrupto, veemente, abrasador, impetuoso, que não permite pensar noutra coisa senão em ti!"


Fim.



Referências Bibliográficas

Livros:

Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, ed. Companhia das Letras, 2003.

As Mais Belas Lendas da Mitologia, tradução de Mônica Stahel, ed. Martins Fontes, 2000.

Indian Mythology, de Jan Knappert, ed. Diamond, 2002.



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 3



Rhada e Krishna - As Delícias do Amor Proibido

Atraente e moleque, o deus Krishna não perdia oportunidade de fazer alguma traquinagem.

Quando se tornou adulto, passou às brincadeiras eróticas - como roubar e cheirar as roupas das vaqueiras (também chamadas de gapis, eram mulheres que viviam das atividades agrícolas e da pecuária) enquanto se banhavam no rio. Não havia mulher que não caísse enfeitiçada por seu charme, sua força e sua riqueza.

Todas faziam verdadeiras loucuras pelos carinhos dele. Noite após noite, abandonavam os maridos, sem que eles percebessem, e iam para a floresta encontrar-se com o amante. Todos tinham a ilusão de que eram escolhidas, porque ele se dividia em muitos homens para agradá-las e punha em ação seus quatro braços.

Mesmo tendo as mulheres mais lindas que quisesse, Krishna apaixonou-se por Rhadarani, sua amante preferida, com quem se escondia na chamada Floresta da Multidão, repleta de trepadeiras.

Desde a primeira troca de olhares entre eles, relâmpagos cruzaram os céus e o deus constatou que aquela mulher era muito especial. Krishna sentiu-se atraído pela jovem de cabelos negros, sempre enfeitada com flores e jóias. Nas noites de amor, sob o luar da madrugada, bailavam ao canto de pássaros, à beira do lago, a dança dos amantes perfeitos e abraçavam-se seguido o som da "flauta que encanta todos os seres", pertencente a Krishna.

Enquanto o deus tinha Radharani nos braços, nasciam flores ao redor deles. Oamor apossou-se do coração dos dois e eles se tornaram um só ser.

"Enquanto o casal se ama, as gotas de suor brilham na face de Radha, como pérolas ao luar presenteadas pelo próprio deus do amor. Com todo o seu ardor, ela beija os lábios do amado, assim como a lua beija o botão entreaberto do lótus. Seus cabelos sacodem-se ao movimento do corpo. São campainhas de ouro cantando glórias ao deus do amor!" - conta o poema Êxtase, do poeta hindu Vidyapati.

Quando Krishna decidiu partir e casar-se com outras oito mulhreres, Radha voltou ao marido e morreu de saudade. Este é considerado o maior romance da literatura indiana. Rhada representa a alma à procura de Deus, a psiquê buscando sua identidade.

A descoberta de Radha por Krishna é a descoberta da força dentro dele mesmo. A história mostra também que nada é mais estimulante para os indianos do que o amor proibido, que desperta a fúria e o entusiasmo.

Conta a lenda que os arbustos de manjericão tornavam-se mais bonitos quando pisados pelo casal Krishna e Radha. Até hoje, as devotas do Hare Krishna que querem casar-se giram três vezes em volta de um vaso de manjericão.


Ísis e Osíris - Coração em Frangalhos

Ísis e Osíris formavam um casal perfeito e governavam o Egito com muita sabedoria, sendo, por isso, adorados pelo povo. Eram benevolentes, justos e misericordiosos. Osíris amava a sensualidade e a inteligência de Ísis e ela também era apaixonada pela beleza e pelo ideal de justiça do marido.

A felicidade e a fama do casal, no entanto, era invejada por Seth, irmão de Osíris, que resolveu matá-lo para tomar o poder.

Ardiloso, Seth tirou as medidas do corpo do irmão e mandou fazer uma bela arca adornada com pedras preciosas. Numa festa em comemoração a Osíris, inventou que presentearia, com a arca, quem nela coubesse. Todos os convidados experimentaram-na, mas era grande demais para eles.

Quando Osíris foi testá-la, Seth fechou-a, lacrando-a e jogando-a no rio Nilo.

A notícia do desaparecimento do bom governante espalhou-se depressa e Ísis chorou de dor. Desesperada, rasgou as próprias roupas e cobriu o rosto de lama, lembrando que poucas horas antes sentira as carícias do amado. Pensava que ia enlouquecer com a falta de seu inseparável companheiro.

Depois, calou-se, vestiu roupas de luto e cortou uma mecha de seus cabelos. Mas a amargura não a fez desistir de encontrá-lo.

Ísis procurou seu marido por todo o reino até encontrar, finalmente, a arca com Osíris. Ao abri-la, chorou sobre o belo rosto moreno do marido ainda intacto e beijou delicadamente seus lábios. Depois, escondeu a arca nos pântanos. Ia buscar uma solução para revivê-lo. Seth, porém, descobriu o artifício da cunhada e furioso cortou o corpo do irmão em 14 pedaços e espalhou pelo Egito.

A persistente Ísis resgatou cada parte do marido até recompor seu corpo. E com sua magia, consegiu ressuscitá-lo temporariamente. Nesse breve e inesquecível momento, o casal fez amor pela última vez e Ísis conseguiu engravidar.

Hórus, o filho, permaneceria na Terra para vingar seu pai. Mas tarde, ela ainda usaria seus poderes de sedução para transformar-se numa linda mulher e fazer Seth reconhecer os erros que cometeu.

É uma relação de amor muito equilibrada, onde um respeita muito o outro. Também apresenta uma mulher não submissa, que luta pra reconstruir a relação. Na religão egípcia, eles representam a passagem da vida para a morte.

No tribunal do mundo inferior, Osíris pesa o coração dos mortos para ver se podem viver em plenitude a vida espiritual e Ísis é sua conselheira.

Ísis tornou-se a mais popular das deusas, por seus poderes mágicos, e é considerada a fundadora da família. Osíris é o deus da terra e da vegetação. Sua morte simboliza a estiagem anual e seu renascimento, a cheia do Nilo e o desabrochar do tribo.


Continua... 

sábado, 20 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 2



Rainha de Sabá e Salomão - Perfumes, Enigmas e Muita Paixão

Salomão, rei de Israel, um dos personagens mais experientes da Bíblia no quesito paixão, possuía um harém de mil mulheres. A ele foi atribuída a autoria do Cântico dos Cânticos, embora muitos estudiosos contestem o fato.

Os detalhes do seu relacionamento amoroso mais célebre, a paixão vivida com a rainha de Sabá, também aparecem no livro etíope Kebranagsh (Glória do Rei) e complementam a Bíblia.

A sedutora rainha de Sabá encantou Salomão ao chegar a Jerusalém com sua comitiva cercada por camelos carregados de grande quantidade de ouro, pedras preciosas e uma abundância de perfumes jamais conhecida.

A bela mulher era sacerdotisa suprema em seu país (atual Iêmen) e praticava a religião astral de adoração ao Sol e à Lua. Na entrada do suntuoso palácio, precisou levantar ligeiramente seu vestido porque pensou que estivesse andando sobre as águas quando passou pelo chão espelhado. Foi a visão das torneadas pernas negras da rainha, refletidas no piso, que fisgou Salomão.

A fama da sabedoria do rei (que também era famoso pela beleza) ultrapassava fronteiras e a mulher queria testá-lo por meio de enigmas. Expôs a ele todas as suas inquietações, prontamente esclarecidas por ele. Quando a rainha - já maravilhada por sua nobreza e belo porte - comprovou sua inteligência, perdeu o fôlego e ficou fora de si.

Encantada com as perspicazes respostas dele, encheu-o de elogios: "Eu não queria acreditar no que diziam antes de vir e ver com os meus próprios olhos, mas de fato não me haviam contado nem a metade: tua sabedoria e tua riqueza excedem tudo quanto ouvi!"

Com a madeira de sândalo que ganhou da rainha, Salomão fez balaustradas para o Templo de Iahweh e liras e harpas para os músicos do palácio real. Ofereceu à rainha tudo o que ela desejou e pediu. A sintonia era tanta que viveram uma ardente paixão.

Das noites envoltas nas mais sedutoras fragrâncias nos aposentos do castelo nasceria o jovem Meneloque, fruto desse amor arrebatador entre os dois governantes. Mas eles não ficaram juntos. Grávida, a rainha voltou com seus servos para Sabá.

Quando o filho completou a maioridade, retornou a Jerusalém para visitar o pai e levou consigo a Arca da Aliança, conforme a tradição etíope. Mais tarde, ele se tornaria o fundador da dinastia salomônica nas igrejas da Etiópia.

Esta história retrata o amor de uma mulher independente e bem-resolvida sexualmente, que fugia dos padrões da época porque escolheu com quem se deitar e ter seu filho. A história mostra que Salomão adquiriu sua sabedoria com as mulheres, porque  somente uma sábia poderia testá-lo.


Raquel e Jacó - Amar dá Trabalho!

Apesar do cansaço de vários dias de viagem, Jacó não pôde deixar de notar a linda pastora de ovelhas que se aproximava. Imediatamente, prontificou-se a remover a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas para agradar à jovem Raquel. Não consegiu controlar-se e, no ímpeto, roubou-lhe um beijo.

Mas, ao mesmo tempo, foi tomado de tristeza: eles eram primos. A muito custo, conseguiu contar à moça que era sobrinho de Labão, o pai dela. Raquel, então, o levou para sua casa, onde ele passou a morar e trabalhar para o tio.

Quando estava longe dos olhares dos outros, Jacó dedicava um bom tempo admirando a beleza da prima. O desejo de tê-la a seu lado era forte demais, mas não podia pedi-la em casamento pois não tinha dote a oferecer. Então propôs ao tio servir-lhe ao longo de 7 anos, sem remuneração, para poder casar-se com Raquel. Durante todo esse tempo, aguardou ansiosamente o dia em que teria a amada nos braços.

No fim do período combinado, Labão, porém, enganou o futuro genro. Em vez de Raquel, fez com que Jacó se casasse com Lia, a filha mais velha e menos formosa. Na noite de núpcias, como a noiva estava com o rosto coberto, Jacó dormiu com Lia na certeza de que estava deitando-se com Raquel.

Somente pela manhã ele descobriu a verdadeira identidade da mulher ao seu lado. Desesperado, foi tomar satisfações com o sogro. Labão, sem perturbar-se, sugeriu que Jacó esperasse o fim da semana de festas nupciais para entregar-lhe Raquel, com a condição de que trabalhasse mais 7 anos em suas terras.

Jacó representa o sacrifício e o compromisso pelo amor, muito diferente das relações de hoje, cada vez mais descartáveis. Ele amava uma, mas viveu a contragosto com as duas. Lia teve vários filhos na esperança de conquistar o amor de Jacó.

Raquel, no entanto, tinha dificuldade para engravidar e, por isso, cedeu sua criada particular para que ela tivesse um filho com o marido em seu lugar (este era um hábito comum entre as mulheres estéreis da época). Quando Lia não conseguiu mais ficar grávida, fez o mesmo com sua criada.

Mesmo vivendo um amor patriarcal, as mulheres tiveram poder absoluto sobre o processo reprodutivo e amoroso de Jacó. Após o nascimento de 10 crianças (seis de Lia e quatro de escravas), Raquel finalmente engravidou e deu à luz José, o mais virtuoso e bem-sucedido dos filhos de Jacó.

Anos mais tarde, teve outro filho, Benjamin, mas ela morreu neste parto.

A bigamia e a pródiga descendência de Jacó tinham um significado. Da união com Raquel e Lia nasceram 12 filhos que formariam as 12 tribos judaicas e uma nação inteira.


Continua...



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Antes do Fim do Mundo



É com muita alegria que comunicamos a todos que o filme "Antes Do Fim Do Mundo", que trata sobre o fim dos tempos sobre o ponto de vista de diversas religiões, foi selecionado na 36º Mostra de Cinema De São Paulo (assista o trailer acima).

Acessem os links abaixo com todas as informações sobre os cinemas que vão passar o filme e os respectivos dias.

Agradecemos ao site Anjo de Luz e a todos que dele fazem parte. Foram todos fonte de nossa pesquisa em várias entrevistas, também fonte de inpiração e energia para a confecção deste filme.

Um beijo enorme na alma de todos!

Antes Do Fim do Mundo - Site 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo (Site Oficial)

Antes do Fim do Mundo - Site Oficial


ARANEL DIOR.

Programação do Mês de Outubro

Fiquem ligados para o que está acontecendo!

Acompanhem as programações do Mês de Outubro:

Lançamento do Livro Bruxas nesta Sexta-Feira dia 19. Vamos apoiar nossa irmã de Senda! 
 Acompanhem as datas do Orgulho Pagão pelo Brasil:


(Click nas imagens para vê-las ampliadas)

Para maiores informações acessem o link:

Dia do Orgulho Pagão São Paulo - Via Facebook


Dia do Orgulho Pagão Brasília - Via Facebook

Dia do Orgulho Pagão Porto Alegre - Via Facebook



Querem saber o que é o Orgulho Pagão? Acessem os links:

História do Orgulho Pagão

The Pagan Pride Project

Participem do Beltane em Porto Alegre!

  
Já saiu a programação da Feira Mística 2012 em São Paulo, acompanhem:


Acessem o link para saber mais detalhes da programação da feira e, para aqueles que querem ainda expor e montar suas barracas, a hora de buscar informações é agora:

Feira Mística - Mistic Fair - São Paulo 
  


Abraços aos irmãos e adeptos!


ARANEL DIOR.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 1


Da sensualidde reprimida à exaltação das paixões, o amor entre homem e mulher está presente na maioria das histórias e dos mitos religiosos como uma das formas de elevação espiritual.

O texto fala de beijos calorosos, carícias de amor e muita sedução. Foi duramente atacado por seu erotismo, sendo considerado profano, mas sobreviveu heroicamente e hoje é lido sem pudores nas igrejas.

A popularidade desse poema de amor atravessou os tempos e o Cântico dos Cânticos continua sendo o livro mais polêmico da Bíblia, fonte de inspiração para apaixonados de qualquer crença.

"Que me beije com beijos de tua boca! Teus amores são melhores que o vinho, o odor dos teus perfumes é suave, teu nome é como óleo escorrendo", começa o cântico, que retrata o diálogo entre dois amantes. Sua inclusão nas Sagradas Escrituras provocou controvérsia tanto entre judeus quanto cristãos, e vários tradutores tentaram camuflar seu charmoso erotismo.

Até hoje, muitos líderes religiosos têm dificuldade em abordar o assunto. As reflexões pastorais desconhecem e evitam as falas e motivações do amor e da sexualidade, trantando-as como assunto particular e privado.

O Cântico dos Cânticos  só entrou na Bíblia por causa de grupos contrários à ideologia repressiva do corpo, que entendiam o amor como faísca de Deus. Mesmo depois de séculos do texto ter se tornado canônico, muitos monastérios medievais colavam as páginas para impedir que fosse lido.

Poemas de amor e sedução, que afirmam o corpo como fonte de prazer e espaço de criatividade, são também panfletos contra a política estreira e opressora das lideranças sacerdotais.

Esse festival de contemplação dos sentidos, com descrições de partes do corpo relacionados à natureza, só pôde ser perpetuado porque a paixão entre os amantes foi comparada ao amor de Deus por Israel, no Judaísmo, ou à relação entre Jesus e a Igreja, no Cristianismo.

O Livro é uma expressão escrita da experiência amorosa humana que está próxima de Deus, por isso é sagrada. O Cântico descreve o desejo aliado ao amor e nos remete à reflexão da possibilidade de realização do ser em sua totalidade.

No poema, sensualidade e espiritualidade andam juntas e podem simbolizar a intensa relação com o divino. Na dimensão mística, contém o mistério do amor entre a alma e o Criador, por isso usa o termo "jardim" para dar a idéia de intimidade.

A estrutura desse poema é toda em cima do número 9, símbolo da união, e mostra que, quando duas pessoas se amam, tornam-se uma sem que percam a identidade individual. O mesmo ocorre quando temos uma relação profunda com Deus.

Além do Cântico dos Cânticos, a Bíblia está repleta de vibrantes história de amor entre casais, especialmente no Antigo Testamento. Em suas páginas encontramos sexo, ciúme, traição e sedução. A história dos grandes profetas está repleta de paixão, porque até o período do exílio, em 587 a.C., o erotismo não era negativo, por ser associado à fertilidade.

Mas não só a Bíblia traz histórias ardentes entre homens e mulheres. Em todas as religiões o amor carnal está presente como gerador do mundo. Muitos mitos sagrados associam a ligação entre masculino e feminino uma grande força de transformação.

As histórias de amor nas religiões devem ser lidas na perspectiva da época e cultura em que foram escritas, não como exemplos de conduta de casais. O amor na religião tem a função de desenvolver a consciência.

A seguir, relatos cheios de paixão de cinco casais sagrados: Salomão e a rainha de Sabá, Jacó e Raquel, Krishna e Radha, Ísis e Osíris e Iansã e Xangô.

Como diz um verso do Cântico: "Celebremos seu amor mais do que o vinho!"


Continua...



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Sagrado está no Ar - Parte 3


Sabedoria do Carvalho

Quando os romanos conquistaram as terras celtas na Gália e na Bretanha, uma de suas primeiras providências foi acabar com os druidas. Aparentemente, os invasores sabiam que, assim, destruiriam a espinha dorsal da sociedade celta.

Os druidas tinham muito mais poder e gozavam de muito mais respeito do que os próprios reis. O rei não passava de um chefe militar e poderia ficar pouco tempo no cargo, mas um druida continuaria por muito tempo.

Segundo alguns especialistas, o nome dessa casta sacerdotal signficaria "a sabedoria do carvalho", ressaltando a relação deles com a árvore sagrada. Outros interpretam a palavra "druida" como "o de visão verdadeira, capaz de exergar o Outro Mundo" mesmo vivendo neste.

Seja como for, o fato é que as famílias mais nobres consideravam uma honra entregar seus filhos ao treinamento de mais de 20 anos que o cargo exigia. Toda a instrução dos druidas era feita oralmente, embora vários deles soubessem escrever em grego. Além de estudar todos os detalhes da natureza, eles também memorizavam a história de sua tribo - alguns dos exercícios incluiam decorar cerca de cem mil versos.

Carregavam uma foice de ouro, com a qual cortavam o visgo - uma planta parasita que brota dos galhos de alguns carvalhos e que para eles, tinha propriedades mágicas.


As Divinas Estações do Ano

Para as tribos celtas, as estações do ano sucediam-se como os ponteiros de um relógio sagrado. Cada mudança marcava os ciclos de morte e renascimento - tão importantes pra a crença celta - e era preciso comemorar esses ciclos com rituais e festas.

É claro que tais festivais tinham características próprias de região para região, mas quatro deles parecem ter sido especialmente importantes e difundidos. Seus nomes, em irlandês antigo, são Imbolc, Beltane Lughnasad e Samhain.

O Samhain, cuja descrição abre este estudo, parece ter inspirado, pelo menos em parte, o Halloween moderno. Era o festival do inverno, comemorado em 1º de novembro. Essa festa celebrava o sobrenatural. Era o momento em que a divisão entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos se dissolvia. Todo tipo de prodígio podia acontecer, como a transformação de cisnes em lindas jovens, que se uniam a amantes humanos.

Para celebrar a primavera, havia Imbolc, em 1º de fevereiro. Comemorava-se o fato de que as ovelhas tinham começado a produzir leite para seus filhotes - a vitória da vida sobre a morte. Havia oferendas especiais à deusa Brígida (depois considerada uma santa cristã), que era ligada a este animal.

Quando o verão ia se aproximando, no primeiro dia de maio, muitos dos celtas, tanto na Bretanha e Irlanda quanto na Gália, celebravam o Beltane. O nome da festa talvez significasse "fogo de Bel", ou seja, um deus chamado Belenos, ligado ao Sol.

Como em Samhain, havia grandes fogueiras, os druidas faziam com que o gado as atravessasse para se purificar. Também há relatos sobre um ritual de fertilidade no qual as pessoas tinham relações sexuais ao ar livre, nos campos.

Para comemorar a colheita, em 1º de agosto havia Lughnasad. Como o nome sugere, Lugh era o deus a quem a festa era dedicada. Às vezes, encenava-se um tipo de peça teatral, na qual um jovem guerreiro, representando a divindade, tinha de lutar contra outro homem da tribo, no papel de um gigante, para alimentar seus soldados.

Esse festival era propício para a realização de assembléias, e talvez acontecessem jogos e um banquete.


Fim.



Fontes Bibliográficas:

Livros:

Mitos e Lendas Celtas, de Charles Squire, ed. Nova Era, 2003.

Os Celtas, de Robin Place, ed. Melhoramentos, 1989.

Os Mitos Celtas, de Pedro Pablo May, ed. Angra, 2002.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Sagrado está no Ar - Parte 2



Alma Imortal

Os responsáveis por tentar decifrar o Livro da Natureza e garantir que a tribo estivesse em sintonia com ele eram os druidas, talvez o grupo mais importante da sociedade celta. Eles eram muito mais do que sacerdotes, também desempenhavam o papel de poetas, legisladores, videntes e conselheiros.

Sempre vestidos de branco, eles estudavam tanto os movimentos dos astros quanto o crescimento das árvores e plantas. Veneravam especialmente o carvalho, que lhes parecia um símbolo de como a vida e a morte estão ligadas. O carvalho, no inverno, praticamente, morre: sua seiva desce toda para as raízes nessa estação, evitando que ele congele, e retorna milagrosamente para os galhos na primavera. Por isso, os druidas o tomavam como exemplos dos mistérios da vida, da morte e do renascimento.

Para alguns, isso seria sinal de que os druidas acreditavam na imortalidade da alma e numa eternidade na qual seria possível viver sempre jovem. Numa lenda irlandesa, uma deusa se apaixona por um jovem chamado Connla e lhe dá de presente uma maçã que o impede de envelhecer. A fruta é o símbolo da imortalidade: ele a come num dia e no seguinte ela se regenera.

O lugar onde se podia gozar essa juventude eterna era chamado de Ynis Avalon (Ilha das Maçãs) pelos gauleses ou de Tir-Nan-Óg (Terra da Juventude) pelos irlandeses. Ele estaria do outro lado do Atlântico, segundo algumas versões, ou debaixo de colinas, de acordo com outras. Contudo, relatos de eruditos gregos sobre a religião dos gauleses (os celtas da Gália) sugerem que eles acreditavam no que hoje chamaríamos de reencarnação.

Porém, o pensamento druídico era mais complexo do que os gregos imaginavam. Para os celtas, todas as criaturas possuíam alma, e quando uma deles deixava de existir, a energia que a animava era absorvida por outras criaturas ao redor - pessoas, animais, objetos. Ou seja, a alma seria divisível. Partes dela permaneceriam vivas na memória de quem conheceu o morto, nos seus filhos, no trabalho que realizou.

E o Outro Mundo, não seria o Além, mais sim um estado de percepção. Existe um belo ditado irlandês segundo o qual "Tir-Nan-Óg é uma terra linda que começa atrás da minha casa".

Outra característica singular da cultura celta é o papel de destaque das mulheres, que tinham grande liberdade social e, muitas vezes, eram rainhas poderosas de sua tribo. Ainda há dúvidas sobre a existência de druidesas, mas é certo que algumas divindades femininas tinham grande importância.

Além de Morríghan, era comum o culto a uma trindade de Deusas que portavam frutas, pão e uma taça ritual. Mas havia também um lado guerreiro dessas divindades, porque, como protetoras das colheitas e da terra, elas defendiam o território que a tribo ocupava.

Houve até quem visse nisso um sinal de que as Grandes Mães eram as divindades pincipais dos celtas, e de que os deuses masculinos não passavam de maridos subordinados. Os estudiosos, contudo, afirmam que isso é uma reinterpretação moderna da religião celta, e não corresponde às crenças originais desse povo.


Novo Deus. Uma Mesma Fé.

com exceção da Irlanda e da Escócia, todas as terras célticas tinham virado províncias de Roma depois da metade do século 1 da era cristã.

A princípio, o resultado disso foi a simbiose dos deuses romanos com suas contrapartes celtas: Lugh passou a ser identificado com Mercúrio ou Apolo, e a Grande Mãe com Minerva, por exemplo.

Conforme os séculos passavam, no entanto, a mudança foi sendo bem mais radical. Os romanos acabaram abraçando o Cristianismo como religião oficial e as regiões habitadas pelos celtas tornaram-se cristãs.

Ironicamente, foi na isolada Irlanda que a nova religião adquiriu maior força. Um jovem bretão chamado Patrício, levado como escravo num ataque de piratas pagãos irlandeses, evangelizou a Ilha  por volta do ano 430, criando um Cristianismo especificamente celta.

A vida monástica era muito importante, e as comunidades tinham grande autonomia. Além disso, as mulheres podiam ajudar o padre na missa, o que jamais acontecia no continente.

Os monges irlandeses levavam vida solitária e cheia de penitências, mas, como seus ancestrais, acreditavam num contato muito próximo com o divino, além de manter o mesmo corte de cabelo que os druidas - a frente da cabeça, até as orelhas, completamente raspada, com o resto do cabelo longo, preso numa trança.

Por estarem praticamente livres das invasões bárbaras da época, os religiosos da Irlanda se tornaram grandes estudiosos da Bíblia, e chegaram a ir para o continente como missionários, fundando mosteiros e ensinando latim na Gália, na Suíça e na Itália. Não é exagero dizer que os monges irlandeses salvaram a Europa, cuja cultura andava muito decadente naquela época.

Talvez o exemplo mais belo de como a nova fé se fundiu com a espiritualidade celta seja a oração conhecida como Lorica (Armadura, do latim), ou Fáed Fíada (O Grito do Cervo, em irlandês). Atribuída a São Patrício e escrita nas duas línguas, ganhou esse nome porque, conta-se quando rezava, o santo se transformava num cervo para iludir os que queriam fazer-lhe mal.


"Eu me levanto hoje
Pela força do céu
Luz do Sol
Esplendor do fogo
Rapidez do relâmpago
Velocidade do vento
Profundeza do mar
Estabilidade da terra
Firmeza da rocha."

A imagem do que era divino, afinal, ainda brotava na natureza.


Continua...


domingo, 7 de outubro de 2012

O Sagrado está no Ar - Parte 1



Povos que habitaram boa parte da Europa na Antiguidade, os celtas legaram uma religião que louvava a natureza, a tênue conexão entre este mundo e o Além e que valorizava a participação feminina nos rituais.

Mais uma vez, o ciclo que governa todas as coisas se fechara, e o outro dava lugar ao inverno. Nas colinas, fogueiras se acendiam devagar, sob a orientação sábia dos druidas, os sacerdotes celtas.

Pessoas e animais buscavam abrigo em cabanas e celeiros. Naquela noite, as fronteiras tênues entre este mundo e o Além estavam ainda mais esgarçadas, e não seria nada sensato ignorar os sinais que a natureza mostrava. Por via das dúvidas, sacrifícios aos deuses podiam manter a escuridão a distância, até que o sol voltasse a brilhar com mais força, dali a vários meses.

Essa capacidade de identificar as conexões entre o mundo natural e o espiritual marcava a religião dos amigos celtas. Embora pouco se saiba sobre seus deuses e cultos, o fato é que eles deixaram sua marca sobre uma extensa região do continuente europeu. Mesmo quando abraçaram o Cristianismo, os celtas mantiveram uma identidade religiosa própria e tão vigorosa que ajudou a salvar sua nova fé da decadência.

Não há muitas informações a respeito das origens da religão que eles praticavam, em parte porque nunca formaram um império unificado - eram, na verdade, um agrupamento de muitas tribos. O que unia os celtas, originalmente, era a língua, um dialeto do tronco indo-europeu ao qual também pertenciam o latim, o grego e os idiomas germânicos (ancestrais do inglês e do alemão de hoje).

Por volta do ano 700 a.C., as tribos celtas deixaram seu lar ancestral na Áustria e no sul da Alemanha. Invadiram e colonizaram a França, a Inglaterra, a Irlanda e a Espanha. No Oriente, até um pedaço da Turquia virou domínio daquelas tribos. Os princiapais centros de sua cultura, porém, tornaram-se a Gália (atual França) e as Ilhas Britânicas.

Os vários povos celtas em sua maioria, eram analfabetos e, por isso, os principais relatos sobre seu modo de vida vêm dos gregos e dos romanos, que lutaram ou comercializaram com eles, ou dos missionários cristãos que os evangelizaram. Segundo esses relatos, os celtas eram agricultores e artesãos habilidosos, mas também guerreiros temíveis, que prezavam a coragem na batalha acima de tudo.

O celta típico valorizava a generosidade e a beleza - a dos objetos de arte, a das canções dos bardos e, principalmente, a da natureza.

Segundo os ensinamentos dos druidas, tudo no mundo possuía vida - de humanos a árvores, de animais a um rio, de lugares a idéias. Sendo assim, tudo era sagrado. Não admira que, com essa disposição em ver divindade em tudo, seja difícil apontar qual era o principal conjunto de deuses desse povo. Não há uma homogeneidade no que se costuma denominar de mundo céultico. é possível falar de divindades locais e de semelhanças entre elas, mas não generalizar que elas fossem iguais.

Mesmo assim, havia alguns deuses em comum às várias tribos celtas: Lugh ou Lugus, um jovem deus guerreiro ligado ao Sol; Ogma ou Ogmios, senhor da literatura e da poesia; e várias versões de uma Grande Deusa, mãe ou esposa dos imortais, que comandava os mistérios da morte e da fertilidade da terra. A vida desses seres era tão movimentanda quanto a de qualquer mortal, mas uma história recorrente é o combate dos deuses contra criaturas ainda mais antigas, gigantes e mosntros que habitavam o fundo do mar e representavam o caos primordial.

Foi só nos últimos séculos de sua história independente que os celtas começaram a representar seus deuses em forma humana: a associação das divindades com as forças da natureza revelava-se na mistura delas com figuras de animais sagrados.

Os jovens deuses guerreiros eram como javalis, ou tinham orelhas e chifres de cervo. As deusas associavam-se a ursos, cavalos ou corvos. O nome da deusa irlandesa Morrígahan, por exemplo, pode tanto ser traduzido como "A Grande Rainha" quanto como "Corvo da Batalha". Às vezes, ela aparecia na forma de um corvo e, em outras, na de um lobo cinzento. Como esses animais, conhecidos por devorar os mortos no campo de batalha, Morríghan apreciava a guerra - mas também era descrita como um donzela formosa, capaz de iniciar os homens nos mistérios da morte e do renascimento.

As tribos celtas não apreciavam templos feitos por mãos humanas ou rituais pomposos. Bosques eram o melhor lugar para adorar os deuses, e rios, fontes e lagoas viviam recebendo oferendas de armas e jóias. Os pântanos, por estranho que pareça, também tinham seu lado sagrado, por representar a ligação entre a terra, que proporcionva a s colheitas e a água, que para os celtas era o caminho que conduzia ao Outro Mundo.

Sacrifícios de animais, como bois e porcos, eram parte importante desses rituais, mas certas ocasiões também incluíam a matança de pessoas. Eram sacrificados os criminosos e os prisioneiros de guerra, mas esses rituais ficavam restritos a situações cruciais, de grande tensão.

Parece que a cabeça das pessoas oferecidas aos deuses ganhava um significado mágico: na França, havia um antigo portal de pedra cheio de nichos onde eram colocados crânios humanos. Na Irlanda, quando a terra se tornava estéril, o rei também podia ser sacrificado, já que se considerava que a fertilidade do solo era de sua responsabilidade, contando-lhe sua cabeça e oferecendo-a como petição para novas e boas colheitas.


Continua...


Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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