terça-feira, 25 de setembro de 2012

Maria Madalena - A Primeira Apóstola da Igreja - Parte 2


Toda essa carga pejorativa não foi arremessada gratuitamente sobre Madalena. Ao colar o rótulo de prostituta e pecadora em uma das principais referências cristãs até então, a Igreja nascente desestimulava a liderança feminina.

foi um caminho de deslegitimação da mulher. Qualquer mulher que se torna líder acaba ganhando uma pexa sexual preconceituosa. É uma prática machista de milênios.

A imagem de mulher sensual ganhou ainda mais força com os belos retratos da arte renascentista. Madalena é sempre reconhecível pelos longos cabelos louros e pelo vaso de óleos (ver acima). No Renascimento, é sedutoramente representada seminua, no cúmulo do êxtase amoroso do encontro com Jesus o que vem a ser proibido pelo Concílio de Trento (1545), que também a transforma em morena.



Os modos com que ela vai sendo retratada contribuem definitivamente para a criação de um estereótipo, que podemos considerar como precursor da figura laica da mulher fatal. No final da Idade Média, o consenso estava estabelecido: Maria Madalena fora, de fato, uma prostituta - mas uma prostituta arrependida. Segundo uma obra do século 9, Vita Eremitica, após a ressurreição do Senhor ela teria se retirado para um eremitério e levado vida solitária e contemplativa durante 30 anos. O arrependimento e a conversão colocaram-na entre os santos da Igreja.



Por que Madalena Incomoda?

Nos círculos religiosos, a importância de Madalena decrescia na medida em que aumentava a idealização de Maria, mãe de Jesus - sinal da separação entre o carnal e o espiritual. A pecadora arrependida representa o controle da religião sobre a sexualidade. Assim, as duas categorias "boas" de mulheres são a mãe exemplar e a celibatária, são as duas únicas opções para a mulher na Igreja. Maria vai se tornando cada vez mais uma vez santa sem forma feminina, assexuada, coberta, com a cabeça baxia, com um manto no rosto. Isso mostra que se tem uma visão de santidade da qual o sexo é excluído.

Essa dicotomia Maria Madalena-Nossa Senhora, expressa a situação daquela época, mas, ainda hoje, muitos homens carregam esse conflito entre a mulher-esposa-mãe e a mulher que expressa seu desejo sexual. De um lado, sua esposa. Do outro, as amantes.

A religião católica criou uma cisão entre espírito e sexo. Nessa concepção, as pessoas elevadas de espírito abdicam da vida sexual para servir a Deus e, Maria Madalena incomoda porque mostra a possibilidade de compatibilizar a vida sexual com a espiritual.

Vários textos apócrifos, como o Evangelho de Filipe, contam que Madalena tinha um estreito relacionamento com Jesus, chegando até a trocar beijos com Ele. Para os adeptos do Gnosticismo, movimento religioso do início da era cristã, o beijo significava transmissão de conhecimento. Apesar dos indícios sutis de que Jesus e Madalena possam ter sido mais do que mestre e aprendiz, os especialistas rejeitam a versão de que eles possam ter se casado e tido filhos.

Havia ainda outro motivo para Maria Madalena ter se tornado figura polêmica no Cristianismo primitivo: sua atuação como discípula dileta de Jesus e a disputa páreo a páreo com o apóstolo Pedro pela posição de protagonista. Ignorada por muito tempo, a concepção da Madalena apóstola ressurgiu timidamente no século 13.

Na Legenda Aurea, um texto do século 13 sobre a vida dos santos, ela é mostrada como pregadora e conversora. Os dominicanos, na baixa Idade Média, também situavam Maria Madalena como uma pregadora. Apenas na década de 1940 o resgate do lado sábio de Madalena ganhou fôlego, com a descoberta de textos gnósticos em Nag Hammadi, no Egito. Os escritos, datados provavelmente dos séculos 1 e 2, mostram uma mulher bastante diferente: amada por Jesus, era Sua seguidora fiel e, após a morte do Mestre, propagadora de Sua Boa-Nova.

Nesses dois primeiros séculos do Cristianismo, grupos comandados por mulheres ajudavam a difundir os ensinamentos de Jesus. Nas comunidades, elas desempenhavam um papel de proeminência. O próprio apóstolo Paulo, em suas cartas, faz referência à participação de muitas mulheres que fundavam e sustentavam comunidades ao longo do Mediterrâneo e desempenhavam funções de ensino e de missionarismo.

Supõe-se que Maria Madalena tenha liderado uma dessas comunidades, mas não há dados históricos que comprovem a tese. Ao longo dos anos, porém, o patriarcalismo dominante teria reprimido a liderança feminina.


Continua...

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