sábado, 22 de setembro de 2012

Maria Madalena - A Primeira Apóstola da Igreja - Parte 1


Novos estudos revelam que esta mulher não teve nada de prostituta arrependida. Foi, na verdade, uma discípula fervorosa de Jesus e símbolo da liderança feminina no Cristinanismo.

Ela tem inspirado vários personagens ao longo da História.

Tal e qual a famosa Geni da canção de Chico Buarque, Maria Madalena foi apedrejada, taxada de prostituta e tida como amaldiçoada - para ser bendita séculos depois. Mulher mais citada do Novo Testamento (seu nome aparece 12 vezes nos evangelhos, ocupou, durante centenas de anos, o papel de pecadora arrependida no imaginário cristão.

Agora, o trabalho de teólogos e estudiosos da Bíblia vem resgatar a identidade da verdadeira Madalena: Longe do estereótipo de prostituta, ela foi, na verdade, uma mulher independente, seguidora ardorosa de Jesus Cristo, que disputou com o apóstolo Pedro a liderança dos primeiros grupos cristãos formados após a ressurreição do Mestre.

Na Bíblia, as imagens frequentemente associadas a ela são a da pecadora que unge os pés de Jesus (Lucas 7: 36-38), a da mulher que derrama óleo perfumado sobre Sua cabeça (Mateus 26:6-7) e a da esposa que está prestes a ser apedrejada por adultério e é salva por Cristo (João 8:3-12). Porém, nenhuma delas é, de fato, Madalena. E mais: após uma leitura atenta das Escrituras, é possível constatar que ela aparece nos momentos mais nobres da vida de Jesus: aos pés da cruz e como testemunha primeira da ressurreição. A única passagem mais desabonadora - a expulsão de 7 demonônios - está no Evangelho de Marcos (Mc 16:9).

A Bíblia não traz a Madalena sensual e pecadora difundida pela tradição católica, mas a leitura de entrelinhas dos textos canônicos acabou distorcendo sua imagem. Um dos pontos de partida para essa difamação foi a falta de informações sobre sua família. Maria em contraposição a outras mulheres bíblicas, não é identificada por suas relações - não é filha, esposa nem mãe de nenhuma figura masculina.

Ela é identificada pela sua cidade natal, Magdala. Magdala (de onde vem o nome Madalena) era um vilarejo de pescadores na Galiléia. Essa identificação do nome de Maria com uma cidade, e não com um homem, provavelmente significa que ela era independente e próspera, uma condição privilegiada para as mulheres daquela época.

A falta de associação com nomes masculinos manchou a reputação de Maria Madalena. A cultura judaica do século 1 insere-se nas culturas mediterrâneas baseadas na honra e na vergonha, em que as mulheres estão sempre sob tutela. Enquanto solteiras, sob a tutela dos pais. Quando órfãs, sob a tutela dos irmãos; casas, sob a tutela dos maridos. Por viver sozinha, estava implícito que era uma mulher que não seguia os preceitos.

Outra interpretação baseada no texto bíblico que contribuiu para a depreciação de Madalena foi o significado atribuído aos sete demônios que Cristo expulsou de seu corpo. Na época de Jesus, o verbo grego "diábolos", que significava "arremessar para longe", não tinha o mesmo significado que a palavra tem hoje.

Quando fala em 7 demônios, o evangelista quer dizer que Maria Madalena tinha problemas sociais. Mas não foi essa a idéia que acabou predominando entre os cristãos - a associação dos sete demônios aos sete pecados capitais foi imediata. Sendo a luxúria um deles, não foi preciso muito tempo para atrelar Madalena ao meretrício.


De Devota a Devassa

As maiores investidas na desconstrução de sua imagem ocorreram, contudo, sem fundamento nos textos bíblicos. A tradição católica a partir do século 3 misturou várias mulhres que aparecem no Novo Testamento, nomeando a todas Maria Madalena. Essa confusão fica clara na época do papa Gregório Magno, no final do século 6.

Gregório estava convencido de que Maria Madalena, Maria de Betânia, a mulher anônima que ungiu os pés de Jesus e a pecadora pública eram todas a mesma mulher. Curiosamente, a igreja oriental, a bizantina, nunca juntou essas histórias em uma só.

Mesmo pouco veraz, essa fusão foi decisiva par acentuar a trajetória descendente da popularidade de Madalena. A melhor maneira de desacreditar uma mulher é mexer com sua sexualidade. Ocorreu um processo de esvaziamento da imagem de Maria Madalena e ela foi se tornando cada vez mais uma prostituta arrependida.

A Face Mística da Sábia Maria Madalena

O jeito feminino e sábio de Maria Madalena fez dela modelo para os seguidores do Gnosticismo, um movimento religioso ocorroido entre os séculos 1 e 3. Maria Madalena foi modelo para os gnósticos porque para eles, ela venceu os caminhos e as etapas para a purificação. 

O Gnosticismo misturava conceitos cristãos, judaicos e pagãos e pretendia ser uma alternativa ao Cristianismo oficial que nascia.

O principal fundamento desse grupo era a gnose, ou seja, o conhecimento teórico de si e de Deus. Para os gnósticos, acima de quaisquer conceitos estava a imagem divina que habitaria dentro de cada um. "Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem". ensina o Evangelho de Maria Madalena. Essa religiosidade individualizada era uma clara tentativa de resistência à institucionalização da fé cristã. Mas o cíclio de Constantinopla, realizado em 381, taxou o Gnosticismo como movimento herético.

Porém, não se pode afirmar que Maria Madalena tenha sido gnóstica - ela era judia convertida ao Cristianismo e acabou sendo usada como padrão para os gnósticos, que tinham maior abertura para a participação das mulheres como mestres, profetisas e sacerdotisas. No Evangelho de Maria Madalena aparecem outras facetas do Gnosticismo: a desvalorização da matéria ("O apego à matéria gera uma paixão contra a natureza") e os polêmicos beijos ("Então, Maria se levantou. Ela os beijou a todos."). O beijo na boca, na tradição gnóstica, também aparece em Pistis Sophia (texto do século 3). Os anjos se comunicavam com beijos. O beijo é fundamental para a transmissão de conhecimento dentro do cerne gnóstico. Não há necessariamente uma conotação sexual nisso. Este ato também era preconizado entre os cristãos, pelo ósculo santo, aconselhado pelo Apóstolo Paulo em suas epístolas aos Coríntios.

No Evangelho, há ainda passagens místicas que não aparecem nos textos canônicos, como o trecho em que Madalena enumera as sete manifestações da alma: a treva, a cobiça, a ignorância, a inveja mortal, a dominação carnal, a sabedoria bêbada e a sabedoria astuciosa. "Tais são as sete manifestações da cólera que oprimem a alma de perguntas", diz ela.

A alma de Maria Madalena compreendeu Jesus como a única Sabedoria que morava dentro dela, propiciando-lhe a verdadeira harmonia. Para ela, a falsa sabedoria não tinha vez nem voz.



Continua...

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