quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Grande Mãe do Candomblé - Parte 2



Sacerdotisa Popular

Sob comando de Mãe Menininha, o Gantois logo se tornou um dos terreiros mais procurados e respeitados da Bahia.

Filha de Oxum, divindade relacionda às águas doces e ao amor, a líder religiosa tinha várias características dessa orixá. Muitos que a conheceram a descrevem como uma mulher amorosa, generosa e sempre disposta a aconselhar quem a procurava. Ela sempre tinha uma palavra, uma mensgem confortadora.

Com, o passar do tempo, Mãe Menininha foi formando cada vez mais filhos-de-santo e sua popularidade não parou de crescer. Nos anos 80, assiste-se a sua veneração. A imagem de Menininha do Gantois já adquire ares de mitificação.

Ser abençoado por Mãe Menininha era um desejo de todo mundo que visitava a Bahia. Para receber a bênção da sacerdotisa, turistas de todas as partes do País lotavam ônibus e se amontavam na entrada do terreiro. Políticos, artistas, intelectuais e acadêmicos a procuravam constantemente em busca de conselhos, orientações ou informações para suas pesquisas. A ialorixá também recebia muita gente humilde, pobres da periferia ou do campo, que muitas vezes queriam um lugar onde comer e passar a noite.

Mulheres que tinham se afastado do marido, por morte ou separação, vinham com todos os filhos. Pessoas que perdiam o ônibus ou trem e que não tinham onde passar a noite, ficavam hospedados no terreiro.

Na cozinha da casa de Menininha, o velho fogão a lenha nunca estava apagado. Ali, a mãe-de-santo sempre tinha água quente para preparar um novo café e uma refeição para oferecer aos visitantes. Na mesa, não podeiam faltar cuscuz e bolo de farinha de arroz, receitas que fez questão de ensinar às filhas, netas e ajudantes. As gentilezas e atenções eram iguais para todos, fosse o visitante um gari ou um chefe de Estado.

Ecumênica por Natureza

Mãe Menininha faleceu em 13 de Agosto de 1986. No mais de 60 anos em que liderou o terreiro do Gantois, como uma grande diplomata de sua religião, sempre tratou de explicar o Candomblé àqueles que se interessavam em aprender ou estudar o assunto. Além do ótimo relacionamento com governantes de Estado, artistas e intelectuais, a ialorixá também conquistou o respeito de líderes de outros terreiros e sacertodes católicos, especialmente os mais ecumênicos e tolerantes.

Durante vários anos, ainda que eventualmente, frequentava missas católicas. É preciso lembrar que as religiões africanas não são dogmáticas, ou seja, não exigem adesão exclusiva. Então, pode-se fazer seu culto e aceitar outras práticas eventualmente.

Ecumênica por natureza, Mãe Menininha declarou uma vez: "Deus? O mesmo Deus da Igreja é o do Candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós, com o nome de Olorum. A morada Dele é lá em cima e a nossa, cá embaixo". A frase está hoje exposta no Memorial Mãe Menininha do Gantois, em Salvador.

No pequeno museu, que reúne objetos pessoais da ialorixá e funciona no próprio terreiro, estão, entre outros objetos pessoais, a mesinha onde jogava os búzios, o rádio que gostava de ouvir e os óculos de armação grossa, sua marca registrada.

Para muitos pesquisadores, a popularidade e o reconhecimento que Mãe Menininha alcançou contribuíram para tornar o Candomblé uma religião mais aceita do País. O curioso é que tal popyularidade não impressionva a mãe-de-santo. Seus parentes contam que ela se recusava a divulgar ou registrar os nomes dos artisats, políticos e outras pessoas famosas que frequentavam o terreiro. Não gostava de ser fotografada e fazia questão de dizer que as pessoas não iam ao Gantois por sua causa, mas para ver a casa do Candomblé e os orixás.

Sua aversão à fama não impediu que recebesse diversas homenagens, especialmente de artistas e amigos ilustres. Entre elas, a mais conhecida é a música Oração a Mãe Menininha, que Dorival Caymmi compôs em 1972. Apesar de ser ogã (espécie de protetor influente do Candomblé) de outro terreiro, o compositor visitava frequentemente Mãe Menininha, a quem pedia conselhos e tratava como a uma mãe.

Quem conheceu Mãe Menininha conta que ela tinha um jeito todo especialde ser, viver e cuidar das pessoas. Um jeito carinhoso de mãe, sempre atenciosa e pronta a ajudar seus filhos, que os versos da canção trataram de imortalizar:

A beleza do mundo, hein?
Tá no Gantois...
E a mãe da doçura, hein?
Tá no Gantois...
O consolo da gente, ai...!
Tá no Gantois...
Ai, minha mãe, minha Mãe Menininha...


Referências Bibliográficas

Livros
Cidade das Mulheres, de Ruth Landes, ed. UFRJ, 1947.

Caminhos da Alma, de Vagner Gonçalves da Silva (org.), ed. Summus, 2002.

Onde
Memorial Mãe Menininha do Gantois
Rua Mãe Menininha do Gantois, 23, Bairro da Federação, Salvador, BA. (71) 331-9231


Fim.

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