domingo, 12 de maio de 2013

Força Negra Subestimada - Parte 1


Os negros são presença forte nas igrejas cristãs. Porém, essa participação não se reflete nos postos altos da hierarquia dos templos. Além disso, é comum que tradições de origem africana sejam barradas nos rituais. Por quê?


Desde 20 de novembro de 1971 é comemorado no Brasil o dia Nacional da Consciência Negra e lembra-se os mais de 310 anos da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. 



(Zumbi)


Gradativamente, o movimento negro vem contabilizando conquistas importantes, como a política de cotas adotada em vestibulares de algumas universidades federais e estaduais. Agora, porém, a questão racial começa a desbravar uma nova esfera: a religião. 

"Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus".



O trecho bíblico, extraído da Carta de Paulo aos Gálatas, é repetido em púlpitos e altares, mas a prática mostra uma realidade distante desse princípio. 

Ainda há casos de padres católicos negros preteridos na hora de celebrar casamentos de brancos e, pastores que demonizam as tradições africanas em cultos neopentocostais. Os ambientes sagrados não estão livres do preconceito racial. 




Os preceitos de igualdade e de amor ao próximo, que deveriam pautar as condutas religiosas, muita vezes ficam apenas nas pregações inflamadas dos templos. É evidente que há um abismo entre o discurso e a prática da religião. 

Isso ocorre porque as comunidades religiosas não deixam de ser um reflexo da sociedade brasileira, marcada por um racismo sutil e camuflado.


Um exemplo: a presença de lideranças religiosa negras ainda é pouco significativa no Brasil.

Na Igreja Católica, há apenas oito bispos (num universo de cerca de 400) e 550 padres negros (de um total de 14 mil), segundo dados da Pastoral Afro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

                                        (Encontro dos Bispos Negros do Brasil da CNBB em 2012)

Em outras igrejas cristãs a situação não é diferente, apesar de não haver dados numéricos totalizados. Dentre as evangélicas, apenas a Metodista possui uma organização dedicada ao assunto: a Pastoral de Combate ao Racismo. Presidentes e vice-presidentes negros de denominações evangélicas são exceções, não regra. Isso não reflete a proporção dos fiéis.



Raízes do Candomblé

De acordo com o censo demográfico de 2005 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a maior proporção de negros (somando aqueles que se declararam pretos e pardos) está no Candomblé, totalizando 60% dos fiéis.



Em seguida, com 45%, aparece a Igreja Evangélica e, com 44%, empatam a Igreja Católica e a Umbanda. Os números absolutos mostram que, ao contrário do que pensa o senso comum, a maioria dos negros não está nas religiões de matriz africana.


Somados, candomblecistas e umbandistas negros não passam de 252 mil, contra um multidão de 67 milhões de cristãos de cor parda ou negra. 



Mas nem sempre foi assim...


Na chegada dos africanos ao Brasil, durante o período colonial, o quadro era inverso. No início, o Candomblé era uma das principais referências culturais para o negro, guardando as representações simbólicas de sua sociedade e de sua antiga vida.


A manutenção da religião - e da cultura negra - não foi tarefa fácil. Houve uma repressão violenta aos cultos afro-brasileiros, tanto da Igreja Católica quanto da sociedade em geral, que criou um estigma contra essas religiões.



Até o século 19, a Igreja Católica não aceitava negros, mestiços e índios como padres ou religiosos. No século 20, os ataques continuaram até 1968, quando o Concílio do Vaticano abriu uma fresta de tolerância para a religiosidade negra.




A igreja cristã precisa fazer um mea-culpa, admitindo que contribuiu para a opressão dos escravos africanos. Podemos dizer que houve, no passado, uma espécie de racismo explícito contra a cultura e religião negras.



A perseguição aos cultos foi decisiva na dispersão dos negros, mas havia ainda outro problema: o custo dos trabalhos.



O Candomblé é uma religião cara, demanda tempo e investimento em rituais, que usam muitos elementos litúrgicos e exigem dinheiro. O afastamento da maioria dos negros de essência africana encarou um estágio intermediário na Umbanda, em que o sincretismo das influências espíritas e católicas, com toques afro, permitia agradar brancos e negros. 





Continua...


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