sábado, 6 de agosto de 2016

O Mundo Mágico das Florestas - Parte 2

(Conhecer e entender os espíritos da floresta sempre foi a necessidade de todos os povos antigos da humanidade. Acima, cenas do filme A Lenda, de 1985.) 

(Dentre os muitos remakes televisivos, a melhor versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo é de 1978! Nosso maior e mais celebrado escritor Monteiro Lobato tentou refazer os passos da mística e lendas indígenas e escravas na sociedade brasileira. Aclamado mundialmente, nos deixou este maravilhoso legado de histórias infantis consumido pelo mundo todo. Adoro!)

Além das divindades criadoras, os relatos míticos falam da existência de um tempo em que animais, seres humanos e espíritos não se diferenciavam. 

Até que, devido a um evento catastrófico - muitas vezes ligado à desobediência de uma regra - ocorre uma ruptura: as divindades afastam-se do mundo, marcando o fim dos tempos místicos e o começo da humanidade. 

Restabelecer o contato com as divindades é a função principal do pajé.

Para os índios, a diferenciação entre homens e animais é apenas corporal. 

(Após uma extensa pesquisa antropológica pela equipe de produção do filme, James Cameron utilizou fragmentos de várias culturas indígenas primitivas conhecidas para compor a teologia e o comportamento dos habitantes do planeta Pandora, onde nos é apresentado o respeito e a interação pacífica entre os seres e seu ecossistema. Cameron disse: "Se houver vida inteligente em outros planetas, eles seguem uma regra única de teologia: O respeito à natureza...". Assim foi criado o roteiro de um filme que se tornou antológico na cinemateca mundial. Acima, cenas do filme Avatar, de James Cameron, de 2009.) 

O indígena não vê o animal como um pedaço de carne, mas como o membro de outra tribo que foi liberado pelo "mestre dos animais", ou xamã, para servir de comida aos seres humanos. 

Xamã é o termo que os antropólogos costumam usar como sinônimo para pajé, palavra da língua tupi hoje usada genericamente, embora cada grupo tenha sua nomenclatura específica para o homem - ou mulher, em alguns grupos - capaz de entrar em contato com os espíritos.

(O mistério após a última grande glaciação da Terra que ocorreu a 60 mil anos atrás ainda persiste: Como o ser humano sobreviveu? Como ocorreram as emigrações entre as massas continentais? Pesquisas mais atualizadas informam que o Estreito de Bering não foi a única alternativa... No entanto, a Arqueologia nos confirma isso: O homem das Américas surgiu na América do Norte, começou sua migração motivado pelo frio e escassez de alimento para o sul; dali passou para o México, Guatemala e Honduras; continuou sua decida até a Argentina onde se encontrou com outros povos emigrantes da Polinésia, houve uma convergência e associação. O Brasil foi a última fronteira indígena, por isso nossos índios são os mais primitivos desse grupo emigratório. Acima, um maravilhoso documentário sobre a Eras Glaciais da Terra, A História da Terra, produzido pelo canal britânico BBC e exibido pelo canal privado National Geografic, de 2011.)

O termo xamã surgiu no fim do século 19, quando antropólogos estudavam povos indígenas da Sibéria e estabeleceram possíveis relações desses com os nativos da América do Norte (a teoria é que teriam ocorrido correntes migratórias pelo Estreito de Bering.)

No idioma dos habitantes da Sibéria, xamã designava um especialista nas atividades da caça. 

(Edgar Rice Burroughs, criador dos personagens Tarzan e John Carter (adorooo!), deixou-nos em seus contos a necessidade de pensarmos o valor da humanidade em nosso mundo: dominar para construir, ou dominar para exigir? - Como era jornalista, Rice se preocupou durante toda a sua vida a entender para onde as ações comerciais do homem o levavam... Acima, cenas do trailer A Lenda de Tarzan, de 2016.)

Um "mestre espiritual" dos animais, cuja função era a de pedir permissão ao espírito "dono" da caça antes de abatê-la. 

A antropóloga Carmen Junqueira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, também identificou o conceito de "dono" entre sociedades do Xingu, mas alerta: ele não tem nada de mercantilista. 

"Para os índios, tudo o que é importante tem dono. O dono não tem a posse, mas a responsabilidade de cuidar. Assim, existe o espírito da mandioca, do milho, dos animais..."
Carmen Junqueira, Dr.Antropologia. 

Em geral, o pajé é a única pessoa capaz de contatar esses espíritos. 

(Apesar da porca pesquisa feita para os indígenas brasileiros, a escritora teen Stephanie Meyers (tentou, né?!) falar sobre as lendas dos indígenas americanos, o que não deixa de ser um ato louvável... E, hoje, é assim que os índios americanos, realmente, disseminam sua cultura entre os mais jovens. Acima, cenas do filme Saga Crepúsculo: Eclipse, de 2010.)

Na verdade, são os próprios espíritos que contatam e escolhem o pajé. Não se pode elegê-lo, ele se manifesta em sonhos ou visões, dizem...

Em algumas sociedades, existem aqueles que aprendem o ofício da pajelança com outros pajés. 

Mas esses, ensinados pelo ser humano, são considerados "menores".

(Não importa a cultura ou o tempo na qual ela se desenvolveu, o homem só tinha um único objetivo: Entender e dominar a natureza ao seu redor. A conclusão que o homem chegou em seus 150 mil anos de caminhada foi: O domínio vem através de um espírito forte e íntegro (espiritualidade e misticismo); do conhecimento e entendimento dos processos envolvidos (investigação intelectual dos fatos); a obediência estrita dos seres inferiores por nós conquistados por contermos maior conhecimento que eles (seja espiritual ou intelectual); pois, fisicamente, o homem já sabia que não conseguiria conquistar nenhum dos reinos visíveis ou invisíveis que o cercava... Acima, cenas do filme Star Wars - O Despertar da Força, de 2015.)

É a comunicação com os espíritos - por meio de rituais que podem incluir cantos, danças e o uso do fumo - que confere poder de cura ao pajé. Afinal, seriam os próprios espíritos os causadores de boa parte das doenças, geralmente como consequência da transgressão de regras criadas por eles, como as ofertas rituais ou períodos de reclusão.

Em algumas sociedades faz-se a diferenciação da figura do pajé com a do ervatário ou raizeiro responsável por curar as doenças de origem material. E, em outras, ainda, pode existir o papel do feiticeiro, o conhecedor de venenos e magias para fazer o mal.

(Em todas as culturas sempre houve uma certeza: Existem espíritos ou consciências que permeiam tudo o que nos cerca... A essa consciência foi dada vários nomes: Fadas, elementais, espíritos da natureza... Esses seres cuidam e protegem a qualidade e o funcionamento do ecossistema. Os gregos chamavam essa consciência de Gaia ou Mãe Natureza, algo que é maior que qualquer conhecimento que o homem possa conseguir obter. O conto mais disseminado dessa vertente cultural é A Princesa Branca de Neve dos escritores e irmãos Grimm. Esta lenda nórdico-germânica deixa em sua dinâmica a atuação da mulher como regente da natureza, e a necessidade de haver amor e integração entre os seres para que tudo termine bem. Acima, cenas do filme Branca de Neve e o Caçador, de 2012.)

(Uma boa conferência sobre o tema, mas com um enfoque espírita. O palestrante Dr. Júlio Goelzer fala sobre esse assunto para o Centro Espírita de Florianópolis.)

Ou seja, dependendo do grupo indígena, o feiticeiro pode ser uma figura à parte ou uma função assumida também pelo pajé. 

Em alguns grupos a figura do pajé é ambígua. Pode curar ou lançar doenças. 

Entre os povos indígenas, existem espíritos que têm em si tanto o bem quanto o mal, e a vida religiosa incorpora essas duas forças, presentes desde a criação do mundo, na figura dos gêmeos dos mitos de origem.


(Toda teologia que trabalha com elementos da natureza não concebe em seu cerne a dicotomia filosófica do Bem e Mal; tudo e o todo, são a mesma energia. Cabe a cada pedinte ou oficiante ter sua própria ética na utilização desse poder. Mas, lógico, isso não acontecia e, sim, na história da humanidade, muita confusão e problemas se relacionaram disso, por pessoas não saberem usar nem os poderes da natureza e nem saberem lidar com sua sina e frustração... Acima, cenas da animação Valente, de 2012.)  

(E, hoje, como ocorre essa busca pelo misticismo indígena brasileiro? Acima, o documentário A Voz das Avós, de 2013.) 





Continua...


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