sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Maria, a Face Feminina de Deus - Parte 6

(Um momento polêmico no Brasil do tipo Madonna com sua canção Like a Prayer - o legal é que foi 10 anos antes!. Fafá de Belém, uma cantora consagrada por sua voz sonora e contralta, e também por atributos físicos, foi censurada no final da década de 80 por cantar essa canção em louvor a Nossa Senhora. Expondo e explorando um lado totalmente novo de sua própria vida, esta belenense enfrentou críticas e deixou essa linda canção composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos mostrando sua devoção a Maria.)

E depois que Jesus morreu?

A Bíblia não comenta o paradeiro de Maria após a crucificação de Jesus. Há apenas a menção a uma reunião com os apóstolo, o que já citamos nas postagens anteriores. 

Algumas pistas surgem em textos apócrifos como o Proto-evangelho de Tiago e os manuscritos atribuídos a Nossa Senhora. Essas alusões na literatura apócrifa foram escritas séculos depois, sobre o que poderia ter acontecido a ela - aparece em Éfeso com Tiago e em Jerusalém com Pedro - sempre vivendo passivamente sob a proteção de um homem.

(Comunidades de mulheres devotas a algum segmento religioso e teológico sempre ocorreram em todo o mundo. As sacerdotisas como eram conhecidas, eram aglomerados de mulheres viúvas ou separadas de seus maridos, mas que não tinham família ou direitos dentro da sociedade onde viviam. Destinadas a serem mendicantes, esses grupos humanitários foram os primeiros locais de ajuda e amparo à mulher no passado. Ali, elas aprendiam a rezar, cantar, cozinhar, costurar, fazer infusões medicinais e, o melhor, funcionavam como um tipo de hospital emergencial para a comunidade local. Com o tempo essas casas ganharam o status de grande importância, sendo o melhor local para aquelas filhas de grandes senhores de terras e animais que não conseguiam se casar. Hoje, o melhor representante desse movimento são os conventos católicos. Acima, cenas do filme As Brumas de Avalon, de 1999.)

Mas é mais provável que ela tenha sido o centro de uma comunidade de mulheres devotadas a pregar os valores de seu filho. Esses grupos de fato existiram nessa época, e as mulheres eram centrais nos movimentos cristãos primitivos na Palestina. 

A visão de Maria como uma importante pregadora dos ensinamentos do seu filho é bem aceita. 

Ela contribuiu muito para que o projeto de Jesus fosse levado em frente, e ainda hoje continua com sua missão de evangelizadora procurando que sempre mais pessoas conheçam seu filho. 

(A família de Jesus, que participou de sua missão de trazer uma nova teologia para mundo, foram os responsáveis em manter viva a chama do Mestre. Maria e Tiago foram personagens importantes nesse momento crítico de implantação de uma nova fé. Acima, documentário A Vida dos Apóstolos, do canal privado National Geografic, de 2013.)

A família de Jesus tornou-se importante depois que ele desapareceu porque os parentes agiam como continuadores da sua obra. 

Não há dados históricos sobre a morte de Maria...

Algumas citações apócrifas registram que ela morreu em Éfeso, onde os cristãos eram perseguidos. Ela estava presente onde a igreja estava. Era uma fortaleza de consolo e convicção para os apóstolos. 

Apesar da ausência de informações precisas, pesquisas indicam que Maria tenha morrido por volta de seus 50 anos - dada a expectativa de vida na época, essa era a idade de uma anciã. 

O proto evangelho, porém defende que Maria não morreu - foi "transportada ao paraíso" de corpo e alma, verdade de fé assumida pelos católicos. 

(Acima, o sepulcro vazio de Nossa Senhora, guardado e construído pela igreja ortodoxa católica, no vale de Cedrom em Jerusalém.)

Não se sabe onde aconteceu sua morte (ou assunção). As hipóteses mais prováveis são as cidades de Jerusalém (onde há um mausoléu com a tumba de Maria) e Éfeso.


Manifestações como Prova de Amor

Muitos acreditam que Maria tem aparecido a fiéis de vários lugares do mundo como demonstração de amor à humanidade. 

Na contabilidade popular, as aparições da mãe de Cristo somam mais de mil...

Para o Vaticano, apenas 7 são legítimas:

Rue du Bac - Paris, França, 1830.

Salette - França, 1846.

(Acima, um lindo filme que conta a história da menina e devota Bernadette Soubirous, beatificada, que presenciou várias aparições de Maria no ano de 1858. Um enorme reboliço ocorreu na vida simples e campesina de Lourdes e na política da França... Acima, filme Bernadette, de 1988.)

Lourdes - França, 1858.

Pontmain - França, 1870.

Fátima - Portugal, 1917.

Beauraing - Bélgica, 1932-1933.

Banneux - Bélgica, 1933.

E o que dizer sobre esse fenômeno?

Do ponto de vista psicológico, nossa tendência é projetar no externo o que está dentro de nós. Como a imagem da Grande Mãe está dentro do homem, ele vai projetá-la num vidro, no céu, em vários lugares... A teologia católica, porém tem outra explicação:

(Já a aparição em Fátima foi mais polêmica e ocorreu num momento muito crítico da história mundial. Alguns asseveram ter sido uma farsa com provas, outros, um fato real... O filme acima tenta remontar esse momento misterioso de Maria nos tempos modernos contado por Lúcia, uma das três crianças que podiam ver a Mãe de Jesus. Acima, Fátima - O Filme, de 1997.)

"A aparição é uma graça que Deus concede a algumas pessoas. São revelações interiores que, de tão profundas, acabam projetadas para fora."

O Vaticano recomenda prudência na avaliação das novas visões de Maria. Este é um campo minado por muitas fraudes, patologias, sugestões individuais ou coletivas. Somente depois de muita investigação é que a Igreja declara que uma determinada aparição de Maria é verdadeira ou não. 

Mesmo assim, é comum que autoridades eclesiásticas locais - como padres e bispos - não esperem pelo reconhecimento da Santa Sé e apoiem a manifestação dos fiéis. 

Nos últimos dois séculos, um padrão comum marca as aparições: Nossa Senhora aparece para grupos de mulheres ou crianças, geralmente marginalizadas e moradores do campo. 

(Essas aparições e milagres já deram tanto "pano prá manga" que virou até série americana. Polêmico e sensacionalista, faz a gente refletir: Será que esses fenômenos são reais mesmo? Acima, série Miracles, no Brasil Milagres: Entre o Céu e o Inferno, produzido pelo canal americano ABC, 1ª temp. 3º cap., de 2003.) 

Nas aparições, Maria costuma pedir três coisas aos fiéis: oração, conversão e penitência. 

São mensagens simples... Pede que as pessoas mudem de vida para a religião, pede reza, penitência, jejum, penitência pelos pecados. A mensagem é muito oportuna para o nosso mundo.

Mãe é sempre um elemento sábio mesmo... Sempre aconselha sobre coisas simples e essenciais... 

Esse padrão de pedidos simples de Nossa Senhora se repetiu até a última década de 80, quando houve a primeira aparição de Medjugorje, na Bósnia, ainda sob análise do Vaticano. De acordo com ele, as aparições podem ser tomadas como uma reação ao poder masculino dento da Igreja: O clero é racionalizado, pouco afetivo. As aparições trazem uma religiosidade mais protetora, mais acolhedora...


Maria para Todos os Credos

O amor, a tolerância e a humildade, traços associados ao caráter de Maria, não são exclusividade das religiões cristãs. Talvez, por isso, a mãe de Jesus encontre lugar cativo em crenças tão diferentes, como o Candomblé e o Islamismo.

Para os católicos, Maria é a Virgem Santíssima.

A relação dos fiéis com ela encaixa-se na hiperdulia, um estágio entre a veneração, prestada aos santos, e a adoração, reservada apenas para Deus. 

Os cristãos ortodoxos também lhe guardam devoção especial - mas não creem nos dogmas marianos nem usam várias denominações para Nossa Senhora, como os católicos. Há sempre a Theotokos, a mãe de Deus!


(Por que os evangélicos não creem em Maria?! - O youtuber Alcino Juliano Dadam Lopes vai tentar explicar...)

Os evangélicos são um pouco mais distantes.

Para eles ela foi uma santa, mas não é intercessora nem mediadora.

Os evangélicos consideram que Maria não permaneceu eternamente virgem e não creem no seu poder de intercessão e não oram a ela. Os protestantes concordam. Para eles a concepção de Cristo no ventre de Maria não a fez virgem para sempre. 

Na teologia protestante, Maria é modelo de fé, de piedade e de ação cristã, mas não pode ser colocada como mediadora, redentora nem como aquela que interpela a Deus em favor dos fiéis. 

No Espiritismo, o dogma e os rituais marianos são deixados de lado. 


(Acima, entrevista com Silvania Eleusa de Centro Espírita de Goiânia que conversa sobre este tema. Acima, canal do Youtube TV Espiritismo, de 2015.)

Espiritismo é ciência. É uma vertente cristã que tenta se apoiar em fatos concretos e intelectuais, apesar de que muitas de suas práticas sejam difíceis de serem explicadas nesta base... O Espiritismo não se prende a dogmas nem aceita a quebra da lógica e da racionalidade. 

Mas não resta a menor dúvida que Maria foi, e é, um espírito superior. 

A importância de Maria, uma judia, no Islamismo, surpreende!

Entre todas as mulheres, ela é considerada a mais elevada, afirmam os muçulmanos.


(Maria para os muçulmanos. Uma tentativa do islã de pregar a paz entre as crenças... Louvável! Veiculado pela adolescente youtuber Sacchapyar, de 2012. É necessário desmistificarmos a ideia que todo muçulmano não entende ou é intolerante para com o cristianismo e outras teologias.)

No Corão, Maria é a única mulher a ter seu nome pronunciado e a ter sua biografia contada no livro sagrado: Maryam, capítulo 19.

Maria é mais citada que a mãe do profeta Muhammad. Ela é, por excelência, o modelo de mulher. 

Nas religiões de origem africana, como Umbanda e Candomblé, marcadas pelo sincretismo, Maria é cultuada como Iemanjá.

Segundo uma das tradições míticas, Iemanjá foi desposada por seu irmão Aganju e deste casamento nasceu Orungã. 

Orungã, na ausência do pai, raptou e violou Iemanjá e dessa relação nasceram muitos outros orixás. Por isso, é dado a Iemanjá o título de Mãe dos Orixás. 

Enquanto que para os cristãos a maternidade de Maria ocorreu sem ato sexual, para a tradição iorubá a maternidade de Iemanjá é fruto de um estupro... Contudo, elas são cultuadas e reverenciadas, sendo idealizadas pelo fruto divino de seus ventres. 


(Para o Judaísmo, Maria é vista como uma mulher normal e cumpridora das tradições de seu povo. Acima, cenas da A Paixão de Cristo, de 2004.)

Entre os judeus, Maria é uma típica mãe judia como qualquer outra...

A ideia de que alguém possa conceber um filho de Deus é totalmente estranha ao Judaísmo. 

De acordo com a doutrina judaica, Jesus foi um homem comum, nascido naturalmente de uma mulher, como todos nós!



Como Surgiu a Ave-Maria?

Uma das preces mais populares entre os católicos, a ave-maria é uma colagem de trechos da Bíblia somados à tradição popular. 


Ave, Maria
Cheia de graça...
O Senhor é convosco!

Os primeiros versos foram tirados da fala do anjo Gabriel a Maria quando foi anunciar à Virgem que ela ficaria grávida do Senhor.

"E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo."
Evangelho de São Lucas 1:28


Bendita és tu entre as mulheres...
E bendito é o fruto do teu ventre, Jesus!

Esse trecho também está em Lucas, mas foi pronunciado por Isabel, que recebeu Maria durante a gestação. A invocação, incluindo o nome de Maria, ocorreu por volta do século 7, da mesma forma a inclusão do nome de Jesus: "bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus!"

"E [Isabel] exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre."
Evangelho de São Lucas 1:42



Santa Maria, Mãe de Deus, 
Rogai por nós, pecadores,
Agora e na hora de nossa morte...

O trecho final, produto da tradição popular, foi acrescentado no século 14. Mas a invocação a Maria como mãe de Deus, já existia muito cedo na Igreja, como na oração Sub tuum praesidium, de um antigo papiro do século 4 encontrado no Egito. 

(Um dos mistérios mais intrigantes na história da arte sacra... Franz Schubert, compositor austríaco, escreveu esta canção, não para Maria, mas para um outro ícone tão importante para os maçons e cheio de mistérios, que somente os iniciados podem compreender: A Dama do Lago. Participante de um ciclo de poemas escritos para o épico Arturiano, Schubert motivou-se a escrever essa canção pela amizade a Walter Scott. Novamente, movidos pela ignorância, muitos católicos adotaram a canção e a letra de Schubert como uma forma de louvar Maria. A letra é belíssima sem dúvida, porém foi alterada pela igreja católica, contudo, dedicá-la a outro ícone feminino, para nós, não interfere em nossas crenças... Acima, Ave Maria, na melodia de Schubert, na performance do Tenor e Barítono Andrea Bocelli.)

O trecho final é mais espontâneo. É como se a gente dissesse: "Já que a senhora é tão boa, rogue por mim...!"

A fórmula definitiva da oração foi aprovada pelo papa Pio V. 



Fim.:.

    

In Memorian

Este estudo é dedicado a um casal muito amado por seus amigos e familiares: Sr. Guilherme Marques do Espírito Santo e Dna. Maria dos Santos Marques - que a luz de todas as grandes mães da História acompanhem vocês em vossa jornada espiritual. Descansem em paz...



Referências Bibliográficas

Livros

O Cotidiano de Maria de Nazaré, de Clodovis Boff, ed. Salesiana, 2003.

O Evangelho Secreto da Virgem Maria, de Santiago Martin, ed. Mercuryo/Paulus, 1999.

Mãe, a História de Maria, de Júlia Bárány (org.), ed. Mercuryo, 2003.

Maria, Uma Biografia, de Lesley Hazleton, ed. Universidade Hebraica de Jerusalém, United Kingdom, England, 2007.

Maria Entre os Vivos, de Carlos Alberto Steil, Cecília Loreto Mariz e Mísia Reesink, ed. da UFRGS, 2003.

Maria no Islã, de Roberto Khatlab, ed. Ave Maria, 2003. 

Revista Eclesiástica Brasileira, edição 250, ed. Abril, 2003.

Revista Teológica, do Instituto Teológico Franciscano, ed. Vozes, 2003.

Sites

www.marylife.org

www.apparitons.org

www.santuario-fatima.pt

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