sábado, 9 de maio de 2015

Deus, o Grande Mistério do Ser Humano - Parte 7

(Quem estuda Teologia já conhece os elementos acima: A mulher, a coruja, a Lua, a noite, as estrelas, as florestas, as cachoeiras, o azul... Tudo isso são símbolos da Deusa, a Mãe da natureza, eternizados nas muitas mitologias dos povos antigos espalhados por todo o mundo em épocas diferentes.)

Apesar de a priori, o Deus monoteísta não ter gênero, acabou associado ao masculino: pai, senhor dos exércitos, provedor...

Mas nem sempre foi assim...

(Representações da Deusa-Mãe do período Neolítico.)

Nos primórdios da humanidade, o culto dominante era prestado a uma divindade feminina. A chamada Grande Deusa foi figura recorrente nas primitivas sociedades agrárias, o período neolítico, mas há indícios de que já estava presente desde o paleolítico.

(Esta pintura rupestre do paleolítico mostra uma cena de um pênis ereto, o que nada tem a ver com a sexualidade em si, já que imagens como estas representavam a fertilidade de uma nação e, portanto, uma força ativa. Essas pinturas eram comuns em cavernas cerimoniais onde Casamentos Sagrados eram realizados entre sacerdotisas e reis.)

(A Vênus de Willendorf, uma estátua com pouco mais de 11 cm, do período paleolítico de 2.500 a.C. descoberta na Áustria, mostra-se nua e com as partes de seu corpo exagerados. A sexualidade do homem primitivo era bem mais descomplicada no passado, já que a procriação e a fertilidade era uma dádiva e não um pecado.)

A Deusa era relacionada à terra, que gera, alimenta e cria. Nas representações, seu corpo simbolizava o universo.

(Deusa mãe de 6.700 a.C. encontrada num assentamento paleolítico em Çatalhoyüuk na Anatolia, Turquia.)

Os arqueólogos encontraram várias imagens de mulheres datadas da era paleolítica (35.000 a 10.000 a.C.) em escavações na Europa, no Oriente Médio e na Índia. 

(Deusa-mãe encontrada em Creta.)

Essas estátuas ressaltam partes do corpo associadas à geração e à preservação da vida, como seios, ventre e nádegas exageradas. 

Esses povos provavelmente tinham uma ativa criação artística e uma organização social igualitária. 

A figura da Deusa-Mãe continuou presente durante muitos anos, mesmo muitas vezes coexistindo com outras divindades.

(Deusa Nut, entre os egípcios, ela existiu antes do Deus-Sol, pois ele ainda era apenas um aglomerado aquoso e sem forma. Ela era a escuridão, o céu e sustentava a vida e o destino final dos homens.)

No egito, apareceu como a deusa Nut, a mãe-céu. 

(Deusa Ganga, representada com corpo masculinizado. Esse fenômeno também é encontrado em representações semitas, pois como o livro do Gênesis nos ensina, a mulher foi um tipo de homem, mas com comportamento diferenciado. Uma transição interessante da imagem feminina para a masculina numa divindade.)

Reinou ao longo de todo o vale do Indo-Ganges, na Índia, como Ganga.

(Deusa sumeriana Inana, esta deusa era reverenciada como provedora da fertilidade e da sexualidade. Era conhecida no céu como o planeta Vênus.)

Chamavam-na de Inana na antiga Suméria...

(Deusa Ishtar, também uma deusa da fertilidade e representada como o planeta Vênus no céu.)

...Ishtar na Babilônia...

(Deusa cretense Potnia, deusa da Lua e dos animais.)

...Potnia em Creta...

(Deusa grega Deméter, deusa dos grãos.)

...Deméter na Grécia, a deusa da agricultura, até ser dominada por uma imagem paternalista e patriarcal.

A divindade feminina foi desaparecendo por meio de invasões e guerras.

(O filme As Brumas de Avalon, adaptação do livro com o mesmo título lançado na década de 1980, relata de forma bem interessante a chegada do cristianismo na Bretanha (Inglaterra) e como a Deusa sucumbiu a essa nova religião sob o cenário do Rei Arthur. Assistam!)

Na época do surgimento da Babilônia, por exemplo, o deus Marduk tomou o lugar da Grande Deusa, cortando-a em pedaços para construir o universo, mesmo ele já estando pronto.

Javé só conseguiu acabar com a função das deusas, quando os sacerdotes judeus baniram, sob rigoroso controle e ameaças espirituais as deusas Asherah de Canaã e Ishtar da Babilônia - que durante muito tempo tiveram seguidores fiéis entre os israelitas, sobretudo mulheres - exercendo esse expurgo de forma violenta  e  com confrontos.

(Deusa Asherah, contraparte feminina de Jeová.)

Deus criou o mundo sozinho...

Mas nas entrelinhas do Antigo Testamento a divindade feminina aparece: é Sofia, a deusa da sabedoria.

(Deusa Sophia dos gnósticos e cristãos cátaros, que reverenciavam-na como a esposa de Deus. Sophia também é conhecida secretamente ente as ordens esotéricas como o Espírito Santo.)

(Michelangelo, pintor da Capela Sistina, representou Sophia sustentando Deus. Ele era um iniciado da Ordem Iluminati que só veio a ser conhecida em 1776.)

A Sabedoria surge como uma espécie de esposa de Javé no livro dos Provérbios. A deusa foi uma figura poderosa na cultura helenística do Mediterrâneo, e retornou com a figura da Virgem, na tradição católica romana.

Deus e as Religiões

Veja abaixo, como Deus é concebido nas várias religiões do mundo:

Cristianismo

Para os católicos é o Senhor criador de todas as coisas, ao mesmo tempo: Pai (Deus), Filho (Jesus) e Espírito Santo. 

(Santíssima Trindade)

Os protestantes e evangélicos seguem a mesma concepção, com algumas diferenças. 

Espiritismo

É a inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas, conceito do Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec. 

(Jesus é um espírito de elevada evolução e hierarquia.)

Não creem que Jesus seja Deus. 

Ele foi um homem que passou por várias encarnações até se tornar um espírito puro, assim como o próprio Deus deste universo.

Judaísmo

É o Criador e Legislador. 

Por meio do profeta Moisés, introduz as leis civis e religiosa da Torá.

(O Nome de Deus é assim representado entre os cabalistas e secretamente entre os veneráveis rabinos.)

Seu nome não deve ser pronunciado, porque é sagrado, mas aparece designado como Yahweh nas Escrituras e somente cabalistas treinados podem entender, manipular e pronunciar este nome. 

Islamismo

Allah é absoluto e recebe no Corão 99 nomes ou atributos que enfatizam que Ele é a origem de todas as qualidades positivas do universo.

(Como Jeová no judaísmo, Allah jamais pode ser representado, pois nada contêm sua sagrada imagem entre os homens.)

Alguns deles: al-Gahani, O rico e infinito; al-Muhyi, O doador da vida e al-Alim, O conhecedor de tudo.

Hinduísmo 

O panteão hindu é bastante complexo...

Há perto de 330 milhões de divindades. Os deuses reencarnam e são representados sob diferentes formas.

(Os deuses mais importantes no hinduísmo.)

Os mais importantes, porém, compõem a sagrada trindade formada por Brahma, deus da criação, Vishnu, o que preserva e Shiva, o destruidor e recriador.

Budismo

Não concebe a figura de um ser superior, onisciente e onipotente. 

O caminho para alcançar o sagrado depende das ações do indivíduo. 

(No budismo não existe um indivíduo como Deus, mas uma Força inteligente e imanente que perpassa todas as coisas, que nos cria e forma.)

A ideia de Deus é substituída pelas forças que regem o universo, porque Deus é essa força. 

Candomblé

Olorum é o Deus supremo e criador dos orixás, divindades africanas que fazem ligação entre o mundo espiritual e o terreno. 

Mas ele não interfere no funcionamento do universo, que fica a cargo de seus filhos divinizados, os orixás. 

(Oxalá, o criador dos homens.)

Olorum incumbiu Oxalá, o mais sábio deles, de criar todas as coisas, mas como ele não reverenciou Exu, a Terra acabou sendo criada por Odudua. 

Para Oxalá, sobrou a criação dos homens e dos outros seres vivos. 

Os orixás têm características parecidas com os humanos. 

Umbanda

Tem os mesmos orixás do Candomblé, pois é um ramo renovado da mesma religião, mas eles não se manifestam no culto.

São os guias que se apresentam para os médiuns. A tríade principal desses guias é formada por índios e caboclos, pretos velhos e crianças, desencarnadas, mas que seus espíritos ajudam ao pedinte guiando-o a uma solução ou cura de seus problemas.

(Exu, orixá que dá aos seus filhos o bem e o mal.)

Os Exus, orixás que são o princípio dinâmico da vida social, também são importantes, e não são seres bons ou maus, apenas são espíritos zombeteiros que podem ajudar ou não, conforme o pedido e autoridade do médium.


Fim.:.


Referências Bibliográficas

Uma História de Deus, de Karen Armstrong, ed.Companhia das Letras, 2002.

Deus, Uma Biografia, de Jack Miles, ed. Companhia das Letras, 2002.

Experimentar Deus, de Leonardo Boff, ed. Verus, 2002.

A Trindade, Uma Aventura Teológica, de Francisco Catão, ed. Paulinas, 2000.

Sobre Deus e o Sempre, de Nilton Bonder, ed. Editora Campus, 2003.

O Poder do Mito, de Joseph Campbell, ed. Palas Athena, ed. 1990.




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