sábado, 9 de agosto de 2014

Guerras sem Fim - Parte 3


O Caminho do Diálogo

Será que ninguém percebe que é um contrassenso guerrear por motivos religiosos?

A resposta é sim... e não.

As crenças são marcadas por traços de ambiguidades e, nesse sentido, tanto podem favorecer a promoção da vida e do humano quanto ativar a violência. 

(Apesar de um cenário desalentador, já existe movimentos isolados e mundiais pela propagação da tolerância religiosa.)

Infelizmente, temos verificado afirmações aguerridas de autoridades religiosas atemorizadas com o pluralismo espiritual, que reagem com um discurso extremamente violento.

E não é preciso ir muito longe para encontrar casos em que as agressões baseiam-se, exclusivamente, no medo do diálogo. 

No Brasil, por exemplo, algumas denominações neopentecostais pregam uma intolerância radical em relação às crenças afro-brasileiras. Sem mencionar o episódio grotesco, ainda nítido na memória nacional, do pastor que chutou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida diante das câmaras de TV.

E o futuro? 

(Pastor Sérgio Von Helder, chutou a imagem de Nossa Senhora, num ato público de desrespeito, desamor e intolerância ao que é mais precioso ao próximo. Nada tão contraditório ao que ele mesmo pregava... Após a tremenda repercussão dessas imagens, foi afastado. Hoje dirige uma média igreja no interior de São Paulo com mais de 400 membros. Nunca mais ouviu-se falar dele.)

Ninguém sabe... Mas uma coisa é certa: só haverá paz no mundo quando existir paz entre os credos.

Ou as religiões percebem a importância das diferenças, ou estarão contribuindo para um futuro extremamente sombrio para a humanidade. 

Citando o teólogo belga Edward Schilebeeckx, o estudioso completa: 

"A relação autêntica com o Absoluto não é violenta, antes pelo contrário. Ela deperta a coragem inabalável para produzir mais humanidade em todos os setores da vida".

Assim seja...

...antes que seja tarde demais.


O Paixão dos Homens por Deus pelo Mundo a Fora...


Irlanda do Norte

Quem contra quem: Católicos X Protestantes

Por quê?: A população está dividida na religião e na política. De um lado, a maioria protestante briga para que a Irlanda do Norte continue ligada ao Reino Unido. De outro, a minoria católica luta pelo fim do domínio britânico e pela reunificação com a República da Irlanda. 

Apesar de alguns anos esses conflitos estarem sob controle restrito de acordos e monitoria policial e inteligência militar, ainda assim, a cautela é exigida pelos países envolvidos. 

Desde Quando: O conflito tem raízes na Idade Média, mas acirrou-se com o nascimento da República da Irlanda em 1949.

Desdobramentos: A situação piorou após uma manifestação em 1972, quando os católicos foram violentamente reprimidos pela polícia protestante no evento conhecido como Domingo Sangrento. A violência aumentou e o governo britânico retirou a autonomia da Irlanda do Norte, que até então mantinha um parlamento próprio. 

No mesmo período, o IRA (Exército Republicano Irlandês, católico) ampliou suas ações terroristas, causando milhares de mortes. 

Em 1998, foi assinado um acordo de paz que previa maior autonomia da Irlanda do Norte em relação ao governo britânico. Mas em 2002, após acusações que o IRA tinha espiões no governo, o acordo foi rompido.


Nigéria

Quem contra quem: Muçulmanos  X Cristãos

Por quê?: Apesar do país possuir leis que determinam liberdade religiosa, a maioria muçulmana estabeleceu a sharia (lei islâmica) em vários Estados, dificultando a convivência com os cristãos. 

A população é formada por 50% de muçulmanos (mais concentrados no norte do país), 40% de cristãos (mais ao sul) e 10% que seguem religiões tribais. 

Mas as precárias condições de vida respondem pela maior parte das tensões religiosas: embora seja o principal exportador de petróleo da África, a maioria dos mais de 100 milhões de habitantes vive na miséria. 

Desde quando: 1982

Desdobramentos: A Anistia Internacional estima em 5.000 o número de mortes provocados por conflitos entre cristãos e muçulmanos no país. Apenas em 2001, 1.000 pessoas morreram numa região muito disputada por fazendeiros do solo. 

Um problema que agrava a situação no país é a existência de muitas armas ilegais - estima-se que haja mais de 8 milhões de unidades - em poder da população civil e das guerrilhas locais. 

Os conflitos até o momento permanecem e são motivos de atenção para a mídia mundial.


Sudão

Quem contra quem: Muçulmanos X Cristãos

Por quê?: A população do país é composta de 70% de muçulmanos (localizados principalmente na região norte) e 5% de Cristãos (mais ao sul) - 25% seguem crenças tribais. 

A maioria cristã sofre perseguições de grupos como a Frente Islâmica Nacional, que, entre outras atrocidades, é denunciada por promover a venda de escravos cristãos e comerciantes árabes do norte do país. 

Desde quando: 1956

Desdobramentos: No início da década de 90, os islâmicos assumiram o poder e a sharia foi estabelecida em boa parte do país. Os cristãos do sul do país protestaram e, ao serem ignorados, partiram para o conflito armado. 

Desde 2004, os choques assumiram a proporção de um genocídio, como no caso das milícias muçulmanas que saqueiam e jogam bombas em comunidades cristãs. 

Em meios às perseguições religiosas, o país enfrenta um processo de limpeza étnica que já deixou centenas de milhares de mortos e outros tantos refugiados em países vizinhos. 

Após 10 anos dos grandes confrontamentos nada mudou. A mídia mundial ainda monitora o país.




Caxemira

Quem contra quem: Muçulmanos X Hindus

Por quê?: Com a independência do subcontinente indiano, em 1947, a região da Caxemira foi incorporada à Índia, onde prevalece o Hinduísmo. 

O Paquistão, com maioria islâmica, contrariado, iniciou os combates. Até hoje, os dois países brigam pelo controle da região, que tem 70% de muçulmanos. 

Desde quando: 1947

Desdobramentos: A região desperta os interesses da Índia, do Paquistão e da China, pois é rica em gás natural e petróleo. 

A Índia controla dois terços do território e acusa o Paquistão de armar e treinar guerrilheiros separatistas muçulmanos. Mais de 30 mil pessoas morreram na Caxemira indiana desde que o movimento separatista começou a atuar na região. Além disso, há grupos étnicos locais que estão ameaçados de desaparecer. 

Na década de 90, o movimento armado pela independência da Caxemira aumentou e os oponentes investiram enormes quantias na corrida armamentista. 

Os testes nucleares realizados pelos dois países preocupam o mundo inteiro até hoje. 


Sri Lanka

Quem contra quem: Budistas X Hindus

Por quê?: A maioria tâmil, formada por hindus, luta por autonomia na região norte do país, contrariando os budistas (cingaleses),que representam 70% da população e brigam para manter a divisão política atual.

Desde quando: 1956

Desdobramentos: Em 1983, os tâmeis pegaram em armas para reivindicar maior participação políticano governo e mataram soldados cingaleses. Como resposta, centenas de tâmeis foram mortos pela população em várias cidades.

Nasceram então os Tigres, guerrilha separatista tâmil. Tentativas frustradas de acordos de paz, muitas mortes e atentados terroristas ocorreram nos anos seguintes. 

Em 1993, o presidente do país foi assassinado por um terrorista de 14 anos. Dois anos depois, foi firmado um cessar-fogo, rompido logo em seguida. Nos anos seguintes, vários atentados provocaram centenas de mortes, até que um novo acordo de paz foi assinado em 2002.

Mas as guerrilhas tâmeis continuam em ação.  


Indonésia

Quem contra quem: Muçulmanos X Cristãos

Por quê?: O país, formado por várias ilhas, têm um contingente enorme de muçulmanos (88% dos mais de 200 milhões de habitantes) e sofre com uma série de conflitos contra a minoria cristã (8% da população), especialmente em Java e Sumatra. 

Desde quando: 1970

Desdobramentos: Apesar da maioria muçulmana, em muitas ilhas há uma crescente cristianização do país por católicos e protestantes. A lei defende a liberdade religiosa desde que os cultos não interfiram na política. 

Na prática, no entanto, o governo age no sentido de impedir o crescimento do Cristianismo, com gestos como o financiamento da construção de novas mesquistas. 

Na ilha de Sumatra, um grupo radical tenta formar um Estado muçulmano independente.


Fim.:.



Referências Bibliográficas

Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo, de Karen Armstrong, ed. Companhia das Letras, 2001.

A Violência e o Sagrado, de René Girard, ed. Paz e Terra, 1998.




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