quinta-feira, 7 de março de 2013

O Passo-a-Passo da Transformação - Parte 3


2 - O Caminho

Pé na Estrada!

A viagem deve ser encarada como uma instigante surpresa. Na autêntica romaria brasileira, os participantes vêem a peregrinação como uma oportunidade de reencontrar amigos e fazer novos. Por isso, ela contém uma boa dose de espírito da fraternidade.

Desprendimento é a palavra de ordem. É preciso soltar as amarras internas para experimentar essa vivência social e, em seguida, outras ainda mais profundas. 

A peregrinação é um ritual de morte e renascimento. Se a pessoa permitir, a cada passo ela se desliga dos problemas e, se concentra cada vez em si  própria, tornando-se receptiva às transformações. 


Ao se entregar para o caminho, o peregrino abaixa seu grau de exigência interna e recebe apenas o que o trajeto lhe apresenta, restaurando sua intuição e compreendendo que não há o que temer. Basta atenção. 

O viajante está inteiro, portanto, no momento presente, e o passado e o futuro perdem importância. Concentração na respiração e o caminhar são cuidados que ajudam no aprendizado de focar no aqui e agora. 


Assim, o peregrino lança ao encontro com sua face mais verdadeira e começa o processo de restauração interior ao abandonar sentimentos em desuso para adquirir novas qualidades. 

E onde imaginávamo estar sozinhos, estaremos de fato com o mundo inteiro...!

3 - As Dificuldades

No meio do Caminho havia uma pedra...

Toda peregrinação traz algum incômodo. Pode ser o peso da mochila, o calor ou o frio, a chuva, a exaustão física, o medo de perder-se, etc...

Manter-se firme no objetivo da jornada ajuda o caminhante a sentir-se mais forte e disposto. Quem estiver atento perceberá que as dificuldades da peregrinação mimetizam os obstáculos do dia-a-dia. 


O desconforto nos ajuda a deixar para trás o peso das preocupações, dos ressentimenos, da raiva e de tudo o que torna a nossa vida tão pesada. Para não se distrair e perder o ensinamento que a peregrinação oferece, os hindus entoam mantras enquanto andam e os budistas se concentram na respiração. 


Assim, o trajeto é feito com leveza, como um exercício de meditação, abrindo espaço para novas sensações. Quando caminhamos, lembramos que temos um corpo repleto de articulações. Trata-se de uma engenhosa máquina para a qual nem ligamos no cotidiano. 


É importante que o viajante não veja a jornada como um fardo. Sacrifício significa sacro ofício, um trabalho sagrado. Encarar as dificuldades como algo pelo qual devemos passar torna a viagem mais prazerosa. 

Por isso, ensina um antigo provérbio árabe: "Não é a estrada adiante que o faz desanimar. É o grão de areia no seu sapato".


4 - As Transformações

Quem sou eu agora?

A peregrinação é uma amostra grátis do processo de individuação do ser humano. Durante o trajeto, o indivíduo retira as camadas que protegem a essência da sua personalidade e penetra cada vez mais em si. 

Andar junto com aqueles que você encontra ao longo do caminho e misturar-se com todo tipo de gente dissolve naturalmente as hierarquias sociais. Ao se despir de sua classe social o caminhante também alivia o peso de seu ego, que está sempre comprometido com obrigações sociais, e entrega-se a uma nova maneira de viver. 


Essa entrega começa ainda em casa, antes da viagem. Ao arrumar a bagagem, o peregrino já está exercitando o desprendimento e a simplicidade, pois, como não dá para levar todas as roupas que quer, terá de aprender a usar a mesma camiseta dois ou três dias. 

Quando está no caminho, o aprendizado se aprofunda. O viajante naturalmente vai lapidando a tolerância e a fraternidade. Em muitas ocasiões será necessário compreender - e aceitar - a irritação de um colega e ajudar aquela pessoa que está mancando por conta de bolhas nos pés. 

Tudo isso é feito pelo simples prazer de ajudar. E também nos ensina a aceitar melhor o outro com suas dificuldades e imperfeições. Além disso, o peregrino não só sente que está se renovando como também muda o olhar que lança a si mesmo.

Peregrinar é um risco para quem tem receio diante do novo...


5 - As Descobertas

E daqui para a frente? 

É incrível como o peregrino constata que viajou tão longe para chegar a algo que estava, muitas vezes, tão perto dele. Afinal, o trajeto percorrido pode ser comparado a um processo de cura.

Passo após passo, dia após dia, o caminhante experimenta chacoalhões. Todas as privações a que tem de se submeter, como comer pouco, dormir em pousadas muito simples e lidar com uma quantidade de dinheiro limitada, funcionam como elementos purificadores. 


O peregrino expurga tudo o que não precisa e conserva apenas o que, de fato, é essencial. Depois, aplica essa experiência na sua vida prática. 

Uma das mais valiosa descobertas de pergrinação é o aprendizado de aceitar as pessoas como elas são, sem prejuízo de si mesmo. E mais: aceitar também a si mesmo, do jeito que é, com suas qualidades e limitações. 

Quando chega ao seu destino, o peregrino experimenta o que seria o amor divino. Ele descobre o amor a si próprio, ao semelhante, à natureza e a Deus.



Nenhum homem é maior que seu destino. E nenhum destino é tão pesado que um homem não aprenda a suportá-lo. Trata-se de uma revelação fundamental para o peregrino: ele descobre que é bem maior que seus próprios receios e fraquezas. 

Mas o retorno nem sempre é fácil. Diante de tantas descobertas, a sensação do viajante é de que o tempo passou de um jeito diferente para ele e para aqueles que ficaram. 

De volta ao lar, começa uma outra etapa: a da partilha e da paciência.

Boa jornada!


Continua...




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