terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Entre a Cruz e a Suástica - Parte 2



Durante a 2ª Guerra, muitas divisões dos protestantes tomaram fôlego, como por exemplo, os Metodistas, que se levantaram em número bem considerável na Inglaterra, e por programas de rádio, tanto animavam as tropas em guerra, como conclamavam membros e pessoas a se entregarem a fé de Cristo e ajudarem os pequenos orfãos espalhados por toda a Europa. 

Ainda, os metodistas, liderados por ninguém mais ninguém menos que C.S. Lewis, autor dos famosos contos As Crônicas de Nárnia, fundaram grupos por vários países Europeus em busca dos pais e parentes dos pequenos infantes judeus que chegavam ou eram encontrados famintos pelas ruas da Inglaterra e França. 

Ele mesmo, adotou 5 crianças judias, e ajudou milhares a encontrarem seus parentes ou um novo lar.

No entanto, também em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil, várias igrejas evangélicas ou católicas acreditavam que o fim do mundo chegara e, que portanto, os judeus mereciam o que estava acontecendo, e não renderam ajuda aos judeus. Apenas no sul, onde a política sempre foi a mais diversificada e intelectualizada do Brasil, é que, tanto alemães e Europeus refugiados, quanto judeus e minorias, encontraram guarita, abrigo e ajuda para se estabelecerem definitivamente. 

Reação Silenciosa

Seja como for, uma crítica que ainda persiste sobre as igrejas cristãs diz respeito à atitude, ou à falta dela - das lideranças religiosas contra o regime nazista. 

A ausência de declarações enérgicas do papa Pio XII contra o holocausto é um dos pontos centrais da discussão. É difícil julgar de longe as razões que o paralisaram naquela época. Só podemos lamentar que as igrejas cristãs não tenham se pronunciado à altura do que a situação pedia. 

O silêncio dos protestantes também é alvo de críticas. Muitos eram comprometidos com o ideário nacionalista alemão. Isso causou a perda de valores como a caridade e a denúncia das injustiças.

 Aqui, contudo, chegamos a um dos pontos mais complexos nesta história. Se por um lado o silêncio pode ter o significado de omissão, por outro muitas vezes foi sinônimo de estratégia: ao não entrar em choque direto com o governo alemão, as lideranças cristãs estariam resguardando seus fiéis da ira nazista e, ao mesmo tempo, não atrairiam a atenção para suas atividades em defesa dos oprimidos. 


De fato, centenas de padres e bispos católicos, assim como vários líderes protestantes, ajudaram a salvar vidas de integrantes das comunidades judaicas e de outras minorias perseguidas pelos nazistas. 

O monge Veremundo Tóth, do Mosteiro de São Geraldo, em São Paulo, relata sua experiência durante a guerra, quando ainda vivia na Hungria, seu país natal: "Milhares de judeus foram escondidos em nosso mosteiro para que os alemães não os descobrissem. A atuação dos religiosos foi muito importante para a salvação de todos eles", afirma. 


Alguns chegaram ao extremo de sacrificar suas próprias vidas em prol dos perseguidos, como o padre polonês Maxiliano Maria Kolbe. Em 1941, após ser preso pelos nazistas, foi levado a um campo de concentração e se ofereceu para morrer no lugar de um prisioneiro judeu. 

Por esse ou outros gestos, foi declarado santo em 1982 pelo papa João Paulo II. 

Sim, trata-se de um dos episódios mais complexos da História, mas algumas lições podem ser retiradas desse período. E uma das mais importantes diz respeito à preservação dos valores religiosos, principalmente quando o exercício da fé encontra obstáculos brutais como a insanidade nazista. 

As igrejas, como instituições, tendem a se congelar diante da realidade e não se comprometer. Mas também é próprio das instituições lutar para manter o espírito mais íntimo de sua fé. Esse dilema existe em todas as tradições religiosas.


Um dilema cujas três vias de ação possíveis - omissão, moderação ou tomada de atitude - muitas vezes se confundem. 

Para alguns, a moderação é o caminho mais indicado. Para outros, a fé exige sacrifícios extremos. No filme de Costa-Gavras, esta é a opção do padre, que tenta encontrar explicações para o caos que se desenrola ao seu redor. 

Em uma das cenas finais, já no campo de concentração, ele recebe a visita do amigo da polícia secreta alemã, que vai tentar libertá-lo. "Vou tirá-lo daqui", diz o oficial. E o padre responde: "Não. Deus deixa seus filhos serem devorados. Quero entender por quê". Em seguida, é executado pelos nazista. 

O final é trágico, mas também deixa uma lição. 

Independentemente da opção de cada um, é preciso ter em mente que a decisão sobre como histórias desse tipo acabarão no futuro cabe exclusivamente a um grupo: nós mesmos. 


Fim.:.


Referências Bibliográficas


Livros

O Santo Reich: Concepções Nazistas do Cristianismo (1919-1945), de Richard Steigmann-Gall, ed. Imago, 2004.

O Papa de Hitler, de John Cornwell, ed. Imago, 2000.

Filmes 

Amém, de Costa-Gravas, 2002

Documentários

Acompanhem pelos canais History e National Geografic, neste mês de fevereiro, semanas dedicadas ao estudo sobre o holocausto e as idéias nazistas. Sempre apresentados às 22h. 

Contém cenas de forte impacto emocional, pedimos descrição ao assisti-las. 









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