sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O be-a-bá da Fé - Parte 1

(Canavieiras, cidade natal de meu pai, em 1947.)

(A vida de um adepto começa cedo... No centro, meu pai, ainda um menininho... Acima, loja maçônica Grande Oriente de Canavieiras, 1947.)

(Acima, meu bisavô, sr. Gaudêncio Moraes Oliveira, avô de meu pai, na cidade de Canavieiras, Introdutor Mestre/Superintendente dos Filhos DeMolay e Filhas de Jó, Grande Oriente de Canavieiras, 1940.)

(A venerável loja conquistense Cavaleiros do Oriente, onde as principais famílias da cidade se encontravam para estudos com seus filhos e fraternos, 1945.)

É uma história rara de se ver... 

Numa das minhas idas à São Paulo, numa visita ao Hospital das Clínicas, quando da minha especialização em Medicina Ayurvédica, atravessei a ala de cirurgia para a ala de terapia corporal. 

(Escolinha Islâmica ensinando sua cultura e doutrina, de 2015.)

Vi um homem entrando num dos quartos, acho que era algum tipo de ala de Pós-parto de cesarianas. Muitos não entenderam o comportamento daquele acompanhante que parecia ser o esposo da mulher recém parida, mas para mim era lógico: Ele era um muçulmano devoto...

O pai havia se aproximado do leito e pegado a criança recém-nascida, e balançou-a da forma típica, e soprou em seu rosto, a criança fechou os olhinhos numa reação reflexa. Ele soprou novamente e disse em libanês: 


يأتي من الله 

Traduzindo: 

"Vêm de Deus...!"

Essa cena, pouco típica no Brasil, mas comum na comunidade islâmica, retrata a preocupação religiosa dos muçulmanos: A criança já nasce pura, mas, ao ouvir a palavra de Allah, é abençoada. 

O objetivo mais nobre da catequese - palavra de origem grega que quer dizer "fazer ecoar" - vai na mesma trilha dessa tradição do Islã.

(Tema do Mestrado em Comportamento Lúdico e a Alfabetização - 2015, da Esp. Milena Gusmão (centro), evidenciou um intrigante fato: As crianças conseguem respeitar, mesmo o invisível ou desconhecido. Uma experiência com 50 crianças foi feita: 25 indivíduos entravam numa sala com balas e brinquedos, e a professora Milena dizia: Fique aqui, não mexa em nada, que eu já volto! - O que acontecia? As crianças "roubavam" um dos bombons. Mas, se a professora dissesse: Está vendo aquela cadeira? Ali está sentada uma fada que vigia esta sala. Não mexe em nada, pois ela me contará se você fizer isso! - Então a criança, sozinha, num intervalo de 3 min em sala controlada com monitoração de câmaras remotas, ficava quieta, e esperava pacientemente o retorno da professora. Conclusão: Quando o indivíduo, mesmo sem saber ainda equacionar o que realmente significa uma autoridade, ele, ainda assim, respeitará, se for direcionado à isso, independentemente se a diretriz for verdadeira ou falsa. Acima, crianças da Creche Bem-Querer - UESB, onde funcionários, professores e alunos usufruem de cuidados diários profissionais e pedagógicos das 6h às 21h. )

Embora a terminologia seja utilizada apenas pela Igreja Católica, seu significado é muito semelhante ao que o pai muçulmano fez com seu filho e ao que diversas religiões fazem com seus fiéis mirins: transmitem-lhes suas crenças, seus ritos e suas doutrinas. 

A criança é frágil e dependente... E não pode ficar à mercê da vida "biológica" dos adultos. A religião consegue, independentemente de sua apologia, trazer um amparo, que sim, pode ser uma ilusão num primeiro contato na vida do indivíduo, que prepara-o, por meio de filosofias mais sedimentadas numa moral estrita, uma forma da criança enfrentar as dificuldades de sua inserção na sociedade com menos medo, e mais propriedade de comunidade.

(Uma família ou crianças que crescem sem uma noção religiosa que molde sua personalidade, comprovadamente, são mais ansiosas, desobedientes e rebeldes. Acima, cenas Dona Hermínia, personagem do humorista Paulo Gustavo.)

Esse contato inicial é importante para a criança conhecer a história da religião, saber como funciona na prática, tirar dúvidas, mas, principalmente, para que ela construa sua fé com base no conhecimento. 

Não se pode acreditar em algo que não se conhece...

(A maçonaria de Vitória da Conquista também tenta disseminar suas doutrinas de muitas formas levando os filhos dos adeptos para estarem em contato com outras crianças. Acima, atividade social do Dia das Crianças-2015, em Lucaia, com a participação de irmãos e cunhados sob a supervisão do Fra. Saullo Torres (centro) da venerável loja Cavaleiros do Oriente, Grande Oriente de Vitória da Conquista - GOB.)

Por isso, muitas vertentes religiosas criaram suas próprias escolas e universidades, para que nesse ambiente inicial e produtivo, a fé e suas doutrinas possam ser ensinadas aos novos fiéis. Na escola islâmica, os mais novos aprendem a base de sua fé. Escolas Batistas, Adventistas e Católicas se multiplicaram no Brasil como uma forma de conter e ensinar uma moral mais estrita a seus alunos. 

(De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases/1996: o ensino religioso nas escolas brasileiras deve seguir um regime de liberdade de crenças. Cabe ao professor contribuir para a formação do cidadão, ensinando a história de todas as religiões praticadas no Brasil. Acima,  inserção da criança na cultura teológica do Candomblé, de 2015.)

Seja a Umbanda ou no Islamismo, ou em qualquer religião, seja em casa ou numa escola, a formação religiosa apresenta aos pequenos, conceitos morais e éticos e estimula sua participação numa comunidade. 

Em todas as culturas, há milênios, a religiosidade sempre esteve presente como fonte de valores, dando sentido à existência. 

Deixar a criança crescer sem religião é muito ruim, pois ela fica no vazio, sem parâmetros. Não quero dizer que quem não tem Deus não têm valores, mas é importante a criança saber que temos um Criador olhando por nós...


Múltiplas Visões

Em níveis e de formas diferentes, todas as igrejas ou agremiações teológicas preocupam-se com a educação religiosa de suas crianças. 

(Coralzinho do Colégio Adventista de Vitória da Conquista, um complexo que não para de crescer e traz para a cidade uma forma de integrar a fé e as doutrinas adventistas às crianças de nossa cidade. Apresentação em libras com o prof. Júlio Moreiro e Thaianna Ribeiro, 2015.)

Escolinha de Moral Cristã, para os espíritas; Escolinha Primária, no jargão dos Mórmons; Escola Dominical para os evangélicos e Batistas; Escola Sabatina para os adventistas; e Catequese para os católicos, ou Gurukula, conforme os adeptos do movimento Hare Krishna - os nomes são diferentes, mas o objetivo é o mesmo: semear a fé e oferecer aos pequenos o acesso à essência de cada religião.

Vai longe o tempo em que isso era feito com palmatória na mão e discurso pronto na boca. A formação religiosa tem acompanhado a evolução da educação, abrindo espaço para a discussão e respeitando as diversas crenças. 

(Professor Raimundo, "tia" Rosália, Jomas, Fábio e outros queridos... Foi nessas pequenas conversas que tudo começou... Quando dá tempo a gente até tenta participar. Acima, atividade Café Literário, de jun/2016.)

(A escolinha Opção Kids, tenta ensinar, de forma pedagógica, uma filosofia teológica saudável, onde o respeito ao próximo é prioridade em nossa cidade.)

Nada de ajoelhar no milho ou decorar a definição de Deus...

O novo jeito de ser das pessoas exige uma catequese diferente, que acompanhe o ritmo das mudanças sociais... 

(O grupo musical batista Diante do Trono, foi o primeiro a perceber a necessidade de implementar músicas lúdicas e de fácil compreensão para crianças. Filha de pai pastor e de uma família bem sucedida, Ana Paula retornou ao Brasil, após uma longa temporada estudando nos Estados Unidos, trazendo consigo a cultura americana de introdução psicológica da criança nos templos. Acima, a canção que virilizou em 2005, Aos Olhos do Pai.)

Músicas animadas, passeios, dinâmicas de grupo e recursos audiovisuais que utilizem a linguagem do dia a dia da criança estão entre as novidades. 

(O professor Cesar Kusma palestra sobre como deve ser a função e o novo comportamento de uma escola católica, de 2014.)

O mais marcante, no entanto, foi a mudança de conceito, especialmente na Igreja Católica. Não se utiliza mais a "pedagogia do medo". 

Com medo de Deus, as crianças distanciavam-se Dele. 


Continua...



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