sábado, 14 de junho de 2014

Rumo ao Nirvana - Parte 5

(Nirvana é um estado de espírito. Um estado momentâneo, que o encarnado pode perder se não se focar e ter atenção contínua em seu estado emocional e espiritual. Não é um lugar a ser esperado. É a perfeição agora, aonde a calma e a plenitude pode ser alcançada pelo adepto.)

De acordo com Buda, não havia como explicar com palavras o que alguém sentia ao atingir a iluminação. Isso porque se tratava de uma experiência de alívio e paz que transcendia qualquer explicação racional. 

Apenas aqueles que conseguiram chegar ao fim do caminho souberam seu significado. 

Mistérios como esse fizeram com que nem sempre tais ideias fossem devidamente compreendidas pelo Ocidente. Para muitos não-budistas, o Nirvana seria uma aniquilação completa - um erro de interpretação bastante comum. 

(A interpretação de que o Budismo destrói os valores internos ou a percepção do Eu do indivíduo é um engano comum de todo aquele que não entende suas doutrinas. O Budismo propõe apenas que o homem contemple sua vida sob um novo ponto referencial e que não esteja apoiado em suas emoções de posse e ego.)

O Budismo não diz que todos só terão alívio quando se tornarem "nada". Muito menos defende o niilismo. O Nirvana é considerado um estado mental positivo. Basta comparar as pessoas a pequenas gotas de água. Quando a gota retorna para  oceano, se dissolve e perde a sua individualidade, e suas experiências e conquistas, tão inerentes e preciosas para aquele indivíduo, já não lhe pertencerão mais, mas à coletividade a qual ele retornou, seja numa representação encarnada ou não. 

Uma cultura bacteriana poderia ilustrar isso de forma bem interessante, afinal, apesar de estruturas independentes, uma vez participando de uma estrutura coletiva, uma reage igualmente como as outras reagirem ao meio, acabam que se tornam um só organismo.

(Buda não foi um enviado de Deuses, mas um homem que com esforço e disciplina evoluiu até merecer compartilhar sua presença com os Mestres. E é esse seu legado entre nós...)

Ao atingir a Iluminação, Sidarta não se transformou em um deus, muito menos em um santo. Entre seus fieis, a figura histórica é reverenciada como uma pessoa comum que encontrou uma maneira de acabar com o sofrimento.

O conjunto de ensinamentos deixado por Buda recebeu o nome de dharma

"Aquele que me vê, vê  dharma. Aquele que vê  dharma, me vê."
Samyutta Nikaya, textos búdicos.

Em seus discursos Buda também deixou claro que, antes dele, houve outras pessoas que descobriram o mesmo caminho para eliminar o sofrimento. 

Também estava certo de que viriam outros iluminados depois.

Quarta Nobre Verdade:
Existe um Caminho para Libertar-se do Sofrimento
  
A última das Quatro Nobres Verdades afirmava a existência de um roteiro para a libertação do sofrimento originado no apego e nos desejos: o nobre Caminho Óctuplo.

Essa receita para a iluminação também aparece nos textos mais antigos da religião e se subdivide em três grupos.

(O caminho Óctuplo.)

O primeiro envolve a preocupação com a moral ou conduta ética e inclui três preceitos: a fala correta, a ação correta e  modo de vida correto.

O segundo conjunto é representado pelo desenvolvimento da disciplina mental da concentração - a meditação - por meio do esforço correto, da atenção plena e da concentração correta. 

O terceiro agrupamento diz respeito à conquista da sabedoria, que abrange duas coisas: a visão correta e a intenção certa. 

(Buda também percebeu isso... A verdadeira Sabedoria no cerne do Budismo não é o acúmulo de informações que torna o indivíduo arrogante e separado dos demais, mas ver em cada situação um meio e uma forma nova de aprender a ser tolerante, flexível e acessível a si mesmo e ao próximo. Toda experiência é importante...)

Com a prática da moralidade, os budistas afastam-se do sofrimento. A ideia está em não apenas evitar os fatores que distanciam o praticante da Iluminação (como violência, mentira, roubo, uso de drogas e sexo), mas também em realizar as ações contrárias. 

Ser gentil e amável, falar sempre com precisão e sinceridade e contentar-se em ter o mínimo, por exemplo, são maneiras de conquistar a libertação espiritual. 

Pela meditação, os budistas atingem níveis de consciência cada vez mais profundos. Assim, livram-se da inconstância da mente.

A compreensão completa dos ensinamentos só pode ser conquistada quando por meio da absorção meditativa, treina-se  afastamento do "eu". 

(A meditação é um exercício de desapego. Ali você não é nada e nem ninguém, apenas um espectador de si mesmo, onde assiste, muitas vezes, surpreso, as ondas desconexas de emoções e vontades interiores que devem ser entendidas e transmutadas por meio de outros exercícios.)

As técnicas usadas pelo Budismo são uma adaptação das utilizadas na yoga, que estava começando a se difundir pela Índia na época de Sidarta Gautama. 

Primeiro, aprende-se a deixar o corpo imóvel. No estágio seguinte, domina-se a respiração a ponto de reduzi-la a quase a zero. Depois, desenvolve-se o foco num objeto ou uma ideia, eliminando distrações. 

Mais tarde, mergulha-se progressivamente no interior de si mesmo. 

Ao praticar a sabedoria, os budistas entendem  significado do dharma. É necessário relfetir sobre as Quatro Nobres Verdades, sobre a inconstância do mundo e sobre a não-existência do mundo e sobre a não--existência do "eu".

Também deve haver boa vontade e uma atitude pronta de renúncia. De acordo com o pensamento original de Buda, apenas aqueles que estivessem dispostos a abraçar a vida sagrada conseguiriam chegar ao Nirvana. 

(Uma vida simples é uma vida que não tem apoios em bases instáveis como planejamentos futuros, desejos por objetos sólidos mas não permanentes, emoções onde a posse e o status dão as cartas. Uma vida simples é estar apoiado em si mesmo e entender que tudo muda, transforma, renova e recomeça...)

Era preciso seguir o exemplo dado por Sidarta Gautama e virar um monge mendicante. 

Séculos depois, no entanto, o conceito tornou-se bem mais flexível.


Fim.:.


Referências Bibliográficas

Livros

Buda, de Karen Armstrong, ed. Objetiva, São Paulo, 2001.

Dhammapada - A Senda da Virtude, trad. Nissim Cohen, ed. Palas Athenas, São Paulo, 2000.

Buddhist Scriptures, organizado por Donald S. Lopez, ed. Penguin Books, Reino Unido, 2004.



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