O velho sábio, por exemplo, pode surgir como um negro escravo que, com sua paciente submissão à tirania dos senhores, adquiriu sabedoria, paciência e profunda espiritualidade.
É o caso da "Vó" que "baixa" num terreiro em Santa Catarina, ela é uma escrava parteira e hoje traz conselhos. Enquanto uma médium reza, a entidade "Vó", preta-velha, toma seu corpo sem alarde, apóia-se numa bengala, senta-se num banquinho, fuma um cachimbo e, com fala enrolada, transmite mensagens aos "netos".
Em seguida, ela puxa seus "pontos cantados" (cantigas que recordam os tempos de escravidão) e mexe em folhas de arruda e guiné para curar dores e machucados dos devotos.
Os caboclos e as crianças também se apresentam cercados de elementos simbólicos, ligados às matas e à infância, para expressar seu poder. Os caboclos apresentam muitas facetas do heróis guerreiro e as crianças são o arquétipo da eterna inocência.
Incorporados, os espíritos indígenas (nativos ou mestiços de índios e brancos) soltam um grito de guerra e dançam como se estivessem caçando com arco e flecha. Seriam especalistas na medicina mágica, praticada com ervas, pós e folhas, e no uso do fumo, considerado um estimulante para o contato com o mundo espiritual.
As crianças, quando incorporadas nos devotos adultos, correm pelo terreiro e pedem brinquedos e doces, que utilizariam para manipular as energias do ambiente. Quem vê, pensa que é um bando de loucos, mas eles descontraem e fazem as pessoas com carga energética muito pesada esquecerem os problemas.
Aos poucos, a Umbanda ampliou o leque de suas entidades com a veneração dos oprimidos cignanos do Oriente - que se distribuem pelo mundo com seu estilo de vida libertário - profissionais pouco reconhecidos, como boiadeiros e marinheiros, brasileiros de regiões distantes do centro econômico do País, como cangaceiros e baianos.
Num mundo mais próximo dos humanos a religão conta com exus e pombagiras, qualificados para auxiliar na resolução de problemas terrenos, como dificuldades com emprego e sexo.
A Umbanda representa, com suas entidades, diferenças raciais e étnicas, profissionais, regionais, de gênero e idade e, inclusive, morais. Por meio delas, traz esperanças de proteção, de solução dos problemas e cotidianos e de superação dos males.
Dessa mescla de personagens, cada qual com sua história e personalidade, criou-se um grupo de espíritos que celebra o convívio pacífico com as diferenças, onde todos têm algo positivo para oferecer.
A Entidade e Suas Oferendas
Caboclo
A força, o desprendimento e o espírito guerreiro são considerados seus melhores atributos. Ele representa os índios nativos brasileiros e também os mestiços de índios e brancos. Geralmente alegre, expressa sua cultura por meios de gritos de guerra, cânticos e danças.
Oferendas - gosta de bebidas natuais, como garapa (caldo-de-cana) e aluá (mistura de cascas de frutas, cana e limão). Também apreciam abóbora, milho verde e frutos como o coco.
Locais Preferidos - Anda pelas matas e por lugares afastados dos centros urbanos.
Festa - Coincide com as homenagens e Oxóssi (orixá das matas) no mês de janeiro e no Dia do Caboclo, comemorado em 2 de julho na Bahia.
Criança
Vítimas de doenças que se disseminaram no País, milhares de crianças teriam migrado para um mundo espiritual. Desde então, são invocadas para trazer alegria e descontração e, quando incorporadas, brincam e pedem doces.
Oferendas - Refrigerantes e sucos, além de doces como bolos, caramelo, rapadura e balas.
Locais Preferidos - Jardins e parques, geralmente, acompanhadas de uma entidade adulta.
Festa - Em setembro, junto com as homenagens aos santos católicos Cosme e Damião, com quem as crianças são sincretizadas.
Preto-Velho
Representa os escravos africanos do Brasil colonial que superaram os sofrimentos e, desencarnados, orientam os seres humanos na Terra. Quando incorporado, tem fala mansa, anda curvado e quase sempre fica sentado num banquinho para abençoar os filhos. É respeitado por sua humildade e sabedoria.
Oferendas - gosta de café forte e vinho tnto. Também de aipim cozido, mingau de mungunzá e acarajé, entre outros quitutes africanos.
Locais Preferidos - Além dos terreiros, anda pelas redondezas de casas coloniais.
Festa - Durante o mês de maio, principalmente no dia 13, data da Abolição da Escravatura.
Fim.:.
Referências Bibliográficas
Livros
Almas e Orixás na Umbanda, de Omolubá, ed. Cristális, 2002.
Cadomblé e Umbanda, de Vagner Gonçaves da Silva, ed. Selo Negro, 2005.
Visitações
Casa da Vó Joaquina, Joinville, Santa Catarina, Fone: (0xx47) 3027-5605
Grupo Umbandista Cristão Yonuaruê, São Paulo, Fone: (0xx11) 5058-7754
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