Uma das histórias mais belas do Catolicismo, as aparições de Nossa Senhora a três pastorinhos de Portugal foram cercadas de mistério durante muito tempo. Num dos encontros, ela teria feito importantes revelações à humanidade.
Na tarde de 13 de maio de 1917, três crianças pastoreavam ovelhas em um lugarejo chamado Fátima, perto da região de Leiria, em Portugal, quando observaram no céu uma espécie de relâmpago. A mais velha, Lúcia dos Santos, sugeriu a seus dois primos, Jacinta e Francisco Marto, que voltassem para casa, temendo que uma forte chuva desabasse sobre eles.
Antes de partir, porém, os três pastorinhos viram sobre um pé de azinheira uma "senhora vestida de branco mais brilhante que o sol", carregando uma espécie de rosário nas mãos. Ela disse que "vinha do Céu" e pediu que voltassem àquele mesmo local, conhecido como Cova de Iria, no mesmo dia do mês seguinte.
Assim foi feito. Em 13 de julho, a jovem luminosa reapareceu e fez às crianças uma surpreendente revelação. Essa mensagem ficou conhecida como "o segredo de Fátima" e, durante muito tempo, uma parte dela foi guardada a sete chaves pela Igreja Católica.
Impressionados com estes eventos extraordinários, peregrinos de todo o país acorreram a Fátima. E não demorou para que a misteriosa aparição fosse identificada como a Virgem Maria.
Durante seis meses, ela visitou aquele povoado pobre de Portugal, sendo vista apenas pelas crianças. Além de misteriosas revelações, também anunciou aos três pastores que realizaria um milagre, com data marcada: 13 de outubro. Nesse dia, 70 mil pessoas, entre católicos e céticos, se reuniram em Fátima para testemunhar evento inexplicáveis, como a chamada "dança do sol", quando então o astro teria se movido de um lado a outro do céu.
Enquanto milhares de católicos reagiam com demonstrações de fé, a Igreja iniciamente tratou o assunto com dúvidas e suspeitas, submentendo os três pastorinhos a vários interrogatórios. O resultado dessas conversas foi mantido em segredo durante muito tempo, até que, em 1978, a historiadora portuguesa Fina D'Armada descobriu, nos arquivos pessoais do padre Manoel Nunes Formigão, em Fátima, as transcrições dos relatos das crianças.
"Elas contaram que a aparição tinha pouco mais de 1 metro de altura, parecia uma menina com idade entre 12 e 15 anos e usava uma espécie de saia branca que descia até um pouco abaixo dos joelhos", afirmou a historiadora.
Ela vestia também um casaco branco e estava coberta por um manto do qual emanava uma luz forte. Falava sem mexer os lábios e não mencionou se fazia parte da família de Cristo ou de Deus.
Além disso, a jovem segurava uma espécie de esfera luminosa entre as mãos que parecia pender do pescoço com um cordão. Este foi interpretado pelos religiosos como um terço e a "bola luminosa", a partir de 1922, se converteu no Imaculado Coração de Maria.
A saia, relativamente curta para a época, "desceu" até o chão por imposição dos censores católicos. Tudo isso estava resgistrado nos arquivos dos primeiros interrogatórios sobre as aparições.
Segredo Bem Guardado
A menina Lúcia teria sido a única a ouvir a mensagem misteriosa que a Virgem Maria revelara. Ela tinha, então, 10 anos de idade. Com a morte de Jacinta e Francisco pouco tempo depois, tornou-se a única vidente viva de Fátima e seus passos começaram a ser acompanhados de perto pela Igreja.
Em 1921, a menina e sua mãe foram convencidas pelos religiosos católicos que deveria ir para um convento. Estando com apenas 14 anos, a ideia lhe causou profunda tristeza. Três anos depois, foi submetida a um rigoroso interrogatório, efetuado por autoridades eclesiásticas portuguesas.
E em 1925, passou a viver enclausurada num convento em Tuy, na Espanha, dedicando-se integralmente à vida religiosa.
Lúcia não pôde mais falar ou escrever sobre sua experiência. Somente o bispo de Leiria, José Alves Correia da Silva, à qual ela devia obediência, podia dar tal autorização e, mesmo assim, consultando antes o Cardeal-Patriarca de Lisboa e o Papa.
Os Três Pastorinhos
Lúcia de Jesus Santos teve sua vida marcada até o fim pelas aparições de Fátima. Seus primos Jacinta e Francisco Marto viveram menos tempo para lembrar dos episódios.
Jacinta morreu em 1920, aos 9 anos, e Francisco aos 11, um ano antes. As duas crianças foram vítimas da terrível influenza, uma epidemia de gripe que se espalhou pela Europa e matou milhares de pessoas naquela época.
Recentemente, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, dom José Policarpo, declarou à imprensa que Lúcia foi a porta-voz das revelações. Durante as aparições Francisco era o mais contemplativo e Jacinta ficava de tal maneira emocionada que nada dizia.
O processo de beatificação de Jacinta e Francisco teve início em 1952, mas somente no dia 13 de maio de 2000 eles receberam, do papa João Paulo II, o título de beatos. A data foi marcada por uma grande cerimônia em Fáima, onde estão enterrados.
Acredita-se que a beatificação de Lúcia - falecida no dia 13 de fevereiro de 2005 - será rápida, a exemplo do que aconteceu com Madre Teresa de Calcutá, quando o papa dispensou a espera de cinco anos exigida para iniciar o processo. Mesmo depois da morte de João Paulo II, a tentativa de canonização dos pastorinhos iria seguir seu caminho.
Continua...
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