sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Contatos Imediatos - Parte 2


No imaginário brasileiro, o espírito é aceito, entendido e vivenciado, e a mediunidade (ou seja, a capacidade de entrar em contato com ele) é um fenômeno tido como comum.

O Espiritismo é uma das doutrinas que aceitam a relação com o Além (termo usado ao longo desta matéria como sinônimo de onde ficariam os que já morreram) e tem na mediunidade uma de suas práticas mais características.

A possibilidade de uma mãe saber notícias de um filho que morreu num acidente, por exemplo, não só é aceitável como natural. O caráter consolador do intercâmbio mediúnico é o que há de mais representativo nos centros espíritas.

Ele se apresenta sob a forma de mensagens de parentes desencarnados, cujo espírito desvencilhou-se do corpo físico, mas também garante que o homem é imortal, que a vida prossegue além do túmulo e que Deus tem uma justa razão para tudo.

Nem todos os adeptos, contudo, conseguem estabelecer esse contato direto. Seriam os médiuns, pessoas dotadas de uma sensibilidade especial, os responsáveis pela mediação entre mortos e vivos.

No centro espírita Grupo Noel, em São Paulo, e em outos tantos espalhados pelo Brasil, os médiuns - ou "comunicadores" - escrevem mensagens que os espíritos desencarnados querem transmitir a seus familiares. Sentados à mesa, médiuns têm diante de si um bloco de papel em branco e, automaticamente, como se alguém tivesse movendo suas mãos, deslizam a caneta de folha em folha.

Os destinatários, presentes à sessão, recebem então os recados de seus parentes do Além. Esse fenômeno é chamado de psicografia. Segundo a doutrina Kardecista, os espíritos podem agir sobre a alma do médium e fazê-lo, por intuição, escrever a mensagem (mediunidade intuitiva); podem empurrar sua mão como uma força invisível (semimecânica); ou atuar diretamente sobre o corpo dele, sem que o comunicador saiba o que está ocorrendo (mecânica).

Outro tipo de comunicação sobrenatural é a psicofonia, quando o espírito usaria a voz do médium para falar com os vivos. Isso também ocorreria em sessões mediúnicas. O comunicador toma a palavra, como se fosse proferir um discurso, mas quem fala mesmo (acredita-se) é um espírito.

Para a doutrina kardecista, há ainda outras duas maneira, menos usuais, de interagir com os desencarnados. Uma delas é a clarividência, a capacidade de ver espíritos. Mas, se o indivíduo for capaz de ouvir claramente a voz deles, trata-se de clariaudiência.

Ambas são raras, pois exigem muito equilíbrio. Se o indivíduo tem viência, por exemplo, verá tudo o que houver pela frente, e coisas mais desagradáveis do que agradáveis.

Quem tem a capacidade mediúnica aflorada, ensina o Espiritismo, deve ter em mente que qualquer tipo de espírito, seja de boa ou má índole, pode manifestar-se. O médium deve trabalhar suas imperfeições morais para melhorar o padrão vibratório que lhe facultará o intercâmbio com os espíritos elevados.

O Espiritismo, porém, não se limita a buscar consolo para os vivos. Os próprios espíritos receberiam também aconselhamento.Ou seja, a comunicação com o Além seria uma via de mão dupla, de ajuda mútua.

No centro Grupo de Fraternidade Irmão De Sagres, em São Paulo, há um encontro semanal de médiuns que se dedicam a libertar os desencarnados de mágoas e tristezas. Numa das reuniões, isoladas numa sala, à meia-luz, oito pessoas sentaram-se em torno de uma mesa comprida com toalha branca e, de olhos fechados, esticaram as mãos sobre o móvel. Alguém disse que o grupo estava preparado para receber quem precisasse de ajuda. De repente, uma das pessoas começou a chorar compulsivamente.

Afirmava ser uma menina arrependida de ter magoado sua mãe. A garota estava morta, mas o choro e a fala viriam de seu espírito, que se manifestava no corpo de uma das mulheres à mesa. O grupo se comprometeu a ajudá-la. A mediunidade é importante porque permite exercitar a caridade e o amor ao próximo.


Influência dos Ancestrais

Outras religiões que admitem o contato com o Além, contudo, limitam essa comunicação aos antepassados, tidos como espíritos mais evoluídos - ou seja, livres do ciclo de reencarnação - e, por isso, sábios.

Nos centros de Umbanda, durante as giras (nome que se dá ao rito de incorporação), pretos-velhos, caboclos ou crianças dominam o corpo dos médiuns ao som de cânticos e batuques para prestar consultas aos fiéis. Eles são os guias do terreiro, considerados espíritos de luz.

Há ritos em que os ancestrais são invocados para pedir a bênção, o equilíbrio na mente, a estabilidade nas emoções e a harmonia nas energias físicas. Assim, cada devoto encontra-se com um dos ancestrais incorporados para ter uma conversa particular e receber conselhos.

Cada terreiro pode conter um guia ou força espiritual que o representa e, este espírito pode estar ligado a algum elemento em específico, como por exemplo, com a mata e às forças espirituais indígenas para utilizar seus conhecimentos para a purificação dos fiéis.

Assim, a entidade pode manipular a fumaça ou alguma bebida tornando-o um pseu-remédio que neutraliza a energia negativa dos visitantes e adeptos e, ao mesmo tempo, protege o médium que o carrega.


Essa espécie de "cura espiritual" é bastante comum nos rituais indígenas, onde o fumo também é usado justamente como um recurso para se entrar em transe, que seria a "entrega" do corpo aos espíritos. 

Entre os indígenas, pricipalmente das tribos do Alto Xingu, no Mato Grosso, os espíritos estariam ligados a espécies da natureza, como plantas, peixes, animais de pêlo e até a objetos e rituais. Ao aparecer para os humanos na floresta, provocariam neles moléstias. O único meio de curá-las seria, então, com a mediunidade. 

Para efetuar a cura, o xamã (ou pajé, o médium indígena) chamaria o espírito causador da doença por meio do tabaco e, em seguida, sopraria a fumaça sobre o doente. Nos povos que falam tupi, o tabaco é fundamental para contatos com o mundo espiritual. Assim, o xamã teria um poder de controle nas relações entre a aldeia e o mundo sobrenatural.

Em boa parte das culturas indígenas, como aos kamayurá, do Alto Xingu, a forma de ver o mundo invisível é compartilhada. Eles acreditam em seres que nunca foram criados e sempre existiram. Já no mundo dos homens, a idéia de imortalidade remete à da reencarnação. 

Quando um índio morre, rituais ajudariam-no a chegar ao mundo das almas. Quando nasce, o xamã, comunica-se com aquele mundo para procurar seu nome, como se o bebê fosse o retorno de um ancestral.

Para as doutrinas orientais, que pregam a crença no ciclo de sucessivas mortes e renascimentos, o diálogo com o mundo sobrenatural se dá prioritariamente por meio do culto aos antepassados. Os próprios rituais seriam formas de comunicação dos que estão vivos com os que se encontram "do lado de lá". 

Adeptos com alto grau de preparo espiritual também estabelecieriam esse contato com a ajuda de práticas como a meditação profunda. 

Sinais vindos dos Céus

Há religiões, porém, que não crêem na reencarnação ou na idéia de um espírito desvinculado do corpo. Os credos cristãos, que se baseiam no conceito de ressurreição, são um exemplo. A morte não é a separação do corpo e alma, mas uma passagem para uma nova forma de relação com o universo, fora do espaço e fora do tempo, afirmam.

Assim, como Jesus - que, de acordo com a Bíblia teria ressuscitado ao terceiro dia - a, humanidade estaria destinada a unir-se em corpo e alma junto de Deus. Por isso os cristãos não buscam contato com espíritos de parentes mortos nem de ancestrais. Para eles, o "Além", nessa concepção, não faria sentido. Mas, à sua maneira, eles também crêem num diálogo com o mundo não palpável. É uma comunicação muito mais de sintonia, de afinidade, do que material.

Continua...


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