quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Qual a Origem do Terço?


Forte instrumento da religiosidade popular, o terço começou a ser usado no Cristianismo por volta do século 4, entre os monges do Oriente. 

Na época, os cordões com nós ou contas, que equivaliam cada qual a uma oração, tinham como principal finalidade auxiliar os religiosos com pouca instrução. Havia monges que não sabiam latim e, por isso, não podiam cumprir o ofício divino. 

Assim, era estipulado certo número de preces para eles, como compensação. As contas ajudavam na contagem das rezas.

Com o tempo, o uso dos cordões disseminou-se entre os fiéis que frequentavam os mosteiros e que, da mesma forma, não entendiam uma palavra da missa. 


O terço católico na forma que o conhecemos hoje, um colar de contas com uma cruz pendurada, só apareceu entre os séculos 11 e 12, quando as orações rezadas nos mosteiros foram distribuídas em grupos correspondentes aos cinco mistérios de Cristo, que relatam passagens da vida de Jesus. 

A cada dez ave-marias, medita-se sobre um dos mistérios, como a anunciação do anjo a Maria.

No total, são 50 aves-marias, cinco pais-nossos e cinco glórias-ao-Pai. 

A popularização do terço deu-se com maior intensidade a partir do século 13, com as cruzadas, sobretudo devido ao trabalho incansável de São Domingos, grande pregador popular. 


Reza a lenda que Nossa Senhora teria aparecido para ele e lhe transmitido o rosário, como passou a ser chamado o conjunto de orações que reúne os três grupos de cinco mistérios de Jesus - os gozosos, os dolorosos e os gloriosos. 


Em 2002, o papa João Paulo II, cuja oração preferida era o rosário, acrescentou ainda os mistérios luminosos, que contemplam a vida pública de Jesus. 

Agora, não se pode mais dizer que reza-se o terço - equivalente à terça parte do rosário - mas, sim, o "quarto". 

Na Igreja Ortodoxa é usado o terço bizantino, também conhecido como starets ou combolói. Inicialmente, ele era confeccionado de lã negra trançada e tinha 100 nós, mas hoje também é feito de contas, cujo número pode variar. 


A cada uma delas, o fiel repete a jaculatória "Jesus, Filho de Deus vivo, tem compaixão de mim, que sou pecador", que pode ser intercalada por um pai-nosso ou pequenos trechos de meditação sobre os Evangelhos. 

O ritual do terço é muito importante para os crentes católicos, pois é um modo de estar em oração diante de Deus, num espírito de paciência, humildade e bondade. 

Independentemente da tradição, se católicos ou ortodoxos, os religiosos afirmam que, ao rezar o terço sentem-se mais próximos de Deus, chegando até a se desligar do resto do mundo, tamanho o estado de contemplação. 

É uma terapia espiritual, muitos dizem. As pessoas dedilham as contas, oram e isso lhes dá muita paz, pois o fazem com fé.

Também é essencial uma reflexão atenta, além da fé, ao rezar o terço. O ponto fundamental não é a repetição da ave-maria, mas a meditação sobre os mistérios de Cristo. 


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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Passo-a-Passo da Transformação - Parte 1


Há milênios o ser humano peregrina a locais sagrados. Saiba quais são as motivações, as dificuldades e as experiências vividas ao longo de uma jornada de fé rumo ao Divino. 

Não importa se os pés têm bolhas, se as costas doem ou se a roupa está suada e suja. Quando chega ao fim de sua jornada, o peregrino experimenta uma sensação incomparável: o cansaço físico dá lugar a uma leveza de espírito sem igual.

Na bagagem, aprendizados, descobertas e uma fé muito mais vívida, depois de ter sido colocada à prova a cada passo. O viajante não é mais o mesmo indivíduo que dias antes saiu de casa para empreender uma visita a um santuário ou trilhar um caminho tido como sagrado. 

Ele se lançou ao desafio de encontrar o microcosmo e macrocosmo dentro de si. Ou seja, pôs sua alma para se exercitar e dialogar com o mundo exterior. Por isso, transformou-se. 

As peregrinações estão presentes na história da humanidade desde tempos imemoriais. Perdeu-se nos séculos o momento em que o homem saiu, pela primeira vez, em busca daquilo que lhe era sagrado. 



Talvez a mais remota jornada da qual haja um registro escrito tenha sido aquela que o patriarca bíblico Abraão realizou, quando deixou a cidade de Ur para lançar-se no deserto e assim atender aos desígnios de Deus. 

Mas viagens transformadoras, impregnadas de fé e de sentido mítico, estão presentes na história da maioria das religiões. Na Grécia Antiga, por exemplo, os fiéis viajavam para buscar respostas nos oráculos. No Catolicismo, a peregrinação tomou forma a partir do ano 600, na Alta Idade Média. 



Naquela época, a visita a relíquias de santos popularizou-se pela Europa, atraindo os que procuravam fortalecer-se com o poder emanado pelos despojos de homens exemplares. 

Contudo, havia também quem peregrinasse para expurgar os próprios pecados. Em 2000, considerado o "ano santo" pela Igreja, o papa João Paulo II conclamou os fiéis católicos a visitarem pelo menos um santuário para alcançar as indulgências plenárias. Calcula-se que só o Vaticano tenha recebido 30 milhões de visitantes. 


Os mulçumanos, por sua vez, revivem o trajeto trilhado por Abraão no deserto até o ponto em que ele e o filho Ismael construíram a Caaba, o templo máximo do Islã.  A jornada anual a Meca, na Arábia Saudita, chama-se Hajj



Peregrinar até a primeira casa de Deus é reiterar a obediência a Allah e compreende que todos são iguais perante Ele. No Hajj, lapida-se os valores e renova-os, compreendendo o significado profundo das prioridades da vida.


No Judaísmo, a peregrinação dos fiéis esteve sempre muito ligada ao Templo Sagrado - o único local de reverência a Deus, na concepção judaica, erguido em Jerusalém por volta do primeiro milênio antes de Cristo.


Era lá que os judeus se apresentavam diante da face de Yahweh três vezes por ano, no Pessach (Páscoa), no Shavuot (Pentecostes) e no Sukot (festa dos Tabernáculos). 


O Templo foi destruído há quase dois mil anos e o que restou dele é o Muro das Lamentações. Hoje, os judeus visitam-no, mas também empreendem viagens à tumba dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, sepultados na Gruta de Makhpela, em Hevron, Israel, ou a túmulos de importantes rabinos, como Hachman de Braslav, na Ucrânia.

(Tumba dos Patriarcas)

 O ser humano vive adormecido e precisa acordar para entender quem ele é em sua essência. A peregrinação leva a esse despertar. 


 Sidarta Guatama também trilhou um longo caminho - espiritual e material - até encontrar um lugar adequado onde pudesse praticar a meditação de tal forma a alcançar a iluminação. 

O ser humano, religioso ou não, necessita encontrar-se com o Sagrado e há locais que abastecem essa busca. A despeito de cada crença, o que transforma o lugar em centro de peregrinação - seja um templo, uma vila por onde Buda passou ou uma montanha - é seu campo energético. 



A subida ao Monte Fuji, no Japão, por exemplo, conecta o caminhante com a atmosfera sagrada dos antigos oráculos que estavam instalados ali e eram procurados por peregrinos e samurais. 

  No Hinduísmo, ir a um santuário é empenhar-se na apropriação de si mesmo. Há locais que potencializam a divindade que cada um de nós carrega.


Continua...



sábado, 23 de fevereiro de 2013

O que foi o Tabernáculo de Israel?


"E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles. Façam tudo com eu te mostrar, conforme o modelo do tabernáculo". - Êxodo 25: 8-9

E assim foi feito. E o Tabernáculo, chamado de Mishkan - lugar da morada de Deus, em hebraico - tornou-se o primeiro santuário do povo iraelita. 

De acordo com a Bíblia, era uma construção desmontável, projetada para acompanhar os judeus na peregrinação rumo à Terra Prometida de Canaã. Junto com as tábuas dos Dez Mandamentos, as instruções sobre como erguer a edificação foram transmitidas por Deus a Moisés, no Monte Sinai, passados três meses da fuga do cativeiro, no Egito. 

A estrutura ambulante viajou pelo deserto com o povo de Israel por 39 anos antes de ser instalada em Canaã, onde permaneceu por séculos, até o Rei Salomão substuí-la por seu famoso Templo, destruído em 587 a.C., pelos babilônios.

Na verdade, há evidências arqueológicas do Templo de Salomão, mas nada em relação ao Tabernáculo. Porém, a falta de comprovação histórica não impediu que a tenda se transformasse num ícone vivo da fé judaico-cristã. 

O Mishkan simboliza a relação profunda entre Deus e Seu povo. Veja o raio X da incrível construção onde, um dia, Deus acampou entre os homens. 



A Porta - Pela fidelidade a Deus, a tribo e Levi foi separada para cuidar dos serviços do santuário. Cada clã tinha tarefas específicas na manutenção e no transporte. Enquanto alguns contavam com a ajuda de carroças durante as viagens, outros carregavam suas peças nos ombros.

A Estrutura - O material para erguer a estrutura foi obtido de doações. Os israelitas ofertaram tanto que a certa altura os operários pediram que Moisés interrompesse a coleta. Segundo o relato bíblico,  só em metais preciosos, como ouro, prata e bronze, foram arrecadadas 6 toneladas. 

A - O Pátio - Quase todas as cerimônias no Tabernáculo envolviam o sacrifício de animais, como meio de remissão de pecados ou de agradecimento a Deus. Além do altar de holocaustos, no pátio havia também uma pia usada pelos sacerdotes para lavar mãos e pés antes dos rituais. 



B - O Santo Lugar - A tenda era composta de dois compartimentos . O primeiro, chamado de Santo Lugar, abrigava a Menorah - um candelabro de 35 quilos de ouro maciço, aceso diariamente - uma mesa de ouro com 12 pães - que eram trocados a cada sábado e representavam as 12 tribos - e o altar de incenso.

C - O Santo dos Santos - O segundo compartimento, conhecido como Santo dos Santos ou Lugar Santíssimo, ficava a Arca da Aliança, símbolo do pacto entre Deus e Seu povo. Nela eram guardadas as tábuas dos Dez Mandamentos, o maná (alimento enviado dos céus) e o cajado de Aarão. Segundo a tradição, o Shekinah, sinal visível da presença do Criador, manifesta-se sobre a Arca. 

Mapa das Tribos



Planejamento Urbano - Conhecido como Ohel Moed (Tenda do Encontro), o Tabernáculo era o centro da vida de Israel. A localização das tribos no acampamento era organizada a partir da Tenda. Os levitas acampavam imediatamente ao redor do santuário, e os demais clãs tinham cada uma seu lugar específico.

Norte - Dã, Aser e Naftali

Leste - Judá, Issacar e Zebulom

Oeste - Efraim, Manassés e Benjamim

Sul - Gade, Simeão e Rúben



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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Entre a Cruz e a Suástica - Parte 2



Durante a 2ª Guerra, muitas divisões dos protestantes tomaram fôlego, como por exemplo, os Metodistas, que se levantaram em número bem considerável na Inglaterra, e por programas de rádio, tanto animavam as tropas em guerra, como conclamavam membros e pessoas a se entregarem a fé de Cristo e ajudarem os pequenos orfãos espalhados por toda a Europa. 

Ainda, os metodistas, liderados por ninguém mais ninguém menos que C.S. Lewis, autor dos famosos contos As Crônicas de Nárnia, fundaram grupos por vários países Europeus em busca dos pais e parentes dos pequenos infantes judeus que chegavam ou eram encontrados famintos pelas ruas da Inglaterra e França. 

Ele mesmo, adotou 5 crianças judias, e ajudou milhares a encontrarem seus parentes ou um novo lar.

No entanto, também em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil, várias igrejas evangélicas ou católicas acreditavam que o fim do mundo chegara e, que portanto, os judeus mereciam o que estava acontecendo, e não renderam ajuda aos judeus. Apenas no sul, onde a política sempre foi a mais diversificada e intelectualizada do Brasil, é que, tanto alemães e Europeus refugiados, quanto judeus e minorias, encontraram guarita, abrigo e ajuda para se estabelecerem definitivamente. 

Reação Silenciosa

Seja como for, uma crítica que ainda persiste sobre as igrejas cristãs diz respeito à atitude, ou à falta dela - das lideranças religiosas contra o regime nazista. 

A ausência de declarações enérgicas do papa Pio XII contra o holocausto é um dos pontos centrais da discussão. É difícil julgar de longe as razões que o paralisaram naquela época. Só podemos lamentar que as igrejas cristãs não tenham se pronunciado à altura do que a situação pedia. 

O silêncio dos protestantes também é alvo de críticas. Muitos eram comprometidos com o ideário nacionalista alemão. Isso causou a perda de valores como a caridade e a denúncia das injustiças.

 Aqui, contudo, chegamos a um dos pontos mais complexos nesta história. Se por um lado o silêncio pode ter o significado de omissão, por outro muitas vezes foi sinônimo de estratégia: ao não entrar em choque direto com o governo alemão, as lideranças cristãs estariam resguardando seus fiéis da ira nazista e, ao mesmo tempo, não atrairiam a atenção para suas atividades em defesa dos oprimidos. 


De fato, centenas de padres e bispos católicos, assim como vários líderes protestantes, ajudaram a salvar vidas de integrantes das comunidades judaicas e de outras minorias perseguidas pelos nazistas. 

O monge Veremundo Tóth, do Mosteiro de São Geraldo, em São Paulo, relata sua experiência durante a guerra, quando ainda vivia na Hungria, seu país natal: "Milhares de judeus foram escondidos em nosso mosteiro para que os alemães não os descobrissem. A atuação dos religiosos foi muito importante para a salvação de todos eles", afirma. 


Alguns chegaram ao extremo de sacrificar suas próprias vidas em prol dos perseguidos, como o padre polonês Maxiliano Maria Kolbe. Em 1941, após ser preso pelos nazistas, foi levado a um campo de concentração e se ofereceu para morrer no lugar de um prisioneiro judeu. 

Por esse ou outros gestos, foi declarado santo em 1982 pelo papa João Paulo II. 

Sim, trata-se de um dos episódios mais complexos da História, mas algumas lições podem ser retiradas desse período. E uma das mais importantes diz respeito à preservação dos valores religiosos, principalmente quando o exercício da fé encontra obstáculos brutais como a insanidade nazista. 

As igrejas, como instituições, tendem a se congelar diante da realidade e não se comprometer. Mas também é próprio das instituições lutar para manter o espírito mais íntimo de sua fé. Esse dilema existe em todas as tradições religiosas.


Um dilema cujas três vias de ação possíveis - omissão, moderação ou tomada de atitude - muitas vezes se confundem. 

Para alguns, a moderação é o caminho mais indicado. Para outros, a fé exige sacrifícios extremos. No filme de Costa-Gavras, esta é a opção do padre, que tenta encontrar explicações para o caos que se desenrola ao seu redor. 

Em uma das cenas finais, já no campo de concentração, ele recebe a visita do amigo da polícia secreta alemã, que vai tentar libertá-lo. "Vou tirá-lo daqui", diz o oficial. E o padre responde: "Não. Deus deixa seus filhos serem devorados. Quero entender por quê". Em seguida, é executado pelos nazista. 

O final é trágico, mas também deixa uma lição. 

Independentemente da opção de cada um, é preciso ter em mente que a decisão sobre como histórias desse tipo acabarão no futuro cabe exclusivamente a um grupo: nós mesmos. 


Fim.:.


Referências Bibliográficas


Livros

O Santo Reich: Concepções Nazistas do Cristianismo (1919-1945), de Richard Steigmann-Gall, ed. Imago, 2004.

O Papa de Hitler, de John Cornwell, ed. Imago, 2000.

Filmes 

Amém, de Costa-Gravas, 2002

Documentários

Acompanhem pelos canais History e National Geografic, neste mês de fevereiro, semanas dedicadas ao estudo sobre o holocausto e as idéias nazistas. Sempre apresentados às 22h. 

Contém cenas de forte impacto emocional, pedimos descrição ao assisti-las. 









segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Entre a Cruz e a Suástica - Parte 1


Aproximando-nos dos 68 anos da morte de Hitler, uma ferida ainda sangra nas fileiras cristãs: diante das atrocidades nazistas, muitos seguidores de Jesus tiveram de optar entre a omissão, a moderação ou a tomada de atitude em nome da fé.

Fevereiro de 1944...

No Vaticano, o papa Pio XII discute os últimos acontecimentos da guerra com seus principais assessores.

A cúpula da Igreja manifesta seu descontentamento com a recente destruição do Mosteiro Monte Cassino, na Itália, pelas forças aliadas, mesmo sabendo que a retomada do local representa um duro golpe contra os nazistas. 

Numa rua próxima, um padre se desespera com a deportação iminente de pelo menos mil judeus italianos para os campos de concentração de Hitler. Percebendo que só uma intervenção direta do papa poderá salvar aquelas pessoas, o padre corre para buscar o auxílio de Sua Santidade. Porém, ao adentrar o salão em que se realizava a reunião das lideranças católicas, recebe de pronto um olhar de desaprovação dos cardeais.

O jovem sacerdote não se abala e clama por ajuda: "Santo Padre, mil judeus serão deportados, a menos que interceda". Sem demonstrar surpresa, o papa responde calmamente: "Quem está ao lado dos perseguidos fala pela Santa Casa. Mas, neste assunto, só a moderação poderá nos salvar. No momento certo, intercederemos para restaurar a paz universal que reunirá todos os cristãos. Nossas orações, nossos gritos de dor..." - neste instante, Pio XII se cala e todos se voltam para o padre. Transtornado, o jovem recua e, com uma das mãos, prende uma estrela de Davi na batina.

O gesto indicava que ele não conocordava com a moderação do papa e estava disposto a ser levado para os campos de concentração. Os cardeais o acusam de blasfêmia. Com lágrima nos olhos, o padre pede perdão, se retira e caminha até o trem em que os judeus estavam sendo embarcados para deportação. 

As cenas dramáticas acima descritas fazem parte do filme Amém, do diretor grego Costa-Gravas. Inspirado em fatos reais, o longa-metragem conta a história de dois homens que se uniram para tentar impedir o genocídio da Segunda Guerra Mundial. 

O primeiro é um oficial da polícia secreta alemã, que inconformado com a matança e milhões de inocentes, tenta fazer acordos com líderes cristãos para impedir mais mortes. 

O segundo é o padre apresentado acima, um jesuíta convicto de sua missão: reduzir o número de vítimas do holocausto. Lançado em 2002, o filme causou polêmica ao sugerir uma postura pouco combativa das lideranças católicas e protestantes em relação ao regime nazista após a morte de Adolph Hitler.

O tema abordado pela obra ainda é uma ferida não totalmente cicatrizada da história recente dos seguidores de Jesus: a relação ambígua entre as igrejas cristãs e o regime assassino do Führer alemão. 

Em nome de Cristo

Segundo estudiosos, o regime de Hitler não era totalmente desprovido de fundamentação religiosa. Em seu livro O Santo Reich, o historiador Richard Streigmann-Gall, da Universidade Kent State, nos Estados Unidos, faz um levantamento das inclinações religiosas da elite do Partido Nazista. 

 Segundo ele, muitos dos protagonistas do regime nutriam vínculos estreitos com a fé cristã. Essa ligação era mais óbvia no que tangia aos judeus, mas também no que dizia respeito a um vasto leque de questões como o marxismo, liberalismo, o direito da mulher e o homossexualismo. 

Em outras palavras, parte da elite nazista utilizava a Bíblia para sustentar atos abomináveis, como a perseguição e o extermínio dos judeus. Eles recorriam a tradições cristãs para articular sua visão do nazismo, não apenas para o povo alemão, mas sim, acima de tudo, de uns para os outros e para si mesmos. 

Outros autores, como John Cornwell, autor de O papa de Hitler, têm uma visão semelhante. O Cristianismo - e o Catolicismo em particular - tinha longa história antijudaísmo em termos religiosos, algo que não diminuíra no século 20. 

Não era parte da cultura católica perseguir judeus com base na ideologia racial hitlerista, muito menos justificar o extermínio da raça. E no entanto, à primeira vista, o Catolicismo parecia ter ligações com o nacionalismo de direita, o corporativismo e o fascismo, que propunham o anti-semitismo.

Porém, embora duras afirmações como essas muitas vezes reflitam os fatos, de forma alguma elas podem ser generalizadas. 

Se alguns penderam para a suástica, a maioria manteve-se fiel aos ideais da cruz. 

O número de líderes religiosos alinhados às forças nazista não era tão significativo. Entre os protestantes, eles eram apenas 5% do total, pesquisa feita pela Universidade de British Columbia, no Canadá. 

Além disso, a versão dos Evangelhos proclamada por eles, que defendia, entre outras coisas, a exclusão de todos os judeus, era condenada por 95% de seus colegas.


Continua...



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O que é Dogma?


Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Potuguesa, dogma é um "ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentada como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar".

Para os fiéis, porém, o termo adquire uma amplitude muito maior do que sugerem as frias palavras acima. Os dogmas são os pilares de uma doutrina. São verdades para as quais os fiéis dispensam comprovação histórica, por um motivo simples: são verdades de fé.

Para os estudiosos, o dogma tem um papel fundamental dentro de uma crença, pois ajuda a distinguir entre o que é sagrado e o que é profano na religião. nesse sentido, negar um dogma equivale a negar a própria fé. 

Ao fazê-lo, é como se a pessoa assinasse um documento dizendo "creio em outra coisa" - e  resultado, geralmente, é a exclusão do fiel dos quadros do credo. 

No passado, porém os dogmas já serviram como desculpa para tristes arbitrariedades. Durante a Inquisição, por exemplo, quem não aceitava o dogmas da Igreja Católica era considerado herege e muitos foram condenados à prisão e à morte. 

Ao longo da História o conceito sempre esteve associado às denominações cristãs, mas de certa forma todos os credos apresentam princípios considerados dogmáticos. 

Toda crença bem estabelecida baseia-se em dogmas, como um meio de distinguir entre as demais. Ele é oferecido a todos os crentes como uma manifestação explícita do mistério que fundamenta a religião.

Confira os dogmas de algumas crenças.

Budismo

São quatro as verdades de fé: a dor é universal; o egoísmo é a causa da dor; a dor acaba quando finda o desejo; o caminho do meio ensinado por Buda anula o sofrimento. 

Catolicismo

Há apenas um Deus. A Santíssima Trindade abarca os três aspectos do divino: Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus é o filho de Deus. 

Islamismo

Allah é o único Criador, e não há nenhuma outra divindade além Dele. O profeta Muhammad (Maomé) é o mensageiro de Deus enviado aos homens. 

Judaísmo

Embora não usem o termo dogma, os judeus têm diversas verdades de fé, como a unicidade de Deus, que manifesta Sua vontade aos homens por meio da Torá. 


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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Contatos Imediatos - Parte 3


Um exemplo seriam as orações e os rituais específicos para os mortos, como as festas católicas do Dia de Finados. Ou então, as manifestações que viriam diretamente do mundo espiritual - do próprio Deus, de Cristo ou de Maria, por intermédio de aparições.

Há séculos a Igreja Católica vem acumulando relato de santos e fiéis que afirmaram ter visto a mãe de Jesus e recebido dela advertências e mensagens de conforto, amor e paz.

Independentemente de como se considere essa relação com o plano não concreto, ela passa sempre pela tentativa de compreender, ainda que no âmbito da fé, o mistério da existência. As religiões buscam razões para o sentido desta vida dentro de um outro mundo.

As provas podem estar no recado recebido numa sessão mediúnica. Ou no aconselhamento espiritual que ocorre depois de uma gira da Umbanda. Talvez na atmosfera acolhedora de um ritual oriental de homenagem aos ancestrais. 

Para quem tem fé, é reconfortante saber que não estamos sozinhos na jornada - aqui ou lá.

Quem estaria do outro lado?

Cada crença, uma sentença. Veja as respostas que as várias religiões propõem à questão do título, cada qual de acordo com sua doutrina:

Espiritismo

No mundo não palpável estariam os espíritos desencarnados, ou seja, que deixaram o corpo físico. Lá também se encontrariam os espíritos superiores, que, livres do processo de reencarnação, influenciariam positivamente as ações humanas. E os inferiores, que, ainda em fase de evolução, estimulariam sentimentos egoístas. 

Umbanda

Entidades como o preto-velho, o caboclo e a criança representariam nossos ancestrais. Livres do processo de reencarnação, seriam conselheiros da humanidade e também dos espíritos atrasados, chamados de kiumbas (espíritos sem luz). Na escala da evolução, tais entidades encontram-se dois degraus abaixo do plano divino, sob a orientação dos orixás, divindades ligadas à natureza.

Candomblé

O contato com o mundo espiritual se daria diretamente com os orixás. Nos terreiros, as divindades incorporam nas iaôs (médiuns) para festejar com os fiéis e abençoá-los. Os espíritos ancestrais (eguns) não incorporam, mas recebem oferendas. 

Xamanismo

Segundo os mitos indígenas, existem espíritos guardiões das espécies da natureza, como o tabaco (vegetais), a flauta jakuí (instrumentos cerimoniais) e animais de pêlo. Eles apareceriam na forma de índios e poderiam ser bons ou maus. Os bons espíritos auxiliariam as tribos nos problemas contidianos. Os maus, crê-se, poderiam capturar a alma dos vivos durante o sono. 

Catolicismo

No plano espiritual, abaixo de Deus, haveria os santos, vistos como intercessores da humanidade junto ao Pai, Mas não fariam contato direto com os vivos. Os anjos, por sua vez, são criaturas puramente espirituais, sem vínculo material. Porém acredita-se que Maria, mãe de Jesus, manifeste-se diretamente para os fiéis por meio de aparições. 

Evangélicos

Para eles, haveria apenas dois elos diretos com o mundo não palpável. De um lado, estaria o Espírito Santo, que concederia aos fiéis os mesmos dons divinos dos apóstolos de Cristo. De outro, o Demônio, que representaria o mal presente na Terra e que poderia influencia as pessoas, tomando o corpo delas.


Visão Oriental sobre o Elo com o Além

O renascimento da alma é um dos pilares das doutrinas orientais. Saiba, então, como cada uma delas explica a comunicação com aqueles que já morreram:

Hinduísmo

O culto aos antepassados é um dos rituais que compõem os samskára sádhanas (sacramentos hindus). O contato com os mortos objetiva a reverência, a orientação e, por vezes, a elucidação de fatos que não compreendemos. As práticas evolvem mantras, mentalizações e oferendas. Visões intuitivas também são transmitidas aos hindus por meio do terceiro olho, indicado por uma marca na testa.

Budismo

Na linha tibetana, há uma cerimônia de meditação profunda, chamada powa (prática de transferência da consciência),para os que acabaram de morrer. O principal objetivo é evitar que estas pessoas continuem presa no interminável ciclo da morte e do renascimento. Por meio de mantras e visualizações e do treino de yoga, os monges facilitam o movimento da consciência dos mortos para fora do corpo, enviando-os para a experiência da bênção de Buda. Chama-se a isso de terra pura, ou estado de experiência direta da compaixão de Buda.

Taoísmo

Crê-se que os deuses taoístas, representados por figuras humanas, sejam ancestrais milenares. Eles comporiam as diferentes formas da natureza, é encantada e carrega a possibilidade do contato mediúnico. Em sus práticas meditativas, os sacerdotes podem comunicar-se com as entidades. Cânticos, objetos rituais e incensos servem para excitar os sentidos.

Xintoísmo

Como no Taoísmo, o sacerdote é quem desenvolve as faculdades de comunicação com o mundo espiritual - ou seja, visões e contato com seres ancestrais. A vocação para iniciar-se no credo é precedida destas manifestações. Os espíritos do Xintoísmo, os Kamis, estariam em tudo o que circunda o homem, nas casas, nas ruas e até nos eletrodomésticos.  Para incorporá-los, os fiéis preparam-se com ritos de incensos e orações.

A Relação do Cinema sobre os Mortos

"Se eu perdesse minha esposa e um pássaro pousasse na minha janela, olhasse nos meus olhos e dissesse: 'Sean, sou eu, Anna. Estou de volta'. O que eu diria? Acreditaria nele. Ao menos ia querer. Ficaria amarrado no pássaro. Por outro lado, sou um homem de ciência. Não acredito nessas tolices".
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Depois de dizer estas palavras, Sean morre subitamente enquanto se exercitava. Dez anos mais tarde, um garoto de 10 anos de idade aparece para sua esposa, Anna, e diz que é Sean reecarnado. Se ela crê? Sim, a ponto de largar o noivo que levara anos para convecê-la a deixar o luto.Este é o enredo do Filme Reencarnação (Birth, no título original), dirigido por Jonathan Glazer e estrelado por Nicole Kidman (no papel de Anna), que estreou nos cinemas brasileiros no início de Abril de 2005.

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Não seria a primeira vez que a sétima arte levanta questões quanto à possibilidade de existência de vida após a morte, espíritos e fenômenos sobrenaturais. Há mais de 15 anos o polêmico tema já havia rendido sucesso de bilheteria com Ghost, do Outro Lado da Vida, de Jerry Zucher, onde o banqueiro Sam (Patrick Swayze), assassinado diante de sua esposa Molly (Demi Moore), utiliza-se de uma médium trambiqueira (Whoppi Goldberg) para lhe dar um aviso.

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Outra película que movimentou as salas de cinema foi O Sexto Sentido, de 1999, dirigido por M.Night Shyamalan, onde Cole, um garoto de 8 anos, vive sozinho a angústia de ver e ouvir espíritos, sem poder contar com a ajuda de sua mãe, que não crê nessa possibilidade.



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Atualmente, uma grande produção brasileira com recursos e efeitos-especiais estrangeiros, nos contou a história de um dos maiores espíritos-guias entre os Espíritas, André Luiz, em Nosso Lar, dirigido por Wagner de Assis, distribuído pela 20th Century Fox. Uma produção que nos conta a saga de uma pessoa que tem que lutar também do "outro lado" por sua evolução e crescimento espiritual.

Por meio da ficção, portanto, explora-se o intenso desejo do ser humano de continuar a existir em algum plano após a morte. As manifestações artísticas parecem, via de regra, baseadas na mesma matéria-prima que fundamenta a religão, a ciência e a filosofia: a tentativa de dar uma rasteira nos limites humanos mais básicos como a morte, o sofrimento e a ignorância.

Se por um lado esses filmes nos dão esperança, também podem ser traiçoeiros. Negar a morte e a perda muitas vezes pode ser um obstáculo para o próprio desenvolvimento emocional.

Muitas películas inspiraram-se em preceitos religiosos que explicariam o motivo de nossa existência. A abordagem do filme Reencarnação, por exemplo, embora leiga no que se refere à doutrina espírita, levanta algumas questões sobre o assunto. Para respondê-la, convidamos Paulo Ribeiro, diretor de Doutrina da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, para uma conversa numa conferência digital, no dia 10 de janeiro:

O espírito escolhe para quem se manifesta?

R: Se ele tem a intenção de se comunicar com alguém, utiliza-se de um médium com capacidade para interpretar seu pensamento.

Ao morrermos, nosso espírito apaga a memória desta vida?

R: A memória do espírito continua com ele, não está localizada no corpo físico. Ela armazena a história não só de uma encarnação, mas de todas as outras.

Qual seria o tempo entre a morte e a reencarnação?

R: O espírito leva anos para voltar a outra vida. Ele precisa de um período para fazer um balanço de seus interesses, verificar os resultados da última encarnação e fazer planos para a próxima.

Temos como saber como alguém que já morreu se está reencarnado?

R: Essa percepção não pertence a nós. Quando um espírito desencarna, assume uma nova fase. É como mudar de cidade, com outro endereço e outros amigos. Tal conhecimento não seria natural, embora, com determinadas personalidades, notóriamente desenvolvidas, tais lembranças possam ser possíveis e até comprovadas por situações ou lembranças em encontros com pessoas ou locais que, na encarnação atual, a pessoa em questão nunca visitou, podendo transitar ou encontrar coisas ou pessoas e, ambas, perceberem forte afinidade inexplicável para ambos.


Fim.:.




Referências Bibliográficas

Livros

O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, Ide Editora, 2003.
O Xamanismo, de Alix Montal, ed. Martins Fontes, 1986.
Umbanda: O Elo Perdido, de F. Rivas Neto, ed. Ícone, 1999.

Site

www.pesquisapsi.com

Filmes

O Sexto Sentido ( The Sixth Sense),  de N. Night Shyamalan, distr. Hollywood Pictures.
Nosso Lar, de Wagner de Assis, distr.20th Century Fox.

Programas-Documentários

Caçadores de Fantasmas - The Ghost-Hunters (utilizar o atalho para pesquisar outros vídeos correlatos).








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