Tradição da mística judaica, esse conjunto de ensinamentos ocultos virou moda. Mas, por trás da aura de mistério, existe uma profunda sabedoria sobre o ser humano e o Universo.
Diz a tradição judaica que, antes de vir ao mundo, cada alma, intimamente ligada a Ein Sof, a Fonte Infinita, conheceria todos os mistérios do Universo. No ato do nascimento, essa sabedoria não se perderia, mas seria mantida no subconsicente. Existiria, porém, um meio de trazer esse conhecimento à tona: A Cabala, a dimensão mística do Judaísmo, um conjunto de mensagens ocultas que guardariam os segredos da existência.
Por milhares de anos, a Cabala esteve restrita a um seleto grupo de eruditos, homens versados nas leis e costumes judaicos. Reclusos e silenciosos em seus quartos de estudo, esses homens jamais poderiam imaginar que, um dia, seus mistérios estariam sendo desvendados por extravagantes figuras do show business, como Madonna ou Mick Jagger, que se incluem numa legião de novos adeptos.
Ou será que poderiam? Afinal, aqueles eruditos conheciam as profecias do Zohar, o "Livro do Esplendor", principal obra da Cabala: viria um tempo em que o mundo teria uma sede de conhecimento sem precedentes, preparando-se para o estabelecimento da era messiânica. E esse tempo chegou.
De acordo com a contagem judaica, estamos no ano 5.764. Falta pouco para o sétimo milênio (ou terceiro milênio cristão), quando se prevê que o Messias chegaria. Algumas correntes judaicas afirmam que o Messias será um homem de carne e osso; outras o entendem como uma "consciência espiritual" acessível a todas as pessoas.
Seja qual for a interpretação, todos concordam que cabe ao ser humano preparar-se para essa nova era - e a Cabala é uma importante ferramenta de conhecimento e auto-realização. Sua busca pela transcendência, por meio do estudo e da meditação, a aproxima de outras tradições espirituais, em especial do Sufismo, o ramo místico do Islã.
Ela é a chave de todoas as religiões, afinal, a sabedoria é um tesouro recebido de Deus (a palavra "cabala" deriva de kibel, ou "receber" em hebraico) para ser compartilhado. Por isso, existem muitos cursos abertos a qualquer pessoa, sem discriminação de religião, raça ou sexo.
No século 13, o recém-publicado Zohar só podia ser aberto por homens maiores de 40 anos de idade, devidamente orientados por um rabino experiente. A situação começou a mudar há cerca de 300 anos, com um movimento de renovação espiritual que ficou conhecido como Chassidismo (lê-se o ch com o som de r), liderado pelo rabino Baal Shem Tov (1698-1760).
Ele defendia que a Cabala, tinha que ser revelada para "despertar" o mundo do sono espiritual. Mas o movimento chassídico não foi aceito de imediato. Muitas autoridades rabínicas acreditavam que a Cabala só deveria ser acessível a quem tivesse condições espirituais de estudá-la em sua profundidade.
O grande obstáculo para a disseminação dos conhecimentos cabalísticos, porém, foi a perseguição anti-semita que obrigava os sábios da Idade Média a estudar na clandestinidade. Toda a tradição mística tem por objetivo manter o homem em contato direto com Deus e, por isso, representaria uma ameaça ao poder das autoridades religiosas.
Os Números que Criaram o Mundo
Deus disse... e o mundo se fez. Segundo a Cabala, as 22 letras do alfabeto hebraico, associadas às dez sefirot (fluxos de energia espiritual), foram a matéria-prima que Deus usou para criar o Universo. A cada letra atribui-se um valor numérico e da combinação desses números nasce a natureza, o homem e a própria História.
Descobrir esse "genoma" universal é o propósito da Numerologia judaica, também chamada de Guimátria.
O principal campo de estudo da Guimátria é a Torá. Com a ajuda da estatística e de programas de computador, das 304.805 letras da Torá têm surgido surpreendentes revelações. Eventos históricos como o Holocausto e o assassinato do presidente de Israel, Yitzhak Rabin, estariam codificados nos textos bíblicos. Tudo, sobre todos, em qualquer época desde o início do mundo e até o final dos tempos, pode ser encontrado na Torá.
Para decodificar o texto sagrado, utiliza-se uma metodologia desenvolvida pelo matemático israelense Elyahu Rips: a SAE - Sequência Alfabética Equidistante. A técnica consiste em "saltar" letras a distâncias previamente determinadas, formando novas palavras.
Ele cita como exemplo o encontro da própria palavra Torá, em hebraico, nos cinco primeiros livros da Bíblia: Salta-se a partir da primeira letra, chamada de Tav, 50 letras até encontrar a segunda, Vav, e, assim por diante, de 50 em 50 até completar a palavra inteira. Por essa técnica, encontra-se a palavra Torá 32 vezes em todo o Pentateuco. O número 32 tem um significado todo especial no Judaísmo - é a soma das 22 letras hebraicas com as dez sefirot.
Coincidência? Para muitos cabalistas, não. A Numerologia mostra que tudo se encaixa de maneira perfeita. Por isso, é uma ferramenta para a melhor compeensão da Bíblia. É como um microscópio na mão de um estudante de Medicina, dizem.
Pela Guimátria seria possível até antever eventos futuros - algo que nunca os cabalistas fazem e nem jamais farão, pois é uma prática condenável no Judaísmo, e portanto, também na Cabala. Da mesma forma, muitos cabalistas reprovam o uso indiscriminado da Numerologia para mudar nomes próprios, por exemplo.
As letras centrais da palavra neshamá - alma, em hebraico - formam a palavra "nome". Os cabalistas crêem que os pais são inspirados por Deus ao dar o nome ao filho. Alterá-lo sem um motivo muito forte é brincar com fogo, dizem.
Continua...
0 comentários:
Postar um comentário