terça-feira, 16 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 1


Da sensualidde reprimida à exaltação das paixões, o amor entre homem e mulher está presente na maioria das histórias e dos mitos religiosos como uma das formas de elevação espiritual.

O texto fala de beijos calorosos, carícias de amor e muita sedução. Foi duramente atacado por seu erotismo, sendo considerado profano, mas sobreviveu heroicamente e hoje é lido sem pudores nas igrejas.

A popularidade desse poema de amor atravessou os tempos e o Cântico dos Cânticos continua sendo o livro mais polêmico da Bíblia, fonte de inspiração para apaixonados de qualquer crença.

"Que me beije com beijos de tua boca! Teus amores são melhores que o vinho, o odor dos teus perfumes é suave, teu nome é como óleo escorrendo", começa o cântico, que retrata o diálogo entre dois amantes. Sua inclusão nas Sagradas Escrituras provocou controvérsia tanto entre judeus quanto cristãos, e vários tradutores tentaram camuflar seu charmoso erotismo.

Até hoje, muitos líderes religiosos têm dificuldade em abordar o assunto. As reflexões pastorais desconhecem e evitam as falas e motivações do amor e da sexualidade, trantando-as como assunto particular e privado.

O Cântico dos Cânticos  só entrou na Bíblia por causa de grupos contrários à ideologia repressiva do corpo, que entendiam o amor como faísca de Deus. Mesmo depois de séculos do texto ter se tornado canônico, muitos monastérios medievais colavam as páginas para impedir que fosse lido.

Poemas de amor e sedução, que afirmam o corpo como fonte de prazer e espaço de criatividade, são também panfletos contra a política estreira e opressora das lideranças sacerdotais.

Esse festival de contemplação dos sentidos, com descrições de partes do corpo relacionados à natureza, só pôde ser perpetuado porque a paixão entre os amantes foi comparada ao amor de Deus por Israel, no Judaísmo, ou à relação entre Jesus e a Igreja, no Cristianismo.

O Livro é uma expressão escrita da experiência amorosa humana que está próxima de Deus, por isso é sagrada. O Cântico descreve o desejo aliado ao amor e nos remete à reflexão da possibilidade de realização do ser em sua totalidade.

No poema, sensualidade e espiritualidade andam juntas e podem simbolizar a intensa relação com o divino. Na dimensão mística, contém o mistério do amor entre a alma e o Criador, por isso usa o termo "jardim" para dar a idéia de intimidade.

A estrutura desse poema é toda em cima do número 9, símbolo da união, e mostra que, quando duas pessoas se amam, tornam-se uma sem que percam a identidade individual. O mesmo ocorre quando temos uma relação profunda com Deus.

Além do Cântico dos Cânticos, a Bíblia está repleta de vibrantes história de amor entre casais, especialmente no Antigo Testamento. Em suas páginas encontramos sexo, ciúme, traição e sedução. A história dos grandes profetas está repleta de paixão, porque até o período do exílio, em 587 a.C., o erotismo não era negativo, por ser associado à fertilidade.

Mas não só a Bíblia traz histórias ardentes entre homens e mulheres. Em todas as religiões o amor carnal está presente como gerador do mundo. Muitos mitos sagrados associam a ligação entre masculino e feminino uma grande força de transformação.

As histórias de amor nas religiões devem ser lidas na perspectiva da época e cultura em que foram escritas, não como exemplos de conduta de casais. O amor na religião tem a função de desenvolver a consciência.

A seguir, relatos cheios de paixão de cinco casais sagrados: Salomão e a rainha de Sabá, Jacó e Raquel, Krishna e Radha, Ísis e Osíris e Iansã e Xangô.

Como diz um verso do Cântico: "Celebremos seu amor mais do que o vinho!"


Continua...



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