A glória dos cinco irmãos só é possível graças a Krishna, que consegue suplantar o exército inimigo com seu poder e sua astúcia. E não é para menos, pois Krishna é a encarnação de Vishnu, deus que, junto com Brahma e Shiva, compõe a trindade suprema do panteão hindu.
Durante os combates Krishna induz os Pandavas a tomar alguma decisões que, se por um lado garantem a vitória, por outro podem ser interpretadas negativamente.
Em uma batalha decisiva, por exemplo, ele conduz a carruagem de Arjuna, um dos cinco Pandavas, contra o veículo de um líder das forças adversárias. A luta já se estendia por vária horas, com uma ferocidade inimaginável - para se ter uma ideia, são lançadas tantas flechas, de ambos os lados, que estas chegam a obscurecer o céu.
De repente, ao notar que Arjuna está em desvantagem, Krishna faz com que a roda do carro do oponente encalhe na terra, revertendo a situação em favor do seu aliado.
No confronto final, encontramos outro aspecto duplo de Krishna, que ordena a um dos cinco irmãos que bata com sua clava nas pernas de Duryodhana, o comandante do exército inimigo.
Mesmo sabendo que o golpe não é permitido pelas leis éticas de combate, o agressor obedece ao conselheiro e sela o destino de seu oponente. Enquanto agoniza, o líder dos Kauravas lança impropérios sobre Krishna, acusando-o de iniciar um ataque proibido. O deus ouve Duryodhana e, então, responde com serenidade: "Teu único assassino és tu".
Origem Incerta
A guerra é o ponto culminante do emaranhado de enredos que compõem o livro e, também, o principal episódio sobre o qual se debruçam os estudiosos que tentam ligá-lo a fatos do passado distante da Índia.
A batalha final costuma ser associada ao ano 3102 a.C. Cientistas calculam essa data com base nas posições do zodiáco que são descritas no livro.
Mas apesar das pistas deixadas no poema, não há vestígios históricos do confronto. Os pesquisadores indianos costumam tratar o Mahabharata como história, mas não há elementos que comprovem que houve, de fato, o conflito entre os Pandavas e os Kauravas.
Também não há consenso com relação à data em que o livro foi escrito. O problema, aqui, é a escassez de registros arqueológicos das primeiras edições da obra, com origens que remontam ao ano 1000 a.C.
No entanto, foi descoberto em 2001 por cientistas ambientais que pesquisavam o grau de poluíção do Golfo de Câmbria, a perdida e lendária Dwarka, a cidade natal de Krishna.
Local tido até então como mito, hoje o museu de Nova Délhi tem em seu acervo vários objetos e utensílios do dia-a-dia dos dwarkenses, informando-nos que o mito, cada vez mais, se mistura à uma falsa sensação de segurança de que tudo não passa de mera imaginação humana.
Entretanto, acredita-se que o Mahabharata tenha sido composto em sua versão definitiva por volta do ano 350 de nossa era. Há elementos filosóficos e literários no texto original que indicam que o poema deve ter sido escrito nesta época.
Local tido até então como mito, hoje o museu de Nova Délhi tem em seu acervo vários objetos e utensílios do dia-a-dia dos dwarkenses, informando-nos que o mito, cada vez mais, se mistura à uma falsa sensação de segurança de que tudo não passa de mera imaginação humana.
Entretanto, acredita-se que o Mahabharata tenha sido composto em sua versão definitiva por volta do ano 350 de nossa era. Há elementos filosóficos e literários no texto original que indicam que o poema deve ter sido escrito nesta época.
Outro ponto bastante discutido é em relação a autoria do livro. Tudo indica que Vyasa, autor e personagem do poema, tenha realmente existido. Considerando que escritores como Shakespeare produziram obras tão volumosas quanto o Mahabharata, uma única pessoa pode, sim, ter produzido o poema.
Mas alguns especialistas preferem atribuir a obra a diversos autores, cujos trabalhos teriam sido compilados para formar o volume final. Por outro lado, é possível que um único editor ou membros de uma única família de brâmanes, os sacerdotes do sistema de castas hindu, tenham sido responsáveis pela forma final do poema.
O Dever Acima de Tudo
Para os fiéis, contudo, essas questões secundárias, e a comprovoção histórica dos fatos narrados no poema ou definição do autor perdem importância diante do conjunto de ensinamentos transmitidos pelo Mahabharata.
Do nascimento do clã ao desfecho da guerra, as histórias contidas no livro representariam uma fonte inesgotável de lições que devem ser aplicadas na vida. O grande foco deste poema é a ética. E um dos elementos dessa ética milenar diz respeito às escolhas individuais. Segundo crêem os hindus, cada atitude que tomamos tem sempre um motivo, mesmo que não demos conta dele.
Por isso, é importantíssimo que uma pessoa cumpra seu dever sem questioná-lo.
Esse é o espírito com que se desenrola o emblemático Bhagavad Gita, ou "Canção do Divino Mestre", o principal dentre os 18 capítulos do Mahabharata.
Mais que isso, ele é considerado o coração do Hinduísmo moderno. No Mahabharata temos histórias de soberanos, métodos de governo, moral, virtude e inúmeras outras coisas. Mas o Bhagavad Gita é um compêndio de espiritualidade.
De certa forma, ele é a primeira grande tentativa de harmonizar os diferentes caminhos até Deus. Se o Mahabharata é considerado, com razão, uma síntese do hinduísmo, o Bhagavad Gita é uma espécie de evangelho.
É nesso trecho da história que Krishna, aliado dos Pandavas, faz uma exortação a Arjuna para que este tome a decisão de inaugurar o combate - percebendo que seus primos e irmãos morreriam durante a batalha, o valente guerreiro não encontra forças par soprar a concha que sinalizaria o inicío do confronto.
Krishna, então, dirige-se ao companheiro de luta prostrado no chão e discursa calmamente, sem se preocupar com o alvoroço da guerra iminente:
"A matéria é mutável, porém eu sou tudo o que dizes e tudo aquilo que pensas. Tudo repousa em mim, como pérolas num fio. Eu sou o perfume da terra e o calor do fogo, sou a aparição e o desparecimento, sou a serpente cósmica infinita, sou o chefe dos músicos celestes; eu sou a ciência do ser, sou a vida de cada criatura, o jogo dos trapaceiros, sou o esplendor que brilha.
"Eu sou o tempo que envelheceu. Todos os seres caem na noite e todos são reconduzidos ao dia. As arma não podem ceifar essa vida que te anima, nem o fogo queimá-la e não pode ser molhada pelas águas ou ressecada pelo vento. Não temas e levanta-te, pois eu te amo".
Ao fim do sermão, Krishna consegue tirar o príncipe do seu torpor e o convence a lutar. Afinal, aquele era o destino de Arjuna.
Embora essa mensagem de que é importante seguir o próprio destino, mesmo que isso signifique promover uma carnificina entre os membros de uma mesma família, possa parecer paradoxal, o Mahabharata, na verdade, nos convida a ver mais além.
Entre defender a família, preservar o reino unido ou cumprir o dever, o poema nos ensina que a última opção é a que deve ser seguida. E talvez convenha não duvidar de seus versos, pois segundo os hindus, o que não está no Mahabharata não está em parte alguma.
Trata-se, afinal, de um poema do tamanho do mundo.
Fim.:.
Livros
Mahabharata, versão de William Buck, ed. Cultrix, 1994.
Mahabharata pelos Olhos de uma Criança, de Samhita Arni, ed. Conrad, 2003.
Hinduísmo ou Sanátana Dharma, de Solange Lamaitre, ed. Martins Fontes, 2000.
O Mahabharata - Versão Romanceada, de Jean-Claude Carrière, ed. Brasiliense, 1989.
Filme
O Mahabharata, Dir. Peter Brook, distr. Cinemax, 1989.
Documentários
Por isso, é importantíssimo que uma pessoa cumpra seu dever sem questioná-lo.
Esse é o espírito com que se desenrola o emblemático Bhagavad Gita, ou "Canção do Divino Mestre", o principal dentre os 18 capítulos do Mahabharata.
Mais que isso, ele é considerado o coração do Hinduísmo moderno. No Mahabharata temos histórias de soberanos, métodos de governo, moral, virtude e inúmeras outras coisas. Mas o Bhagavad Gita é um compêndio de espiritualidade.
De certa forma, ele é a primeira grande tentativa de harmonizar os diferentes caminhos até Deus. Se o Mahabharata é considerado, com razão, uma síntese do hinduísmo, o Bhagavad Gita é uma espécie de evangelho.
É nesso trecho da história que Krishna, aliado dos Pandavas, faz uma exortação a Arjuna para que este tome a decisão de inaugurar o combate - percebendo que seus primos e irmãos morreriam durante a batalha, o valente guerreiro não encontra forças par soprar a concha que sinalizaria o inicío do confronto.
Krishna, então, dirige-se ao companheiro de luta prostrado no chão e discursa calmamente, sem se preocupar com o alvoroço da guerra iminente:
"A matéria é mutável, porém eu sou tudo o que dizes e tudo aquilo que pensas. Tudo repousa em mim, como pérolas num fio. Eu sou o perfume da terra e o calor do fogo, sou a aparição e o desparecimento, sou a serpente cósmica infinita, sou o chefe dos músicos celestes; eu sou a ciência do ser, sou a vida de cada criatura, o jogo dos trapaceiros, sou o esplendor que brilha.
"Eu sou o tempo que envelheceu. Todos os seres caem na noite e todos são reconduzidos ao dia. As arma não podem ceifar essa vida que te anima, nem o fogo queimá-la e não pode ser molhada pelas águas ou ressecada pelo vento. Não temas e levanta-te, pois eu te amo".
Ao fim do sermão, Krishna consegue tirar o príncipe do seu torpor e o convence a lutar. Afinal, aquele era o destino de Arjuna.
Embora essa mensagem de que é importante seguir o próprio destino, mesmo que isso signifique promover uma carnificina entre os membros de uma mesma família, possa parecer paradoxal, o Mahabharata, na verdade, nos convida a ver mais além.
Entre defender a família, preservar o reino unido ou cumprir o dever, o poema nos ensina que a última opção é a que deve ser seguida. E talvez convenha não duvidar de seus versos, pois segundo os hindus, o que não está no Mahabharata não está em parte alguma.
Trata-se, afinal, de um poema do tamanho do mundo.
Fim.:.
Referências Bibliográficas
Livros
Mahabharata, versão de William Buck, ed. Cultrix, 1994.
Mahabharata pelos Olhos de uma Criança, de Samhita Arni, ed. Conrad, 2003.
Hinduísmo ou Sanátana Dharma, de Solange Lamaitre, ed. Martins Fontes, 2000.
O Mahabharata - Versão Romanceada, de Jean-Claude Carrière, ed. Brasiliense, 1989.
Filme
O Mahabharata, Dir. Peter Brook, distr. Cinemax, 1989.
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