Este é o motivo pelo qual dois terços da população indiana gastam entre 60 e 80 dias por ano em viagens a esses lugares.
Para os adeptos do Santo Daime, a aproximidade com as forças da floresta favorece o reencontro com o "eu" íntimo. Por isso, a igreja daimista Céu da Mantiqueira, da cidade mineira de Camanducaia, organiza uma caminhada até a paulista Aparecida do Norte, na qual os seguidores da doutrina consagram a ayahuasca, o chá de propriedades psicoativas usado nos rituais.
O trajeto é uma oportunidade de fazer um retiro e encontrar-se com a força divina da criação na natureza e do poder do feminino contido nela.
Não importa, portanto, qual foi o santuário escolhido pelo peregrino - Santiago de Compostela, na Espanha, Varanasi, na Índia, Jerusalém, em Israel... Nem crença que o estimulou a pôr os pés na estrada. A chegada é sempre uma consequência do caminho, por mais óbvio que isso possa parecer. Afinal, o deslocamento proporciona a vivência de uma invisível teia de transformações.
Aos poucos, o viajante vai limpando a mente e o espírito. A mochila fica mais leve do peso das preocupações comezinhas, dos caprichos e dos prazeres imediatos. As pessoas vão saindo de seu próprio mundo para enxergar algo que não vêem normalmente, já que estão enterradas no cotidiano. Por isso, os lugares sagrados ou místicos ficam necesseriamente longe de casa.
Para ter uma experiência pessoal do Sagrado, porém, é necessário correr riscos, aprender a contemplar os detalhes do mundo ao redor e saber comover-se.
Como ensinou o sábio Gautama Buda: "Você não pode percorrer o caminho sem antes transformar-se no caminho"
Manual do Viajante
1 - Últimos acertos antes da Partida
Quando os monges budistas saem em peregrinação ou à procura de um mosteiro ou de um mestre, carregam o mínimo necessário: um livro de sutras (ensinamentos), os papéis da linhagem a que pertencem, uma muda de roupas e tigelas para mendigar e se alimentar.
Com esses pertences reduzidos estão preparados para tudo o que o caminho oferece. Por isso, o primeiro conselho ao peregrino é levar pouca bagagem.
A mochila tem de ser bem leve para não se tornar um estorvo, principalmente porque o caminhante também está transportando um peso invisível, que é o das suas preocupações e expectativas.
Boa opção são roupas especiais para caminhada, em pequena quantidade, que secam rápido, têm tecnologia para esquentar e refrescar e fazem pouco volume.
Uma fralda de bebê substitui a toalha de banho e uma sandália tipo papete pode revezer-se com o tênis ou a bota. Um cajado é sempre útil para aliviar o peso do corpo, principalmente, em subidas e terrenos escarpados.
Além disso, para aproveitar bem a jornada é importante que o peregrino leia a respeito do trajeto, informe-se com quem já foi e pergunte a si mesmo o que de fato está buscando. Assim, prepara a mente e o espírito para a viagem.
A peregrinação também é um processo de cura dos afazeres do cotidiano, além de uma oportunidade de rever o projeto de vida.
Continua...
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