domingo, 25 de novembro de 2012

Feliz Natal! Felizes Férias!


Desejamos a todos os nossos visitantes um feliz Natal e um próspero Ano Novo!

Sim, estaremos de férias nestes próximos 30 dias...

Mas em Janeiro de 2013 (se as profecias Maias não acabarem com o mundo!) estaremos de volta trazendo novas matérias e estudos sobre teologia e misticismo. 

Agradecemos a todos os nossos visitantes e queremos que todos tenham um final de ano abençoado diante do Deus e da Deusa. Sejam abençoados!

Voltaremos... Aguardem!

ARANEL DIOR.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Tesouro do Islã - Parte 2


Mas este teria sido perdido, e na época de Moisés já não havia senão uma vaga lembrança de sua existência. Para o mulçumano, o Corão é a restauração desse antigo livro (não na letra, mas no espírito), é o Islã, um retorno à religião primordial abraâmica. "Abraão não foi judeu nem cristão; foi, outrossim, monoteísta, muçulmano, e nunca se contou entre os idólatras", relata um versículo corânico da terceira sura.


Visões Diferentes


"Inspiramos-te, assim como inspiramos Noé e os profetas que o sucederam,; inspiramos Abraão, Ismael, Isaac, Jacó e as tribos, Jesus, Jó, Jonas, Aarão, Salomão. E concedemos os Salmos a Davi".

O quarto capítulo do Corão traz este versículo em que Deus fala diretamente a Muhammad. É uma das tantas passagens que legitimaram sua missão profética e instauraram a nova religião. Fica, porém, a pergunta: Se Deus é um só, como podem haver certas discrepâncias entre as narrativas contidas na Bíblia e as narrativas corânicas?

Historicamente, cada religão tomou uma feição própria, e tal feição nunca esteve a salvo das modificações introduzidas pelo homem. Sendo a última religião revelada, o Islã, embasado no Corão, serviu como uma correção de rumo para a humanidade. Já na juventude, em Meca, o profeta Muhammad acreditava que certas passagens bíblicas, em especial algumas do Antigo Testamento, haviam sido adulteradas ao longo dos tempos em prol de interesses escusos. Com a revelação do livro sagrado ao Profeta, Deus teria pretendido corrigir os erros contidos em outras escrituras.

As diferenças entre o Corão e outros escritos sagrados não nascem , contudo, apenas de erros. Um dos maiores desacordos entre o Islã e o Cristianismo,  por exeplo, nasceu da negação muçulmana aparente de que Cristo seja uma encarnação divina na Terra. Trata-se de uma questão de interpretação. Este ponto chegou a escandalizar os cristãos.

"Jesus Cristo foi uma criatura também", afirmam os mulçumanos. "Cada profeta - e Cristo é um profeta, para o Islã - expressou qualidades específicas de Deus, o Ser infinito. A principal qualidade de Cristo foi a de ser imensamente puro. Ele foi um espelho perfeito da natureza divina".

Como adverte o estudioso suíço das religiões Frithjof Schuon, as abiguidades fazem parte da história das Escrituras, o que pode provocar discrepâncias de interpretações e disputas. "Existe uma desproporção incomensurável entre o espírito, de um lado, e os recursos limitados da linguagem humana, de outro", escreveu ele no livro Compreender o Islão. Os livros sagrados revelam como o Criador tentou inteirar o homem de sua infinitude tendo à mão algumas poucas palavras.

Deus, porém, é mais sábio e sabe aplainar as questões divergentes entre os crentes de várias confissões: "Concorrei na prática do bem, e dirimirei as vossas diferenças".

Mais do que nunca, deve-se ouvir estas palavras do Corão. É uma ironia que o Islã, hoje tão marcado pela pecha de intolerância, tenha um tesouro de sabedoria escondido nas páginas do seu livro sagrado. Santas palavras, como as de todas as Escrituras.


Vendo Também o Outro Lado: A Difícil Escolha de Abraão

Abraão estava com 85 anos e não tinha filhos. Sua esposa Sara, já sem esperanças de gerar uma criança, entregou ao marido a escrava egípcia Hagar, para que ela lhe desse um descendente. Assim, nasceu Ismael. Quando o menino atingiu a adolescência, Allah impôs um teste a Abraão: sacrificar o filho dileto.

"Ó filho meu, sonhei que te degolava; que opinas?", perguntou o velho homem. Respondeu-lhe Ismael: "Ó meu pai, faze o que te foi ordenado! Encontrar-me-ás, se Allah quiser, entre os perseverantes!"

Quando ambos aceitaram o desígnio divino e Abraão preparava seu filho para o sacrifício, o Senhor o chamou: "Ó Abraão, já realizaste a visão! Em verdade, assim recompensamos os benfeitores. Certamente que esta foi a verdadeira prova".

Depois de testar a sinceridade de Abraão, Allah anunciou que ele seria o patriarca de dois grandes povos. Um deles lhe seria próximo e descenderia de seu segundo filho, Isaac, a quem Sara, aos 90 anos, dera à luz. O outro povo descenderia de Ismael e lhe seria distante.

Mais tarde, Allah mandou Hagar partir com Ismael para o deserto da Arábia, rumo a uma localidade chamada Meca. ali, ela e o filho quase morreram de sede, até que milagrosamente viram nascer uma fonte de água chamada Zamzam. De´pois disse, Abraão visitou a ex-escrava e o filho muitas vezes.

Em Meca, construiu a Caaba, um templo consagrado a Allah que atraiu muitos peregrinos ao local.

[A história de Abraão, ou Seydina Ibrahim, em árabe, difere da narrativa bíblica. enquanto na Bíblia o oferecido em sacrifício é Isaac - filho dele com Sara - para o corão foi Ismael, o primogênito, quem quase perdeu a vida para a glória de Allah. O dramático episódio é narrado na sura 37. Abraão representa a perfeita submissão do crente frente a Deus.]


Continua...




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Tesouro do Islã - Parte 1


O livro sagrado dos mulçumanos contém passagens preciosas, reveladas há mais de mil anos. Deixe-se encantar por essas narrativas e encontre nelas personagens familiares também ao Cristianismo e ao Judaísmo.

É dito que o anjo Gabriel procurou a Virgem Maria para anunciar a boa-nova do nascimento de Cristo e revelou para ela:

"Ó Maria, Allah te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro".

A jovem espantada, perguntou para o mensageiro como isso seria possível:

"Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou?"

"Disse-lhe o anjo: assim será. Allah cria o que deseja e, quando decreta algo, basta dizer: Seja, e é."

Não fosse pelo nome "Allah" em vez de "Deus", a passagem acima poderia facilmente estar na Bíblia. Ela, contudo, faz parte do Corão, o livro sagrado dos mulçumanos. Revelado ao longo de vinte e três anos a Muhammad, o Profeta do Islã, pelo arcanjo Gabriel (ou Jibril, na tradição islâmica), sua leitura revela um mundo fascinante, mas praticamente inexplorado no Ocidente.

Ao longo de seus 114 capítulos - chamados suras - o leitor encontra belas e comoventes histórias, muitas delas curiosamente protagonizadas por personagens também presentes nas Escrituras sagradas do Judaísmo e do Cristianismo.

Pode causar estranheza que vários versículos do Corão tratem das figuras centrais da fé cristã. E esta estranheza se transforma em espanto quando descobrimos que não só Jesus Cristo (ou 'Issa, seu nome em árabe) e a virgem Maria, mas também Adão, Moisés, João Batista e outros heróis bíblicos são retratados em diversas passagens corânicas: Adão sob o nome de Adam; Moisés, de Mussa; João Batista, de Yahia.

A arabização dos nomes não é a única novidade que aguarda aqueles que se aventuram pelas páginas do Corão. A narrativa do nascimento de Cristo, por exemplo, guarda pouca semelhança em relação à versão bíblica.

Outras histórias, como a do Dilúvio universal do Livro de Gênesis, possuem detalhes dramáticos: nem todos os filhos de Noé, ou Nuh, como é chamado o patriarca, puderam entrar na Arca. Um deles, maldito aos olhos de Allah, foi castigado com a morte na grande inundação. 

A inclusão de personagens da Bíblia no Corão não é nem acidental nem secundária. Um dos pilares de fé do muçulmano é a crença em todos os livros revelados por Deus (como a Torá judaica e os evangelhos cristãos), em Seus anjos e em Seus enviados, os profetas. Para os mulçumanos, os profetas são modelos de comportamento para toda a humanidade, portadores de uma mensagem sagrada (veremos isso mais adiante). 


Livro Restaurado


Quando os versículos do Corão começaram a ser revelados a Muhammad em Meca, no ano 610 d.C., foram marcados por um forte conteúdo ecumênico. "Concorrei na prática das boas ações, pois todos retornarão a Deus. Então, dirimirei as vossas diferenças", disse Allah aos crentes mulçumanos, na quinta sura do livro sagrado. Ele se referia aos adeptos das outra religiões, como o Judaísmo e o Critianismo. 

O denominador comum que permite ao Islã abarcar todos os profetas da história humana se encontra no cerne desta religão: a crença no Deus único. Na visão muçulmana, o Criador é uno e as homens de alto grau espiritual, em todas as eras, teriam acreditado neste axioma.

"Não existe outra divindade senão Deus", é a tradução do testemunho de fé islâmico, que teria sido pronunciado por todos os profeta, começando por Adão e culminando em Muhammad. Para eles, Adão foi o primeiro muçulmano. 

Além da questão doutrinal, por razões históricas também se acredita numa continuidade entre os profetas semíticos. Segundo a tradição, a saga dos muçulmanos começa propriamente com Abraão ou Seydina Ibrahim, que, assim como Muhammad, recebeu de Deus a revelação de um livro sagrado.


Continua...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Guru do Espaço - Parte 2


De fato, além do meio ambiente, a saúde é um tema central para Trigueirinho. Avesso à mídia e a badalação - raríssimas vezes concede entrevistas - estabeleceu um cotidiano no regrado e ascético em suas comunidades: a alimentação é totalmente vegetariana - nem ovos e leite, por terem origem animal, são aceitos - todos os medicamentos são naturais e as plantações seguem os princípios da agricultura orgânica. Ou seja, ao lado do respeito à natureza, é enfatizado o cuidado com o próprio corpo.

Para Trigueirinho, fortemente influenciado pelas idéias de Antroposofia e da Teosofia, que se baseia na mística oriental, uma vida saudável é o caminho para o ser humano entrar em contato com as energia superiores.

Sua obra tem ainda forte interseção com a Ciência. De acordo com Trigueirinho, o material genético humano não é meramente um composto físico-químico, mas também seria influenciado por um conjunto de condições energéticas que variam de acordo com os ciclos da humanidade. Ao longo da História, já teriam havido quatro trocas do código genético humano e a próxima, que livraria o homem de sua carga hereditária, já estaria em curso.

Idéias como essa, claro, soam estranhas para os céticos, mas segundo estudiosos esse aspecto científico é um ponto essencial para a aceitação do guru.

A legitimidade de movimentos recentes como o de Trigueirinho não vem de um discurso baseado apenas na fé. Eles procuram legitimar suas crenças também por meio do diálogo com a Ciência. Realmente, o flerte com a Ciência é constante na obra do escritor.

"Há uma interdependência entre todos os ramos da Ciência, e tudo é para ser visto como um conjunto e não de modo fragmentado", diz ele no livro Aurora.

Da mesma forma, a busca por respostas em tempos de crise, sejam elas científicas ou espirituais, explicaria o sucesso de Trigueirinho, que não é pequeno - seus livros já venderam cerca de um milhão de exemplares. Vivemos numa época de grande incerteza e as explicações tradicionais muitas vezes não têm dado conta da realidade. Assim, novos grupos religiosos acabam ocupando esta lacuna, enfatizando as capacidades individuais de cada pessoa.

Porém, como era de se esperar pelos aspectos incendiários de seus ensinamentos, ao lado dos milhares de admiradores, Trigueirinho angariou também vários críticos, muitos deles chegando a acusá-lo de fazer lavagem cerebral em seus seguidores. Além disso, astrônomos e ufólogos afirmam que as fotos exibidas por ele como sendo de óvnis seriam manipulações caseiras de negativos.

Para ele, contudo, esse tipo de crítica deve ser vista com naturalidade, a mesma naturalidade que, segundo ele, deve pautar a vida de todos nós. Como afirma:

"Nesta humanidade, que está desenvolvendo a mente, a crítica é um estágio natural em alguns. Qualquer trabalho a que nos propusermos será sempre passível de crítica ou de acolhimento. A mente humana, sendo analítica, proporciona essas duas reações opostas. Assim, encaro as críticas como naturais, embora nunca tenha feito 'lavagem cerebral' em ninguém. Nos livros e palestras apresento informações e reflexões que podem ser acolhidas livremente pelos que se sentirem receptivos. Não há pretenção de convencer quem quer que seja, nem de forçar mudanças. A humanidade ainda vai passar por algumas provas, mas no futuro haverá uma considerável ampliação de prespectivas."


É ou Não É Religião?

Segundo estudiosos, o trabalho de Trigueirinho seria, sim, um movimento religioso. De fato, mesmo não se considerando um líder espiritual tradicional, Trigueirinho já abordou muitos aspectos familiares ao universo da fé em sua obra. Veja algumas das polêmicas afirmações do guru do espaço:

Aparições da Virgem Maria

"Embora ela [a humanidade] muitas vezes se prenda a essas manifestações formais, esquecendo-se da essência, a projeção de imagens de seres aos quais devota respeito e reverência sempre foi um recurso utilizado pelas hierarquias encarregadas de sua formação e instrução para suprir limitações inerentes aos corpos terrestres."

Jesus

"Cristo é energia cósmica de unificação, e não um indivíduo; está em todos e exprime-se com liberdade naqueles que prenunciam etapas futuras de aperfeiçoamento do gênero humano".

Deus

"Denomina o que de mais elevado se possa conceber. Em estados evolutivos iniciais, é tido como um ser pessoal, externo; em fases mais adiantadas, é reconhecido como essência impalpável e buscado no mundo inteiro".

Igreja

"Em certos textos ocultistas, esse termo tem o significado velado de hierarquia interna da Terra. Refere-se também ao arquétipo de uma estrutura que propicia o despertar e o desenvolvimento da consciência do ser humano e funciona como veículo para a expressão da alma de indivíduos que estão reunidos em nome de uma meta única".


Fim.



Referências Bibliográficas


Um Chamado Especial - Antologia de Obras de Trigueirinho, de Trigueirinho, ed. Pensamento, 2003.

Glossário Esotérico, de Trigueirinho, ed. Pensamento, 1994.

Site 

Trigueirinho - acesse o link: Trigueirinho

Vídeos

Canal History - Alienígenas do Passado: A Série













domingo, 11 de novembro de 2012

Guru do Espaço - Parte 1


Lunático e charlatão para alguns, mestre e guia para milhares de admiradores, o polêmico Trigueirinho afirma que o crescimento espiritual da humanidade está ligado a seres extraterrestres e a civilizações intraterrenas. 

Aperte o cinto - afrouxe o julgamento - e prepara-se para uma viagem em que a espiritualidade é envolta por criaturas de outros planetas, naves espaciais e toda sorte de eventos dignos dos mais espetaculares filmes de ficção científica. Afinal, acompanhar a vida e a obra de José Trigueirinho Netto exige fôlego e de sobra e uma mente livre de preconceitos.

Ex-radialista, gerente de hotel, dono de restaurante e cineasta aclamado - foi ele quem dirigiu o clássico do Cinema Novo Bahia de todos os Santos, de 1960 - Trigueirinho é autor de mais de 70 livros, publicados em vários idiomas, em que afirma que a conquista de nossa paz espiritual não está aqui na Terra.

Em sua cartilha - que gera polêmica da mesma amplitude de sua obra - a chave para o futuro homem está em comuniddes intraterrenas, contatos com extraterrestres e até em um novo código genético que estaria em formação na humanidade.

"As informações que passo vê de obras universais conhecidas e, principalmente, do nível intuitivo. Uma parte delas foi baseadas em dados transmitidos a mim por seres como Sarumah", diz Trigueirinho, referindo-se ao habitante de Erks, mundo intraterreno que, de acordo com o guru, estaria localizado sob a província de Córdoba, na Argentina.

Segundo afirma, sua vida foi marcada por um encontro decisivo, ocorrido em 1988: ele estava numa região montanhosa da Argentina quando teria tido contato com um extraterrestre evoluidíssimo, que o ensinou a separar sua consicência do corpo, o que lhe permitiu ter acesso a outras dimensões com a quais jamais sonhara.

Em seu Glossário Esotérico, Trigueirinho fala do papel desses seres alienígenas: "O trabalho de extraterrestres aqui presentes pode ser essencialmente interior e, estando encarnados, interagem de maneira mais potente com o subconsiciente da humanidade, purificando-o e preparando-o para novas etapas".

Conforme estudiosos, esse papel purificador dos alienígenas, que estariam na Terra para auxiliar o ser humano, seria uma das razões para o sucesso das idéias do guru entre seus admiradores. Nos discursos de Trigueirinho, os ETs exercem mais ou menos a mesma função que os santos na religião católica. As mensagens que os alienígenas trazem são de paz, esperança e equilíbrio. E, tanto no caso dos santos quanto no dos ETs, é preciso ter fé para acreditar.

Além dos extraterrestres, Trigueirnho coloca mais lenha na sua polêmica fogueira intergaláctica ao enfatizar o papel de outros seres: as civilizações que vivem sob a terra. No livro Mirna Jad, ele narra uma passagem curiosa:

"Dias depois, numa reunião, vi abrir-se o chão da sala onde estávamos. Era como se tivesse sido rasgado e passasse a mostrar um acesso direto ao mundo interno. Um canal descia verticalmente para o interior da Terra".

De acordo com o autor, ao visitar as civilizações que moram sob o chão o ser humano tem a possibilidade de se encontrar com sua essência cósmica.

Esses seres intraterrenos, assim como os ETs, seriam também os responsáveis por outra das afirmações controversas de Trigueirnho. Segundo ele, as aparições da Virgem Maria - como as de Fátima e de Lourdes - na verdade seriam apenas projeções tridimensionais (como os hologramas dos filmes de ficção científica) enviados por entidades evoluídas, do espaço e do centro da Terra, para conduzir o ser humano ao crescimento espiritual.


Ecologia Planetária

Mas nem só de seres de outros planetas vive a obra de Trigueirinho. O contato com Sarumah e a separação de corpo e alma - que ele chama de "transmigração do ser interno" - teriam rendido mais revelações ao escritor. Ele percebeu que a opção pelo avanço tecnológico desenfreado estaria destruindo a humanidade, que seria como um parasita no planeta, consumindo todos os recursos naturais sem nenhuma consciência.

Assim, no melhor estilo das comunidades alternativas da década de 70, construiu cinco comunidades fechadas nas proximidades da cidade de Carmo da Cachoeira, no sul de Minas Gerias, como a de Figueira, onde vive e apregoa uma existência em sintonia com a natureza.

Esse discurso ecológico também seria um atrativo para seus ensinamentos. Em alguns dos novos movimentos religiosos, como o de Trigueirinho, há uma forte crítica à civilização moderna, ao materialismo, à industrialização e principalmente ao aritificialismo. Nesse sentido, ao oferecer soluções para problemas de caráter mais secular, como o meio ambiente e a saúde, eles acabam funcionando como uma espécie de terapia de auto-ajuda. E isso gera uma grande empatia com o pensamento de muitas pessoas.


Continua...



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Por que o 666 é o número do Diabo?


Não há uma resposta totalmente confiável, mas uma das hipóteses indica que o 666 aparece como "o número da Besta", no livro bíblico do Apocalipse, cuja autoria é atribuída a São João. 

No versículo 18 do capítulo 13, lê-se: "quem tiver discernimento calcule o número da Besta, pois é o número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis". Para entender essa estranha associação é preciso retornar aos tempos em que o texto foi escrito - provavelmente durante o século 1. 

Na época, os cristãos não admitiam o caráter divino do imperador romano Nero. Essa atitude incomodou o governante, que mandou reprimir violentamente os adeptos do Cristianismo. Com a perseguição, o imperador passou a ser conhecido como "a Besta" entre os fiéis, mas chamá-lo assim poderia desencadear uma reação feroz. 

Para evitar o problema, os cristãos resolveram relacionar as letras do nome Nero a algarismos, em uma técnica chamada gematria. O número resultante, claro, foi o diabólico 666. 

Esta é só uma das explicações para a associação, mas alguns especialistas acham que é a mais correta. Afinal, o livro do Apocalipse foi escrito em mensagem cifrada, por causa das perseguições de Roma contra os cristãos.


Acompanhe também este estudo sobre este tema,pelo canal National Geografic:



domingo, 4 de novembro de 2012

Fonte de Satisfação, Perigo de Tentação! - Parte 3


No taoísmo, os novos adeptos fazem um voto tríplice - de não cultivar o desejo da riqueza, da fama e do poder. Não há nada de errado com essas três coisas, eles dizem.

O problema é o desejo de obtê-las. Segundo os taoístas, o desejo acaba levando ao apego, que desperta o egoísmo e, por conseguinte, torna o indivíduo menos integrado ao mundo e ao próximo.

O voto de pobreza, feito por freiras e padres católicos, também se baseia no mesmo ideal de desapego dos orientais. É realizado em nome da missão religiosa e em prol da ajuda à comunidade.

Os fíéis católicos, contudo, não precisam seguir o voto de pobreza. O catecismo da Igreja ensina que todo trabalhador tem direito de ganhar o suficiente para menter a si mesmo e à família.

A importância do trababalho, do bem-estar e de uma vida digna são alguns dos valores lembrados. Por outro lado, o fato de muitos seres humanos viverem em miséria é consideerado uma ofensa ao todo-Poderoso. Deus, de modo algum, quer que seus filhos vivam em condições desumanas, afirmam as autoridades católicas.

O Novo Testatemento traz várias referências à pobreza e ao desapego aos bens materiais. Aos pobres de espírito, diz o Sermão da Montanha, está reservado o Reino dos Céus.

A pobreza de que fala o Evangelho de Mateus consiste numa atitude espiritual, de evitar a escravidão aos bens materiais e usá-los para boas obras, dizem os católicos.

O conceito de desapego, também está presente no Espiritismo. A doutrina codificada por Allan Kardec vê o dinheiro como matéria, algo criado pelo homem para manter suas relações sociais. Seus benefícios são reconhecidos: serve para movimentar o mundo, estimular o progresso e garantir a sobrevivência do ser humano.

Mas os espíritas lutam para não ficarem apegados ao dinheiro nem deixar que os domine e que, por conta desta busca, os tornem egoístas. Por acreditarem na concepção de uma nova vida após a morte, os espíritas sabem que não levarão com eles nenhuma riqueza material, por isso se vigiam quanto a esses vícios materialistas.


O Caminho da Doação


Queimar um incenso ou oferecer frutas a uma divindade são formas de doação. O mesmo vale para o tempo, a atenção, e os ensinamentos concedidos ao próximo.

Os budistas e taoístas acreditam que, algumas vezes esses pequenos atos surtem mais efeito que as contribuições financeiras. Porém, as doações em dinheiro não são recusadas pelas religiões. Afinal, são elas que garantem a manutenção das obras sociais e do corpo sacerdotal de templos e igrejas.

Um dos tipos mais conhecidos de contribuição religiosa é o dízimo. Trata-se do pagamento da décima parte dos rendimentos à Igreja. O costume vem da Antiguidade, quando diferentes povos ofereciam parte de suas colheitas aos deuses. Hoje, a contribuição costuma ser feita mensalmente e muitas vezes é facultativa.

Entre os evangélicos e mórmons é costume os fiéis pagarem, todos os meses, 10% do que recebem às respectivas igrejas. Eles acreditam que é extramamente razoável. Se Deus lhes dá cem por centro, por que não lhes seria penoso lhe dar dez. Quando eles fazem isso, acreditam, Deus os abençoará tanto que aqueles noventa por cento que ficaram em suas mãos serão capazes de suprir suas necessidades.

No Catolicismo, as contribuições são livres e não precisam equivaler a exatamente dez por centro dos rendimentos. O Dízimo é apenas uma terminologia para mostrar que todo fiel precisa contribuir com a Igreja, para que ela possa manter o culto e suas atividades sociais, sobretudo aquelas em favor dos pobres.

No Islamismo, quem tem um lucro anual acima de 2.500 reais é obrigado a doar 2,5% dessa quantia aos pobres. Essa espécie de imposto chama-se zakat e constitui um dos cinco pilares da religião islâmica. Zakat significa purificação em árabe. Quando a pessoa doa esse valor em dinheiro aos pobres, está purificando a sua riqueza, acreditam os adeptos.

A construção e manutenção dos templos, neste caso, é garantida por meio de outras doações, esporádicas e voluntárias. Os judeus também costumam doar parte do que excede seus ganhos - afinal, acreditam, a renda de cada indivíduo é um empréstino divino, nenhum bem material é propriedade eterna.

Em todas as crenças, portanto, o ideal de partilha - não só de si mesmo e do próprio tempo, mas também dos bens - está presente.

Doar, porém, não é apenas uma maneira de ajudar a sociedade e as igrejas. Trata-se, antes de tudo, de um ótimo antídoto contra o apego, a cobiça , o egoísmo e a ganância - ou seja, uma ajuda a si mesmo. Quando você doa está se disciplinando. Afinal, tira daquilo que possui para partilhar com o próximo. E percebe que isso não o torna mais pobre, pelo contrário.

Como disse Jesus, depois de observar a viúva pobre que doava duas meodinhas de pouco valor enquanto os demais depositavam grandes quantias na caixa de ofertas do templo: "Afirmo-lhes que esta viúva colocou mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava, mas ela, de sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".


FIM.



Referências Bibligráficas


Livro:

Sujeito e Sociedades Complexas, de Jung Mo Sung, ed. Editora Vozes, 2002.

A Cabala do Dinheiro, de Nilton Bonder, ed. Imago Editora, 1991.





terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fonte de Satisfação, Perigo de Tentação! - Parte 2


Na Bíblia, os ricos já foram duramente criticados. No Antigo Testamento, profetas ergueram a voz contra aqueles que acumulavam riquezas à custa da exploração do povo.

No Novo testamento, Jesus comparou o rico a um camelo, lembrando que é mais fácil este último passar pelo buraco de uma agulha do que o rico ir para o céu. Mas não é preciso levar esse ensinamento ao pé da letra. "Devemos atualizar o que era falado naquela época. Muitas coisas eram ditas especificamente para os romanos e gentios", diz o pastor Eduardo Oliveira, da Igreja Renacer de Pinheiros, em São Paulo.

O dinheiro e a riqueza, neste caso, não são tidos como pecado ou sinal de que não haverá salvação para o indivíduo. O dinheiro é uma benção de Deus, desde que venha de uma maneira lícita e seja resultado do trabalho, os evangélicos afirmam.

Algumas igrejas cristãs, acreditam que a graça divina não vem apenas na forma de saúde, harmonia e paz. Bênçãos também significam benefícios financeiros. É a chamada Teologia da Prosperidade, que ganhou força entre algumas igrejas neopentecostais.

Muitas igrejas funcionam como se fossem empresas capitalistas, anunciando aquilo que diz a bíblia, mas submetendo essas mensagens à vontade do mercado consumidor religioso. Para muitos pastores, a dádiva financeira não deve ser entendida apenas como um ganho econômico. Quando se fala em prosperidade, muitas vezes se pensa em uma prosperidade financeira. No entanto, muitos asseveram que eles tem um Deus de teologia completa, que os abençoa com todas as coisas.

O aumento do poder de consumo também não deve ser a mensagem principal das igrejas, na opinião de muitas autoridades católicas.  A função princiapal da religião é anunciar a salvação em Jesus Cristo. Mas não substituir a salvação escatológica pela procura de bens materiais porque isso, em parte, é uma ilusão, dizem.

As armadilhas do desejo de enriquecimento e de prosperidade são muitas.

Sorte dos fiéis, pois não faltam parábolas, escritos e ensinamentos religiosos que mostram a melhor maneira de escapar delas.

A religião islâmica tem um ditado segundo o qual o dinheiro deve ser carregado na mão e não no coração. Se ele estiver no coração, ele controla a pessoa. Se estiver na mão, a pessoa o controla, afirmam.

Mas enriquecer não significa necessariamente sucumbir à tentação. Como bem ilustra um outro ditado, desta vez judeu: "O mais longo dos caminhos é o que leva ao bolso." - Ou seja, o processo de obtenção de dinheiro também pode reservar oportunidades de autoconhecimento.

Se analisarmos o que aconteceu nessa trajetória, conseguiremos conhecer muito sobre nós mesmos, nossos medos, inseguranças, invejas e apegos, dizem os rabinos.

O Caminho do Desapego

O dinheiro parece não exercer nenhuma atração sobre os monges digambaras, na Índia. eles levam uma vida sem confortos. Abdicam dos bens materiais, até mesmo das roupas do corpo. A única coisa que carregam é um espanador feito de penas, para afastar os insetos do caminho.

Embora o desapego aos bens materiais seja uma constante em algumas religiões orientais, muitas não levam o ideal ascético ao extremo como os digambaras.

O Zen-Budismo, por exemplo, reconhece a necessidade do dinheiro. As coisas materiais podem nos dar condições de cuidar melhor de quem precisa, afirmam.

Contudo, se o dinheiro é bem-vindo, os execessos e luxos não são. Os bens materiais, acreditam os zen-budistas, embora tragam conforto, também podem aprisionar. Com o tempo, muitas pessoas não conseguem mais viver se não tiverem dinheiro sobrando, se não vestirem a roupa de grife, se não almoçarem no restaurante da moda.

Como se a vida dependesse dessas coisas. Por isso, os monges - de qualquer corrente do Budismo - exercitam o desapego com atos como raspar o cabelo, trocar as roupas pelo tradicional manto e abrir mão da riqueza pessoal.


Continua...





sábado, 27 de outubro de 2012

Fonte de Satisfação, Perigo de Tentação! - Parte 1


Amado, desejado e idolatrado, o dinheiro virou uma espécie de deus das sociedades capitalistas. Atentas ao perigo, as religiões ensinam a melhor maneira de lidar com ele e escapar das armadilhas da ganância. 

Trinta moedas de prata por um beijo. A proposta era tentadora e Judas não pensou em recusar. De olho na pequena fortuna, aceitou denunciar seu mestre aos homens que queriam matá-lo. Afinal, pensou, só precisaria beijar Jesus na face para identificá-lo para os algozes e encher o bolso de moedas.



Foi bem pago por isso. Mas, em troca, tornou-se um dos personagens mais odiados de todos os tempos, símbolo daqueles que não hesitam em trair ou mentir por uma boa quantia de dinheiro.



O exemplo de Judas é apenas um entre tantos maus atos que já foram cometidos em nome do dinheiro. Esses pedaços de papel e esferas de metal surgiram para agilizar o comércio entre os homens, substituindo a antiga troca de mercadorias.



As primeiras moedas apareceram no século 7 a.C., no reino da Lídia (atual Turquia), e facilitaram a vida em sociedade. No entanto, mais do que um meio para adquirir coisas, o dinheiro passou a ser visto como uma forma de obter poder. E por ele muito se mentiu matou, destruiu e escravizou.



O escritor inglês George Bernard Shaw certa vez afirmou: "A falta de dinheiro é a raíz de todo os males". Será que o acúmulo ou a ausência de riquezas consegue despertar o que há de pior nos indivíduos? Para as religiões, o problema não está exatamente no dinheiro, mas na forma como nos relacionamos com ele. O dinheiro é um meio, como tudo nesse mundo. Pode ser usado para o bem ou para o mal.



Em si, o dinheiro não é nada. É um pedaço de papel. O problema é que aquilo que surgiu para facilitar nossas vidas começou a ser objeto de desejos.



O dinheiro ganhou o estatus de um verdadeiro deus na sociedade capitalista. Passou a ser adorado, respeitado, temido e buscado incessantemente. O ser humano está tão influenciado pela cultura capitalista que faz do dinheiro o fim último da vida.



É isso o que todas as religiões criticam. No Cristianismo, por exemplo, a devoção ao dinheiro é combatida por ser irreconciliável com os ensinamentos de Jesus. Ele nos ensinou que não podemos servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro. Esta passagem se refere ao Evangelho de Mateus 6:24.



A exigência básica das religiões é que, ao relacionar-se com o dinheiro, o fiel esteja de acordo com os preceitos de sua fé. E não se trata apenas de obedecer a normas morais. algumas crenças também orientam seus adeptos sobre questões práticas envolvendo as finanças.



É o caso dos mórmons, por exemplo, que aconselham os fiéis a não contrair dívidas e a evitar compras a prazo. Eles dizem que seus membros fiéis da Igreja não tem o nome sujo na praça.


O Caminho da Properidade


A natureza está cheia de lições que ensinam a lidar com o dinheiro. É o que garantem os adeptos do Taoísmo, religião milenar chinesa.



O calor que sucede o frio, a seca após a chuva, a abundância de vida ou a escassez dela. O mundo tem seus ciclos e o dinheiro também. Por isso, é importante ficar atento a esses altos e baixo. Na nossa vida, o dinheiro segue essa lei natural. Às vezes, está menos disponível, às vezes, mais.



O grande cuidado, segundo os taoístas, é não cultivar o desejo da riqueza e agir conforme a circunstância que se apresenta. Por isso, no período de fartura, os taoístas sabem que precisam fazer uma pequena reserva para os momentos de escassez. Isso é pragmatismo!



Pragmáticos também são os mórmons. Para eles, dinheiro garante educação. Educação garante boas oportuniddes de trabalho e, com um bom emprego, o fiel pode cuidar melhor de sua família e do próximo.



Eles acreditam que tudo o que tem vêm de Deus. Diante disso, o dinheiro deve ser usado adequadamente para promover o bem de suas família, de sua sociedade e do próximo, ele afirmam. Os mórmons não condenam a busca da prosperidade e do sucesso material. Pelo contrário. Estimulam a auto-suficiência, especialmente entre os jovens, que são incentivados a destacar-se nos estudos e no trabalho. Para eles não é errado tornarem-se ricos, desde que isso ocorra com o intento de praticar o bem.



O judaísmo tembém não abomina a riqueza. A questão é o que fazer com ela. Mas é preciso entender bem o que é ser rico. No livro A Cabala do Dinheiro, o rabino Bonder explica que existem vários tipos de riqueza. Há a riqueza interna (estar satisfeito com o que tem), a pessoal (abundância material, emocional, intelectual e espiritual) e a coletiva, que é a partilha da abundância com o próximo. "Sem contemplar todas essas facetas, ninguém é verdadeiramente rico", diz ele.




Continua...


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Jantar Medieval 2012


Lindo encontro entre amigos e adeptos da bruxaria. 

Covens e bruxos solitários participaram deste encontro com comes e bebes em homenagem a Deusa e ao Deus, mas também em homenagem a todos nós, filhos perdidos mas encontrados nesta sabedoria antiga e sobrevivente.

Para os que não puderam participar, fica a saudade e o convite: Próximo ano tem mais! 

Mas, se você não pôde estar lá, assista ao vídeo com as imagens do encontro!

Beijos a todos os irmãos e adeptos. 

ARANEL DIOR.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 4



Iansã e Xangô - Entre Tapas e Beijos

Xangô desejou Iansã, mulher de Ogum, logo à primeira vista. Também Iansã não resistiu àquele homem de beleza fascinante, vestes vermelhas e cabelos trançados. foi paixão fulminante. Ela largou Ogum imediatamente e fugiu com Xangô.

O marido, contudo, não deixou barato. Quis disputá-la com o rival. Porém, ao ver o grande exército de Xangô, Ogum não teve escolha senão desistir.

Iansã era uma mulher fogosa e independente, que não admitia ser comandada por ninguém. Também era bastante audaciosa. Tinha sido parceira de vários orixás e com cada qual conquistara novos poderes.

De Xangô, ela roubara as pedras mágicas do raio. Estava com elas na mão quando ele chegou de surpresa. Para não ser flagrada, Iansã rapidamente escondeu as pedras na boca. No entanto, cheia de saudade do amado, acabou denunciando-se quando, ao falar, soltou labaredas da boca.

A fúria de Xangô foi tão grande que a orixá teve de fugir.

Tentou primeiro voltar para Ogum, que não quis acolhê-la e, depois, para Oxóssi, seu primeiro parceiro, que também não a ajudou.

Foi salva, então, por Obaluaiê, na casa dos mortos. Ele lhe deu um exército de defuntos para que a defendesse de Xangô. Mas Iansã já sentia falta da folia e das carícias do amado e chorava de saudade, Xangô, por sua vez, não gostava nada de defuntos. Quando se reencontraram, resolveram negociar.

A guerra reacendeu a paixão. Durante o ato de amor entre Xangô e Iansã, a terra tremeu, houve ventanias, raios e tempestades e jorraram labaredas de fogo de todos os lados.

Xangô já havia tido várias parceiras e Iansã, muitos homens, mas ela nunca mais o deixou e tornou-se sua melhor companheira. Xangô casou-se também com Oxum e Obá. Porém, enquanto as outras se preocupavam mais com faceirices e dengos, Iansã o ajudava a lutar contra os inimigos nas guerras.

A beleza, a paixão e o senso de justiça mantinham os dois intimamente ligados. Este casal mostra que o amor entre homem e mulher é sagrado e que o sexo pode ser sinônimo de vida e criação. Não há noção de pecado no Candomblé.

Do erotismo reprimido a ardentes paixões como a de Iansã e Xangô, as histórias religiosas sobre casais trazem uma das facetas da busca do homem pela transcendência. Por meio da vivências, das dores e das delícias do amor, é possível compreender a plenitude da relação com o Ser Supremo.

O amor entre um casal é uma das formas mais belas de expressar e vivenciar a gratidão e o amor ao Criador. Como escreveu São Bernardo, num texto do século 12:

"Ó amor abrupto, veemente, abrasador, impetuoso, que não permite pensar noutra coisa senão em ti!"


Fim.



Referências Bibliográficas

Livros:

Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, ed. Companhia das Letras, 2003.

As Mais Belas Lendas da Mitologia, tradução de Mônica Stahel, ed. Martins Fontes, 2000.

Indian Mythology, de Jan Knappert, ed. Diamond, 2002.



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 3



Rhada e Krishna - As Delícias do Amor Proibido

Atraente e moleque, o deus Krishna não perdia oportunidade de fazer alguma traquinagem.

Quando se tornou adulto, passou às brincadeiras eróticas - como roubar e cheirar as roupas das vaqueiras (também chamadas de gapis, eram mulheres que viviam das atividades agrícolas e da pecuária) enquanto se banhavam no rio. Não havia mulher que não caísse enfeitiçada por seu charme, sua força e sua riqueza.

Todas faziam verdadeiras loucuras pelos carinhos dele. Noite após noite, abandonavam os maridos, sem que eles percebessem, e iam para a floresta encontrar-se com o amante. Todos tinham a ilusão de que eram escolhidas, porque ele se dividia em muitos homens para agradá-las e punha em ação seus quatro braços.

Mesmo tendo as mulheres mais lindas que quisesse, Krishna apaixonou-se por Rhadarani, sua amante preferida, com quem se escondia na chamada Floresta da Multidão, repleta de trepadeiras.

Desde a primeira troca de olhares entre eles, relâmpagos cruzaram os céus e o deus constatou que aquela mulher era muito especial. Krishna sentiu-se atraído pela jovem de cabelos negros, sempre enfeitada com flores e jóias. Nas noites de amor, sob o luar da madrugada, bailavam ao canto de pássaros, à beira do lago, a dança dos amantes perfeitos e abraçavam-se seguido o som da "flauta que encanta todos os seres", pertencente a Krishna.

Enquanto o deus tinha Radharani nos braços, nasciam flores ao redor deles. Oamor apossou-se do coração dos dois e eles se tornaram um só ser.

"Enquanto o casal se ama, as gotas de suor brilham na face de Radha, como pérolas ao luar presenteadas pelo próprio deus do amor. Com todo o seu ardor, ela beija os lábios do amado, assim como a lua beija o botão entreaberto do lótus. Seus cabelos sacodem-se ao movimento do corpo. São campainhas de ouro cantando glórias ao deus do amor!" - conta o poema Êxtase, do poeta hindu Vidyapati.

Quando Krishna decidiu partir e casar-se com outras oito mulhreres, Radha voltou ao marido e morreu de saudade. Este é considerado o maior romance da literatura indiana. Rhada representa a alma à procura de Deus, a psiquê buscando sua identidade.

A descoberta de Radha por Krishna é a descoberta da força dentro dele mesmo. A história mostra também que nada é mais estimulante para os indianos do que o amor proibido, que desperta a fúria e o entusiasmo.

Conta a lenda que os arbustos de manjericão tornavam-se mais bonitos quando pisados pelo casal Krishna e Radha. Até hoje, as devotas do Hare Krishna que querem casar-se giram três vezes em volta de um vaso de manjericão.


Ísis e Osíris - Coração em Frangalhos

Ísis e Osíris formavam um casal perfeito e governavam o Egito com muita sabedoria, sendo, por isso, adorados pelo povo. Eram benevolentes, justos e misericordiosos. Osíris amava a sensualidade e a inteligência de Ísis e ela também era apaixonada pela beleza e pelo ideal de justiça do marido.

A felicidade e a fama do casal, no entanto, era invejada por Seth, irmão de Osíris, que resolveu matá-lo para tomar o poder.

Ardiloso, Seth tirou as medidas do corpo do irmão e mandou fazer uma bela arca adornada com pedras preciosas. Numa festa em comemoração a Osíris, inventou que presentearia, com a arca, quem nela coubesse. Todos os convidados experimentaram-na, mas era grande demais para eles.

Quando Osíris foi testá-la, Seth fechou-a, lacrando-a e jogando-a no rio Nilo.

A notícia do desaparecimento do bom governante espalhou-se depressa e Ísis chorou de dor. Desesperada, rasgou as próprias roupas e cobriu o rosto de lama, lembrando que poucas horas antes sentira as carícias do amado. Pensava que ia enlouquecer com a falta de seu inseparável companheiro.

Depois, calou-se, vestiu roupas de luto e cortou uma mecha de seus cabelos. Mas a amargura não a fez desistir de encontrá-lo.

Ísis procurou seu marido por todo o reino até encontrar, finalmente, a arca com Osíris. Ao abri-la, chorou sobre o belo rosto moreno do marido ainda intacto e beijou delicadamente seus lábios. Depois, escondeu a arca nos pântanos. Ia buscar uma solução para revivê-lo. Seth, porém, descobriu o artifício da cunhada e furioso cortou o corpo do irmão em 14 pedaços e espalhou pelo Egito.

A persistente Ísis resgatou cada parte do marido até recompor seu corpo. E com sua magia, consegiu ressuscitá-lo temporariamente. Nesse breve e inesquecível momento, o casal fez amor pela última vez e Ísis conseguiu engravidar.

Hórus, o filho, permaneceria na Terra para vingar seu pai. Mas tarde, ela ainda usaria seus poderes de sedução para transformar-se numa linda mulher e fazer Seth reconhecer os erros que cometeu.

É uma relação de amor muito equilibrada, onde um respeita muito o outro. Também apresenta uma mulher não submissa, que luta pra reconstruir a relação. Na religão egípcia, eles representam a passagem da vida para a morte.

No tribunal do mundo inferior, Osíris pesa o coração dos mortos para ver se podem viver em plenitude a vida espiritual e Ísis é sua conselheira.

Ísis tornou-se a mais popular das deusas, por seus poderes mágicos, e é considerada a fundadora da família. Osíris é o deus da terra e da vegetação. Sua morte simboliza a estiagem anual e seu renascimento, a cheia do Nilo e o desabrochar do tribo.


Continua... 

sábado, 20 de outubro de 2012

Amor, Sublime Amor! - Parte 2



Rainha de Sabá e Salomão - Perfumes, Enigmas e Muita Paixão

Salomão, rei de Israel, um dos personagens mais experientes da Bíblia no quesito paixão, possuía um harém de mil mulheres. A ele foi atribuída a autoria do Cântico dos Cânticos, embora muitos estudiosos contestem o fato.

Os detalhes do seu relacionamento amoroso mais célebre, a paixão vivida com a rainha de Sabá, também aparecem no livro etíope Kebranagsh (Glória do Rei) e complementam a Bíblia.

A sedutora rainha de Sabá encantou Salomão ao chegar a Jerusalém com sua comitiva cercada por camelos carregados de grande quantidade de ouro, pedras preciosas e uma abundância de perfumes jamais conhecida.

A bela mulher era sacerdotisa suprema em seu país (atual Iêmen) e praticava a religião astral de adoração ao Sol e à Lua. Na entrada do suntuoso palácio, precisou levantar ligeiramente seu vestido porque pensou que estivesse andando sobre as águas quando passou pelo chão espelhado. Foi a visão das torneadas pernas negras da rainha, refletidas no piso, que fisgou Salomão.

A fama da sabedoria do rei (que também era famoso pela beleza) ultrapassava fronteiras e a mulher queria testá-lo por meio de enigmas. Expôs a ele todas as suas inquietações, prontamente esclarecidas por ele. Quando a rainha - já maravilhada por sua nobreza e belo porte - comprovou sua inteligência, perdeu o fôlego e ficou fora de si.

Encantada com as perspicazes respostas dele, encheu-o de elogios: "Eu não queria acreditar no que diziam antes de vir e ver com os meus próprios olhos, mas de fato não me haviam contado nem a metade: tua sabedoria e tua riqueza excedem tudo quanto ouvi!"

Com a madeira de sândalo que ganhou da rainha, Salomão fez balaustradas para o Templo de Iahweh e liras e harpas para os músicos do palácio real. Ofereceu à rainha tudo o que ela desejou e pediu. A sintonia era tanta que viveram uma ardente paixão.

Das noites envoltas nas mais sedutoras fragrâncias nos aposentos do castelo nasceria o jovem Meneloque, fruto desse amor arrebatador entre os dois governantes. Mas eles não ficaram juntos. Grávida, a rainha voltou com seus servos para Sabá.

Quando o filho completou a maioridade, retornou a Jerusalém para visitar o pai e levou consigo a Arca da Aliança, conforme a tradição etíope. Mais tarde, ele se tornaria o fundador da dinastia salomônica nas igrejas da Etiópia.

Esta história retrata o amor de uma mulher independente e bem-resolvida sexualmente, que fugia dos padrões da época porque escolheu com quem se deitar e ter seu filho. A história mostra que Salomão adquiriu sua sabedoria com as mulheres, porque  somente uma sábia poderia testá-lo.


Raquel e Jacó - Amar dá Trabalho!

Apesar do cansaço de vários dias de viagem, Jacó não pôde deixar de notar a linda pastora de ovelhas que se aproximava. Imediatamente, prontificou-se a remover a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas para agradar à jovem Raquel. Não consegiu controlar-se e, no ímpeto, roubou-lhe um beijo.

Mas, ao mesmo tempo, foi tomado de tristeza: eles eram primos. A muito custo, conseguiu contar à moça que era sobrinho de Labão, o pai dela. Raquel, então, o levou para sua casa, onde ele passou a morar e trabalhar para o tio.

Quando estava longe dos olhares dos outros, Jacó dedicava um bom tempo admirando a beleza da prima. O desejo de tê-la a seu lado era forte demais, mas não podia pedi-la em casamento pois não tinha dote a oferecer. Então propôs ao tio servir-lhe ao longo de 7 anos, sem remuneração, para poder casar-se com Raquel. Durante todo esse tempo, aguardou ansiosamente o dia em que teria a amada nos braços.

No fim do período combinado, Labão, porém, enganou o futuro genro. Em vez de Raquel, fez com que Jacó se casasse com Lia, a filha mais velha e menos formosa. Na noite de núpcias, como a noiva estava com o rosto coberto, Jacó dormiu com Lia na certeza de que estava deitando-se com Raquel.

Somente pela manhã ele descobriu a verdadeira identidade da mulher ao seu lado. Desesperado, foi tomar satisfações com o sogro. Labão, sem perturbar-se, sugeriu que Jacó esperasse o fim da semana de festas nupciais para entregar-lhe Raquel, com a condição de que trabalhasse mais 7 anos em suas terras.

Jacó representa o sacrifício e o compromisso pelo amor, muito diferente das relações de hoje, cada vez mais descartáveis. Ele amava uma, mas viveu a contragosto com as duas. Lia teve vários filhos na esperança de conquistar o amor de Jacó.

Raquel, no entanto, tinha dificuldade para engravidar e, por isso, cedeu sua criada particular para que ela tivesse um filho com o marido em seu lugar (este era um hábito comum entre as mulheres estéreis da época). Quando Lia não conseguiu mais ficar grávida, fez o mesmo com sua criada.

Mesmo vivendo um amor patriarcal, as mulheres tiveram poder absoluto sobre o processo reprodutivo e amoroso de Jacó. Após o nascimento de 10 crianças (seis de Lia e quatro de escravas), Raquel finalmente engravidou e deu à luz José, o mais virtuoso e bem-sucedido dos filhos de Jacó.

Anos mais tarde, teve outro filho, Benjamin, mas ela morreu neste parto.

A bigamia e a pródiga descendência de Jacó tinham um significado. Da união com Raquel e Lia nasceram 12 filhos que formariam as 12 tribos judaicas e uma nação inteira.


Continua...



Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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