Amado, desejado e idolatrado, o dinheiro virou uma espécie de deus
das sociedades capitalistas. Atentas ao perigo, as religiões ensinam a
melhor maneira de lidar com ele e escapar das armadilhas da ganância.
Trinta
moedas de prata por um beijo. A proposta era tentadora e Judas não
pensou em recusar. De olho na pequena fortuna, aceitou denunciar seu
mestre aos homens que queriam matá-lo. Afinal, pensou, só precisaria
beijar Jesus na face para identificá-lo para os algozes e encher o bolso
de moedas.
Foi bem pago por isso. Mas, em troca,
tornou-se um dos personagens mais odiados de todos os tempos, símbolo
daqueles que não hesitam em trair ou mentir por uma boa quantia de
dinheiro.
O exemplo de Judas é apenas um entre tantos
maus atos que já foram cometidos em nome do dinheiro. Esses pedaços de
papel e esferas de metal surgiram para agilizar o comércio entre os
homens, substituindo a antiga troca de mercadorias.
As
primeiras moedas apareceram no século 7 a.C., no reino da Lídia (atual
Turquia), e facilitaram a vida em sociedade. No entanto, mais do que um
meio para adquirir coisas, o dinheiro passou a ser visto como uma forma
de obter poder. E por ele muito se mentiu matou, destruiu e
escravizou.
O escritor inglês George Bernard Shaw
certa vez afirmou: "A falta de dinheiro é a raíz de todo os males". Será
que o acúmulo ou a ausência de riquezas consegue despertar o que há de
pior nos indivíduos? Para as religiões, o problema não está exatamente
no dinheiro, mas na forma como nos relacionamos com ele. O dinheiro é
um meio, como tudo nesse mundo. Pode ser usado para o bem ou para o
mal.
Em si, o dinheiro não é nada. É um pedaço de
papel. O problema é que aquilo que surgiu para facilitar nossas vidas
começou a ser objeto de desejos.
O dinheiro ganhou o
estatus de um verdadeiro deus na sociedade capitalista. Passou a ser
adorado, respeitado, temido e buscado incessantemente. O ser humano
está tão influenciado pela cultura capitalista que faz do dinheiro o
fim último da vida.
É isso o que todas as religiões
criticam. No Cristianismo, por exemplo, a devoção ao dinheiro é
combatida por ser irreconciliável com os ensinamentos de Jesus. Ele nos
ensinou que não podemos servir a dois senhores, a Deus e ao
dinheiro. Esta passagem se refere ao Evangelho de Mateus 6:24.
A
exigência básica das religiões é que, ao relacionar-se com o dinheiro, o
fiel esteja de acordo com os preceitos de sua fé. E não se trata apenas
de obedecer a normas morais. algumas crenças também orientam seus
adeptos sobre questões práticas envolvendo as finanças.
É
o caso dos mórmons, por exemplo, que aconselham os fiéis a não contrair
dívidas e a evitar compras a prazo. Eles dizem que seus membros fiéis
da Igreja não tem o nome sujo na praça.
A natureza está cheia de lições que ensinam a lidar com o dinheiro. É o
que garantem os adeptos do Taoísmo, religião milenar chinesa.
O
calor que sucede o frio, a seca após a chuva, a abundância de vida ou a
escassez dela. O mundo tem seus ciclos e o dinheiro também. Por isso, é
importante ficar atento a esses altos e baixo. Na nossa vida, o
dinheiro segue essa lei natural. Às vezes, está menos disponível, às
vezes, mais.
O grande cuidado, segundo os taoístas, é
não cultivar o desejo da riqueza e agir conforme a circunstância que se
apresenta. Por isso, no período de fartura, os taoístas sabem que
precisam fazer uma pequena reserva para os momentos de escassez. Isso é
pragmatismo!
Pragmáticos também são os mórmons. Para
eles, dinheiro garante educação. Educação garante boas oportuniddes de
trabalho e, com um bom emprego, o fiel pode cuidar melhor de sua
família e do próximo.
Eles acreditam que tudo o que
tem vêm de Deus. Diante disso, o dinheiro deve ser usado adequadamente
para promover o bem de suas família, de sua sociedade e do próximo, ele
afirmam. Os mórmons não condenam a busca da prosperidade e do sucesso
material. Pelo contrário. Estimulam a auto-suficiência, especialmente
entre os jovens, que são incentivados a destacar-se nos estudos e no
trabalho. Para eles não é errado tornarem-se ricos, desde que isso
ocorra com o intento de praticar o bem.
O judaísmo tembém não abomina a riqueza. A questão é o que fazer com ela. Mas é preciso entender bem o que é ser rico. No livro A Cabala do Dinheiro, o rabino Bonder explica que existem vários tipos de riqueza. Há a riqueza interna (estar satisfeito com o que tem), a pessoal (abundância material, emocional, intelectual e espiritual) e a coletiva, que é a partilha da abundância com o próximo. "Sem contemplar todas essas facetas, ninguém é verdadeiramente rico", diz ele.
Continua...