No taoísmo, os novos adeptos fazem um voto tríplice - de não cultivar o desejo da riqueza, da fama e do poder. Não há nada de errado com essas três coisas, eles dizem.
O problema é o desejo de obtê-las. Segundo os taoístas, o desejo acaba levando ao apego, que desperta o egoísmo e, por conseguinte, torna o indivíduo menos integrado ao mundo e ao próximo.
O voto de pobreza, feito por freiras e padres católicos, também se baseia no mesmo ideal de desapego dos orientais. É realizado em nome da missão religiosa e em prol da ajuda à comunidade.
Os fíéis católicos, contudo, não precisam seguir o voto de pobreza. O catecismo da Igreja ensina que todo trabalhador tem direito de ganhar o suficiente para menter a si mesmo e à família.
A importância do trababalho, do bem-estar e de uma vida digna são alguns dos valores lembrados. Por outro lado, o fato de muitos seres humanos viverem em miséria é consideerado uma ofensa ao todo-Poderoso. Deus, de modo algum, quer que seus filhos vivam em condições desumanas, afirmam as autoridades católicas.
O Novo Testatemento traz várias referências à pobreza e ao desapego aos bens materiais. Aos pobres de espírito, diz o Sermão da Montanha, está reservado o Reino dos Céus.
A pobreza de que fala o Evangelho de Mateus consiste numa atitude espiritual, de evitar a escravidão aos bens materiais e usá-los para boas obras, dizem os católicos.
O conceito de desapego, também está presente no Espiritismo. A doutrina codificada por Allan Kardec vê o dinheiro como matéria, algo criado pelo homem para manter suas relações sociais. Seus benefícios são reconhecidos: serve para movimentar o mundo, estimular o progresso e garantir a sobrevivência do ser humano.
Mas os espíritas lutam para não ficarem apegados ao dinheiro nem deixar que os domine e que, por conta desta busca, os tornem egoístas. Por acreditarem na concepção de uma nova vida após a morte, os espíritas sabem que não levarão com eles nenhuma riqueza material, por isso se vigiam quanto a esses vícios materialistas.
O Caminho da Doação
Queimar um incenso ou oferecer frutas a uma divindade são formas de doação. O mesmo vale para o tempo, a atenção, e os ensinamentos concedidos ao próximo.
Os budistas e taoístas acreditam que, algumas vezes esses pequenos atos surtem mais efeito que as contribuições financeiras. Porém, as doações em dinheiro não são recusadas pelas religiões. Afinal, são elas que garantem a manutenção das obras sociais e do corpo sacerdotal de templos e igrejas.
Um dos tipos mais conhecidos de contribuição religiosa é o dízimo. Trata-se do pagamento da décima parte dos rendimentos à Igreja. O costume vem da Antiguidade, quando diferentes povos ofereciam parte de suas colheitas aos deuses. Hoje, a contribuição costuma ser feita mensalmente e muitas vezes é facultativa.
Entre os evangélicos e mórmons é costume os fiéis pagarem, todos os meses, 10% do que recebem às respectivas igrejas. Eles acreditam que é extramamente razoável. Se Deus lhes dá cem por centro, por que não lhes seria penoso lhe dar dez. Quando eles fazem isso, acreditam, Deus os abençoará tanto que aqueles noventa por cento que ficaram em suas mãos serão capazes de suprir suas necessidades.
No Catolicismo, as contribuições são livres e não precisam equivaler a exatamente dez por centro dos rendimentos. O Dízimo é apenas uma terminologia para mostrar que todo fiel precisa contribuir com a Igreja, para que ela possa manter o culto e suas atividades sociais, sobretudo aquelas em favor dos pobres.
No Islamismo, quem tem um lucro anual acima de 2.500 reais é obrigado a doar 2,5% dessa quantia aos pobres. Essa espécie de imposto chama-se zakat e constitui um dos cinco pilares da religião islâmica. Zakat significa purificação em árabe. Quando a pessoa doa esse valor em dinheiro aos pobres, está purificando a sua riqueza, acreditam os adeptos.
A construção e manutenção dos templos, neste caso, é garantida por meio de outras doações, esporádicas e voluntárias. Os judeus também costumam doar parte do que excede seus ganhos - afinal, acreditam, a renda de cada indivíduo é um empréstino divino, nenhum bem material é propriedade eterna.
Em todas as crenças, portanto, o ideal de partilha - não só de si mesmo e do próprio tempo, mas também dos bens - está presente.
Doar, porém, não é apenas uma maneira de ajudar a sociedade e as igrejas. Trata-se, antes de tudo, de um ótimo antídoto contra o apego, a cobiça , o egoísmo e a ganância - ou seja, uma ajuda a si mesmo. Quando você doa está se disciplinando. Afinal, tira daquilo que possui para partilhar com o próximo. E percebe que isso não o torna mais pobre, pelo contrário.
Como disse Jesus, depois de observar a viúva pobre que doava duas meodinhas de pouco valor enquanto os demais depositavam grandes quantias na caixa de ofertas do templo: "Afirmo-lhes que esta viúva colocou mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava, mas ela, de sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".
FIM.
Referências Bibligráficas
Livro:
Sujeito e Sociedades Complexas, de Jung Mo Sung, ed. Editora Vozes, 2002.
A Cabala do Dinheiro, de Nilton Bonder, ed. Imago Editora, 1991.
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