sábado, 15 de fevereiro de 2014

Meditação que Transforma - Parte 2

(John Main, Monge, mestre, professor e amigo na iniciação à Meditação ao aprendiz (ainda) Laurence Freeman)

Qual a participação da fé nesse processo?

Em primeiro lugar, fé significa muito mais que acreditar; é a capacidade profunda do ser humano exercer seu conhecimento espiritual com comprometimento e transcendência.

Quando você se compromete total e incondicionalmente a outra pessoa - num relacionamento, por exemplo - você está se propondo a ser fiel. Mas, se você está sem fé diante desse relacionamento, não consegue confiar no outro nem em si mesmo.

(Em muitos momentos nos 3 anos de ministério de Jesus, ele mesmo desejou ficar só, orando e, talvez, meditando sobre sua vida, os ensinamentos e sobre a fé)

Então, ao exercitarmos a fé verdadeiramente, aprendemos a confiar e, assim, a experimentar a transcendência. 

A meditação pode ser uma maneira de se comprometer a Deus. 

Na visão cristã, é um meio de desenvolver o amor - a começar pelo amor a si mesmo.

Então a Meditação "ativaria" a fé?

A meditação é também uma experiência de acreditar em si mesmo. Quando você medita profundamente, suas crenças ficam em suspenso e você experimenta um contato pessoal com a Verdade. 

Isso resulta numa mudança interna.

Como consequência dessa transformação, consegue ver as próprias crenças de um modo mais real.

(A Meditação amplia as experiências pessoais sobre a fé e a expressão religiosa que o praticante deseja seguir)

Há pessoas bem religiosas que têm medo de meditar porque pensam que assim vão dissolver o que acreditam, perderão Deus. Como não estão conversando com Ele, dizem, meditação não é oração.

Ora, na tradição cristã, meditar é deixar a Verdade iluminar a fé - esse comprometimento individual com Deus. 

Veja os dogmas: considerados de forma literal, podem soar inacreditáveis. Mas, com a meditação, a pessoa consegue senti-los em sua vida.

E como meditar corretamente?

É preciso estar em completo silêncio e atenção. Assim ouviremos a nós mesmos da forma mais verdadeira. 

Temos também que ser seletivos para não ouvir todos os pensamentos, desejos, medos que existem em nossa mente e que nos distraem do objetivo.

(Não importa a posição ou escola meditativa a ser seguida. Numa coisa todas concordam: O silêncio e a solidão, para o aprendiz e iniciante, é imprescindível. Com o tempo, o barulho ao redor ou a movimentação de pessoas, não fará mais diferença na concentração do indivíduo)

Com a meditação, desenvolvemos nossa capacidade para as boas escolhas porque permitimos que o pensamento flua. E torne evidente o que realmente se apresenta para nós é a coisa certa a fazer. 

Para isso, é preciso ser paciente e trabalhar muito...!

Como foi sua primeira experiência de Meditação?

Foi estranha - não difícil ou fácil, mas tão diferente de qualquer outra situação que eu já tinha experimentado...

Sentia como se tivesse ido a um novo país sem conhecer seu nome ou idioma. Mas também senti que esse novo país era meu e queria permanecer nele o tempo que pudesse.

Demorou algum tempo, porém, para que eu tornasse a meditação uma prática em minha vida.

Percebi, então, que qualquer progresso exigiria trabalho. Afinal, meditação não é teoria, é sobre prática. Esse foi meu primeiro contato - a percepção de que era algum estado, alguma sensação na qual eu deveria estar.

(Dom Laurence Freeman meditando junto com seus discípulos em seus encontros e retiros espirituais)

O segundo estágio foi quando senti que era difícil, não conseguia nenhum resultado imediato. Pensava: Alguma coisa deveria estar acontecendo, eu não estava tão distraído.

Lembro-me de ter falado com John Main, meu mestre, a respeito: ele só me olhou e sorriu de um jeito gentil, mas sério. Aprendi, então, a aceitar que às vezes a meditação seria uma experiência pacífica, alegre, prazerosa, mas em outros momentos seria árida, difícil, introspectiva. 

E percebi que lentamente estava entrando no significado de meditar - e não só no período em que me dedicava a isso, mas em todos os momentos da minha vida.

(Aprenda a meditar com Laurence Freeman, vídeo-palestra em inglês)

O tempo de meditar tornou-se precioso, fundamental, era o instante de paz no meu dia.

Essa constatação transformou o sentido da minha vida.

A meditação tornou-se um modo de encontrar a paz. Paz mesmo, não a ausência de stress; a paz como experiência transcendental. Reconhecer que a vida é um dom...

Se a vida é um presente, quem é o presenteador?

As perguntas abrem portas. E foi assim que decidi me tornar monge...!


Fim.:.


    

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