(John Main, Monge, mestre, professor e amigo na iniciação à Meditação ao aprendiz (ainda) Laurence Freeman)
Qual a participação da fé nesse processo?
Em primeiro lugar, fé significa muito mais que acreditar; é a capacidade profunda do ser humano exercer seu conhecimento espiritual com comprometimento e transcendência.
Quando você se compromete total e incondicionalmente a outra pessoa - num relacionamento, por exemplo - você está se propondo a ser fiel. Mas, se você está sem fé diante desse relacionamento, não consegue confiar no outro nem em si mesmo.
(Em muitos momentos nos 3 anos de ministério de Jesus, ele mesmo desejou ficar só, orando e, talvez, meditando sobre sua vida, os ensinamentos e sobre a fé)
Então, ao exercitarmos a fé verdadeiramente, aprendemos a confiar e, assim, a experimentar a transcendência.
A meditação pode ser uma maneira de se comprometer a Deus.
Na visão cristã, é um meio de desenvolver o amor - a começar pelo amor a si mesmo.
Então a Meditação "ativaria" a fé?
A meditação é também uma experiência de acreditar em si mesmo. Quando você medita profundamente, suas crenças ficam em suspenso e você experimenta um contato pessoal com a Verdade.
Isso resulta numa mudança interna.
Como consequência dessa transformação, consegue ver as próprias crenças de um modo mais real.
(A Meditação amplia as experiências pessoais sobre a fé e a expressão religiosa que o praticante deseja seguir)
Há pessoas bem religiosas que têm medo de meditar porque pensam que assim vão dissolver o que acreditam, perderão Deus. Como não estão conversando com Ele, dizem, meditação não é oração.
Ora, na tradição cristã, meditar é deixar a Verdade iluminar a fé - esse comprometimento individual com Deus.
Veja os dogmas: considerados de forma literal, podem soar inacreditáveis. Mas, com a meditação, a pessoa consegue senti-los em sua vida.
E como meditar corretamente?
É preciso estar em completo silêncio e atenção. Assim ouviremos a nós mesmos da forma mais verdadeira.
Temos também que ser seletivos para não ouvir todos os pensamentos, desejos, medos que existem em nossa mente e que nos distraem do objetivo.
(Não importa a posição ou escola meditativa a ser seguida. Numa coisa todas concordam: O silêncio e a solidão, para o aprendiz e iniciante, é imprescindível. Com o tempo, o barulho ao redor ou a movimentação de pessoas, não fará mais diferença na concentração do indivíduo)
Com a meditação, desenvolvemos nossa capacidade para as boas escolhas porque permitimos que o pensamento flua. E torne evidente o que realmente se apresenta para nós é a coisa certa a fazer.
Para isso, é preciso ser paciente e trabalhar muito...!
Como foi sua primeira experiência de Meditação?
Foi estranha - não difícil ou fácil, mas tão diferente de qualquer outra situação que eu já tinha experimentado...
Sentia como se tivesse ido a um novo país sem conhecer seu nome ou idioma. Mas também senti que esse novo país era meu e queria permanecer nele o tempo que pudesse.
Demorou algum tempo, porém, para que eu tornasse a meditação uma prática em minha vida.
Percebi, então, que qualquer progresso exigiria trabalho. Afinal, meditação não é teoria, é sobre prática. Esse foi meu primeiro contato - a percepção de que era algum estado, alguma sensação na qual eu deveria estar.
(Dom Laurence Freeman meditando junto com seus discípulos em seus encontros e retiros espirituais)
O segundo estágio foi quando senti que era difícil, não conseguia nenhum resultado imediato. Pensava: Alguma coisa deveria estar acontecendo, eu não estava tão distraído.
Lembro-me de ter falado com John Main, meu mestre, a respeito: ele só me olhou e sorriu de um jeito gentil, mas sério. Aprendi, então, a aceitar que às vezes a meditação seria uma experiência pacífica, alegre, prazerosa, mas em outros momentos seria árida, difícil, introspectiva.
E percebi que lentamente estava entrando no significado de meditar - e não só no período em que me dedicava a isso, mas em todos os momentos da minha vida.
(Aprenda a meditar com Laurence Freeman, vídeo-palestra em inglês)
O tempo de meditar tornou-se precioso, fundamental, era o instante de paz no meu dia.
Essa constatação transformou o sentido da minha vida.
A meditação tornou-se um modo de encontrar a paz. Paz mesmo, não a ausência de stress; a paz como experiência transcendental. Reconhecer que a vida é um dom...
Se a vida é um presente, quem é o presenteador?
As perguntas abrem portas. E foi assim que decidi me tornar monge...!
Fim.:.
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