sábado, 22 de fevereiro de 2014

Catástrofes... Por que Deus Permite? - Parte 4

(Ilha de Sendai depois de uma1h que ocorreu o Tsunami em 2011)

De fato, o mundo sofreu com a tragédia na Ásia, Japão e no sul dos Estados Unidos, nestes últimos 5 anos. 

A humanidade ficou atônita - em lugar das mortes provocadas pelas guerras e pelo terrorismo (ou seja, pelos próprios indivíduos), vieram ondas gigantescas fora do controle humano.

(Os Médicos sem Fronteiras foram imprescindíveis na ajuda aos refugiados do furacão Katrina)

A resposta à catástrofe foi imediata - a corrente de ajuda assumiu proporções planetárias sem fazer distinções de raça, cor ou religião.

(Ajuda do Exército Brasileiro para a nação do Haiti depois do trágico terremoto de 2010)

O socorro financeiro partiu de países ricos como o Japão e pobres como Moçambique. É uma regra básica da sociedade moderna a sensação de pertencimento, todos querem participar para não ficar de fora. 

Está previsto no Corão o fim de tudo.

(Muçulmanos em oração)

As Escrituras muçulmanas dizem também que todos os seres têm um tempo de vida terrena prefixado, assim como como não é eterna a tolerância de Allah para com os erros humanos. 

E se Allah fosse punir os homens pelo que eles cometeram, "Ele não deixaria sobre a superfície da terra sequer uma criatura movente, mas ele tolera-os até um prazo prefixado, e quando este prazo termina, então verdadeiramente Allah é onividente de Seus servos".
Corão 35:45

Cada indivíduo e cada povo deve procurar tirar lições dessas tragédias.

Trata-se de uma grande oportunidade de conhecimento e de reflexão a respeito da fragilidade humana, defendem os muçulmanos.

(Muitas religiões preveem um fim para nosso mundo, mas poucas são tão fatídicas quanto a visão muçulmana desse fim)

O Juízo Final virá diferente, sem aviso. É bom viver com responsabilidade e refletir sobre isso.

Outras tragédias chegarão?

A Humanidade se questiona. Em fevereiro de 2010, inundações de proporções bem menores que o tsunami, mas tão dolorosas quanto, atingiram várias partes do mundo - Paquistão, Venezuela, Austrália. 

E o que se seguirá?

(Estamos mais familiarizados ao enredo do apocalipse dos judeus graças a disseminação da Bíblia e da fé cristã)

Para o Judaísmo, de nada valem previsões. Quem quiser saber do futuro que observe o passado e reflita sobre os presente, ensina a doutrina judaica. 


Como será o Futuro?

O futuro pode ser alterado se você mudar sua linha de atuação hoje.

Não há uma grama neste mundo que se mova sem a vontade de Deus, afirmam os cabalistas judeus. Moisés, o libertador dos hebreu, por exemplo, teria presenciado a fúria de Iahweh contra o Egito, que mantinha Seu povo na escravidão. 

(Vídeo que demonstra as terríveis pragas no Egito, um tipo de apocalipse que se abateu sobre uma nação inteira)

O relato bíblico menciona dez pragas - entre chuvas de pedras e infestações de rãs, mosquitos e gafanhotos. Depois do êxodo e já libertos, contudo, os hebreus passaram a adorar imagens de ouro e afastaram-se da fé original. 

O mesmo Moiséis lhes disse: "...tomo hoje o Céu e a Terra como testemunhas contra vós: sereis depressa e completamente exterminados da face da terra da qual ides tomar posse ao atravessar o Jordão.


"Não prolongareis os vossos dias nela, pois sereis completamente aniquilados. Iahweh vos dispersará entre os povos, e restará de vós apenas um pequeno número entre as nações às quais Iahweh os tiver conduzido (...) Na tua angústia, todas estas coisas te atingirão; no fim dos tempos, porém, tu te voltarás para Iahweh, teu Deus, e obedecerás à tua voz, pois Ele é um Deus misericordioso: não te abandonará e não te destruirá..."

Deuteronômio 4:26-27 e 30-31

Como entender as intenções divinas, então?

(O sofrimento como meio de redenção e perdão é uma das grandes e únicas explicações para as tragédias que nos acometem desde o surgimento da raça humana)

A pergunta de Jó ao Criador continua a ecoar.

"Por que fizeste de mim um alvo para ti?"

Essas questões ainda esperam uma resposta, os desígnios divinos permanecem um mistério. 


Não adianta buscar na criação um sentido teológico evidente. Para os ecologistas, por exemplo, a natureza reage violentamente às ações irresponsáveis e predatórias do homem.

Aqui se faz e aqui se paga?

Não, talvez não seja essa a lógica. 

De acordo com Milton, as religiões raciocinam com base numa matriz apocalíptica, ou seja, na certeza de um fim dos tempos, e não precisam comprová-la. 

No cotidiano, convive-se de forma equilibrada com aquelas questões, mas é em momentos como destes últimos 5 anos, de crises, que esse equilíbrio corre riscos. 

Nesse instante, só pode entrar em cena a fé...



Fim.:.




sábado, 15 de fevereiro de 2014

Meditação que Transforma - Parte 2

(John Main, Monge, mestre, professor e amigo na iniciação à Meditação ao aprendiz (ainda) Laurence Freeman)

Qual a participação da fé nesse processo?

Em primeiro lugar, fé significa muito mais que acreditar; é a capacidade profunda do ser humano exercer seu conhecimento espiritual com comprometimento e transcendência.

Quando você se compromete total e incondicionalmente a outra pessoa - num relacionamento, por exemplo - você está se propondo a ser fiel. Mas, se você está sem fé diante desse relacionamento, não consegue confiar no outro nem em si mesmo.

(Em muitos momentos nos 3 anos de ministério de Jesus, ele mesmo desejou ficar só, orando e, talvez, meditando sobre sua vida, os ensinamentos e sobre a fé)

Então, ao exercitarmos a fé verdadeiramente, aprendemos a confiar e, assim, a experimentar a transcendência. 

A meditação pode ser uma maneira de se comprometer a Deus. 

Na visão cristã, é um meio de desenvolver o amor - a começar pelo amor a si mesmo.

Então a Meditação "ativaria" a fé?

A meditação é também uma experiência de acreditar em si mesmo. Quando você medita profundamente, suas crenças ficam em suspenso e você experimenta um contato pessoal com a Verdade. 

Isso resulta numa mudança interna.

Como consequência dessa transformação, consegue ver as próprias crenças de um modo mais real.

(A Meditação amplia as experiências pessoais sobre a fé e a expressão religiosa que o praticante deseja seguir)

Há pessoas bem religiosas que têm medo de meditar porque pensam que assim vão dissolver o que acreditam, perderão Deus. Como não estão conversando com Ele, dizem, meditação não é oração.

Ora, na tradição cristã, meditar é deixar a Verdade iluminar a fé - esse comprometimento individual com Deus. 

Veja os dogmas: considerados de forma literal, podem soar inacreditáveis. Mas, com a meditação, a pessoa consegue senti-los em sua vida.

E como meditar corretamente?

É preciso estar em completo silêncio e atenção. Assim ouviremos a nós mesmos da forma mais verdadeira. 

Temos também que ser seletivos para não ouvir todos os pensamentos, desejos, medos que existem em nossa mente e que nos distraem do objetivo.

(Não importa a posição ou escola meditativa a ser seguida. Numa coisa todas concordam: O silêncio e a solidão, para o aprendiz e iniciante, é imprescindível. Com o tempo, o barulho ao redor ou a movimentação de pessoas, não fará mais diferença na concentração do indivíduo)

Com a meditação, desenvolvemos nossa capacidade para as boas escolhas porque permitimos que o pensamento flua. E torne evidente o que realmente se apresenta para nós é a coisa certa a fazer. 

Para isso, é preciso ser paciente e trabalhar muito...!

Como foi sua primeira experiência de Meditação?

Foi estranha - não difícil ou fácil, mas tão diferente de qualquer outra situação que eu já tinha experimentado...

Sentia como se tivesse ido a um novo país sem conhecer seu nome ou idioma. Mas também senti que esse novo país era meu e queria permanecer nele o tempo que pudesse.

Demorou algum tempo, porém, para que eu tornasse a meditação uma prática em minha vida.

Percebi, então, que qualquer progresso exigiria trabalho. Afinal, meditação não é teoria, é sobre prática. Esse foi meu primeiro contato - a percepção de que era algum estado, alguma sensação na qual eu deveria estar.

(Dom Laurence Freeman meditando junto com seus discípulos em seus encontros e retiros espirituais)

O segundo estágio foi quando senti que era difícil, não conseguia nenhum resultado imediato. Pensava: Alguma coisa deveria estar acontecendo, eu não estava tão distraído.

Lembro-me de ter falado com John Main, meu mestre, a respeito: ele só me olhou e sorriu de um jeito gentil, mas sério. Aprendi, então, a aceitar que às vezes a meditação seria uma experiência pacífica, alegre, prazerosa, mas em outros momentos seria árida, difícil, introspectiva. 

E percebi que lentamente estava entrando no significado de meditar - e não só no período em que me dedicava a isso, mas em todos os momentos da minha vida.

(Aprenda a meditar com Laurence Freeman, vídeo-palestra em inglês)

O tempo de meditar tornou-se precioso, fundamental, era o instante de paz no meu dia.

Essa constatação transformou o sentido da minha vida.

A meditação tornou-se um modo de encontrar a paz. Paz mesmo, não a ausência de stress; a paz como experiência transcendental. Reconhecer que a vida é um dom...

Se a vida é um presente, quem é o presenteador?

As perguntas abrem portas. E foi assim que decidi me tornar monge...!


Fim.:.


    

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Catástrofes... Por que Deus Permite? - Parte 3

(Monges budistas no Sri Lanka indo cumprir seus rituais de compromisso de sua fé)

Para os camponeses, o discurso do Buda legitimava a luta nos campos, uma que os monges corrompidos do texto sagrado simbolizavam os nobres corruptos.

(Revolta dos agricultores da China do séc. 6 e 7)

Assim construiu-se a base filosófica de rebeliões de agricultores na China no século 6 e 7.

Nos séculos 12 e 13, o mesmo texto teve uso em outra nação e aplicações contrastantes.

(Fragmento do filme Shaolin que mostra o mesmo drama japonês sobre como a nobreza e o militarismo mutilaram a fé e os sacerdotes do povo. Assistam!)

Os nobres japoneses viam sua própria decadência na figura dos monges corrompidos - "Muitos procurarão se tornar monges apenas para escapar aos cobradores de impostos" -, enquanto a classe militar em ascensão apoiava-se na ideia de que seus guerreiros, os que têm fé, eram os porta-vozes da transformação, do novo.

(Cenas do filme O Último Samurai que conta a força dos guerreiros numa época de mudanças políticas e religiosas no Japão)

O Homem Precisa da Dor para Aprender?

No pensamento budista, natureza e cultura não se separam, há sempre um paralelismo entre as coisas da natureza e da sociedade. 

Nesse contexto, as catástrofes naturais ajudariam o ser humano a desenvolver uma visão crítica do mundo moderno. 

A modernidade veio com a promessa de resolver os problemas da humanidade, e não é bem o que tem acontecido. As forças da natureza podem reduzir o esforço do homem a nada. 

(Tsunami de 2004 e as milhares de vítimas)

As religiões extraem dos episódios dolorosos como a tragédia provocada pelo tsunami reflexões sobre a transitoriedade da existência. No Espiritismo, por exemplo, a tentativa de entender cataclismos está registrada nas obras de Allan Kardec, escritas no fim do século 19:


"Com que fim fere Deus a humanidade por meio de flagelos destruidores? Para fazê-la progredir mais depressa.

"Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para regeneração mora dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados.

"Somente de vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualifiqueis de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam.

"Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que exigiria muitos séculos"

Questão nº 737 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec


Segundo a doutrina espírita, a jornada terrestre é um campo para experiências evolutivas e os flagelos seriam o meios de apressar o progresso moral dos espíritos. 

(Somos filhos das estrelas, formados por meio de suas substâncias e viajamos pelas reencarnações vivenciando a morte e o nascimento,e nisso, o sofrimento do desapego)

Deus sempre emprega meios salutares para promover o progresso dos seres humanos, revelando-lhes a consciência do bem e do mal, que nem sempre é aproveitada.

(Na Astrologia Védica o Homem se reencarnaria 432 vezes, mas como na anedota acima, quanto mais reencarnações, mais debilitada fica a alma humana. O propósito é quebrar o ciclo das reencarnações tendo sempre uma vida pura e consciente)

Choques como esse castigam o orgulho e os maus sentimentos que ainda vicejam na humanidade.

Então Deus castiga?

Na visão do Hinduísmo, talvez as catástrofes sejam necessárias para produzir reequilíbrio.

Os fieis hindus acreditam que, como não há explicações plausíveis, o ideal seria aceitar o fato e procurar superá-lo pacificamente.

(O equilíbrio hindu é composto de 3 faces. Uma delas, é o Deus Shiva (acima), O Destruidor, que juntamente com Brahma, O Criador e Vishnu, O Preservador, compõem a harmonia de todo o universo. A morte, a dor e a destruição fazem parte da existência, e como tal, deve ser venerada como um deus)

O Hinduísmo é uma crença muito otimista, que não fala em sofrimento e defende que é possível ser feliz.

Principal religião da Índia, a doutrina hindu é citada como um dos motores que levaram os indianos a seguir Mahatma Gandhi, aderindo à sua resistência pacífica na luta contra a colonização britânica, na primeira metade do século passado. 

(Mahatma ("A grande Alma"), liderou o Movimento pela Independência da Índia. Sua luta se resumia em 5 pontos: Igualdade; nenhum uso de drogas ou álcool; unidade Hindu-Mulçumana; amizade e igualdade para as mulheres)

Talvez isso tenha sido possível porque o fiel dessa crença evita particularizar a dor. 

Assim, no caso do Tsunami a visão hindu diria que todo o planeta foi abalado, não apenas os países atingidos pela sondas gigantes.


Continua...



domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meditação que Transforma! - Parte 1


(Para Dom Laurence Freeman meditação e compaixão devem andar de mãos dadas para aqueles que desejam se espiritualizar)

Para Dom Laurence Freeman, meditar possibilita experimentar a paz em plenitude e compreender verdadeiramente o outro.

Assistir a uma palestra com o Monge Beneditino inglês Laurence Freeman, de 64 anos, é uma experiência gratificante. 

Inteligente, sereno e bem-humorado, fala com tamanha paixão e propriedade sobre a prática meditativa que logo desperta no interlocutor a vontade de experimentá-la.

Os retiros espirituais que promove no Brasil são sempre disputados. Antes de entrar para o monastério, dom Laurence fez mestrado em Literatura Inglesa na Universidade de Oxford, na Inglaterra, foi jornalista, trabalhou num banco de investimentos e passou seis meses no escritório da ONU, em Nova York, como assistente do embaixador inglês. 

Tomou contato com a tradição meditativa graças ao monge John Main, já falecido.

Foi por causa dessa experiência que decidiu seguir a vida religiosa. Hoje é o gua espiritual da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã, que reúne centros e grupos que se dedicam à prática em mais de 50 países.

(Dalai Lama com o Dom  Laurence Freeman)

Defensor do diálogo interreligioso, já participou de vários encontros ao lado do Dalai Lama. Em sua última passagem por São Paulo, agora em Novembro de 2013, ele concedeu uma pequena entrevista para o blog A Torre da Coruja:

A Tolerância é possível no mundo de hoje?

Bem, antes de tudo, é preciso refletir sobre o significado de ser tolerante. Tolerância não significa uma aceitação cega de tudo, a visão de que qualquer comportamento esteja bom, seja ele certo ou errado. 

Pelo contrário, envolve discernimento e - especialmente - compaixão. Você pode ser compassivo diante de alguém que não tem se comportado bem se tentar compreendê-lo sem deixar-se influenciar pela decpção ou por um julgamento prévio. 

(A Compaixão é o primeiro passo para o diálogo interreligioso)

Jesus agia assim com seus inimigos. 

A compaixão, portanto, deve estar ancorada no perdão e no bom senso. Dito isso, voltemos à pergunta: tolerância quer dizer estar ciente de que existem outras crenças, outros comportamentos e outras abordagens diferentes dos nossos, mas nem por isso errados.

Intolerância, or outro lado, significa rejeitar ou condenar o outros simplesmente porque ele é diferente, porque sua diferença nos assusta, parece ameaçar nossa própria identidade ou nossa autoaceitação. 

Essa reação é produzida pelo medo do outros só por ele ser outro. 

Então, sim, a tolerância é possível quando nos pautamos pela compaixão - caso contrário, nossa opinião se torna condenação.

A Meditação contribui para o exercício da compaixão?

Sim.

A meditação equilibra a mente, ajuda-nos a encontrar o melhor julgamento e também "libera" a capacidade natural que todos temos de ser compassivos. 

(A meditação traz uma maior consciência de si mesmo e isso se reflete numa maior consciência do Outro se tornando, depois, em perdão)

Permite esse balanço entre o julgamento correto e a compreensão. 

Quando meditamos, diminuímos as projeções sobre outras pessoas. Sempre projetamos boas ou más ideias a respeito dos demais - somos o tempo todo uma espécie de mídia - e fazemos deles heróis ou inimigos. 

A meditação refreia esse processo por favorecer o autoconhecimento. Ao meditar, perdemo-nos de nós mesmos a ponto de nos encontrarmos de fato.

Adquirimos consciência de nós mesmos, fortalecemos nosso "eu". 

E quanto maior essa consciência maior a capacidade de compreender o outro...


Continua...


 
Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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