domingo, 30 de novembro de 2014

Deus, o Grande Mistério do Ser Humano - Parte 1


Desde sempre, o homem está em busca de Deus. Cultivou fenômenos da natureza, divindades femininas, panteões diversos até elaborar a ideia de um Ser Superior. Mas, ainda há muito o que descobrir sobre essa figura que a maioria das culturas relaciona com o Amor.

Uma canção dos índios cherokees, uma tribo da América do Norte, diz que certa vez um homem implorou para que Deus falasse com ele. 

(Índio Cherokee, esta tribo de nativos-americanos sobreviveu às guerras civis americanas. Atualmente, vivendo em reservas nacionais, os cherokees tentam manter sua cultura e religião num número estimados em 300.000 índios espalhados em pequenas regiões no centro-oeste americano, onde sua maior população se encontra em United Keetoowah.)

Um rouxinol, então, começou a cantar. Mas, o homem não ouviu e pediu novamente. Um trovão ecoou nos céus. O homem, porém, foi incapaz de percebê-lo. Disse:

"Deus, deixe-me vê-lo!"

E uma lua brilhou nos céus. 

O homem nem notou e começou a gritar desesperado: 

"Deus, mostre-me um milagre!"

E uma criança nasceu. 

Mas, o homem não sentiu o pulsar da vida e começou a chorar:

"Deus, toque-me e deixe-me sentir que você está comigo!"

(O homem tão acostumado em tocar, ver, cheirar, não consegue ver Deus nos pequenos atos do dia a dia.)

E, uma borboleta pousou suavemente em seu ombro. 

O homem a espantou com a mão e, desiludido, continuou seu caminho... Triste, sozinho e com medo.

A busca humana pelo divino teve início muito antes do aparecimento da escrita.

(As primeiras tentativas em representar ideias foram os petróglifos, encontrados em todas as regiões onde o homem pré-histórico habitou.)

As primeiras crenças numa força maior que teria modelado o universo e que seria responsável por sua manutenção, foram passadas oralmente, de geração a geração, e relacionavam os fenômenos da natureza com o interior do homem. 

Podiam associar as trevas ao medo, a luz do sol a algo positivo ou a tempestade à ira. 

(A arte rupestre foi o próximo passo do homem primitivo registrar seu dia a dia, suas emoções e suas crenças. Os primeiros vestígios encontrados foram na França, em Lascaux, numa série de cavernas com paredes ricamente pintadas, informam que os habitantes ali praticavam a caça e os primeiros rituais religiosos complexos de adoração à natureza.)

Saber que algo superior também influenciava na dinâmica do mundo despertava, no homem primitivo, uma sensação de amparo. O ser humano pode até não acreditar em Deus, mas precisa de outras crenças correlatas, porque ela nos ajudam a lidar com questões que ultrapassam a nossa compreensão. 

Quanto maior a dificuldade de acreditar em algo, mais difícil é amar, por isso, as pessoas muito racionalistas e materialistas têm uma tendência a serem mais amargas e medrosas. 

(Agregar à expressão corporal a necessidade de demonstração religiosa foi outro passo importante para o crescimento social, filosófico e teológicos da humanidade. Os instrumentos musicais vieram posteriormente, pois o primeiro instrumento, sem ser a voz humana, foram as palmas das mãos.)

Como os cherokees, muitos povos até hoje transmitem suas tradições religiosas por meio de histórias e cantigas populares.

Os seres humanos são animais espirituais. Criaram a arte e a religião ao mesmo tempo numa tentativa de encontrar sentido e valor na vida. 

Essas fés primitivas exprimiam a perplexidade e o mistério que sempre parecem ter sido um componente essencial da experiência humana diante de um mundo belo, mas aterrorizante. 

(Os Xamãs foram os primeiros sacerdotes que surgiram no palco das crenças, e foram as mulheres as primeiras protagonistas em comandar a fé, a sociedade e a política dentro de um clã ou tribo.)

A Magia foi o primeiro passo para a religião.

Os Xamãs eram vistos como aqueles que conheciam os poderes ocultos da natureza. Mas, pinturas rupestres já indicavam a relação do homem com o sagrado.

Quando alguém pintava um animal na parede da caverna, provavelmente, estava mentalizando que a caça aparecesse. 

(Os Dolmens foram as primeiras tentativas dos homens primitivos europeus em fazer túmulos que não apenas se depositavam o corpo de um morto, mas de todo um clã. Contudo, apenas os mais honrados tinham o direito de ter um Dolmen. O Dolmen pode ser comparado as Pirâmides dos Egipcios, não em tamanho, claro, mas no simbolismo de eternidade e solidez, ao confeccionar um monumento eterno como o tempo.)

Depois, vieram os primeiros túmulos, para enterrar os mortos, evidência da reverência a algo superior e misterioso, que já começava a tomar forma na conduta daqueles homens. 

(Os menires foram pedras erguidas num determinado local sagrado. O interessante é que as pedras não são nativas do local, ou seja, como elas foram transportadas? Um mistério! Esse campo de menires se encontra em Carnac, na França.)

A noção do divino surgiu quando o homem começou a ter consciência de si mesmo como algo separado do resto do mundo e passou a recorrer a algo maior que ele para fazer as coisas acontecerem.

Na pré-história, caçadores e agricultores adoravam elementos da natureza - o sol, a chuva, ou o vento, ente outros - como entes superiores, porque dependia deles para sobreviver. 

(Stonehenge é a junção de vários conceitos teológicos num único lugar. Foi um enorme salto evolutivo no plano mental, industrial e religioso dos homens antigos. Especula-se qual a verdadeira função de Stonehenge. Sabemos com certeza que foi um antigo sítio de adoração aos mortos e que nos solstícios e equinócios havia reuniões onde as marcações solares atravessavam os monolitos evidenciando a Vida e a Morte dos ciclos da natureza.)

Nesse período, predominava o chamado Animismo, a crença de que todos os seres vivos, objetos e fenômenos naturais possuíam alma, espírito ou uma força vital. 

O homem percebia que a regularidade do clima era essencial para sua sobrevivência e pedia para não ver tempestades ou secas. Hoje, oramos para que Deus altere seus planos em relação a nos. O caminho para chegar até Ele é dinâmico...



Continua...

domingo, 23 de novembro de 2014

O que são Avatares?

(As encarnações de Vishnu que, apesar de ser um Deus Arquiteto, ele compartilhou as fraquezas humanas em vários momentos de sua evolução.)

São encarnações divinas que, de temos em tempos, vêm à Terra promover um "salto de qualidade" espiritual. 

(Jesus é um Mestre ou Avatar, que saiu de sua esfera de atuação para trazer ensinamentos específicos para evolução humana. Agora, outros avatares devem continuar trazendo novos ensinamentos e, portanto, novas religiões.)

Jesus Cristo, por exemplo, é reconhecido como avatar. 

Há outros, como Buda, Kishna e Saint-Germain,conforme a crença de tradições orientais, irmandades espirituais e escolas iniciáticas.


(A face dourada de Buda, outro avatar que trouxe iluminação e novas temáticas para a evolução humana na cultura e tempo de seu surgimento.)

O termo avatar vem do sânscrito avatara e significa "encarnação divina".

A presença do avatar traz a possibilidade de reconhecermos a divindade em nós mesmo. 

Em vários países do Oriente, os avatares regem o desenvolvimento cultural, filosófico e espiritual.

Os hinduístas, em particular, admitem a existência de incontáveis encarnações divinas, em diferentes níveis, embora Purna Avatara seja sua expressão máxima. 

(Purna Avatara é uma encarnação de um Ser de elavada luz e Evolução. Deus, O Criador deste universo, antes de ascender à sua categoria de Criador, foi um Arquiteto ou Purna Avatara no qual se encarnou em seu devido tempo ajudando aos seres de seu tempo em sua evolução e ajudando o Deus de sua época. Evoluindo, Ele conquistou o direito de ter seu próprio universo.)

A função dos avatares é nos levar a uma autodescoberta.

Por meio deles, percebemos a nossa divindade e a vivemos em toda a sua potencialidade, praticando cotidianamente valores humanos universais permanentes, comuns a todas as tradições religiosas filosóficas e culturais. 

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domingo, 9 de novembro de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 4

(O Inferno de Dante, ilustração da 1ª edição)

"Deixai toda Esperança, ó vós que entrais."

A frase acima está escrita na entrada do Inferno de Dante. Veja os suplícios reservados a quem é mandado para lá.

O inferno é a primeira parte de A Divina Comédia. Segundo Dante, ele é dividido em novo círculos concêntricos, cada um reservado a um tipo de pecador, que recebe seu castigo.

(Detalhe da gravura do Inferno de Dante.)

Na entrada da terra de Lúcifer está o Vestíbulo, espécie de ante-sala onde os que não praticaram o mal, mas forma relaxados na escolha do bem, são picados por nuvens de vespas. 

1º Círculo - Já no espaço infernal, no primeiro círculo, situa-se o Limbo, onde não há punições - lá ficam os não-batizados e figuras virtuosas da era pré-cristã.

O suplício começa no segundo círculo, em cuja entrada está Minos, demônio terrível que pronuncia as setenças.

2º Círculo -  Vivem os que pecaram por luxúria. São eternamente atirados de um lado ao outro por fortes vendavais.

3º Círculo - Aqui os gulosos ficam estendidos numa lama fedorenta, sob uma suja chuva incessante, e são espancados por Cérbero, uma fera monstruosa de três cabeças. 

4º Círculo - Avarentos e esbanjadores empurram grandes pesos em sentidos opostos, chocando-se sem parar uns contra os outros. 


5º Círculo - Na superfície de um lodaçal, os raivosos se atracam; abaixo deles, completamente submersos, os racorosos ficam se lamentando. 

6º Círculo - Morada dos heréticos, que ficam ao redor das muralhas da cidade infernal, em túmulos ardentes. 

7º Círculo - Tiranos, homicidas e assaltantes são colocados num rio de sangue fervente. As almas dos suicidas viram arbustos que alimentam feras. Blasfêmios, sodomitas e usurários penam num areal ardente sob chuva de fogo. 

8º Círculo - Formado por dez valas, uma para cada tipo de fraudador: sedutores, aduladores, comerciantes de coisas sagradas, adivinhos, traficantes, hipócritas, ladrões, maus conselheiros, cismáticos e falsários. Em cada vala, um suplício diferente, como permanecer mergulhados em esterco. 


Galeria de Afetos e Desafetos

Dante usou sua obra-prima para retratar vários personagens reais. Veja como o poeta apresenta alguns deles: 

Beatriz

"Embora o véu que lhe descia da testa
Cingindo com as frondes de Minerva,
Lhe ofuscasse a expressão,
Com manifesta magnificência, ainda que proteva,
Continuou, à maneira de quem diz,
Mas suas mais duras palavras, reserva:
Olha-me bem! Sou eu, sou eu Beatriz."
(Purgatório, canto XXX)

(Beatriz)

Em a Divina Comédia, simbolicamente, Beatriz - por quem o poeta permaneceu apaixonado até o fim da vida - representa o conhecimento teológico.

Henrique VII 

"(...) pela coroa que vês nela já posta (...)
A alma estará de Henrique que proposta
Endireitará a Itália, 
Pois será Eleita."
(Paraíso, Canto XXX)

(Rei Henrique VII, da Inglaterra. Contudo, foi seu sucessor Henrique VIII que realmente confrontou a Igreja Católica fundando, por motivos pessoais, a Igreja Anglicana.)

Coroado imperador depois da morte de Bonifácio VIII, tem lugar reservado no Paraíso. Dante acreditava que ele poderia lutar contra o domínio do poder papal, restaurar a grandeza italiana e libertar Florença.

Justiniano 

"E, na sombra do seu voo altaneiro,
O poder, ao passar de mão em mão,
Para minha chegou, 
Do mundo inteiro."
(Paraíso, Canto VI)

(Imperador Justiniano, no centro, gravura romana)

Imperador Romano, está no Paraíso, no céu de Mercúrio, reservado aos espíritos ambiciosos, que agem a favor do bem, mas sempre de olho na fama e nas honrarias. Narra a Dante as origens do império que assumiu, em 527 d.C.

Papa Bonifácio VIII

"Aquele que lá usurpa o posto meu (...)
Caindo daqui,
Lá embaixo se repaga."
(Paraíso, canto XXVII)

(Papa Bonifácio VIII)

É assim que São Pedro se refere ao sumo pontífice,que assumiu o cargo em 1294. O poeta nutria um ódio indisfarçável ao papa, pois achava que ele era responsável por sua desgraça pessoal - o exílio de Florença - e pela decadência da Igreja. 

São Bernardo

"A Graça pede a ti de que também
A virtude de seus olhos levantes,
Por subir à visão do Sumo Bem."
(Paraíso, canto XXXIII)

(São Bernardo, nasceu em 1090 no castelo de La Fontaine. Dentre suas grandes ações dentro do catolicismo europeu, a proteção aos Templários, apoio à Conquista da Terra Santa e a ajuda aos Cátaros.)

É o santo que ajudou o poeta na caminhada final até conseguir o conhecimento da Divindade. São Bernardo é um dos sacerdotes franciscanos que ajudaram na formação dos Templários e na busca da conquista da Terra Santa.


Fim.:.





Referências Bibliográficas

A Divina Comédia, de Dante Alighieri, trad. Vasco Graça Moura. Ed. Landmark, 1968.





sábado, 1 de novembro de 2014

Quem inventou a Mandala?

(Confeccionar uma mandala pode levar meses e até anos.)

Não se sabe ao certo quem a criou.

Sua origem se perde no tempo, mas é certo que muitos povos primitivos já a utilizavam em seus rituais. 

A palavra mandala deriva do sânscrito e quer dizer "círculo".

(Mandala em sânscrito quer dizer "círculo" e este espaço é o universo mental do meditador.)

Trata-se de uma representação geométrica do universo, um rico diagrama composto de círculos, quadrados e triângulos em torno de um ponto central que representa e início de tudo. 

Seu uso como instrumento de meditação, para despertar graus elevados de consciência, a tornou difundida no Ocidente. 

Além de fazer bem aos olhos, ela tem a propriedade de conduzir nosso olhar sempre de volta para o centro. 

(Antes de espalhar as contas, sementes ou pedras, é necessário fazer um planejamento minucioso onde o projeto deve cumprir circunferências perfeitas. A paciência, o companheirismo, o uso da lógica, o foco e a concentração, tudo isso, já é a meditação em si mesma.)

Por analogia, possui o poder de fazer com que nos voltemos para o nosso ser interior. 

Carl Gustav Jung descobriu que desenhar, pintar e sonhar com mandalas é parte natural do processo de autoconhecimento e individuação.

(Jung compreendeu que os sonhos com alguns elementos e formas geométricas, nada mais eram que a consciência do indivíduo querendo desabrochar, como ocorreu com ele mesmo, ao sonhar com uma escadaria em forma de caracol a qual ele descia cada vez mais fundo numa enorme escuridão interior...)

Ainda hoje, os monges budistas do Tibete cultivam a tradição de fazer grandes mandalas com milhões de grãos de areia colorida, um paciente e delicado trabalho que pode estender-se por meses. 

Depois de finalizada, os monges a destroem.

(Após um trabalho que levou longos e pacientes meses, os monges, numa cerimônia, destroem a mandala, simbolizando que tudo é transformação, renovação, transmutação e transcendência...)

E a mandala, que era feita com objetos da terra, à terra retorna. 

A sua destruição simboliza o desapego com as coisas terrenas, a impermanência da vida...


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domingo, 26 de outubro de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 3

(O Paraíso, uma dimensão próxima a nossa. No entanto, ali não é o fim da jornada, apenas um ponto de descanso, para continuar a ascensão do Espírito humano para junto ao Pai das Luzes.)

O Paraíso, por sua vez, é formado por nove céus que conduzem ao Empíreo, a sede da Divindade. 

(As divisões do Paraíso em Espanhol: Vídeo-palestra Julho/2014)

Sua estrutura fundamenta-se na ideia de um aperfeiçoamento progressivo das energias naturais e sobrenaturais - os círculos são uma maneira de dividir a visão de Deus proporcionalmente aos méritos em vida, das almas que ali estão.

                    (As divisões do Paraíso em Espanhol: Vídeo-palestra Julho/2014)

É no Paraíso, depois de passar por rituais de purificação e carregado de fé, que finalmente Dante consegue, na contemplação da Luz Divina, enxergar a própria imagem de Deus. 

Com sua Divina Comédia o poeta propõe uma redenção moral da humanidade, que estava submetida ao apego aos bens terrenos e às paixões mundanas e, portanto, destinada à perdição eterna. 

(O Paraíso, ilustração de Gustav Doré para o livro Divina Comédia.)

Mas, além dos aspectos literários, qual o valor dessa obra para o mundo atual?

Sua relevância pode ser medida no quanto suas imagens e significados atravessaram séculos e ainda hoje permeiam a cultura e o modo de vida contemporâneos.


Há uma grande coerência entre a Bíblia, A Divina Comédia e a Igreja Católica atual. O que pode ser visto ao fazermos um paralelo com a importância de São Tomás de Aquino para a Igreja e com a noção de tempo e progresso no mundo católico. 

São Tomás, que viveu no século 13, foi um dos mais importantes teólogos católicos e influenciou tanto Dante (que foi colocado no Paraíso pelo poeta) como a Igreja dos nossos dias. 

(Disputatio: As matérias ensinadas nas escolas medievais eram representadas pelas chamadas artes liberais, divididas em: Trívio, Gramática, Retórica, Dialética e Quadrívio, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. A Escolática foi profundamente influenciada pela Bíblia Sagrada, pelos filósofos da antiguidade e também pelos Padres da Igreja, escritores do primeiro período do Cristianismo oficial, que detinham o domínio da fé e da santidade. Como já foi dito, dois grandes filósofos predominaram nesta escola: O africano Agostinho de Hipona e o italiano Tomás de Aquino.)

Ele adaptou a filosofia grega de Aristóteles ao pensamento cristão da Escolástica (Teologia e Filosofia medieval) com o objetivo de demonstrar a existência de Deus e explicar a sua essência, interpretando racionalmente os dogmas. Recuperando, com isso, o mundo sensível que havia sido considerado fonte de pecado durante quase toda a Idae Média. 

A ideia fundamental do teólogo é a de que Deus, invisível e infinito, é demonstrável por seus efeitos visíveis e finitos. 

A incorporação da razão (filosofia) às questões de fé (teologia) - o que faz Dante na construção de sua obra - encontrou alguma resistência, mas nunca deixou de reverberar no mundo ocidental. 

(Concílio Vaticano II em 1962-1965)

No Concílio Vaticano II (1962-1965), São Thomás de Aquino foi um dos teólogos mais citados. A ideia de avanço progressivo na obra também encontra relação com a  visão católica de hoje. Para a Igreja, os atos humanos têm valor e progresso, e o cristão sabe que a vida terrena é uma preparação para uma vida posterior mais feliz. 

Disso decorre as noções de Inferno, Purgatório e Paraíso.

Dante, por exemplo, incia sua obra no Inferno e "progride", até o Paraíso.

(A Cruz, ilustração Divina Comédia.)

E é justamente nesse Paraíso de sua obra-prima, espaço de redenção da humanidade, onde talvez o poeta, por fim, tenha acertado contas com sua própria história, marcada pela tristeza pelo exílio de sua terra natal e desilusão com a engrenagem política. 

Como imaginou o escritor argentino Jorge Luis Borges, em seu texto Inferno, I, pg. 32 do livro O Fazedor:

"Anos depois, Dante morria em Ravena, tão injustiçado e tão só como qualquer outro homem. Em um sonho, Deus lhe declarou o secreto propósito de sua vida e de seu labor. Dante maravilhado, soube por fim quem era e o que era e abençoou suas amarguras.

A tradição refere que ao despertar, sentiu que tinha recebido e perdido uma coisa infinita, algo que não poderia recuperar nem mesmo vislumbrar, porque a máquina do mundo é complexa demais para a simplicidade dos homens..."


Continua...


sábado, 6 de setembro de 2014

O que é Projeção Astral?

(A projeção astral é um recurso que foi usado até pelos militares americanos, e chamavam-na de Transporte da Consciência, mas acredita-se que o Pentágono não faz mais uso desta técnica.)

É o fenômeno do deslocamento da consciência para fora do corpo físico.

Em outras palavra, a possibilidade de você "estar" em algum lugar, enquanto seu corpo físico permanece imóvel - no aconchego do quarto, por exemplo.

A experiência é conhecida com nomes diferentes, conforme a doutrina ou corrente de pensamento: Projeção Astral para os Teósofos, Viagem Astral para os Esotéricos, Experiência Fora do Corpo na Parapsicologia, Desprendimento Espiritual no Espiritismo, Transporte da Consciência para o Pentágono-EUA.

Acredita-se que o ser humano possui, além do corpo físico, um corpo espiritual que pode ser exteriorizado de forma consciente, em um plano da realidade intermediário entre o plano físico e o espiritual. 

(A questão é tão instigante que existem outras disciplinas do conhecimento que usam a explicação da viagem astral para trazer luz aos mistérios do mundo, como algo possível.)

Em geral, as projeções astrais acontecem espontaneamente, quando o metabolismo do corpo diminui - durante o sono e relaxamentos.

Embora a ciência não explique, há muitas pessoas que afirmam ter passado pela experiência.

Entre os sinais típicos durante a projeção, estão a sensação de leveza, de deslocamento e visualização do próprio corpo.

Neste estado, o ser humano se liberta das leis que regem o plano físico e assim pode flutuar, tomar formas diferentes e até ir a outros lugares com a força do pensamento.


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domingo, 31 de agosto de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 2

(O início da jornada de Dante.)

O Livro, prova, inicia-se com o poeta no Inferno, perdido numa selva escura (sua vida de pecado, e termina com a visão da imagem de Deus, "o Amor que move o Sol e as mais estrelas", que lhe é proporcionada no Paraíso. A jornada de Dante se dá, de maneira figurada, aaos 35 anos de idade, "A meio caminho de nossa vida".

O Inferno é a primeira parte da obra. 

É dividido em nove círculos concêntricos, sendo que cada um é reservado a um tipo de pecador. 

(Ilustração do Canto 2.)

Várias veze as personagens não são tratadas de acordo com o pecado que personificam, mas com o sentimento que despertavam em Dante. 

Por exemplo, o florentino Filipo Argenti, era inimigo pessoal do poeta, e por isso, foi posto no quinto círculo, o dos coléricos.

(Encontro de Dante com Latini.)

Por outro lado, no sétimo círculo, na vala dos sodomitas, está seu antigo mestre Brunetto Latini, com quem conversa longa e respeitosamente. 

As ações são sempre utilizadas para enaltecer a ideologia cristã, o que, alguns momentos, ressalva em ataques - hoje polêmicos - a outros credos. 

(O mapa de Bartolomeu, que mostra o Inframundo de Dante.)

O profeta Muhammad (Maomé), por exemplo, pilar do Islã, tem lugar reservado no oitavo círculo, na vala dos causadores de discórdias familiares e dos iniciadores de cismas religiosos (o trecho é suprimido por todos os tradutores muçulmanos).

No primeiro círculo do espaço infernal, o mais largo e próximo a Terra, fica o Limbo, que abriga almas não batizadas e grandes personagens do passado anterior a Cristo, como Homero, Ovídio, Aristóteles, Sócrates e Platão. 

(O encontro de Dante com seu conhecimento.)

A presença desses e outros nomes escolhidos entre literatos, filósofos e cientistas gregos e romanos, além de referência à mitologia da cultura clássica, mostram a erudição de Dante Alighieri, mas indicam também as influências que ele supostamente teria sofrido para compor sua obra. 

Ao longo de todo o livro, o poeta insere vários personagens históricos de acordo com a visão que tinha deles, numa forma de, entre outras coisas, expressar sua visão política - enquanto alguns têm destino venturoso, outros penam eternamente. 


Redenção em Etapas

A concepção do mundo além-túmulo na época do poeta florentino seguia a cosmologia medieval. 

Nosso planeta era representado como um globo, solto e fixo, imóvel no espaço, constituído por um hemisfério superior (setentrional) de superfície sólida, o único habitado, e, o inferior (austral), marinho, tendo unicamente em seu centro a montanha do Purgatório.

(O Mundo na visão medieval.)

A queda de lúcifer, o anjo que se rebelou contra Deus, abriu uma profunda depressão abaixo de Jerusalém - o Inferno. E no lado oposto (superior) levantou a montanha que formava o Purgatório no topo do qual estava o Paraíso Terrestre, e, acima dele, o Paraíso propriamente dito.

No livro, o Purgatório é dividido em terraços que vão se afinando até chegar no Paraíso Terrestre.

(As almas que não se batizaram e, portanto, não podem ascender.)

Na primeira parte da escalada há o ante-Purgatório, reservado aos que se renderam a Deus tardiamente.

Passada a Porta de São Pedro, tem-se acesso aos círculos superiores, divididos de acordo como os sete pecados capitais: orgulho, inveja, cólera, preguiça, avareza, gula e luxúria.

(O Portão de Pedro, somente os puros passam.)

Aqui, os pecadores cumprem penas diversas que os purgarão para serem admitidos ao Paraíso. Vale lembrar que a ideia de Purgatório como um mundo intermediário não existia na Bíblia.

Surgiu na segunda metade do século 12 e foi reconhecida teologicamente pela Igreja em 1274. Ela é consequência da importância atribuída às ações humanas. 



Continua...


sábado, 23 de agosto de 2014

Por que alguns cultos há sacrifícios de animais?

(Sacrifício de 15 mil búfalos em novembro de 2009 no Nepal, este ritual foi extremamente criticado pelos órgãos de defesa dos animais pelo mundo todo.)

Em geral, trata-se de uma oferenda ao divino, como agradecimento ou como prova de fé absoluta. 

Existem diversos tipos de sacrifícios, que variam conforme a religião.

Fundamentalmente, a finalidade do sacrifício é a oferenda. 

(Os sacrifícios que envolvem sangue ou fluídos orgânicos nem sempre necessitam de uma vítima morta. Algumas gotas muitas vezes já são suficientes.)

Mas também há o sacrifício como retribuição por uma graça recebida e como forma de purificação.

O sacrifício animal no Candomblé é realizado como um agradecimento ao santo ou guia.

(O adepto de religiões africanas ao se iniciar nesta religião deve fazer sacrifícios segmentados conforme os Guias lhe são apresentados até receber seu eked. Mas são sacrifícios que se consolidam após anos ou décadas de estudo e dedicação.)

Também é feito em períodos de iniciação, em que uma pessoa vai tornar-se um adepto e ascende em busca do sacerdócio em suas várias etapas internas de aprimoramento, que levam anos e até décadas para serem cumpridas.

Na Bíblia, o sacrifício aparece como prova de obediência e fé.

Abraão, por exemplo, concordou em matar o próprio filho para mostrar sua crença em Deus e um anjo intercedeu antes do desfecho final. 

(Apesar de referenciarmos o cordeiro como um sacrifício comum entre o povo judeu, na verdade ele era um dos animais menos utilizado. O cordeiro só era usado em sacrifícios quando era necessário argumentar diante do povo que a vítima era inocente e não tinha como provar aquilo. Os animais mais utilizados nos sacrifícios rituais judaicos eram pombos, bodes e bois.)

O antropólogo inglês Sir Edward Burnett Tylor, também propôs, em 1871, que o sacrifício animal seria um presente aos deuses e que poderia minimizar a ira dos céus. 

Na Ilíada, Homero relata que o sangue sacrificial alimentava deuses e os espíritos dos mortos. 

(O que poucas pessoas sabem é que todo animal sacrificado precisa ser assado em fogo, e assim purificado e emitida a fumaça que é o verdadeiro propósito do sacrifício. Após isso, o sacerdote e ofertante, repartem o animal e o comem. Nada pode ser guardado, e o restante ou é queimado até virar cinzas, ou é enterrado em vala especial dentro do ambiente de culto.)

Na Torá, Corão e inscrições preservadas dos vários povos escandinavos e celtas, o sangue funcionava como uma transferência de poderes, desde físicos a espirituais, onde o ofertante comungava a pureza, a força e a coragem da vítima sacrificada. 

Seja como for, o sangue, no sacrifício animal sempre foi algo utilizado e verificado nas antigas religiões do mundo, mesmo aquelas monoteístas, como os muçulmanos e judeus. 

(No cristianismo um sacrifício também foi feito, mas o humano. Entretanto, seus adeptos não repetem esse ato entre si, pois acreditam que apenas um foi exigido e suficiente, que foi o de Jesus Cristo.)

Apenas no cristianismo o sacrifício chegou ao seu maior ápice de apelo, na pessoa de Jesus e, também, em seu fim, não necessitando que nenhum de seus seguidores façam a mesma escolha expiatória.

(O sacrifício humano foi praticado entre os povos Maias e Astecas. Alguns povos africanos e índios brasileiros também praticaram este ritual, mas de forma muito comedida e esporádica.)

Os sacrifícios humanos foram uma deturpação desesperada desta prática, identificada em alguns povos isoladamente, sendo um recurso extremo de um pedido de ajuda divina.

O povo asteca no México foi o povo que mais se demorou nesta prática de sacrifício humano, terminando juntamente com sua civilização...


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