Era o materialismo, que exerceu
fortíssima influência na França.
Segundo essa corrente filosófica,
não somente a realidade é material, mas todas as coisas da natureza e da alma
humana se explicam exclusivamente a partir da matéria e de seu movimento no
espaço.
As atividades espirituais humanas
são entendidas como simples atividades nervosas do cérebro, e o homem deve
buscar a felicidade em bens materiais ou no prazer físico.
(O Materialismo abriu uma vertente perigosa, o Hedonismo, que levou muitos homens e mulheres a desperdiçarem suas fortunas e vidas em festas, bebidas e no consumismo puro e simples. Dorian Gray, a obra de Oscar Wilde exemplifica bem aquele quadro.)
Mas o ambiente hostil parecia apenas
aumentar a firmeza do pensador, que considerava essencial reafirmar a
existência divina, mesmo que isso o colocasse em choque com os pensadores de
seu tempo.
Em 1911, Denis publicou O Grande
Enigma, em que dedicou páginas para reiterar que há uma força regendo todos
os mínimos detalhes do Universo, “desde a célula verde flutuando no seio das
águas, até o homem consciente no qual a unidade da vida se afirma, e acima
dele, de grau em grau, até o infinito”.
Segundo o autor, tudo se move em
perfeita harmonia, estado que seria impraticável se não houvesse uma
inteligência superior por trás da matéria.
Sem esse cérebro que move, ela nem
sequer existiria. “Deus, tal qual o concebemos, não é, pois, o Deus do
panteísmo oriental, que se confunde com o Universo, nem o Deus antropomorfo,
monarca do céu, exterior ao mundo, de que nos falam as religiões do Ocidente.
Deus é manifestado pelo Universo – de que é a representação sensível – mas não
se confunde com este”, escreveu.
Espírito Persistente
(Selo comemorativo na Espanha para a chegada do conferencista Denis)
Foram 35 anos de viagens e
conferências.
Aos 60 anos de idade, a voz de Denis
já não tinha a mesma potência de antes e sua resistência física diminuíra.
A visão piorava a cada dia, a ponto
do pensador necessitar da ajuda de uma secretária para escrever seus livros. Além disso, era constantemente
acometido de males do estômago, intestino e pulmões.
(Um estudioso solitário e persistente pela busca da verdade, Denis também teve que enfrentar o caminho comum a todos os homens: as doenças e a morte)
Sem mulher ou filhos, manteve-se
firme em sua missão: A de consolidar aquele que considerava a religião do
futuro.
A vida de Léon Denis mostra que,
como poucos, ele foi um homem absolutamente dedicado a sua obra. Mesmo em péssimas condições de saúde
e quase totalmente cego, Denis continuou produzindo.
Segundo afirmava, não se
sentia só em sua missão. Era guiado por outros seres. Em diversos livros e artigos, descreveu
como seu dom era inspirado por mestres espirituais que o confortavam e o
fortaleciam nas horas mais difíceis:
“Agora, chegou para mim a hora
crepuscular; vão subindo e rodeando-me as sombras; sinto que minhas forças
declinam e os órgãos se enfraquecem. Nunca, porém, me faltou auxílio de meus
amigos invisíveis; nunca minha voz os evocou em vão.
“Desde meus primeiros passos neste
mundo, a sua influência envolveu-me. É às suas inspirações que devo minhas
melhores páginas e minhas expressões mais vibrantes”, escreveu Denis em O
Problema do Ser, do Destino e da Dor.
(Manuscritos de Leon Denis)
Confinado em sua casa pelas enfermidades
que lhe acometiam, o filósofo ficou longe do público, mas nem por isso deixou
sua determinação arrefecer.
Continuou, por meio de livros e
artigos, a traduzir e a divulgar as palavras do Espiritismo. E não fugia da polêmicas: além de
embrenhar-se nos debates com os socialista e materialistas, entregava-se a
profundas argumentações com membros do clero católico e estudiosos das
religiões para defender a doutrina espírita.
Em 1927, contudo, após escrever sua
última obra – O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, um longo estudo da
civilização celta – seu corpo não suportou mais o peso dos anos. O apóstolo espírita, então embarcou
na viagem para o mundo invisível que tanto o fascinou...
Socialismo Espírita
Enquanto desenvolvia sua obra, Léon
Denis assistia ao mundo passar por grandes mudanças na cena política. E uma das
maiores novidades neste cenário era a acolhida calorosa das ideias socialistas
em toda a Europa.
Entretanto, embora partilhasse do
empenho do Socialismo em construir uma sociedade mais justa, o pensador não se
atrelou ao movimento. Pelo contrário.
(O Marxismo fez com que o mundo pensasse no homem além do trabalho, no entanto, tentou derrubar barreiras muito necessárias para este mesmo homem: a fé e sua espiritualidade)
Segundo Denis, os teóricos marxistas
estariam impregnados do materialismo vigente na época e isso fazia com que seu
plano de reforma não estivesse em harmonia com a evolução do Universo.
“Eles trabalham no intuito de reunir
os elementos necessários para fundar um novo edifício social. Porém, falta-lhes
o cimento que ligará esses elementos, ou seja, a fé elevada e o espírito de
sacrifício que ela inspira”, escreveu na obra Socialismo e Espiritismo.
De acordo com o filósofo, para
alterar definitivamente o curso da História, seria preciso semear a moral e a
noção de fraternidade e de solidariedade.
(Foto que mostra os pés de um cidadão da Etiópia que foi reproduzida nas redes sociais mundo afora versus os pés de um empresário americano)
Denis pregava um socialismo em que o
crescimento do homem estaria ligado à sua evolução espiritual. A visão acerca da origem das classes
sociais também distanciava Denis de seus contemporâneos socialistas. Segundo
ele, as desigualdades são necessárias para que as almas em diferentes níveis de
evolução possam ascender espiritualmente.
Nesse sentido, as condições de vida
de cada pessoa seriam fruto de seus próprios erros ou acertos em existências
anteriores – cada nova encarnação seria uma oportunidade de aperfeiçoamento.
(O Sistema de Castas utilizado na Índia desde tempos imemoriais teria sua explicação nas diferenças da evolução espiritual de cada indivíduo. Denis em seus estudos absorveu essa síntese, mas para o homem ocidental não poder escolher seu destino é uma ideia dolorosa e não conceitual. Aqui, Denis adquiriu muitos opositores)
“Não há igualdade na natureza e não
existe tampouco na humanidade. No Além, todos os seres são hierarquizados
segundo o seu grau de adiantamento, conforme a lei da evolução.
“As teorias revolucionárias, que
pretendem tudo nivelar por baixo, cometem ao mesmo tempo um monstruoso erro e
um crime, pois elas são destruidoras da obra do passado e do esforço gigantesco
dos séculos visando criar uma civilização”, escreveu o filósofo.
Assim, nada adiantaria culpar Deus,
a natureza ou os outros homens pelo nosso sofrimento. A felicidade, dizia
Denis, está na aceitação e na realização da tarefa que o destino nos impõe.
Continua...
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