segunda-feira, 1 de maio de 2017

Alma Indígena ou Não... Eis a Questão - Parte 3

(Hoje, a Bolívia ainda vive suas diferenças culturais entre os indígenas, uma miscigenação entre os primeiros incas e outras tribos que foram dispersas, e os descendentes europeus. No geral, há distância velada entre a população branca e urbana, e entre os indígenas e andinos.)

As atrocidades praticadas contra os indígenas - e presenciadas por Las Casas - somaram-se a uma leitura que ele fez do capítulo 34 do livro bíblico do Eclesiástico: 

"Se o governador dá atenção à palavras mentirosas, virão a ser perversos todos os seus servos."
Livro dos Provérbios 29:13

Isso foi durante a festa do Pentecoste de 1514.

Desde então, Las Casas tornou-se um defensor apaixonado da causa indígena e seu fervor o aproximou cada vez mais dos dominicanos, a quem se uniu em 1522. 

(A convivência entre os negros, indígenas e descendentes dos europeus ficaram mais ou menos pacífica... Ninguém fala muito sobre o assunto, igual ao Brasil, ninguém se acha negro ou caboclo, apenas "moreno"... A miscigenação deu origem a um povo alegre, inteligente e criativo, muito disso, pela herança intelectual da primeira universidade das Américas fundada em solo peruano.)

Sua cabeça fervilhava com projetos de um modelo alternativo de colonização  em que índios e espanhóis trabalhariam juntos em igualdade, e também de evangelização, na qual a violência seria banida. 

Nas décadas que se seguiram Las Casas lutou par colocar esse ideal em prática, até ganhando d favor do recém imperador Carlos V, que governava a Espanha, e o Sacro Império Romano-Germânico. 


(O México é um dos países que você encontra mais traços indígenas em toda a população. Acima, um breve passeio no centro da Ciudad del México.)

Nomeado Bispo de Chiapas, no sul do México, ele renunciou à terra natal, convencido de que era preciso mobilizar o que hoje chamamos de "opinião pública".

Foi quando bateu de frente com Sepúlveda.

Debate Misterioso

O Conselho das Índias, diante do diz-que-diz sobre a publicação do livro de Sepúlveda, propôs ao rei que se realizasse um debate em 1549.

O problema  é saber que jeito a discussão foi realizada, já que os autos não sobreviveram: não há certeza se os dois intelectuais se digladiaram pessoalmente ou se Las Casas apenas rebateu os argumentos escritos do cônego. 

Em termos filosóficos, o fato é que Sepúlveda levava vantagem.

(E como os peruanos veem a si mesmos? Acima, novela peruana Dina Paucar, La Lucha por un Soeño, do canal público América Televisión, um enorme sucesso no país, de 2012.)

Grande especialista em Aristóteles, o filósofo grego cujas ideias dominaram o pensamento político da Igreja a partir do século 14, o cônego usava a tese aristotélica das diferenças naturais entre os homens para justificar a dominação.

Aristóteles partia do princípio de que, por natureza, alguns homens estão para mandar e outros - os brutos, rudes, rúticos, bárbaros - para obedecer. Sepúlveda montou toda a sua argumentação sobre a "prova" de que os índios eram assim mesmo!

E Las Casas baseou seus argumentos num conceito de índio que faria história: bom, delicado, inocente, tão inteligente quanto os fidalgos espanhóis.

(Hoje os bolivianos estão buscando entender sua própria herança cultural fazendo pequenas esquetes engraçadas! - Acima, programa semanal Zartenazo, um grupo humorístico que faz enorme sucesso na Bolívia, de 2015.)


(Uma novela divertida e bem canastrona, mostrando o dia-a-dia do povo boliviano, mas no idioma indígena local. Acima, cenas da novela Así és la Vida, de 2014.)

Um grupo de 12 juízes, teólogos de renome, ouviu a argumentação no convento dominicano de Valladolid, cidade que então era a capital da Espanha. 

No fim, Las Casas viu-se forçado a apelar para a própria fé do grupo. Ele disse que, se Aristóteles tinha afirmado aquilo, então não passava de um pagão, e era preciso seguir o Evangelho. 

(E como está esse povo indígena que Las Casas tanto quis defender? Para saber, assista ao documentário Don Quijote de la Selva, uma produção dos países Peru e Espanha, para os historiadores e estudantes do mundo, de 2013.)

As discussões arrastaram-se por um mês, e os juízes ficaram de dar seu veredito no ano seguinte - algo pelo qual se espera até hoje!

O desfecho do embate entre os dois religiosos mantém-se obscuro. Há quem diga que Las Casas foi aplaudido pelos juízes e tenha vencido a discussão.

Para alguns estudiosos, uma consequência sombria de todo o debate em torno da liberdade indígena foi o investimento cada vez maior dos colonizadores espanhóis nos escravos vindos da África. 

(No Brasil as coisas também eram difíceis... Numa bela pesquisa, Jorge Amado conseguiu idealizar um romance único, consumido pelo mundo todo, pelos detalhes históricos de dominação e adaptação emocional entre os personagens, numa época pouco registrada na sociedade humana! - Acima, cenas da antológica novela Escrava Isaura, de 1976-1977, exibida pelo canal público Rede Globo.)

O crescimento da escravidão africana está ligado ao resultado desse debate. Aliás, a sugestão de usar os negros como trabalhadores foi de Las Casas. 

No entanto, outros pesquisadores afirmam que o dominicano logo se arrependeu da tolerância à escravidão negra e passou a defender também a liberdade dos africanos, coisa que transparece em seus escritos mais tardios. 

(Infelizmente, nossos hermanos de continente não são tão habilidosos com suas novelas... E, somente após a década de 1990, com o crescimento das televisões públicas Televisa (México) e Venevísion (Venezuela), é que as novelas latinas começaram a abordar de forma histórica e inteligente sua própria herança cultural. - Acima, cenas da novela mexicana Pobre Negro, de 2010.)

Ele chegou mesmo a rejeitar o direto da Espanha de colonizar a América e valorizou a cultura e a própria organização política dos índios. 

Muitos continuaram duvidando da veracidade dos massacres e atrocidades que Las Casas condenava. Sua argumentação pode até ter sido aplaudida no convento em Valladolid - mas a história mostraria que, no dia-a-dia da colonização, as ideias que acabaram seguidas foram mesmo as de Sepúlveda...


Fim.:.



Referências Bibliográficas

Las Casas: Todos os Direitos para Todos, de Frei CArlos Josaphat, ed. Edições Loyola, de 2010.

A Controvérsia, de Jean-Claude Carrière, ed. Companhia das Letras, 2003.

O Paraíso Destruído, de Frei Bartolomé de Las Casas, ed. L&PM, de 1996.





sábado, 15 de abril de 2017

Eterno Universo Recriado! - Parte 4

(Acima, arte e maquiagem do filme Apocalypto que se inspirou na criação artística dos povos maias e astecas.)

Os antigos habitantes da Mesoamérica também seguiam o calendário nos rituais específicos para o casamento e o nascimento. 

Um dos mais conhecidos que se têm notícias é o dos astecas.

A noiva era conduzida para  a casa do futuro marido em padiolas ou sobre as costas das senhoras casamenteiras. Os noivos eram colocados diante do fogo e aí mantinham-se sentados até que terminasse toda a festa. 

(Atendente da pousada em Tulum onde nos hospedamos. A cultura mexicana é extremamente diversificada, e em todo o país ainda há fragmentos linguísticos misturados com o espanhol da época dos confrontos entre os mesoamericanos e espanhóis.) 


(As feiras do México são muito parecidas com as nossas feiras de fim-de-semana praticada no Brasil: Vendem-se roupas, frutas e alimentos numa profusão tão colorida e cheirosa que o visitante fica tonto com tanta beleza e cor!)



(Xochiquetzal é a representação da beleza e feminilidade mesoamericana no México, e foi uma personagem real e mítica ao mesmo tempo: Ela foi a princesa asteca que salvou seu povo do dilúvio.)

O sacerdote realizava o matrimonio unindo a camisa da noiva ao manto do noivo. Eles também tinham uma cerimônia semelhante ao batismo, considerada o segundo nascimento. 

Era praticada dentro da trezena em que havia nascido o bebê 

(Noiva da cultura maia e asteca.)

Durante os primeiros raios do sol do dia, o celebrante despejava um recipiente com água sobre a cabeça da criança. Com isso uma fração do deus penetrava em seu corpo e ele levava o nome secreto da data da cerimônia.

O destino da criança estaria sempre atrelado a essa data, porque ela carregaria para sempre as características do seu deus. 

O toda a vida, sua luta seria equilibrar suas más tendências vindas do deus protetor com os dons divinos herdados. 

(Acima, Ritual de Toxcatl.)

Daquele ritual em diante, a criança serviria ao seu deus com orações, oferendas e todos os rituais necessários. Afinal, as novas gerações eram responsáveis por manter  Fogo Novo sempre aceso e delas dependia a recriação diária do universo. 

As Razões dos Sacrifícios Humanos

Os sacrifícios humanos não eram praticados gratuitamente pelos mesoamericanos. Serviam como preparação de uma guerra, retribuição aos deuses pelos presentes naturais oferecidos e, especialmente, para a renovação do cosmo. 

Cada deus pedia um sacrifício.

(Imagem do filme Apocalypto, de 2006.)

As formas mais comuns eram extrair o coração do indivíduo, atirar flechas nele ou decapitar prisioneiros de guerra e escravos, vistos como imagem dos deuses. 

O sacrificado podia ser drogado com plantas alucinógenas nas cerimônias. Dependendo do ritual, sua pele era retirada e vestida pelo sacerdote e a carne do seu corpo, comida.

Um dos rituais mais importantes era o "Rito de Tóxcatl", em honra ao deus Tezcatlipoca, patrono dos jovens guerreiros. 

(Os cenotes são recantos naturais, frutos dos lençóis freáticos subterrâneos. Foram, por muito tempo enquanto durou a cultura asteca e maia, locais sagrados de oferendas e cultos aos mortos.)

O prisioneiro, escolhido pelo corpo perfeito era pintado, ornamentado e vestido para que fosse a imagem viva do deus 

Recebia quatro esposas consideradas deusas. 

Tinha de abandonar todas as riquezas que havia ganhado no dia de sua morte, era levado para um templo fora da cidade. 

O sacrifício ocorria para que Tezcatlipoca pudesse renascer com vigor. Depois, um novo rapaz era eleito e o ciclo se repetia: ao longo de um ano, recebia os melhores tratos até ser sacrificado.

(Acima, uma urna de pedra onde eram guardados os objetos sagrados para os devotos que desejavam se autossacrificar.)

Autossacrifícios e mutilações, com objetivo de oferecer o sangue à divindades também eram comuns. 

Braços, pernas, órgãos genitais, língua e orelhas eram cortados com espinhos. Crianças tornavam-se oferendas quando nasciam albinas; eram sacrificadas em homenagem ao sol. 

As Moradas dos Mortos 

Quando alguém morria, viajava para um mundo subterrâneo específico, conforme a causa do falecimento. 

Na crença indígena, nesses mundos, os mortos iam ajudar o deus que provocou sua morte e realizavam tarefas importantes, como conduzir a chuva, fazer brotar as plantas e curar doenças. 

Após quatro anos, todo o vestígio de existência do coração do morto, onde morava seu pensamento e sua essência, era apagado. Virava, então, uma semente divina, reutilizada na criação de outro ser. 

Os falecidos de morte comum iam para o Mictlan, um inframundo presidido pelo deus Mictlantecuhtli e sua esposa, Mictecíhuatl.

Era o mais profundo dos nove pisos do mundo subterrâneo. Os mortos deveriam passar por ventos gelados, rios perigosos e outros desafios. 

(Animação produzida pela Instituição Rámon López Velarde, de 2012.)

Já o céu a morada do Sol, era reservado para as vítimas de combate os oferecidos a sacrifícios solares, as mulheres mortas no primeiro parto e os comerciantes. 

Os afogados, atingidos por raios e os que tiveram doenças que causavam bolhas na pele eram encaminhados para Tlalocan, o mundo do deus Tláloc onde havia muita vegetação. 

Esses mortos eram os únicos enterrados porque cremavam-se os demais. 

Um dos destinos mais singelos era os bebês que morriam cedo, antes mesmo de terem provado alimentos sólidos. Eles iam para Chichihualcuauhco, onde não passariam fome. 

Lá, regalavam-se com o leite dos frutos da Árvore Nutriz até terem nova oportunidade de vida.



Fim.:. 




Referências Bibliográficas

Deuses do México Indígena, de Eduardo Natalino dos Santos, ed. Palas Athenas, 2002. 

El Fuego Nuevo, de César A. Saenz, ed. Instituto Nacional de Antropologia e História do México, 1967.

La Religíon Maya, de Miguel Rivera, ed. Alianza Editorial, 1986.

INAH - Instituto de Antropologia e História do México.








  

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Alma Indígena ou não... Eis a Questão! - Parte 2


O livro de Sepúlveda, Democrates Alter, Sive de Justis Belli Causis, tradução: "Das justas Causas da Guerra contra os Índios", tinha como objetivo dar suporte filosófico a esse procedimento, no estilo dos diálogos de Platão.

O personagem-título, Demócrates, com ajuda do sanguinário conquistador do México, Hernán Cortez, argumentava que os índios nasceram para serem subjugados e que não aceitavam a verdadeira fé senão pela força.


(Acima, cenas do canal privado EuroNews, de 2011.)

(E se Deus fosse um cara que gostasse de sacrifícios humanos mesmo?! Acima, uma engraçada reflexão do grupo humorístico Porta dos Fundos, de 2013.)

"Além do mais", continua Demócrates, "os invasores têm papel humanitário, pois acabam com os sacrifícios humanos praticados pelos índios em suas cerimônias pagãs". 

Apesar de toda a sua reputação de intelectual, Sepúlveda teve problemas em divulgar a obra na sua terra natal porque ela batia de frente com a posição oficial da Igreja. 

(Acima, nossa visita à Punta Sal no Peru, onde por muito tempo, e até hoje, portugueses e espanhóis viveram e decidiram a vida de toda a América Latina. Hoje, não passa de uma parada bucólica e romântica para turistas.)

Esse texto foi proibido pelo Conselho das Índias [o órgão que geria a colonização espanhola na América] e pelo Conselho de Castela, depois da opinião das universidades de Alcalá e Salamanca. 

Foi editado na Itália e, tecnicamente, estava proibido de circular na Espanha. Mas as suas ideias expressavam uma corrente do pensamento jurídico espanhol.

Foi contra essa corrente que Bartolomé de Las Casas lutou boa parte de sua vida. 


Defensor das Américas

Ironicamente, Las Casas começou sua vida na ilha Hispaniola (onde ficam os atuais Haiti e República Dominicana) como qualquer outro espanhol: comandando escravos. Ele chegou à América com 18 anos, vindo de Sevilha, e na época era apenas um clérigo - recebera as chamadas Ordens Menores, que não tornavam o indivíduo um sacerdote pleno. 

(A ilha Hispaniola ainda vive... Atualmente a ilha se tornou em Haiti e República Dominicana, no Caribe. Após 13 anos da presença da Missão de Paz Brasileira, ainda é muito problemática a vida de seus cidadãos pós-terremoto, onde a maioria de seus habitantes são descendentes de uma época de opressão e escravidão medievais.) 

Mas a terra recém-descoberta do outro lado do Atlântico não era uma estranha completa: o pai de Las Casas participara de uma das viagens de Cristóvão Colombo e até trouxera um menino índio como "presente" para o filho na volta para casa. 

(A mesma época, mas numa perspectiva dos inimigos... Acima, um maravilhoso filme do diretor indiano Shekhar Kapur, Elizabeth: Era de Ouro, de 2007.)

As aventuras paternas estimularam o jovem Bartolomé a deixar a Espanha e transformar-se num encomiendero (senhor de uma encomienda, como era chamada a terra cedida pela Coroa espanhola na América) em Hispaniola e em Cuba. 

Las Casas tornou-se exemplo de bom administrador, do colonizador que dá certo, e recebeu elogios do próprio governador.

(Muito tempo depois, em toda a América, o motivo da morte e escravidão dos índios e negros ainda continuava o mesmo: As lavouras de Cacau, o maior e mais caro produto já produzido no mundo... Acima, cenas da novela brasileira Renascer, exibida pelo canal público Rede Globo, de 1993.)

O jovem clérigo sofreu uma virada espetacular de pensamento e conduta, estimulada pelo fato de que teria reconhecido a bondade do povo nativo da América. 

O primeiro passo dessa mudança foi a chegada dos frades dominicanos a Hispaniola, onde fundaram um convento em 1510.

Já ordenado padre, Las Casas logo percebeu que a Ordem não parecia nem um pouco disposta a contemporizar com a escravidão. 

(A vida nas colônias espanholas era algo tão solitário, que a América, por muito tempo, foi vista como um lugar de castigo para os europeus. Um sacerdote sofria muito aqui, ao se deparar com a crueza dos colonos e a naturalidade social dos indígenas. A combinação disso, era um drama de difícil convivência, onde amor, ódio e corrupção viraram História. Acima, cenas do filme A Letra Escarlate, mostrando a colonização da América do Norte pelos puritanos, que sofreram seus próprios revezes semelhantes aos espanhóis, de 1995.)

A certeza veio com um sermão, preparado em conjunto pelos frades recém-chegados e proferido diante de toda a comunidade de Santo Domingo. 

"Con qué derecho?", teria bradado frei Antonio de Montesinos diante de uma assembleia atônita de colonos espanhóis (Las Casas entre eles), em meados de dezembro de 1511. 

Sem meias-palavras - e muito antes do papa -, o sermão exaltava a plena dignidade humana dos indígenas e dizia que a própria alma imortal dos colonos estava em risco, caso persistissem em escraviza-los, pois não tinham esse direito. 

Las Casas parece ter se emocionado com o discurso, mas não tomou nenhuma atitude.

(Mas, em todo o mundo e, por muito tempo, o sacerdócio produziu homens iluminados, assassinos, corruptos e dedicados... Acima, cenas do filme O Nome da Rosa, de 1986.)

Certa vez, quando foi se confessar e um dos dominicanos pediu que libertasse seus escravos para que fosse absolvido, preferiu partir sem a absolvição.

A grande mudança veio quando o padre se engajou como capelão militar numa expedição que visava colocar toda Cuba sob domínio espanhol.


Continua...




sexta-feira, 24 de março de 2017

Eterno Universo Recriado! - Parte 3

(O Canal History Channel lançou em 2015 uma série maravilhosa chamada Exploração Asteca. Foi uma coprodução com o INAH - Instituto Nacional de Antropologia e História do México. Foram produzidos 4 episódios numa viagem fascinante aos mistérios da civilização Asteca e Maia que ocuparam a região Mesoamericana entre 1325 a 1521. Atualmente, os episódios estão disponíveis para os assinantes do H2, subprodução do History.)

Segundo uma das histórias da cosmologia mexicana antiga, o período atual e definitivo do mundo foi precedido pela criação de quatro mundos anteriores, regidos por quatro sóis, cada um com um tipo de habitante e dominado por um deus solar.

Foram destruídos, respectivamente, por causa de vulcões, inundações, chuva de fogo e invasões de feras selvagens. 


(Acima, visita à cidade de Teotihuacan, no México.)

A quinta criação foi realizada por uma reunião de deuses em Teotihuacan, um dos primeiros grandes centros urbanos do altiplano central do México.

Um mito nahua, cultura da qual os astecas faziam parte, conta que um dos deuses se lançou ao fogo para se tornar o próprio Sol, outro se transformou na Lua e assim sucessivamente, até que virassem todos os astros que se movem ordenadamente o universo. 

(Acima, ave Quetzal, que deu origem e forma ao deus Serpente Emplumada ou Quetzacoatl.)

As divindades do México indígena formavam um complexo panteão. 

Nem boas nem más, eram capazes de manifestar-se de diversos modos, muitas vezes de forma dual, em pares. 

Podiam transformar-se em seres humanos e vice-versa e, por isso, havia uma multiplicidade de deuses e de denominações.

(Quetzacoatl foi uma mistura de Jesus Cristo e Krishna... Este Deus veio ao mundo para ensinar aos homens a sabedoria. Seu corpo era de uma serpente, pois esse é o símbolo teológico universal da Sabedoria Divina, e a Cabala nos explica o porquê: Pois o som da Criação é o mesmo som de uma faísca de fogo: um chiado ou "shhh", som característico de uma cobra ou serpente. As plumas representa a conjugação da ave nacional do México o Quetzal, com sua linda plumagem verde e azul, que anuncia a chegada dos equinócios de Outono e Primavera. Acima, várias cabeças de Quetzacoatl ornando a Pirâmide da Lua, na cidade de Teotihacan.)

A Serpente Emplumada, por exemplo, era um deus que se tornou rei. 

A fronteira entre homens e animais também não era rígida, os guerreiros poderiam transformar-se em jaguares ou águias e adquirir sua força e habilidade porque tinham a alma partilhada com eles.


Calendário Religioso

Os mesoamericanos cultuavam os mesmos deuses, embora pudessem ter diferentes nomes. 

O criador de todas as divindades foi Ometéotl, que se desdobrava em um casal, assumindo uma versão ora masculina, ora feminina. 

(Tláloc dá suas boas-vindas ao visitante no Museu de Antropologia do México. Esta escultura foi encontrada em 1967, numa escavação para as fundações de um prédio residencial. Hoje ele orna a entrada do museu mexicano, exigindo respeito e veneração por esta cultura antiga.)

Abaixo dele, estava Tláloc, deus das águas e das montanhas e um dos mais antigos, chamado Chac entre os mais e de Cocijo pelos zapotecas.

(Acima, o deus/deusa Ometéotl)

Havia também Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada, que ajudou a dar origem às diversas humanidades e sóis e a criar a Idade Atual, e Tezcatlipoca, cujas ações resultaram nas epopeias dos povos mesoamericanos pelos diferentes mundos.

(Acima, deus Tezcatlipoca.)


(Todo magista sabe: Quanto mais antiga for uma Inteligência da Esfera da Terra, mais perigosa e dominadora ela é. Um magista tem que ter um grau mágico muito elevado para se conectar, comandar e invocar esses deuses. Poucos de nós estão preparados para isso... Acima, cenas do filme Esquadrão Suicida, que traz em um de seus personagens uma entidade antiga mexicana, de 2016.) 

Era o patrono de uma Era anterior, que teria sido destruída por um dilúvio. 

Ao lado desses, estavam Xiuhtecuhtli, ou Velho Deus Velho, celebrado no ritual do Fogo Novo, e Mectlatecuhtli, o deus dos mundos subterrâneos para aonde iam certos mortos.

(O deus Xiuhtecuhtli é semelhante ao orixá Omulú do candomblé. Ele oferece a cura ou a doença, o conselho ou  a loucura.)

Todas as forças do universo e as cerimônias religiosas coletivas eram regidas pelo calendário mesoamericano astronômico de 365 dias, dividido em 18 meses de 20 dias cada um, mais cinco dias à parte, sem festas.

Havia também outro calendário de 260 dias, mais usado para adivinhação, com nome dos deuses relacionados aos vegetais e animais

(O deus Mictlantecuhtli, era a entidade que tomava conta de Mictlan, um tipo de Umbral, para sair dali, o homem deveria ganhar no jogo de bola mesoamericano, e a mulher, arrumar sua casa e lhe fazer uma boa refeição.)


(Hollywood adora brincar com coisa séria, aí, é gente morrendo, adoecendo... Mas um dia eles aprendem... Acima, Mictlantecuhtli no filme Esquadrão Suicida, um tipo de demônio que queria dominar a Terra, de 2016.)

Entre as formas de adivinhação, estavam a observação do curso dos astros para deduzir o destino de um homem, o manejo de cordas para ver a sorte de um doente e também jogos com milho.

As festas realizavam-se no início do mês e culminavam com o último dia do ano.

Algumas dessas datas até hoje influenciam as festas mexicanas, como a do Dia dos Mortos.

(A deusa da morte Mictecacihuatl. Quando uma entidade antiga deseja ressuscitar, ela aparece sob novos aspectos, mas sem deixar de ser ela mesma...)


(A Santa Muerte explicada pelos próprios mexicanos. Acima, programa do canal Dia a Dia, de 2014. Para saber mais, acesse o link Santa Morte. )

Muitos dos elementos que os indígenas usavam no calendário ritual foram incorporados nas festividades cristãs, como as oferendas.

No Dia de Finados, os mexicanos passam horas decorando os túmulos com flores. 

Há muita comida dedicada aos mortos, como se os ancestrais estivessem voltado naquele momento!



Continua...


sexta-feira, 10 de março de 2017

Alma Indígena ou não... Eis a Questão! - Parte 1

(Até parece... Não, gente, a colonização das Américas não foi fácil, e, sim, houve muita matança, dor e violência em graus pouco praticados pelo homem moderno. Acima, cenas do filme icônico Dança com Lobos, de 1990.)

No verão de 1550, frei Bartolomé de Las Casas e o teólogo Juan Ginés de Sepúlveda enfrentaram-se para tentar decidir a verdadeira natureza dos índios e quais os direitos deles diante da violência da colonização européia.

O mais provável é que os indígenas que sofriam e morriam a milhares de quilômetros dali jamais soubesse do debate. 

(Bem distante dos holofotes de Hollywood e do movimento literário do Indianismo de Castro Alves do século 19, a verdade é que muitos índios foram, literalmente, trucidados e mortos, por serem "tipos" inferiores de seres humanos, e era um favor a Deus sua exterminação.)

Contudo, na sala capitular de um convento de Valladolid, na Espanha, sob o sufocante verão de 1550, duas das mentes mais brilhantes da Europa, ambos religiosos de renome, esgrimiam para decidir a natureza e o destino dos coros e das almas dos nativos americanos. 

(Convento de Valladolid ou das Irmãs Descalças Reais, na Espanha. Aqui, travou-se um dos debates mais ferrenhos do mundo sobre o valor da humanidade, o que é de fato a Cultura, Sociologia e a História da natureza Humana, sob um pano de fundo muito complicado: E Deus, onde fica nisso?!?)

As conclusões desse debate nunca foram divulgadas, e talvez, nem mesmo tenham chegado a ser escritas, mas continuam a servir de marco para os aspectos mais luminosos e mais sombrios da colonização europeia na América. 

Nos cantos desse ringue teológico estavam dois sexagenários, diferentes em quase tudo, exceto na nacionalidade (ambos eram espanhóis) e na erudição. 

(Após conhecer a maioria das colônias da América Espanhola, Bartolomeu de Las Casas chegou a uma conclusão fatal: A selvageria europeia pela busca de ouro não poderia continuar em detrimento de assassinatos a sangue-frio de famílias e pessoas tão simples...)


(Inspirado nesta história, o filme 1492 - A Conquista do Paraíso, conta de forma bem realista os muitos elementos que ocorriam nesse momento, e o porquê era necessário manter a "fome" por ouro.)

O dominicano Frei Bartolomé de Las Casas tinha percorrido a pé ou de navio quase todos os recantos da América Espanhola, condenando a opressão imposta aos índios por conquistadores e colonos e questionando o direito dos espanhóis de impor o Catolicismo à força de armas. 

Seu adversário, o cônego Juan Guinés de Sepúlveda, lutava pelo direito de publicar, na Espanha dos conquistadores, um livro que não só justificava a escravização dos indígenas, mas também a considerava meritória - o único jeito de civilizar e cristianizar criaturas que, no máximo, eram seres humanos de segunda classe, feitos para serem governados. 

(Mas Juan não queria saber...: "Os indígenas são seres selvagens, ignorantes, fracos, que não suportam trabalhar, desejam passar suas vidas ao bel prazer das paisagens tropicais. (...) O nosso esforço e fé é que eles, um dia, se Deus assim desejar, possam, pelo menos sentir prazer em se vestir, comer civilizadamente e trabalharem sem reclamar.")

Na teoria, a situação era mais favorável a Las Casas que a Sepúlveda. 

As decisões anteriores das autoridades da Espanha e da Igreja haviam consagrado os direitos dos índios de não serem escravizados injustamente, bem como sua natureza de seres humanos. 

Até o papa Paulo III manifestou-se em favor dos indígenas na bula Sublimis Deus, de 1537.

(A Bula Sublimis Deus, escrita em 1537, declara: "Nós, ainda que indignos, exercemos na terra o poder de Nosso Senhor (...) consideramos que os índios são verdadeiros homens, e, não somente são capazes de entender a fé católica, como, de acordo com nossas informações, acham-se desejosos de recebê-la.")

Ali, o pontífice dizia que os índios "como verdadeiros homens, não somente são aptos, mas, conforme soubemos, recebem com a maior prontidão a mensagem da fé" e, por isso, recomendava que  não permanecessem privados de sua liberdade nem do domínio de seus bens.

A distância entre teoria e prática, no entanto, era das grandes. 

(Os poucos padres e/ou jesuítas que se atreviam a defender os indígenas eram deportados ou mortos... A verdade é que esse conflito foi recheado de ódio e amor, paixão e decepção, de ambos os lados. Os índios com seu jeito manso e tranquilo, e os europeus com sua carência emocional e curiosidade construíram uma ponte frágil, complicada e cheia de histórias belas e terríveis... Acima, cenas do filme A Missão, de 1986.)

Nenhum dos domínios europeus na América estava isento do trabalho escravo dos índios e, pior, de extermínios em massa praticados pelos espanhóis. 

Para muitos, esse era o destino inevitável de pagãos que se recusavam a aceitar a verdadeira fé. 

Não era difícil justificar a escravidão por meio da chamada guerra justa, na qual, supostamente, teria havido agressão prévia dos índios ou uma recusa deles de abraçar o Catolicismo. 

(E aqui, no Brasil, o que estava acontecendo?! Xiii... Família real falida e fugida chegando, escravocratas e libertarianistas brigando, e muitos casos interraciais acontecendo... Acima, filme Carlota Joaquina, de 1995.)

Os invasores chegaram até a criar a figura jurídica do requerimento.

O documento seria até cômico, se não fosse trágico numa única página, lida para os índios em voz alta (e escrita em espanhol do latim), resumia a história do mundo desde a criação até a descoberta da América, dizia que o papa havia dado as "Índias" aos espanhóis por sua autoridade divina e instava os nativos a servir os recém-chegados e converter-se - ou, então, enfrentariam graves consequências.



Continua...




sábado, 18 de fevereiro de 2017

Eterno Universo Recriado! - Parte 2

(Cada parte do corpo de um ser vivo continha um poder inerente e mágico para os astecas e maias. A maior força de um corpo se concentrava no coração e no sangue, mas o sangue não pertencia aos humanos, pois era um alimento sagrado dos deuses. Nas cenas acima, um dos companheiros de caça é convidado à comer os testículos do porco selvagem, para aumentar sua virilidade e fertilidade. Acima, cenas do filme Apocalypto, de 2006.)

(Manter uma grande cidade mesoamericana em funcionamento exigia muito trabalho braçal, e os seus cidadãos não queriam ter que fazer esse esforço. Então a saída era possuir escravos, mas que também precisavam comer e vestir, impondo um sistema inflacionário cada vez mais dispendioso para sustentar o status quo vigente. Acima, cenas do filme Apocalypto, de 2006.)

A tradição religiosa mesoamericana surgiu quando grupos de coletores e caçadores nômades se converteram em agricultores sedentários. 

A sedentarização agrícola foi-se estendendo, compreendendo povos muito diferentes tanto étnica quanto linguisticamente, que estabelecera amplo intercâmbio econômico, tecnológico e cultural.

(Acima, cenas da série A Maldição de Oak Island, do canal privado History, de 2012.)

Cultivado há cerca de 5 mil anos, o milho foi a principal fonte de alimento daquelas culturas, presente também na religião. 

(Aposto que você não sabia disso! Então se liga: A pipoca, uma variação do tão delicioso grão de milho, não é de origem africana! Apesar de haver vários rituais do Candomblé e Umbanda com o uso da pipoca invocando alguns orixás como Omulú e Oxóssi, a pipoca é de origem Mesoamericana e pertencente a seu panteão. O uso ritual do milho (grão que não existia na África) e, posteriormente, da pipoca, ocorreu porque os sacerdotes africanos não conseguiram encontrar, naquela época no Brasil, o grão do Sorgo, também uma espécie de gramínea (mato), usado atualmente na alimentação do gado e em produtos alimentícios.)


(A origem do milho ainda é controversa... Mas sabemos que este grão surgiu na América, como uma variação das gramíneas (mato). A pipoca pode ter surgido quando alguma dona de casa deixou, por acidente, uma espiga próximo a uma fogueira, ocorrendo então a explosão do grão. A palavra "pipoca" é de origem tupy e, etimologicamente, quer dizer "pira" pele, "poca" estourar; era também chamada pelos índios brasileiros de "pororoca" que quer dizer estrondo. No mundo esse alimento recebe outro nome, nas Américas é chamado de: playera, no México; pólera, na Bolívia; franela, na Venezuela... Acima, o deus do milho Centeotl, segurando dois milhos, indicando que o universo foi criado com energias duplas e opostas, apesar de serem da mesma espécie.)

Um dos mitos mesoamericanos conta que o milho estava trancado dentro de um monte e os deuses da chuva o retiraram de lá com seus raios a fim de que se tornasse alimento para o ser humano.

Os maias acreditavam que o homem foi criado da massa do milho, depois dos deuses terem fracassado em tentar fazer criaturas pensantes de barro e de madeira.

(Acima, mito da criação Maia e Asteca, registrado no códice do Popol Vuh, e disponibilizado pela Escola de Filosofia Nova Acrópole, de Avieiro, México, de 2016.)

Havia vários deuses do milho e Centeotl era um dos mais conhecidos. 

Várias festas eram realizadas em homenagem a ele e a Xilonen, a deusa da terra e da fertilidade. 

(Deusa da fertilidade, Xilonen, ostentando uma coroa de espigas de milho. O milho e a pipoca eram usados como ornamentos de cabeça e colares, pois o dourado do milho lembrava o ouro, e a pipoca era grudada e/ou usada como suporte para os penteados dos cabelos.)

Para celebrar essa deusa, os astecas, desde o século 14, realizavam o ritual de decapitação de uma mulher, simbolizando o ato de separar a espiga da planta. 

Ela tinha de ser donzela (uma garota de mais ou menos 8 ou 12 anos e virgem) porque os deuses necessitavam de pureza para garantir as colheitas.

(Uma vez escolhida a virgem de uma família renomada para honrar a deusa Xilonen, ela era ornamentada como a Deusa usando as mais belas plumas, tecidos e muito ouro. Também lhe era dada a garantia que a donzela voltaria como rainha numa próxima vida.) 

Outro produto da região, considerado sagrado, era a borracha.

Os indígenas promoviam um jogo com a bola de látex maciça, relacionado com o movimento do Sol para transformar o dia e a noite.

(Acima, cenas do jogo de bola mesoamericano, atualmente chamado de Ulama pelos descendentes indígenas, uma apresentação do Museu de Antropologia do México.)

A religião mistura-se à política e à economia.

Até a guerra tinha caráter religioso: manter o movimento solar e o ciclo de vida da humanidade. 

Ao conseguir prisioneiros para os sacrifícios, os guerreiros garantiam a força militar, a expansão territorial e o domínio tributário. 

(A história de Hernán Cortez, conquistador do México, e primeiro desbravador a chegar na Mesoamérica. Acima, vídeo disponibilizado às escolas públicas do México pela Universidad Ciudad del Mexico, de 2010.)

Quando os espanhóis chegaram, os sacerdotes indígenas exerciam alto poder político como representantes da palavra divina. 

As escolas religiosas eram destinadas aos filhos de nobres, enquanto os demais jovens, inclusive moças, iam para as escolas de guerra.

Os Vários Mundos

O ritos oficiais eram realizados normalmente no alto das pirâmides e as oferendas aos deuses variavam: animais, pedras preciosas, bebidas alcoólicas e produtos da terra, mas também danças, orações, música tocada por instrumentos de sopro e incenso. 


(Acima, um sobrevoo feito por  drone pelo complexo da cidade de Caral, Peru. Fernando, meu irmão, sempre se divertindo...)

O motivo de tais ritos ocorrerem nas pirâmides ainda é estudado, mas se sabe que em muitas delas o número de patamares estaria relacionado com os níveis celestes.


(Acima, cenas da série Alienígenas do Passado, de 2012.)

As celebrações religiosas foram descritas nos códices, livros de papel guardados em estojos de madeira, que continham o sistema de escrita dos povos mesoamericanos. 

Esses livros rituais e históricos contam que o mundo havia passado por idades anteriores, nas quais a humanidade foi destruída por cataclismos e recriada posteriormente.

(Acima, os 20 signos da astrologia Maia, que é uma mistura de I Ching e Ayurveda. Hoje existem xamãs e/ou astrólogos que ainda usam esse sistema antigo de auto-conhecimento no México.) 


(Acima, a apresentação dos signos astecas e seus respectivos meses de atuação, muito similar aos orixás do Candomblé, só que no Candomblé, para saber qual seu orixá de cabeça é necessário consultar o Ifá, isto é, o jogo de búzios.)

Para os mesoamericanos, o mundo terrestre era dividido em quatro direções e um centro. 

O céu tinha 13 níveis e, abaixo da terra, havia as nove camadas dos inframundos. 

Os inframundos eram o destino dos mortos comuns...


Continua...   



   
Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

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