(A derrubada da Monarquia, que de imediato foi sem derramamento de sangue, terminou por provocar ações anti-republicanas e aversões contra o Novo Regime que trazia para o cenário brasileiro muitas ideologias iluministas europeias. Acima, cena do filme Guerra de Canudos.)
Para ele, trata-se de uma subversão à ordem estabelecida por Deus. Deixando de lado a vida de andarilho, o peregrino decide fixar-se, com seus seguidores, no pequeno arraial de Canudos, cujo nome muda para Belo Monte.
Antônio Conselheiro quer preparar um lugar que garanta a vida na Terra, sem se esquecer de que isso é provisório, e que leva ao céu. A vida que os sertanejos tinham lá era muito boa, muito melhor do que antes.
(Belo Monte retratado pelo fotógrafo Flávio de Barros em outubro de 1897.)
O povoado cresce rapidamente. Além do trabalho comunitário, os moradores do arraial aprendem com as lições religiosas de seu líder. Quando Conselheiro falava de Deus, não acentuava o caráter aterrorizante e vingativo presente nos sermões que o povo há tanto tempo ouvia.
Mostrava-o como um Ser misericordioso, sempre disposto a perdoar.
Se a missão do rei capuchinho fracassa em 1895, seu relatório indica a existência de um Estado dentro do estado e põe as autoridades de prontidão.
Se a missão do rei capuchinho fracassa em 1895, seu relatório indica a existência de um Estado dentro do estado e põe as autoridades de prontidão.
No ano seguinte, os fiéis compram madeira em Juazeiro para a igreja nova de Canudos.
O material demora a ser entregue e corre o boato que jagunços vão invadir a cidade para pegá-lo à força. A notícia serve como pretexto para dar início à guerra, imortalizada no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha.
(Conselheiro foi perseguido não apenas por reunir um povo sem esperança do Sertão, mas também por apresentar uma teologia nada convencional no qual retratava um Deus que não apenas perdoava, mas que não condenava: A seca do sertão não era algum tipo de pecado e danação divina...)
(O estopim da Guerra de Canudos foi mesquinho e abominável, o qual o personagem principal foi a construção de uma Igreja para que pobres sertanistas pudessem fazer suas orações no final de seu dia de trabalho.)
O material demora a ser entregue e corre o boato que jagunços vão invadir a cidade para pegá-lo à força. A notícia serve como pretexto para dar início à guerra, imortalizada no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha.
A primeira expedição, com 120 homens, fracassa.
O mesmo ocorre com a segunda, com cerca de 625 soldados, e com a terceira, que reuniu um efetivo de mais de 1,3 mil pessoas.
(Cena final do filme Guerra de Canudos de 1996, direção de Sérgio Rezende e protagonistas como José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti e Marieta Severo. Filme orçado em 6 milhões de dólares e 4 anos para gravação.)
Muitos dos vencidos acabaram cruelmente degolados.
Em 1969, as águas do açude de Cocorobó cobriram o que restou de Belo Monte. Não apagaram, contudo, uma história de fé.
Fé Messiânica...
Fé Messiânica...
(Com a baixa das águas do Açude de Cocorobó a velha Canudos reaparece...)
(Chegando ao Açude de Cocorobó, não tem como não sentir algum tipo de silêncio e tristeza impregnados no local... Viagem de Abril de 2015.)
Contestado sob o comando de um Monge Místico
Em 1916, uma região fronteiriça de 48 mil quilômetros quadrados disputada pelo Paraná e Santa Catarina viveu seu apocalipse. Estima-se que entre 6 mil e 10 mil pessoas tenham morrido após a série de combates contra as tropas republicanas.
Nem mesmo no período mais crítico do conflito, o monge José Maria surgiu nos céus, ao lado do exército encantado de São Sebastião, como esperavam seus mais de 20 mil seguidores.
(Este senhor idoso e inofensivo, curandeiro, apelidado por monge por seu jeito reservado e pobre de viver, foi o motivo para uma guerra...)
As mudanças radicais que atingiram aquela população despertaram o desejo por uma salvação divina, distante da vida em uma sociedade arruinada.
A história do Contestado começa em meados do século 1.
Por volta de 1840, acredita-se que tenha passado pela região um "monge" chamado João Maria.
Mas "monge", nesse caso, não significa o religioso que vive em um mosteiro. Trata-se de um termo aplicado a andarilhos comuns na região sul do Brasil que benziam, batizavam e faziam curas com ervas medicinais - muito parecidos com os "beatos" do Nordeste.
(A Guerra do Contestado foi um conflito armado que ocorreu na Região Sul do Brasil entre outubro de 1912 e agosto de 1916.)
No fim do século 19, um segundo monge João Maria surge na área, muitos anos depois do desaparecimento do primeiro. Na memória popular, entretanto, ambos acabaram confundindo-se.
Passa algum tempo e, no século 20, começa a peregrinar pela região o monge José Maria, que se diz irmão do segundo João Maria.
Suas andanças coincidem com a modernização de toda aquela área. Muitos posseiros são expulsos de suas terras por causa da construção de uma estrada de ferro que liga São Paulo ao rio Grande do Sul.
Também há problemas com a instalação de uma madeireira multinacional do mesmo grupo da ferrovia.
(A implantação de estradas de ferro na região trazem o desenvolvimento e a expulsão do povo local. Injustiça, intolerância e ganância são, como sempre, a matéria prima inflamável para qualquer conflito.)
Suas serrarias desabrigam mais gente e acabam com as pequenas madeireiras da área.
Além disso, a chegada de grandes contingentes de imigrantes - mais acostumados às novas rotinas de trabalho - contribui para agravar a crise social.
Continua...
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