(Vamos fazer uma retrospectiva teológica da Guerra de Canudos e do Contestado, me acompanhem nas próximas matérias...)
Movidos pelo ideal de uma vida distante de um mundo em ruínas, os movimentos de Canudos e do Contestado marcaram a história do Brasil.
O mundo parece não fazer mais sentido...
O cotidiano começa a mudar de maneira radical, tornando-se opressivo. Difícil entender o que está ocorrendo ainda que o discurso oficial das autoridades tente explicar.
(Vídeo educativo do Fundação Joaquim Nabuco e Ministério da Cultura.)
Há algo muito errado uma ameaça à serenidade de pessoas acostumadas àquela mesma rotina desde o nascimento. Mas o medo dá lugar à esperança quando, subitamente, um líder com grande carisma e eloquência surge no cenário, mencionando a Bíblia e fazendo revelações.
Mais do que isso, mostrando o caminho para superar tanto sofrimento. O discurso atrai seguidores, prontos para defender sua verdade até a morte.
(Chegada de Antônio Conselheiro à Belo Monte e o início de uma sociedade alternativa onde fé e política fizeram uma mistura explosiva e malsucedida.)
(Mas antes disso, ele era conhecido como Antonio Vicente Mendes Maciel, funcionário público, professor, advogado prático, casado e respeitado. Quando descobriu a traição de sua esposa com um sargento, desiludido, larga-a e vai peregrinar no sertão baiano. Passeia por Sergipe e todo Norte baiano vislumbrando a fome e a pobreza do povo nordestino. Nesta jornada uma espécie de mudança espiritual lhe acontece, e sente-se chamado a desafiar as decisões sociais da nova República.)
Afinal, serão os únicos capazes de se salvar. Está prestes a nascer um movimento messiânico ou milenarista.
No fim do século 19, Antônio Conselheiro estabeleceu-se com seus adeptos em Canudos, na Bahia, mudou o nome do arraial para Belo Monte e transformou o local na terra prometida.
(Canudos na Bahia e a revolta do Contestado em Santa Catarina, não foram os únicos movimentos messiânicos do Brasil. Houve o movimento As Borboletas Azuis promovida pelo empresário Roldão Mangueira de Figueiredo, na Paraíba em 1977, pregava um dilúvio que ocorreria em 1980: “Uma enorme bola de fogo cruzará o céu, o Sol girará por três vezes
consecutivas, um ensurdecedor trovão ecoará por toda a Serra da
Borborema. Em seguida choverá ininterruptamente por 120 dias”, o que não aconteceu... O movimento acabou após aquele ano.)
(O movimento messiânico Cadeirão de Santa Cruz do Deserto, 1921, consistia na igualdade da comunidade. Ocorrida na Paraíba e liderada por José Lourenço Gomes da Silva, chamado de Beato.
(Jacobina Mentz Maurer, líder religiosa em Sarapiranga no Rio Grande do Sul participou da Revolta dos Muckers (que quer dizer "Falsos Santos") em 1873-1874 com seus adeptos. Filha de pais alemães participantes do espiritismo europeu, fez alguns atos médicos interpretados como milagres pelos brasileiros. Os adeptos sobreviventes desta revolta ajudaram no movimento de Canudos.)
(João Maria, o Monge da Lapa, liderou o movimento conhecido como Monges do Pinheirinho em 1902. Parecida com a dos Muckers, os adeptos eram imigrantes italianos sofrendo com as represálias e discriminações dos agricultores brasileiros.)
(Movimento dos Monges Barbudos ocorrido em Sobradinho, no Rio Grande do Sul, entre os anos de 1935 a 1938. A pobreza era extrema no sul, a cura para doenças só vinha por meio da utilização de ervas e conhecimentos indígenas. Quem praticasse esse tipo de cura era tido como pagão e não-cristão. Assim, acima, os seguidores foram presos e a seita banida.
Como vimos, não existe messianismo sem a participação de um padrão de acontecimentos: Política caótica, pobreza e nenhuma administração pública. Uma pessoa sensibilizada se levanta para organizar o conflito e é recebida como um Messias ou Reformador.
Sua pregação é repleta de críticas aos líderes públicos e a perseguição é inevitável.
O banimento ou a morte é o fim comum de todo movimento messiânico.)
Anos depois, no início do século 20, mais de 20 mil pessoas aguardavam a ressurreição de seu líder, o monge José Maria, em redutos localizados em uma fronteiriça disputada pelo Paraná e Santa Catarina.
O Contestado também terminou de maneira trágica depois de confrontos com o Exército.
Promessa de um Paraíso
As guerras de Canudos e do Contestado são vistas como os exemplos mais importantes de movimentos messiânicos no Brasil.
Para a sociologia, a principal característica de insurreições como essas é a existência de um figura carismática.
Esse líder é reconhecido pelo grupo como alguém especial, capaz de conduzi-lo a uma nova ordem - não importa se ele se assume como o Messias há muito esperado ou se promete o paraíso terrestre.
Alguns estudiosos também costumam classificar esses levantes segundo dois conceitos mais específicos: messianismo, que tem como base a crença na vinda de um Salvador, e milenarismo, quando se prevê uma catástrofe seguida por um reino de felicidade de mil anos.
Porém, nem sempre é possível encaixar um movimento como Canudos, por exemplo, em uma das definições - Antônio Conselheiro não se proclamava o Escolhido ou prometia um milênio de paz e fartura.
Melhor é denominá-los de movimentos religiosos de protesto social.
Tudo começa com uma grande crise, que atinge uma população acostumada a uma vida tradicional.
A ordem anterior é considerada como estabelecida por Deus. Então, com as transformações, esse mundo sofre um abalo.
No caso de Canudos, duas mudanças principais causadas pela proclamação da República atingiram em cheio os sertanejos: foram criados novos impostos e a Igreja separou-se do Estado.
No Contestado, entre fatores que originariam o drama estão a modernização causada pela chegada da estrada de ferro e as rotinas de trabalho impostas por um madeireira multinacional.
A situação de miséria na qual viviam as populações que aderiram a esses ou a outros movimentos, porém, não pode ser vista como estopim.
A crise material sozinha não gera isso...
O povo estava acostumado a viver em situações de pobreza. Mesmo fenômenos naturais trágicos, como a seca, eram interpretados como parte da ordem natural das coisas.
Na concepção messiânica ou milenarista, a ruína vem por mãos humanas e provoca a desintegração de um estilo de vida tradicional.
Daí, há uma busca pela explicação para tanta desgraça.
A religião, por sua capacidade de transcender o cotidiano, acaba por fazer essa crítica.
Como o povo simples vive o desmoronamento do mundo conhecido sem saber traduzir isso em palavras, quem consegue falar essa linguagem religiosa atrai adeptos e transforma-se em líder.
Essa variação dos cultos oficiais da Igreja Católica pode ser resumida na frase:
Continua...
(Em Um Messias Indeciso, Raul Seixas canta o caminho confuso, indeterminado e turbulento de um homem que sente ser chamado para uma missão espiritual e política.)
Alguns estudiosos também costumam classificar esses levantes segundo dois conceitos mais específicos: messianismo, que tem como base a crença na vinda de um Salvador, e milenarismo, quando se prevê uma catástrofe seguida por um reino de felicidade de mil anos.
Porém, nem sempre é possível encaixar um movimento como Canudos, por exemplo, em uma das definições - Antônio Conselheiro não se proclamava o Escolhido ou prometia um milênio de paz e fartura.
Melhor é denominá-los de movimentos religiosos de protesto social.
(Mas o que seria um messias de fato? É um conceito judaico da vinda de um homem que revitalizaria a nação e a religiosidade judaica, já que Estado e Fé têm a mesma instância nesta cultura. Mas quando contemporizamos esse conceito, ele se refere a um homem comum, sem estudo, que foi chamado através de algum sinal divino: Um sonho, uma voz, uma visão; seguindo indicações esporádicas enviadas por seres, que dependendo da orientação religiosa podem ser: anjos, avatares, espíritos, fadas. Entre os messias do tempo de Jesus surgiram outros autodenominando-se Messias: Menahem Ben Judah; Bar Kochba; Moisés de Creta; Isḥaḳ ben Ya'ḳub Obadiah Abu 'Isa al-Isfahani, Yudghan; Seneno, o Sírio; David Alroy... Além dos que surgiram na Pérsia, no Iêmen, Espanha e Itália, todos estes contemporâneos de Jesus.)
Tudo começa com uma grande crise, que atinge uma população acostumada a uma vida tradicional.
A ordem anterior é considerada como estabelecida por Deus. Então, com as transformações, esse mundo sofre um abalo.
No caso de Canudos, duas mudanças principais causadas pela proclamação da República atingiram em cheio os sertanejos: foram criados novos impostos e a Igreja separou-se do Estado.
No Contestado, entre fatores que originariam o drama estão a modernização causada pela chegada da estrada de ferro e as rotinas de trabalho impostas por um madeireira multinacional.
(Hoje as revoluções teológicas e messiânicas são mais organizadas e adentraram a política dos homens. Então, você verá deputados, vereadores e senadores crentes em sua visão religiosa querendo mudar o mundo... E conseguem... pelo menos fazer algumas confusões...)
A situação de miséria na qual viviam as populações que aderiram a esses ou a outros movimentos, porém, não pode ser vista como estopim.
A crise material sozinha não gera isso...
O povo estava acostumado a viver em situações de pobreza. Mesmo fenômenos naturais trágicos, como a seca, eram interpretados como parte da ordem natural das coisas.
Na concepção messiânica ou milenarista, a ruína vem por mãos humanas e provoca a desintegração de um estilo de vida tradicional.
(Três momentos grandiosos de um messias dentro da Câmara dos Deputados.)
Daí, há uma busca pela explicação para tanta desgraça.
A religião, por sua capacidade de transcender o cotidiano, acaba por fazer essa crítica.
Como o povo simples vive o desmoronamento do mundo conhecido sem saber traduzir isso em palavras, quem consegue falar essa linguagem religiosa atrai adeptos e transforma-se em líder.
Essa variação dos cultos oficiais da Igreja Católica pode ser resumida na frase:
"Muita reza, pouca missa,
Muito santo, pouco padre".
Continua...
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