(Contabilizando, dentre outras histórias, a Igreja Renascer que germinou na Vila Mariana em São Paulo, trouxe para o palco do gospel brasileiro um upgrade mais do que necessário: o evangelismo de drogados, góticos, metaleiros e carecas do centro paulistano.)
(Fundada em 1986 pelo casal e pastores Estevam Hernandes e Sônia Hernandes trouxeram para o cenário evangélico brasileiro a mesma pegada americana de misturar política, negócios e fé. Neste percurso, incidentes dolorosos foram contabilizados... O trabalho continua, mas o casal já não tem a mesma credibilidade do mundo cristão.)
Com a chegada do gospel, Ivan Alatxeve lançou em 1996 um trabalho musical voltado para o evangelismo.
As roupas dos integrantes eram pretas e o público-alvo formado por gente do mundo underground: metaleiros, punks, carecas, góticos.
Por causa disso, Ivan participou de uma das edições do Christian Metal Force (literalmente, Força do [som] Metal Cristão, um projeto iniciado em 1989 na Igreja Renascer em Cristo, cuja finalidade era (é) levar a Palavra de Deus, por meio de festivais, justamente ao público underground.
(Som pesadão, hardcore, a Dracma detonou de vez o cenário gospel brasileiro com um novo estilo de rock: o Heavy Metal. Gestados na Igreja Renascer, Estevam Hernandes apoiou e incentivou, financeiramente, esse grupo a ousar dentro do cenário evangélico.)
(Mas, você está pensando que o radical começou ali com a Dracma?! Errado!... Começou aqui, com o Grupo Rebanhão. Estranhou o nome? É isso mesmo... Aqueles meninos queriam revolucionar e até modificaram palavras consagradas (sagradas) do mundo evangélico: rebanho e louvor, começaram a serem pronunciadas como Rebanhão, Louvorzão... Pode não parecer hoje, mas a maneira que eles cantavam, suas letras e proposta musical, foi quase um Apocalipse Now com o lançamento deste disco em 1981.)
Assim, nasceu a Dracma, uma banda independente que fez parte do circuito evangélico, mas que não tem ligação com uma igreja específica.
Eles queriam apresentar Jesus para quem gosta de Heavy Metal e de um rock mais pesado.
A evangelização pela música é possível, mas talvez não seja pelos shows que a pessoa vá compreender a mensagem que essas bandas tentam disseminar. Afinal, o trabalho de evangelização é feito tête-à-tête.
(Parece, mas não é! - É muito brasileiro, meu filho... A Dracma saiu do Brasil para tocar para alemães e, agora, festivais internacionais é o quintal dessa galera.)
(E na cola dessa galera surgia o Oficina G3, também criação da Igreja Renascer, com pegada mais leve mas com rock de alto nível, o Oficina agitou muitas noites na Vila Mariana... - o Som era tão alto que na altura do Metrô Paraíso a gente podia ouvir a agitação - Ê saudades do tempo que trabalhava no Banco Real... Velha paulistosa...!)
No início do trabalho, o grupo cantava em português, o que não impediu a primeira turnê da banda pela Alemanha em 2000.
Mas quando oportunidades internacionais sugiram, a banda começou a cantar em inglês, gravando o segundo CD, Perfect Creation.
A banda faz inúmeros shows em lugares nada cristãos: bares, casas noturnas e festivais não-religiosos, e dessa forma, levam a evangelização para patamares nunca imaginados...!
(Em 5 de setembro 1977, a Sonda Voyager é lançada para o espaço... Em 12 de setembro de 2013 a NASA confirma: A sonda está no espaço interestelar, elas saiu de nosso Sistema Solar.)
(Carl Sagan, um astrônomo judeu, entendeu que a melhor forma de mandarmos uma mensagem para indivíduos extraterrestres seria em códigos binários, músicas e símbolos, pois essas são as formas mais comuns dos seres vivos se comunicarem, em última instância, fazendo sons.)
(Dentre os muitos sons selecionados há uma saudação brasileira e a música Garota de Ipanema.)
(Assim, entendemos que a música é algo atemporal e é um sistema semiótico no qual todo indivíduo, portador de um sistema auditivo, compartilha, mesmo sem prévio contato, uma mesma linguagem sonora de apreensão de sentimentos: raiva, amor, alegria, aceitação e rejeição. Ao utilizarmos essa linguagem no louvor a Deus nada mais fazemos do que expressarmos, de forma subjetiva mas inteligível, uma mensagem espiritual, ainda que aquele indivíduo não professe a mesma crença.)
Entretanto, os integrantes da Dracma não sabem se os shows da banda rendem conversões à fé evangélica, mas acreditam que pelo menos a semente da evangelização é lançada por terras distantes.
Nesse sentido, a música cria um elo com pessoas que não acreditam necessariamente nas mesmas coisas daqueles que a canta. Mas o poder da influência é grande...
E, toda essa revolução que estamos estudando reverteu para os templos uma maior aceitação, não apenas na expansão de um gosto musical, mas na reavaliação em aceitar as diferenças das pessoas que, afinal, é o grande alvo desses movimentos religiosos.
(Pr. Silas Malafaia raspou seu bigodão austero e mudou seu estilo de paletós para ser mais simpático no cenário televisivo brasileiro. Entrevista com o apresentador Ratinho em fevereiro de 2015.)
(Com toda essa agitação musical, outra revolução religiosa tomava conta do Brasil: As apresentações televisivas de celebridades evangélicas. O que era bacana naquela época era ver sua igreja, seu segmento religioso na TV, e no final, ter sua própria rádio, ter seu próprio canal de TV foi uma conclusão normal em meio dessa febre gospel.)
(Edir Macedo se torna o ícone desse momento, comprando não apenas um canal, mas uma das emissoras mais prestigiadas e importantes do cenário brasileiro: a TV Record. Contabilizando momentos discrepantes, temerários e inadequados, a Igreja Universal do Reino de Deus chegou onde nenhuma outra igreja, mesmo internacionalmente, chegou antes: Ter uma emissora própria e manter uma programação secular e religiosa com novelas, séries e filmes para mais de 45 milhões de telespectadores diários, segundo dados do Ibope de 2013.)
Usando uma linguagem universal, porque não espacial, a música canta uma nova canção entre aqueles que tem tanto medo de errar: a aceitação do meio secular.
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos que se encontram na casa. Portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão...!"
Evangelho de São Mateus 5:15,16 e 6:23
E assim, a religião completa outro ciclo humano, não apenas de trazer arte para louvar a Deus mas de trazer arte para louvar os sentidos dos homens. Qual jovem não quer tocar numa banda?
Evangelização Eclética
Se nas igrejas evangélicas a linguagem musical mais agressiva propagou-se com fôlego, no Catolicismo o processo foi mais lento...
(Mas essa onda não nasceu aqui, mas lógico, nos Estados Unidos, celeiro de celebridades de todo tipo... O Pr. Rex Humbard lançou esse estilo nos canais americanos, com um programa dominical televisivo onde pregação, música e autopromoção foram feitos sem piedade e com enorme sucesso. Até que em 1994 ele chocou o público confessaando adultérios e inapropriações no meio evangélico. Em 2006 foi lançada sua autobiografia Miracles in My Life onde ele conta sua trajetória. No entanto, é inegável o impacto de suas ações no mundo evangélico deixando uma marca de como é poderosa a mídia na propagação de uma religião.)
Apesar de grupos católicos de rock existirem há algum tempo, a aceitação maior entre os fiéis de músicas menos ortodoxas ocorreu com o trabalho dos chamados "padres cantores" - Marcelo Rossi, em São Paulo e o padre Zeca, no Rio de Janeiro - no fim dos anos 90.
Hoje, muitas bandas alternativas pipocam no circuito católico, geralmente, ligadas ao movimento da Renovação Carismática, e festivais de música, como Hallel e o Rock in Cristo, são frequentes.
A abertura favoreceu a própria evangelização.
Aos 15 anos, o então estudante Rogério Feltrin - hoje formado em Publicidade - foi levado por um amigo a um grupo de oração da Renovação Carismática. Participou de um retiro espiritual promovido pelo grupo e lá, teve uma "experiência com Deus".
(O mais novo álbum de Rosa de Saron lançado em Julho de 2015. Na minha opinião, é uma das maiores e mais talentosas bandas de Rock do estilo Indie e Progressivo da atualidade no Brasil.)
Dali, não demorou para, em 1988, montar a banda Rosa de Saron, que inicialmente animava as reuniões dos grupos de oração e já atraía centenas de jovens.
O sucesso era tanto que a fama da banda chegou a diocese de Campinas, em São Paulo, que convidou os músicos para um show de evangelização.
A Rosa de Saron foi a primeira e maior banda católica de Rock Indie e Progressivo no Brasil, a primeira banda reconhecidamente gospel e católica, embora durante os anos de existência tenha reciclado seu estilo musical.
Como aconteceu também no meio evangélico, eles foram muito criticados, por ter um estilo musical inadequado para falar de Deus.
(Padre Marcelo Rossi, um dos maiores representantes do movimento carismático da Igreja Católica, trouxe um maior frescor para os louvores engessados católicos. Com sua voz macia e carinhosa, Marcelo conquistou todos os brasileiros com seu carisma, acessibilidade e tolerância religiosa.)
Mesmo assim continuaram tocando...
Houve a saída do primeiro vocalista que paralisou o trabalho da banda em um ano, reavaliaram seus propósitos e, voltando mais maduros, o estilo musical mudou e se firmou. Com isso atingiram um nicho maior de pessoas, dentre elas, evangélicos, espíritas...
A discografia da banda hoje é intensa e, depois do lançamento do CD Depois do Inverno em 2002, não pararam mais...
(Mas foi o Padre Zeca que começou tudo isso! Na estrada há mais tempo que Rossi, em 1999 ele faz nas reuniões carismáticas católicas um enorme sucesso criando um novo jeito de celebrar as missas dominicais.)
Figuraram na Bill Board, revista especializada em músicas tocadas em rádio, e para a indicação do Grammy foi só um pulo.
Para mim, Rosa de Saron está entre as maiores bandas de rock do Brasil!
(Bonitão, atlético e inteligente, o Padre Fábio de Melo ensina hoje que padre pode sim, ser mais do que um beato de missa. Professor em Teologia, ele tem reescrito a forma psicológica e social do perfil de padre, onde a sensualidade, simpatia e talento fazem parte dessa nova evolução religiosa católica.)
Continua...
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