sábado, 16 de agosto de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 1


A morte é um caminho que todos os homens irão percorrer. Crente ou descrente dos caminhos pós morte, a verdade é que essa transformação da vida em não-vida, intriga os homens em todos os tempos. Caminhemos, juntamente com Dante, e entender um pouco mais para onde vamos...

Você morreu...

E agora?

Vai para o Inferno ou para o Paraíso?

Há também o purgatório, onde sua alma poderá ficar estacionada aguardando o julgamento divino. 

(Fragmento do filme Nosso Lar, onde o espírito de André Luís, protagonista da história psicografada por Chico Xavier, caminha no Umbral ou, pela doutrina católica, o Purgatório.)

Paraíso, Inferno, ou Purgatório?

Afinal, para onde vai a alma humana?

O caminho do espírito após a morte é um tema antiquíssimo, que acompanha o homem muito antes dele se ver diante da religião.

(O New Grange, uma construção neolítica na Irlanda, é um complexo de salas de passagens intricadas dedicado aos mortos. Em cada nicho, um momento onde o cadáver descansava até se decompor completamente e restar apenas os ossos. Durante uma vez ao ano, no solstício de inverno, o sol iluminava a sala principal, onde todos os ossos eram reunidos para sua viagem final para casa.)

Na Idade Média, porém, época em que o mundo ocidental era completamente dominado pela ideologia católica, um livro ganhou notoriedade por tratar dessa questão: A Divina Comédia, escrita por Dante Alighieri, provavelmente, entre 1306 a 1320, a obra é considerada o ápice da poesia italiana e uma das mais importantes da literatura em todos os tempos. 

(O livro medieval A Divina Comédia foi um dos primeiros best sellers do mundo, com uma tiragem de 500 livros em sua primeira edição, todos vendidos. Outro livro que superou as vendas foi O Martelo das Bruxas com 800 cópias impressas. O mundo espiritual sempre intrigou o ser humano...)

Isso porque possui uma riqueza de significados que extrapolam seu valor - já sublime - como literatura.

Enquanto narra fatos de sua própria vida, de sua cidade natal (Florença) e de seu país, a Itália (que ainda não existia como tal), o poeta traça um perfil acurado dos valores e da filosofia do medievo e faz uma síntese completa da ideologia cristã de queda e redenção. 

(Para os crentes da Idade Média, não havia muitas esperanças, fosse o mundo físico ou metafísico... No mundo palpável as doenças grassavam e; no mundo invisível, o paraíso não existia para todos. Ter um coração puro numa época em que não existia moradia e alimento para todos era difícil...)

E vai além conferindo à sua obra um caráter universal, pois diz respeito ao humano como um todo, e em qualquer época. Em suma: uma ferramenta atemporal para reflexões sobre o homem, a sociedade e o destino.

A Divina Comédia sempre funcionou como um espelho da condição humana individual e coletiva, por isso, foi exaltada por pessoas e épocas tão diversas. 

(Dante Alighieri (1265-1321), escritor, poeta e político italiano. Foi o primeiro poeta italiano considerado como um imortal ou Il Sommo Poeta.)

Ela é a autobiografia espiritual do Poeta e uma biografia atemporal do ser humano. De um lado ela é profundamente medieval, de outro essencialmente eterna.


Peregrinação Infernal

Escrito durante o exílio do autor de Florença, por questões políticas, o livro é o relato da viagem que Dante empreende aos três reinos do outro mundo: O Inferno, o Purgatório e o Paraíso. 

Em sua peregrinação é guiado pelo poeta romano Virgílio, autor de Eneida. 

(Ilustração de Gustave Doré para a publicação francesa de A Divina Comédia numa edição comemorativa de 1861, hoje consagrado por ter sido o percursor do estilo Fantasia e o ótimo uso da arte gótica em preto e branco. Acima, Dante e Virgílio visitando o Inferno.) 

Simbolizando a razão, Virgílio o acompanha nos círculos infernais e no Purgatório apenas, pois não podia ascender aos Céus por não ser batizado.

(Beatriz e Dante diante do Anjo que guarda o Paraíso.)

No Paraíso, então, Dante é conduzido pelas mãos de Beatriz, sua amada idealizada desde a infância, que representa a teologia.

Mas, embora o leve às almas bem-aventuradas, ela não o coloca em contato direto com Deus. Para essa missão, o poeta conta com a ajuda de São Bernardo, o místico, uma vez que não é possível conhecer Deus apenas por meio da razão.

(São Bernardo levou Dante até a porta do Céu, subindo os degraus à sua frente, Deus o espera para uma conversa difícil...)

Toda a trajetória é contada em cem cantos, sendo que o primeiro funciona como introdução.

Assim, pode-se dizer que cada uma das três partes é formada por 33 cantos.

(Detalhe das gravuras de Gustave Doré para A Divina Comédia, onde vemos o cuidado e o perfeccionismo do pintor ao ilustrar a história.)

São 14.233 versos organizados em tercetos de decassílabos. 

O uso do três tanto no esquema métrico como na composição dos cantos não é acidental.

O número representa, e reforça, a aceitação de um dos principais dogmas cristãos: a crença no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Há também outros significados mais esotéricos, mas podemos começar por esta doutrina cristã, que nada mais significa, que o sistema do mundo espiritual, intermediário e físico.

(O livro é disposto em cenas onde os versos contam, do início ao fim, as muitas paradas do personagem e seus acompanhantes no inferno, purgatório e paraíso.)

Trata-se, em outros termos, da concepção de Deus como unidade e como trindade.

Seu título original era apenas Comédia - a palavra divina foi acrescentada posteriormente por Boccaccio, escritor do século 14.

(Introdução da 1ª edição do Livro a Divina Comédia, onde foi inicialmente chamada de Comédia e, posteriormente, rebatizada de A Divina Comédia por Boccaccio, pois se apaixonou pelo livro e foi reconhecido como um dos maiores especialista da Obra.) 

Segundo o próprio Dante, a obra ganhou esse nome porque nesse gênero (comédia) a história começa dura, áspera, e termina bem, ao contrário da tragédia.


Continua...


0 comentários:

Postar um comentário

Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

Search This Blog