domingo, 31 de agosto de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 2

(O início da jornada de Dante.)

O Livro, prova, inicia-se com o poeta no Inferno, perdido numa selva escura (sua vida de pecado, e termina com a visão da imagem de Deus, "o Amor que move o Sol e as mais estrelas", que lhe é proporcionada no Paraíso. A jornada de Dante se dá, de maneira figurada, aaos 35 anos de idade, "A meio caminho de nossa vida".

O Inferno é a primeira parte da obra. 

É dividido em nove círculos concêntricos, sendo que cada um é reservado a um tipo de pecador. 

(Ilustração do Canto 2.)

Várias veze as personagens não são tratadas de acordo com o pecado que personificam, mas com o sentimento que despertavam em Dante. 

Por exemplo, o florentino Filipo Argenti, era inimigo pessoal do poeta, e por isso, foi posto no quinto círculo, o dos coléricos.

(Encontro de Dante com Latini.)

Por outro lado, no sétimo círculo, na vala dos sodomitas, está seu antigo mestre Brunetto Latini, com quem conversa longa e respeitosamente. 

As ações são sempre utilizadas para enaltecer a ideologia cristã, o que, alguns momentos, ressalva em ataques - hoje polêmicos - a outros credos. 

(O mapa de Bartolomeu, que mostra o Inframundo de Dante.)

O profeta Muhammad (Maomé), por exemplo, pilar do Islã, tem lugar reservado no oitavo círculo, na vala dos causadores de discórdias familiares e dos iniciadores de cismas religiosos (o trecho é suprimido por todos os tradutores muçulmanos).

No primeiro círculo do espaço infernal, o mais largo e próximo a Terra, fica o Limbo, que abriga almas não batizadas e grandes personagens do passado anterior a Cristo, como Homero, Ovídio, Aristóteles, Sócrates e Platão. 

(O encontro de Dante com seu conhecimento.)

A presença desses e outros nomes escolhidos entre literatos, filósofos e cientistas gregos e romanos, além de referência à mitologia da cultura clássica, mostram a erudição de Dante Alighieri, mas indicam também as influências que ele supostamente teria sofrido para compor sua obra. 

Ao longo de todo o livro, o poeta insere vários personagens históricos de acordo com a visão que tinha deles, numa forma de, entre outras coisas, expressar sua visão política - enquanto alguns têm destino venturoso, outros penam eternamente. 


Redenção em Etapas

A concepção do mundo além-túmulo na época do poeta florentino seguia a cosmologia medieval. 

Nosso planeta era representado como um globo, solto e fixo, imóvel no espaço, constituído por um hemisfério superior (setentrional) de superfície sólida, o único habitado, e, o inferior (austral), marinho, tendo unicamente em seu centro a montanha do Purgatório.

(O Mundo na visão medieval.)

A queda de lúcifer, o anjo que se rebelou contra Deus, abriu uma profunda depressão abaixo de Jerusalém - o Inferno. E no lado oposto (superior) levantou a montanha que formava o Purgatório no topo do qual estava o Paraíso Terrestre, e, acima dele, o Paraíso propriamente dito.

No livro, o Purgatório é dividido em terraços que vão se afinando até chegar no Paraíso Terrestre.

(As almas que não se batizaram e, portanto, não podem ascender.)

Na primeira parte da escalada há o ante-Purgatório, reservado aos que se renderam a Deus tardiamente.

Passada a Porta de São Pedro, tem-se acesso aos círculos superiores, divididos de acordo como os sete pecados capitais: orgulho, inveja, cólera, preguiça, avareza, gula e luxúria.

(O Portão de Pedro, somente os puros passam.)

Aqui, os pecadores cumprem penas diversas que os purgarão para serem admitidos ao Paraíso. Vale lembrar que a ideia de Purgatório como um mundo intermediário não existia na Bíblia.

Surgiu na segunda metade do século 12 e foi reconhecida teologicamente pela Igreja em 1274. Ela é consequência da importância atribuída às ações humanas. 



Continua...


sábado, 23 de agosto de 2014

Por que alguns cultos há sacrifícios de animais?

(Sacrifício de 15 mil búfalos em novembro de 2009 no Nepal, este ritual foi extremamente criticado pelos órgãos de defesa dos animais pelo mundo todo.)

Em geral, trata-se de uma oferenda ao divino, como agradecimento ou como prova de fé absoluta. 

Existem diversos tipos de sacrifícios, que variam conforme a religião.

Fundamentalmente, a finalidade do sacrifício é a oferenda. 

(Os sacrifícios que envolvem sangue ou fluídos orgânicos nem sempre necessitam de uma vítima morta. Algumas gotas muitas vezes já são suficientes.)

Mas também há o sacrifício como retribuição por uma graça recebida e como forma de purificação.

O sacrifício animal no Candomblé é realizado como um agradecimento ao santo ou guia.

(O adepto de religiões africanas ao se iniciar nesta religião deve fazer sacrifícios segmentados conforme os Guias lhe são apresentados até receber seu eked. Mas são sacrifícios que se consolidam após anos ou décadas de estudo e dedicação.)

Também é feito em períodos de iniciação, em que uma pessoa vai tornar-se um adepto e ascende em busca do sacerdócio em suas várias etapas internas de aprimoramento, que levam anos e até décadas para serem cumpridas.

Na Bíblia, o sacrifício aparece como prova de obediência e fé.

Abraão, por exemplo, concordou em matar o próprio filho para mostrar sua crença em Deus e um anjo intercedeu antes do desfecho final. 

(Apesar de referenciarmos o cordeiro como um sacrifício comum entre o povo judeu, na verdade ele era um dos animais menos utilizado. O cordeiro só era usado em sacrifícios quando era necessário argumentar diante do povo que a vítima era inocente e não tinha como provar aquilo. Os animais mais utilizados nos sacrifícios rituais judaicos eram pombos, bodes e bois.)

O antropólogo inglês Sir Edward Burnett Tylor, também propôs, em 1871, que o sacrifício animal seria um presente aos deuses e que poderia minimizar a ira dos céus. 

Na Ilíada, Homero relata que o sangue sacrificial alimentava deuses e os espíritos dos mortos. 

(O que poucas pessoas sabem é que todo animal sacrificado precisa ser assado em fogo, e assim purificado e emitida a fumaça que é o verdadeiro propósito do sacrifício. Após isso, o sacerdote e ofertante, repartem o animal e o comem. Nada pode ser guardado, e o restante ou é queimado até virar cinzas, ou é enterrado em vala especial dentro do ambiente de culto.)

Na Torá, Corão e inscrições preservadas dos vários povos escandinavos e celtas, o sangue funcionava como uma transferência de poderes, desde físicos a espirituais, onde o ofertante comungava a pureza, a força e a coragem da vítima sacrificada. 

Seja como for, o sangue, no sacrifício animal sempre foi algo utilizado e verificado nas antigas religiões do mundo, mesmo aquelas monoteístas, como os muçulmanos e judeus. 

(No cristianismo um sacrifício também foi feito, mas o humano. Entretanto, seus adeptos não repetem esse ato entre si, pois acreditam que apenas um foi exigido e suficiente, que foi o de Jesus Cristo.)

Apenas no cristianismo o sacrifício chegou ao seu maior ápice de apelo, na pessoa de Jesus e, também, em seu fim, não necessitando que nenhum de seus seguidores façam a mesma escolha expiatória.

(O sacrifício humano foi praticado entre os povos Maias e Astecas. Alguns povos africanos e índios brasileiros também praticaram este ritual, mas de forma muito comedida e esporádica.)

Os sacrifícios humanos foram uma deturpação desesperada desta prática, identificada em alguns povos isoladamente, sendo um recurso extremo de um pedido de ajuda divina.

O povo asteca no México foi o povo que mais se demorou nesta prática de sacrifício humano, terminando juntamente com sua civilização...


.:.





sábado, 16 de agosto de 2014

A Lírica Redenção Humana - Parte 1


A morte é um caminho que todos os homens irão percorrer. Crente ou descrente dos caminhos pós morte, a verdade é que essa transformação da vida em não-vida, intriga os homens em todos os tempos. Caminhemos, juntamente com Dante, e entender um pouco mais para onde vamos...

Você morreu...

E agora?

Vai para o Inferno ou para o Paraíso?

Há também o purgatório, onde sua alma poderá ficar estacionada aguardando o julgamento divino. 

(Fragmento do filme Nosso Lar, onde o espírito de André Luís, protagonista da história psicografada por Chico Xavier, caminha no Umbral ou, pela doutrina católica, o Purgatório.)

Paraíso, Inferno, ou Purgatório?

Afinal, para onde vai a alma humana?

O caminho do espírito após a morte é um tema antiquíssimo, que acompanha o homem muito antes dele se ver diante da religião.

(O New Grange, uma construção neolítica na Irlanda, é um complexo de salas de passagens intricadas dedicado aos mortos. Em cada nicho, um momento onde o cadáver descansava até se decompor completamente e restar apenas os ossos. Durante uma vez ao ano, no solstício de inverno, o sol iluminava a sala principal, onde todos os ossos eram reunidos para sua viagem final para casa.)

Na Idade Média, porém, época em que o mundo ocidental era completamente dominado pela ideologia católica, um livro ganhou notoriedade por tratar dessa questão: A Divina Comédia, escrita por Dante Alighieri, provavelmente, entre 1306 a 1320, a obra é considerada o ápice da poesia italiana e uma das mais importantes da literatura em todos os tempos. 

(O livro medieval A Divina Comédia foi um dos primeiros best sellers do mundo, com uma tiragem de 500 livros em sua primeira edição, todos vendidos. Outro livro que superou as vendas foi O Martelo das Bruxas com 800 cópias impressas. O mundo espiritual sempre intrigou o ser humano...)

Isso porque possui uma riqueza de significados que extrapolam seu valor - já sublime - como literatura.

Enquanto narra fatos de sua própria vida, de sua cidade natal (Florença) e de seu país, a Itália (que ainda não existia como tal), o poeta traça um perfil acurado dos valores e da filosofia do medievo e faz uma síntese completa da ideologia cristã de queda e redenção. 

(Para os crentes da Idade Média, não havia muitas esperanças, fosse o mundo físico ou metafísico... No mundo palpável as doenças grassavam e; no mundo invisível, o paraíso não existia para todos. Ter um coração puro numa época em que não existia moradia e alimento para todos era difícil...)

E vai além conferindo à sua obra um caráter universal, pois diz respeito ao humano como um todo, e em qualquer época. Em suma: uma ferramenta atemporal para reflexões sobre o homem, a sociedade e o destino.

A Divina Comédia sempre funcionou como um espelho da condição humana individual e coletiva, por isso, foi exaltada por pessoas e épocas tão diversas. 

(Dante Alighieri (1265-1321), escritor, poeta e político italiano. Foi o primeiro poeta italiano considerado como um imortal ou Il Sommo Poeta.)

Ela é a autobiografia espiritual do Poeta e uma biografia atemporal do ser humano. De um lado ela é profundamente medieval, de outro essencialmente eterna.


Peregrinação Infernal

Escrito durante o exílio do autor de Florença, por questões políticas, o livro é o relato da viagem que Dante empreende aos três reinos do outro mundo: O Inferno, o Purgatório e o Paraíso. 

Em sua peregrinação é guiado pelo poeta romano Virgílio, autor de Eneida. 

(Ilustração de Gustave Doré para a publicação francesa de A Divina Comédia numa edição comemorativa de 1861, hoje consagrado por ter sido o percursor do estilo Fantasia e o ótimo uso da arte gótica em preto e branco. Acima, Dante e Virgílio visitando o Inferno.) 

Simbolizando a razão, Virgílio o acompanha nos círculos infernais e no Purgatório apenas, pois não podia ascender aos Céus por não ser batizado.

(Beatriz e Dante diante do Anjo que guarda o Paraíso.)

No Paraíso, então, Dante é conduzido pelas mãos de Beatriz, sua amada idealizada desde a infância, que representa a teologia.

Mas, embora o leve às almas bem-aventuradas, ela não o coloca em contato direto com Deus. Para essa missão, o poeta conta com a ajuda de São Bernardo, o místico, uma vez que não é possível conhecer Deus apenas por meio da razão.

(São Bernardo levou Dante até a porta do Céu, subindo os degraus à sua frente, Deus o espera para uma conversa difícil...)

Toda a trajetória é contada em cem cantos, sendo que o primeiro funciona como introdução.

Assim, pode-se dizer que cada uma das três partes é formada por 33 cantos.

(Detalhe das gravuras de Gustave Doré para A Divina Comédia, onde vemos o cuidado e o perfeccionismo do pintor ao ilustrar a história.)

São 14.233 versos organizados em tercetos de decassílabos. 

O uso do três tanto no esquema métrico como na composição dos cantos não é acidental.

O número representa, e reforça, a aceitação de um dos principais dogmas cristãos: a crença no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Há também outros significados mais esotéricos, mas podemos começar por esta doutrina cristã, que nada mais significa, que o sistema do mundo espiritual, intermediário e físico.

(O livro é disposto em cenas onde os versos contam, do início ao fim, as muitas paradas do personagem e seus acompanhantes no inferno, purgatório e paraíso.)

Trata-se, em outros termos, da concepção de Deus como unidade e como trindade.

Seu título original era apenas Comédia - a palavra divina foi acrescentada posteriormente por Boccaccio, escritor do século 14.

(Introdução da 1ª edição do Livro a Divina Comédia, onde foi inicialmente chamada de Comédia e, posteriormente, rebatizada de A Divina Comédia por Boccaccio, pois se apaixonou pelo livro e foi reconhecido como um dos maiores especialista da Obra.) 

Segundo o próprio Dante, a obra ganhou esse nome porque nesse gênero (comédia) a história começa dura, áspera, e termina bem, ao contrário da tragédia.


Continua...


sábado, 9 de agosto de 2014

Guerras sem Fim - Parte 3


O Caminho do Diálogo

Será que ninguém percebe que é um contrassenso guerrear por motivos religiosos?

A resposta é sim... e não.

As crenças são marcadas por traços de ambiguidades e, nesse sentido, tanto podem favorecer a promoção da vida e do humano quanto ativar a violência. 

(Apesar de um cenário desalentador, já existe movimentos isolados e mundiais pela propagação da tolerância religiosa.)

Infelizmente, temos verificado afirmações aguerridas de autoridades religiosas atemorizadas com o pluralismo espiritual, que reagem com um discurso extremamente violento.

E não é preciso ir muito longe para encontrar casos em que as agressões baseiam-se, exclusivamente, no medo do diálogo. 

No Brasil, por exemplo, algumas denominações neopentecostais pregam uma intolerância radical em relação às crenças afro-brasileiras. Sem mencionar o episódio grotesco, ainda nítido na memória nacional, do pastor que chutou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida diante das câmaras de TV.

E o futuro? 

(Pastor Sérgio Von Helder, chutou a imagem de Nossa Senhora, num ato público de desrespeito, desamor e intolerância ao que é mais precioso ao próximo. Nada tão contraditório ao que ele mesmo pregava... Após a tremenda repercussão dessas imagens, foi afastado. Hoje dirige uma média igreja no interior de São Paulo com mais de 400 membros. Nunca mais ouviu-se falar dele.)

Ninguém sabe... Mas uma coisa é certa: só haverá paz no mundo quando existir paz entre os credos.

Ou as religiões percebem a importância das diferenças, ou estarão contribuindo para um futuro extremamente sombrio para a humanidade. 

Citando o teólogo belga Edward Schilebeeckx, o estudioso completa: 

"A relação autêntica com o Absoluto não é violenta, antes pelo contrário. Ela deperta a coragem inabalável para produzir mais humanidade em todos os setores da vida".

Assim seja...

...antes que seja tarde demais.


O Paixão dos Homens por Deus pelo Mundo a Fora...


Irlanda do Norte

Quem contra quem: Católicos X Protestantes

Por quê?: A população está dividida na religião e na política. De um lado, a maioria protestante briga para que a Irlanda do Norte continue ligada ao Reino Unido. De outro, a minoria católica luta pelo fim do domínio britânico e pela reunificação com a República da Irlanda. 

Apesar de alguns anos esses conflitos estarem sob controle restrito de acordos e monitoria policial e inteligência militar, ainda assim, a cautela é exigida pelos países envolvidos. 

Desde Quando: O conflito tem raízes na Idade Média, mas acirrou-se com o nascimento da República da Irlanda em 1949.

Desdobramentos: A situação piorou após uma manifestação em 1972, quando os católicos foram violentamente reprimidos pela polícia protestante no evento conhecido como Domingo Sangrento. A violência aumentou e o governo britânico retirou a autonomia da Irlanda do Norte, que até então mantinha um parlamento próprio. 

No mesmo período, o IRA (Exército Republicano Irlandês, católico) ampliou suas ações terroristas, causando milhares de mortes. 

Em 1998, foi assinado um acordo de paz que previa maior autonomia da Irlanda do Norte em relação ao governo britânico. Mas em 2002, após acusações que o IRA tinha espiões no governo, o acordo foi rompido.


Nigéria

Quem contra quem: Muçulmanos  X Cristãos

Por quê?: Apesar do país possuir leis que determinam liberdade religiosa, a maioria muçulmana estabeleceu a sharia (lei islâmica) em vários Estados, dificultando a convivência com os cristãos. 

A população é formada por 50% de muçulmanos (mais concentrados no norte do país), 40% de cristãos (mais ao sul) e 10% que seguem religiões tribais. 

Mas as precárias condições de vida respondem pela maior parte das tensões religiosas: embora seja o principal exportador de petróleo da África, a maioria dos mais de 100 milhões de habitantes vive na miséria. 

Desde quando: 1982

Desdobramentos: A Anistia Internacional estima em 5.000 o número de mortes provocados por conflitos entre cristãos e muçulmanos no país. Apenas em 2001, 1.000 pessoas morreram numa região muito disputada por fazendeiros do solo. 

Um problema que agrava a situação no país é a existência de muitas armas ilegais - estima-se que haja mais de 8 milhões de unidades - em poder da população civil e das guerrilhas locais. 

Os conflitos até o momento permanecem e são motivos de atenção para a mídia mundial.


Sudão

Quem contra quem: Muçulmanos X Cristãos

Por quê?: A população do país é composta de 70% de muçulmanos (localizados principalmente na região norte) e 5% de Cristãos (mais ao sul) - 25% seguem crenças tribais. 

A maioria cristã sofre perseguições de grupos como a Frente Islâmica Nacional, que, entre outras atrocidades, é denunciada por promover a venda de escravos cristãos e comerciantes árabes do norte do país. 

Desde quando: 1956

Desdobramentos: No início da década de 90, os islâmicos assumiram o poder e a sharia foi estabelecida em boa parte do país. Os cristãos do sul do país protestaram e, ao serem ignorados, partiram para o conflito armado. 

Desde 2004, os choques assumiram a proporção de um genocídio, como no caso das milícias muçulmanas que saqueiam e jogam bombas em comunidades cristãs. 

Em meios às perseguições religiosas, o país enfrenta um processo de limpeza étnica que já deixou centenas de milhares de mortos e outros tantos refugiados em países vizinhos. 

Após 10 anos dos grandes confrontamentos nada mudou. A mídia mundial ainda monitora o país.




Caxemira

Quem contra quem: Muçulmanos X Hindus

Por quê?: Com a independência do subcontinente indiano, em 1947, a região da Caxemira foi incorporada à Índia, onde prevalece o Hinduísmo. 

O Paquistão, com maioria islâmica, contrariado, iniciou os combates. Até hoje, os dois países brigam pelo controle da região, que tem 70% de muçulmanos. 

Desde quando: 1947

Desdobramentos: A região desperta os interesses da Índia, do Paquistão e da China, pois é rica em gás natural e petróleo. 

A Índia controla dois terços do território e acusa o Paquistão de armar e treinar guerrilheiros separatistas muçulmanos. Mais de 30 mil pessoas morreram na Caxemira indiana desde que o movimento separatista começou a atuar na região. Além disso, há grupos étnicos locais que estão ameaçados de desaparecer. 

Na década de 90, o movimento armado pela independência da Caxemira aumentou e os oponentes investiram enormes quantias na corrida armamentista. 

Os testes nucleares realizados pelos dois países preocupam o mundo inteiro até hoje. 


Sri Lanka

Quem contra quem: Budistas X Hindus

Por quê?: A maioria tâmil, formada por hindus, luta por autonomia na região norte do país, contrariando os budistas (cingaleses),que representam 70% da população e brigam para manter a divisão política atual.

Desde quando: 1956

Desdobramentos: Em 1983, os tâmeis pegaram em armas para reivindicar maior participação políticano governo e mataram soldados cingaleses. Como resposta, centenas de tâmeis foram mortos pela população em várias cidades.

Nasceram então os Tigres, guerrilha separatista tâmil. Tentativas frustradas de acordos de paz, muitas mortes e atentados terroristas ocorreram nos anos seguintes. 

Em 1993, o presidente do país foi assassinado por um terrorista de 14 anos. Dois anos depois, foi firmado um cessar-fogo, rompido logo em seguida. Nos anos seguintes, vários atentados provocaram centenas de mortes, até que um novo acordo de paz foi assinado em 2002.

Mas as guerrilhas tâmeis continuam em ação.  


Indonésia

Quem contra quem: Muçulmanos X Cristãos

Por quê?: O país, formado por várias ilhas, têm um contingente enorme de muçulmanos (88% dos mais de 200 milhões de habitantes) e sofre com uma série de conflitos contra a minoria cristã (8% da população), especialmente em Java e Sumatra. 

Desde quando: 1970

Desdobramentos: Apesar da maioria muçulmana, em muitas ilhas há uma crescente cristianização do país por católicos e protestantes. A lei defende a liberdade religiosa desde que os cultos não interfiram na política. 

Na prática, no entanto, o governo age no sentido de impedir o crescimento do Cristianismo, com gestos como o financiamento da construção de novas mesquistas. 

Na ilha de Sumatra, um grupo radical tenta formar um Estado muçulmano independente.


Fim.:.



Referências Bibliográficas

Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo, de Karen Armstrong, ed. Companhia das Letras, 2001.

A Violência e o Sagrado, de René Girard, ed. Paz e Terra, 1998.




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