Desvendar os mistérios de um
espírito tão complexo como o de Deus é tarefa impossível para meros mortais.
Mas as pegadas deixadas pelo Espírito Santo nas Sagradas Escrituras e na
história do Cristianismo oferecem algumas pistas.
No palco da eternidade, um
misterioso ator entra em cena.
Ninguém sabe seu nome, de onde veio
nem o que pretende. Seu espetáculo pode ser alegre ou dramático, épico ou
cotidiano, talvez uma mistura de todos os gêneros.
O ator também não mostra seu rosto.
Prefere usar máscaras, revelando-se por meio delas. Ora atua como um pai, que
castiga e protege; ora transforma-se num espírito impetuoso e acolhedor. Este
terceiro personagem chama-se Espírito Santo.
O exemplo do teatro grego ajuda a
explicar um complicado dogma do Cristianismo, a Santíssima Trindade, da qual
faz parte o Espírito Santo. Sabe-se que, ao lado do Pai e do Filho, o Espírito
Santo compõe o Deus cristã.
(Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo)
Essas três pessoas, embora distintas
e dotadas de missões diferentes, constituem uma única essência. Ou seja, são
como três máscaras (persona, no latim, significa máscara ou personagem) usadas
por um único Deus, quando ele quer se manifestar.
(Ancião dos Dias, representação de Deus Pai apresentada no livro do profeta Daniel)
O Deus Pai e o Deus Filho
todos conhecem pois se revelaram na História, orientando e salvando seus fiéis.
Mas o que dizer do Espírito Santo?
(Profeta Samuel ungindo Davi, aqui, uma das poucas menções do Espírito Santo no Velho Testamento bíblico que é representado não por uma pomba, mas pelo óleo sacerdotal de unção)
O Espírito Santo é o amor de Deus
que se comunica. Uma pessoa escondida, muitas vezes desconhecida, mas que se
revela em sua ação. Entre suas incontáveis ações, ele protegeu guerreiros em
campos de batalha, guiou reis e ungiu profetas a falarem em nome de Deus.
(Os 40 mártires de Sebaste, soldados do império romano que morreram por defender o cristianismo e por não aceitar os deuses romanos)
Também inspirou os apóstolos de
Jesus a difundirem o Cristianismo e inflamou corações nos mártires cristãos,
que aceitaram morrer em nome de sua crença.
Com um papel tão honroso nas
histórias da fé, é difícil entender por que o Espírito Santo muitas vezes ficou
esquecido, não desfrutando de toda a fama nem da adoração que merece.
(A Terceira Pessoa da Trindade seria o terceiro em poder?)
A resposta pode estar na posição que
ele ocupa na Trindade – de terceira pessoa – e na maneira como ela foi
interpretada.
A configuração simbólica em que se
coloca o Espírito Santo como “terceiro” tinha originalmente o sentido de “o
outro”, mas a tendência da cultura de organizar hierarquias de forma piramidal
acabou distorcendo esse simbolismo de terceiro para um juízo de valor, como
sendo menos importante que as outras duas pessoas da Trindade.
(O Fogo no Altar nas preparações ritualísticas judaicas era uma representação clara do poder e presença de um Espírito que não era o Deus Jeová, mas uma outra presença misteriosa que no Novo Testamento ganha status de uma Pessoa distinta)
O jeito do Espírito Santo se
apresentar também pode ter contribuído para que ele ocupasse uma posição mais
discreta na fé cristã. Afinal, trata-se de um espírito, sem corpo e rosto
humanos, fugaz e sutil, impossível de descrever.
(O vento também é descrito como uma presença divina distinta de Deus em uma ocasião com o profeta Elias, e Jesus ensina que o Espírito Santo é uma Força Divina livre, que nada O prende, Ele vai e vem, despertando a consciência daqueles que desejarem conhecer a verdade e Deus)
Segundo as Escrituras, por ser
avesso a formas fixas, ele se traveste de vento, pomba, sombra e fogo,
revelando uma certa semelhança com estes. Dizem que é imprevisível como as
chamas e que preza a liberdade tal qual um pássaro. Mas, embora não revele sua
forma, está sempre presente.
(Os 7 principais dons do Espírito Santo)
Acolhe os que dele precisam, como
uma sombra em dias ensolarados, transmite sabedoria, discernimento e amor. E
estimula as pessoas a agirem e a lutarem por causas nobres.
Há quem diga que foi o Espírito
Santo quem inspirou os homens a escreverem a Bíblia.
(Torá)
Verdade ou não, o fato é que o Livro
Sagrado está repleto de referências a ele. Sua primeira aparição é no mito da criação,
narrado no Gênesis.
(No hebraico a palavra vento era também usada para movimento, ou seja, foi quando os elementos se movimentaram para a formação do Universo)
Ele é o vento impetuoso que sopra sobre as águas enquanto o
mundo está para nascer (Gênesis 1:2) e o sopro que Deus infunde nas narinas de
Adão (Gn 2:7) para dar vida ao primeiro homem.
(Adão e o toque de Deus, representação de Michelangelo)
As palavras vento e sopro vêm do
hebraico ruah, que também significa “furacão” ou “ar em movimento”, e
geralmente estão associadas ao Espírito de Deus (ele é chamado assim no Antigo
Testamento).
Na tradição grega, ruah foi
traduzido por pneuma, dando uma ideia de vento que gira. E, no latim,
virou anima, que sugere animação, alma, espírito. Por conta desse sentido
original, o Espírito de Deus está relacionado às ideias de criação, movimento,
força e dinamismo.
(O Espírito Santo, uma presença sentida mas não vista; percebida, mas não palpável)
A imagem do vento é interessante
porque a gente sabe que ele existe, mas não consegue ver. E como um furacão,
ele não segue nossa lógica nem a nossa compreensão.
Concluída a criação, o Espírito de
Deus não parou mais de soprar e participou ativamente da história do povo de
Israel.
Descia sobre os profetas, como
Isaías e Elias, e os inspirava a discursar sobre a fé e os desmandos do poder.
Interferia nas ações dos líderes, dando-lhes sabedoria e ajudando-os em suas
conquistas.
(Otoniel, Juíz de Israel, que liderou o povo por 40 anos. Era uma espécie de ofício que agregava liderança militar, espiritual e social nos primeiros 245 anos após a conquista dos territórios de Canaã)
O Espírito de Javé esteve sobre
Otoniel, que foi juiz em Israel, narra o livro bíblico Juízes,
utilizando uma fórmula que se repete ao longo das Escrituras.
(Sansão, o vigésimo juiz em Israel que julgou por 20 anos)
Já o forte Sansão também foi
“invadido pelo Espírito de Deus”, conseguindo, após ter sido feito prisioneiro,
quebrar as cordas que o amarravam como se fossem de “fio de linho queimado”.
(A Sombra no deserto que abrigava os judeus em sua peregrinação)
Reis e sacerdotes eram ungidos pela
mesma energia divina. Trata-se de uma força que envolve e dinamiza a pessoa que
a faz agir em nome de algo. E se a ocasião pedia, o Espírito de Deus mudava de
forma a melhor guiar os desígnios do
povo.
(A sombra que paira sobre Maria, mãe de Jesus, fertilizando seu ventre)
No livro do Êxodo, ele é a sombra
que protege os hebreus na caminhada pelo deserto. O Espírito como sombra
reaparece nos relatos do nascimento de Jesus.
Continua...