Temida pelos muçulmanos, idolatrada
pelos cristãos e invejada por reis e nobres, a Ordem dos Cavaleiros do Templo
uniu pela primeira vez as duas maiores vocações dos europeus medievais: as
armas e a fé.
(Os Cruzados em Ascalon)
Fazia pelo menos, sete meses que os
cruzados tentavam invadir a fortaleza muçulmana de Ascalon, encravada no
litoral sul da Palestina. Na noite de 15 de agosto de 1153, a oportunidade
finalmente surgiu.
(A Muralha de Ascalon, atualmente)
Uma muralha desabou, abrindo uma
passagem. Por essa fenda entrou, alucinadamente, um grupo de 40 cavaleiros
vestidos de branco, com uma cruz vermelha estampada no peito, liderados por
Bernard de Tremèlày, o grão-mestre da temida Ordem Templária.
(Símbolo da Ordem dos Templários)
Foi aí que algo inusitado aconteceu.
Com exceção dos templários, nenhum dos outros sitiantes avançou pela brecha. Em
poucos minutos, os árabes restabeleceram as muralhas. Encurralados dentro da
cidade, os cavaleiros do Templo foram trucidados. Na manhã seguinte, seus
corpos decapitados estavam pendurados nos muros.
Ascalon caiu quatro dias depois, em
19 de agosto. O martírio dos templário, entretanto, rendeu muitas histórias.
Enquanto sua bravura suicida
alimentou ainda mais fantasia em torno daquela ordem de monges guerreiros,
outros viram naquele ato não coragem, mas cobiça.
(Guilherme de Tiro)
O cronista medieval Guilheme de
Tiro, por exemplo, escreveu em seu relato Historia Rerum in Partibus
Transmarinis Gestarum (História dos Feitos Realizados no Além-Mar), datado
do final do século 12, que o próprio grão-mestre havia ordenado a seus soldados
que não deixassem mais ninguém entrar pela brecha, para que apenas a eles
coubesse a glória de tomar a cidade – além da melhor parte do saque.
(As Crônicas Medievais das Cruzadas)
Muito do mito acerca dos templários
deriva do forte sentimento ambíguo que eles geravam. Por um lado, eram visto
como a encarnação do mais alto ideal de sua época, a figura do nobre cavaleiro
que devotava sua vida a Cristo combatendo os infiéis na Terra Santa.
Por outro lado, eram tidos como
arrogantes e imensamente ricos, graças aos privilégios e isenções concedidos a
eles por diversos papas.
Origens da Ordem
Nada disso, porém, passou pela
cabeça do francês Hugo de Payns, fundador e primeiro grão-mestre da cavalaria.
(Hugo Payns, Fundador da Ordem do Templo)
Afinal, ele jamais imaginaria que,
em poucas décadas, o que havia começado como um juramento feito entre nove
amigos acabaria se transformando na ordem militar mais poderosa e influente da
época das Cruzadas.
(Nobres da Primeira Cruzada em Jerusalém)
Hugo de Payns era um cavaleiro da
pequena nobreza. Em 1114, foi, com uma comitiva de nobres, prestar seus
serviços à fé na Terra Santa. Fazia apenas quinze anos que os cavaleiros da
Primeira Cruzada tinham conquistado Jerusalém em 1099 e criado quatro pequenos
reinos cristãos no litoral da Palestina – o principado de Antioquia, o condado
de Trípoli, o condado de Edessa e o reino de Jerusalém.
(Fortaleza do antigo Condado de Edessa, 1114)
Este último era governado por
Godofredo de Bouillon, que não possuía mais do que 300 cavaleiros e mil
soldados de infantaria para proteger todo o reino.
(Godofredo de Boullion, estátua em Bruxelas)
Hugo logo percebeu quão frágeis eram
aqueles reinos recém-criados, ao constatar a falta de proteção dada aos
peregrinos cristãos que, ao chegar à Terra Santa, eram vítimas de inúmeros
ladrões e bandoleiros.
Não havia quem os defendesse. A
primeira cruzada, promovida pelo papa Urbano II, havia direcionado toda a
belicosidade dos cavaleiros francos em prol de uma causa santa. Após conquistar
Jerusalém e saquear Antioquia, Edessa e Trípoli, boa parte dos nobres julgou
cumprido seu dever para com Deus, voltando para seus feudos na Europa.
Assim, em 1118, Hugo e oito
cavaleiros decidiram unir aquilo que sabiam fazer – lutar – com o forte ideal
religioso de proteger os peregrinos e guardar o Santo Sepulcro.
Continua...
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