domingo, 2 de junho de 2013

Força Negra Subestimada - Parte 3


Outras razões para a atração exercida pelo Pentecostalismo sobre os negros foram a possibilidade de uma vida material melhor, assegurada pela teologia da Prosperidade, e a valorização dos líderes naturais, que podem destacar-se sem exigências de escolaridade ou critérios meritórios. 


O indivíduo pode ser um gari ou um camelô e, na igreja, ser um diácono. Enquanto está no templo, sente-se extremamente importante e valorizado.



Apesar da identificação com as denominações evangélicas, nem lá os negros estão livres do preconceito. Nas igrejas pentecostais, os líderes são escassos e a discussão do racismo não ocorre - nenhuma delas têm pastorais ou órgãos oficiais que cuidem do assunto.


Na igreja evangélica acredita-se no mito da democracia racial. Por causa disso, a discussão sobre o racismo nem existe. A mobilização negra que existe, sai das bases, dos pastores, das comunidades, mas nunca dos líderes. Ainda é uma minoria de pessoas que participa do movimento negro, mas ele está crescendo.


A primeira Semana Nacional Evangélica de Consciência Negra, que ocorreu no fim de novembro de 2004, foi uma das tentativas de impulsionar as discussões sobre o papel negro na religião. Mas já se completam 9 semanas e em 19 de novembro de 2012 em Salvador, uma grande celebração entre os evangélicos mobilizou a cidade, que sempre a cada ano, conquista mais e mais adeptos  para esta causa.


Nas igrejas neopentecostais, porém, a identificação com os negros não se repete, pelo contrário: ícones afro costumam ser perseguidos. Em Salvador, por exemplo, já existem a "Capoeira do Senhor" e o "Acarajé do Senhor", criado para livrar os símbolos africanos de qualquer resquício de Candomblé (afinal, o acarajé surgiu como uma comida dedicada aos orixás).



Fé Multicor

As propostas para vencer o preconceito racial dentro dos templos começam a pipocar aqui e ali. Dentro do Cristianismo, há uma luta incipiente para que a religião contemple os valores e as tradições do povo negro.


O racismo existe na sociedade, nas igrejas, em todo lugar. Os Metodistas são um dos segmentos que lutam para introduzir a teologia afro-brasileira. Essa nova teologia prevê a valorização da cultura afro e de celebrações que agreguem aspectos da tradição negra.

O pastor Marco Davi, contudo, defende uma ação ainda mais incisiva: a aplicação de políticas afirmativas também dentro da religião, com cotas de cargos de chefia das igrejas reservadas aos negros.


Deve-se pensar numa elite religiosa cada vez mais heterogênea, com uma cara mais brasileira, onde existam pessoas de várias origens. É importante produzir referenciais de pessoas negras em setores como a mídia e religião. 

A busca, no fim das conta, é para que não se perca de vista o sentido original da palavra religião: religar, reunir - tanto o homem ao Divino quanto os indivíduos entre si. 

Afinal, diante do Sagrado, a alma não tem cor nem raça. 


O Outro Lado do Preconceito

Se as tradições afro ainda são vistas com reservas nas igrejas cristãs, a contrapartida é verdadeira para os fiéis brancos que frequentam as religiões de matriz africana.


A presença branca dentro do Candomblé, quando surgiu, foi questionada e diversos terreiros não queriam aceitá-la. 

Muitos afrodescendentes alegavam que o Candomblé era uma religião de linhagens familiares, em que a ancestralidade era determinante. Portanto, os brancos não seriam bem-vindos.

Com o tempo isso mudou, porque as divindades se tornaram passíveis de serem incorporadas por qualquer um. Elas ficaram universais. Mesmo com a abertura dos terreiros, a contenda pela liderança ocorre de forma discreta.


Existe uma disputa por legitimidade que faz com que muitos devotos negros comecem a reivindicar um lugar específico para o negro dentro da religião. É uma briga por espaço.


A entrada dos brancos no Candomblé aconteceu de forma mais maciça nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, enquanto os terreiros do Nordeste permanecem como reduto negro. No sudoeste, a adesão de uma classe média branca fez com que se produzisse muitas lideranças não-negras no Candomblé. 


Por Que Há Poucos Judeus Negros?

Com 2.687 negros - 2% do total de fiéis - o Judaísmo é a religião com a menor proporção de negros no Brasil. 


Os dados refletem a presença diminuta dos judeus também na África. De acordo com o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista, são menos de cem mil judeus em todo o continente africano, sendo que 90% deles estão na África do Sul.


Os poucos judeus negros que lá restaram - de quem provavelmente os negros brasileiros praticantes do Judaísmo descendem - são os falashas, que habitam o nordeste da região, na Etiópia. 



Ninguém sabe ao certo de onde vieram esses judeus negros. O nome falasha deriva de uma antiga palavra etíope, que significa "estrangeiro" ou "exilado". Refere-se àqueles que foram banidos da Terra Santa, conta Sobel. 

Acredita-se que a comunidade descenda da tribo de Dan (uma das 12 tribos de Israel), mas há versões que afirmam serem os falashas herdeiros do rei Salomão e da rainha de Sabá. 



Mesmo isolados, eles praticavam com rigor os costumes judaicos: faziam a dieta kosher e respeitavam o Shabat e os feriados religiosos. A fome, a seca e as doenças, além da dominação que sofreram de outros povos, como os romanos e muçulmanos, tornou os falashas uma comunidade em extinção. 



A pobreza do povo ajudou a explicar o pequeno número de judeus negros no Brasil. Os descendentes dos falashas eram tão pobres que não tinham condições de migrar para outros países. Além disso, os judeus negros convertidos no Brasil também são muito poucos. 


Partilha

Com sua morte, Cristo deixou uma lição de amor incondicional, que nem sempre foi seguida. Até o século 19, por exemplo, as igrejas cristãs não admitiam negros como fiéis. 



Muitos líderes religiosos ainda recorrem a passagens bíblicas para justificar o conceito duvidoso de que manifestações e rituais da cultura afro-brasileira são "obras do demônio". 

Em números absolutos, o Candomblé perdeu muitos fiéis desde que se enraizou no Brasil, mas disseminou sua liturgia animada para outras crenças.


 Apenas 2% dos judeus brasileiros são de cor preta ou parda, resultado do baixo número de conversões. Mesmo assim, mantém viva a tradição dos falashas,os judeus africanos.


Há 55 milhões de católicos negros no país. A presença maciça não se reflete nas lideranças - não existe nenhum arcebispo negro brasileiro, o posto mais alto da hierarquia.


O maior símbolo da religiosidade popular católica no país é uma santa negra. A figura de Nossa Senhora Aparecida não conseguiu, ainda, inibir o racismo nas igrejas. 


Fim.:.



Referências Bibliográficas

A Religião mais Negra do Brasil, de Marco Davi de Oliveira, ed. Mundo Cristão, 2004.

Site 

www.fale.org.br





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