sábado, 12 de novembro de 2016

Do Berço ao Túmulo: Rituais Eternos... - Parte 2

(Um dos filmes mais legais que eu já assisti, baseado em fatos reais. Conta como foi difícil para as mulheres judias saírem do anonimato de suas sinagogas e cultura, e serem mulheres independentes e profissionais. Esse filme ainda conta o drama de uma mulher que desejava ser uma Rabina, coisa comum hoje em dia, mas ainda considerado um tabu. Acima, cenas do filme Yentl com a participação maravilhosa de Barbra Streinsand, com uma trilha musical marcante e cativante, de 1983.) 

Muitas dessas cerimônias citadas na matéria anterior, porém, são restritas aos homens, resquício do tempo em que uma sociedade patriarcal ditava os costumes. 

Na verdade, a lei judaica isenta as mulheres da observância de alguns mandamentos, em especial aqueles ligados à sinagoga. Por isso, os rituais mais propalados acabam sendo os masculinos. 

Contudo, isenção não é proibição.

(A mulher sempre foi um elemento que buscou a espiritualidade de seu povo, independentemente, da crença ou cultura. A mulher judia não era diferente: Ela podia não saber ler, mas recitava de cor muitos trechos da Torá, pois ela era o primeiro contato religioso da família, e todo o ensinamento circulava em torno dela e de seus exemplos. Acima, um dos momentos mais bonitos e marcantes da Bíblia, onde mostra a história de Ana, mãe do grande profeta Samuel, que buscava a presença de Iavé, e durante uma de suas visitas ao Tabernáculo ganhou uma profecia por sua insistência espiritual, em 1º Livro do Profeta Samuel 1: 1-21.)

A mulher, ainda, que isenta, pode tomar para si, voluntariamente, tais obrigações. Isso a elevaria à mesma categoria dos homens, tornando possível a participação igualitária na sinagoga.

Segundo a tradição, o espaço reservado às mulheres é a casa, sem que essa atribuição tenha qualquer caráter pejorativo. Afinal, há importantes rituais domésticos no Judaísmo, como o Shabat, o dia do descanso semanal que começa no anoitecer da sexta-feira.


(Numa primeira vista, a vida da mulher judia é cheia de obrigações e pode parecer opressiva, mas não é bem assim: Cada data ou celebração é um ritual, que só a mulher pode conduzir. Isso é Cabala: A mulher tem a energia para manipular o físico; o homem tem a energia para manipular o mental. Por isso, o homem judeu se isenta de tocar na alimentação ou utensílios domésticos de um lar judeu. Acima, episódio do canal Judaísmo da Unidade para Mulheres, de 2014.) 

Nele, a participação feminina é essencial. 

Por estar tradicionalmente ligada ao cuidado da casa e dos filhos, a mulher não precisa se prender a horários e objetos, nem usar algo para marcar sua espiritualidade. 

Diferenças à parte, enquanto os ritos revigoram a fé dos praticantes, o próprio Judaísmo se renova na vivência de cada fiel. 

Depois do memorável dia em que se tornou adulto diante da comunidade, o prof. Joseph Goldberg, hoje com 66 anos, passou por outras várias cerimônias: casou-se, teve filhos e netos, enterrou a mãe. 

(Acima, Dna. Nadine, esposa do professor Goldberg, cuidando de seu invejável e admirável jardim.)

Esses rituais materializam ideias e concretizam emoções, ou seja, traduzem a religião para a prática. É na caminhada espiritual de Nadine e Joseph, e dos outros milhões de judeus, que a história permanece viva. 


A Inspiração do Nome

Quando uma criança nasce, os judeus cumprimentam os pais com desejos de Mazal Tov, que quer dizer "Boa Sorte". 

A palavra mazal refere-se às constelações do Zodíaco, algo parecido ao que o escritor e teósofo J.R.R. Tolkien imprimiu em sua obra com o diálogo entre seus personagens: "Uma estrela brilhou no momento de nosso encontro", em O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel.

Mas que estrela seria essa, e qual a importância da mesma na cultura judaica? Isso são assuntos velados, que nenhum judeu ou cabalista conversará abertamente. Esse estudo é um tipo de astrologia cabalista, que o Rabino da sinagoga local efetuará as devidas pesquisas para identificar as energias dessa "chegada" para a família e comunidade judaica.

"Esperamos que um bom movimento lá nos céus traga sorte à criança."
Prof. Joseph Goldberg


(Motivo de grande controvérsia entre estudiosos, os textos dos evangelhos bíblicos não tinham o interesse de identificar a estrela no momento do nascimento de Jesus, mas sim, registrar um hábito exercido pelos judeus, que mostrava a energia no dia que Jesus nasceu foi benéfica e pontuada no céu, como deve ser. Isso é Cabala: "Os Céus declaram as obras de Suas Mãos", Salmo 19, confirmando a vontade divina pelo nascimento da criança.)

No nascimento de cada um de seus filhos, o prof. Goldberg foi à sinagoga, durante a leitura da Torá, declarar sua felicidade pelo presente recebido dos céus e manifestar, perante a comunidade, o compromisso de transmitir aos filhos a tradição judaica. 

Nessa cerimônia, chamada Simchat Bat, ocorre a revelação do nome da criança, mantido até então em segredo pelos pais. 

Apenas o Prof. Goldberg e sua a esposa Nadine, sabiam, junto com seu Rabi como cada filho iria se chamar e mais ninguém. 

Todo nome, para um judeu é inspirado por um anjo, é descritivo, profético e revelador, porque encerra a própria essência da alma, segundo a tradição do Talmude. 

(Um dos momentos mais importantes de uma família judia: a escolha do nome de seus filhos. Um verdadeiro judeu irá até sua sinagoga local e o Rabino fará um estudo numerológico, cabalístico, astrológico e familiar para efetuar precisamente essa escolha. Após orações e jejuns, os pais receberão a indicação divina para o nome que é a Alma da própria criança, que agora, será chamada por Iavé após sua morte, para que ela siga sua voz no momento de sua passagem.) 

Alma, em hebraico é neschmá, cujas letras centrais formam a palavra shém, que significa nome. 

"Acreditamos na origem divina do mundo por meio da Palavra."
Dona Nadine, esposa do prof. Goldberg 

Primeiro vem o Verbo, é Ele quem Cria.

Para não deixar Deus em segundo plano, primeiro o prof. Goldberg "subiu à Torá", que quer dizer, orou a Iavé e compartilhou com Ele o nome de seus filhos, dando o privilégio de Adonai ser o primeiro a saber antes da comunidade.


O Pacto de Abraão

Ao dar a luz seu primeiro filho, Dna. Nadine perguntou:

"É um menino? Meu pai vai ficar contente."

De fato, o avô de Judá Goldberg ficou satisfeito e também orgulhoso por ter sido escolhido para sândec, uma espécie de padrinho no Brit Milah - pacto de circuncisão, em hebraico.


(Circuncisão de Judá Goldberg na presença de seu avô Avraham Zadac.)

Levar um menino ao Brit é sentir-se um pouco como o patriarca Abraão: o pai judeu revive a aliança com o Criador ao declarar numa obediente profissão de fé: "Eu acredito, reconheço e entrego".

O Brit Milah é uma declaração de Judaísmo marcada sobre o pênis, o órgão reprodutor das gerações futuras; é uma marca, feita na carne, de adesão à fé gravada na alma dos judeus.


(A circuncisão nada mais é do que um pacto de sangue entre Deus e seu seguidor. Acima, como essa cirurgia ocorre e suas aplicações.)

O ritual se realiza no oitavo dia do nascimento, tempo estabelecido por Deus a Abraão para que o patriarca circundasse seu filho Isaac:

"Abraão circuncidou a seu filho Isaque, quando este era de oito dias, segundo Deus lhe havia ordenado.

"Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. A minha aliança, porém, estabelecê-la-ei com Isaque, o qual Sara te dará à luz, neste mesmo tempo, daqui um ano.

"Tinha Abraão noventa e nove anos de idade, quando foi circuncidado na carne de seu prepúcio

"Tinha Abraão cem anos, quando lhe nasceu Isaque, seu filho."
Livro de Gênesis 21:4,5 e 17: 13, 21, 24

A Circuncisão só pode ser efetuada na presença de um Mohel, a autoridade religiosa perita na retirada do prepúcio, e só será adiada se ele, por razões de saúde da criança, indique a ocorrência. 

A circuncisão é a marca da singularidade judaica, em que a força e o peso da história ficam evidentes.

Baruch Hah-Bah, (trad. Bem-vindo seja o que chega!), proclama em alta voz o mohel ao receber o menino e colocá-lo sobre a cadeira do profeta Elias, cuja presença é invocada para testemunhar que os filhos de Israel estão cumprindo o pacto de Abraão. 

Em seguida, o mohel entrega o filho ao pai, que o deita nos braços do sândec, a quem cabe a tarefa de segurar e acalmar o menino. 

A operação é, então, realizada.

O pai da criança recita uma bênção, agradecendo a Deus pelo ingresso do filho no pacto judaico, e todos pedem em voz alta que a criança chegue à Torá, à Chupá (o casamento) e às boas obras. 

O mohel proclama, então, o nome do menino. Somente nesse momento a família e toda a comunidade judaica tem conhecimento do nome escolhido da criança que foi mantido em sigiloso segredo por meses...

O clima é de comemoração!

(Um autêntico Brit Milah...)

"Aproveitamos que o céu está em festa para fazer nossos pedidos pessoais."
Prof. Goldberg

Os lábios da criança são molhados com um pouquinho de vinho e ele se acalma. 

E a cerimônia se encerra. 



Continua...



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