sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Do Berço ao Túmulo: Rituais Eternos... - Parte 1

(Prof. Goldberg, Doutor em Estudos Históricos das Imigrações Europeias para o Brasil, é um dos mais queridos e animados professores dos departamentos de História e Filosofia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, chegando em nossa cidade em 2003, trouxe consigo não apenas seu conhecimento acadêmico, mas também sua filosofia judaica, e que surpreende a todos nós ensinando como o Deus Iavé está em cada momento na vida das sociedades humanas e em suas transformações...) 

Quando Joseph Goldberg completou 13 anos, este paulistano ganhou calças compridas, pretas, especiais, de um corte próprio e característico.

(Bar Mitzvá de Nathan Tevel realizado em Jerusalém, em 2015, participante da Sinagoga Keter Menachem. Quanto mais proeminente é uma família judaica, mais ela se esforçará para que os rituais próprios de sua cultura sejam celebrados em Israel. Isso indica para seus adeptos compromisso, fervor e respeito, mas também um tipo de elitismo, que eles negam, contudo é existente...)

O presente, simbólico, mostrava que ele deixara de ser um menino e virara um homem. Enquanto seu pai o ajudava a amarrar no braço esquerdo as tiras de couro do tefelin, como é chamada a caixa que guarda os pergaminhos com as passagens bíblicas, Joseph (pronuncia-se Iosef) relembrava o trecho da Torá - o livro da revelação divina, os 5 primeiros livros da Bíblia cristã - que cantaria em hebraico para uma atenta plateia. 

(Bar Mitzvá do prof. Joseph Goldberg em 1954, em São Paulo. Ao lado pai e mãe apresentando-o à Sinagoga local.)

Havia chegado a hora em que se tornaria um bar mitzvá, um filho do mandamento... 

O ritual de passagem para o mundo adulto, segundo o Judaísmo, estava prestes a se cumprir. A partir de agora, até o final da vida de Joseph Goldberg ele será um cumpridor severo e assíduo da Torá, propagando-a aonde for e no que estiver fazendo. Ele deve sempre se lembrar que Iavé está perto dele e que o vigia, e o guarda, e que ele é uma célula de um grande corpo, que é o próprio corpo de Jacó ou Israel, neto de Abraão e pai da Promessa de que um dia, sua família teria uma terra para repousar em paz seus pés e familiares... 

(Yarmadin Goldberg, pai de Joseph Goldberg em seu casamento em Sorrento, Itália, antes de sua migração refugiando-se no Brasil da perseguição da 2ª Guerra Mundial.)

Ao longo de 4 mil anos de história, os judeus do mundo inteiro e de todas as idades vêm passando pelos mesmos rituais, do nascimento até a morte.

As cerimônias do Brit Milah (circuncisão), do Opshernish (primeiro corte de cabelo) e do Kidushin (noivado), entre outras, celebram etapas decisivas da vida do fiel, mas também revivem os ensinamentos da Torá, preservando assim a identidade cultural e religiosa do povo judeu. 

(Sarah Goldberg, mãe de Joseph Goldberg. A mulher é um elemento extremamente importante na cultura judaica e na cabala mística, pois vem dela a matriz espiritual, sanguínea e herança cultural desse povo. Na cultura judaica, um judeu só é um judeu, se sua mãe for judia também.)

"Para contar uma história de fé tão longa, as palavras são insuficientes..." - ensina o professor Goldberg durante suas aulas. 

Daí o caráter cerimonial da religião. No gesto do adolescente que carrega as tiras do tefilin ou do noivo que quebra um copo no chão, passado, presente e futuro se entrelaçam, história em renovação se misturam.

(As primeiras reuniões de famílias judias que chegavam da Europa para o Brasil, onde núcleos inteiros não sabiam nada sobre o novo país, nem mesmo falar uma única palavra em português. As Sinagogas cumpriam seu papel, mais do que nunca, de interconectar e amparar os judeus refugiados. Acima, café da manhã de uma das sinagogas mais antigas de São Paulo: Beit Chabad, sinagoga esta que abrigou a família Goldberg.)

São esses laços espirituais que mantêm a coesão do povo judeu no mundo inteiro.

Os rituais judaicos têm raízes nos preceitos da Torá e do Talmude, a compilação da tradição oral. Relembram, cada vez que são realizados, fatos memoráveis da trajetória dos hebreus, como a aliança do patriarca Abraão com Deus. 

Essas crenças perpetuadas e cultivadas milenarmente explicam o segredo da sobrevivência do povo de Israel. 

(Em sua última viagem, o professor Joseph Goldberg participa de um Bar Mitzvá e consagra a Torá (acima) trazendo para Vitória da Conquista a primeira Torá consagrada em solo israelense para a Sinagoga Keter Menachem, em Vitória da Conquista.)

São práticas que ativam um canal de sintonia com o sagrado. Por transcender a existência pontual, os ritos agregam um sentido maior para a experiência humana. 

"O judeu não repete o ritual só por questões culturais, mas também porque assim cumpre seu papel de eleito.", continua o professor Goldberg. 

O homem religioso sai do tempo linear e funda um tempo realizador, criando significados em meio à massa amorfa dos hábitos...



Continua...


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