(O Dilúvio foi uma manifestação natural presente em muitas culturas ao redor do mundo)
A origem do mito de Noé, por exemplo, remete a escritos gravados em pedra na forma de um poema épico.
(Tablete sumeriano que conta a história do dilúvio, este é do Museu Britânico)
Nele, relata-se o heroísmo do rei Gilgamesh que viveu no século 27 a.C., na antiga Babilônia, região banhada por rios e, portanto, sujeita a enchentes todas as vezes que as chuvas prolongavam por períodos de 40 a 50 dias.
(Rei Gilgamesh sempre retratado segurando uma fera, para mostrar seu poder e domínio)
Dos relatos das inundações babilônicas surgiu a base de uma história contada em toda a Mesopotâmia, a princípio, para amedrontar os escravos.
"Nós controlamos o céu. Se você não vem trabalhar para mim, mandamos abrir as comportas do céu e produzimos um dilúvio", seria a mensagem dominadora.
(Templo central da Cidade de Ur onde o Patriarca Abraão nasceu e cresceu. Ali ele ouviu as histórias de um dilúvio e sobre um homem e sua família que sobreviveram, sob o nome de Ut-Napishtim)
O tempo avançou séculos até que, por volta de 6 a.C., o Judaísmo valeu-se da ameaça das cheias para reunir o povo hebreu contra a invasão imperial assíria - e pouco importava que o palco da profecia fosse uma região desértica, onde hoje fica Israel.
(Assíria era o nome que os judeus denominavam os povos sumérios, eles que foram vítima de um dilúvio no passado, agora eram o próprio dilúvio na terra dos hebreus)
O Dilúvio se faria representado, para os judeus, pelo próprio governante inimigo.
"Visto que este povo rejeitou as águas de Siloé que correm mansamente, ...o Senhor trará contra ele as águas impetuosas e abundantes do rio - a saber, o rei da Assíria com todo seu poderio. Ele encherá todos seus leitos e transbordará por todas suas ribanceiras"
Isaías 8:6-7
Com a expansão do Cristianismo, o tema da purificação pelas águas presente na Bíblia, no livro do Gênesis, foi retomado.
(Os mártires cristãos, perseguidos pelos romanos, esperavam que algum tipo de Dilúvio varresse seus inimigos purificando assim a terra do mal)
Diante das perseguições que estavam sofrendo, os primeiros cristãos encontravam no Dilúvio a mensagem de que, assim, como ocorreu com Noé, haveria esperança de salvação para quem, como ele, era "o homem justo que anda com Deus".
(O Dilúvio foi a maneira divina de dizer ao homem que ele estava errado e iria pagar por isso)
"Chegou o fim de toda carne, eu o decidi, pois a terra está cheia de violência por causa dos homens, e eu os farei desaparecer da terra... Quanto a mim, vou enviar o dilúvio, as águas, sobre a terra, para exterminar de debaixo do céu toda carne que tiver sopro de vida: tudo o que há na terra deve perecer. Mas estabelecerei minha aliança contigo e entrarás na arca, tu e teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos".
Gênesis 6: 13,17 e 18
O mito do Dilúvio revela que catástrofes podem ganhar diferentes justificativas conforme quem as interpreta - seja quem manda e oprime, seja quem se rebela contra a opressão.
(Como as outras teologias mundiais, o Budismo também tem um compêndio apocalíptico em seus ensinamentos)
A literatura budista, por exemplo, fornece elementos usados para dominação e libertação político-social e seus seguidores, influenciando monges indianos, camponeses chineses e guerreiros japoneses.
O Budismo está impregnado de teorias apocalípticas desde sua fundação.
(Buda discursava em vida aos seus discípulos e pregou o fim do mundo)
Atribui-se a Buda, a enunciação dos princípios básicos da religião durante um discurso feito na Índia do século 6, referências a inundações que consumiram ricos e pobres.
(Sâkyamuni, estátua do Museu Nacional da China)
"Grandes inundações infindáveis aparecerão inesperadamente. Como as pessoas do mundo não têm fé, julgarão que este mundo permanecerá para sempre. Com as inundações, tanto os ricos como os miseráveis se afogarão, serão arrastados pelas águas e transformados em comida para peixes".
Sâkyamuni, fundador histórico do Budismo, pouco antes de sua morte, no bosque de Kusinagara, norte da Índia.
Continua...